Estudo sobre João 19
Estudo sobre João 19
João 19
Jesus é condenado à crucificação - 19:1-16
Jesus é condenado à crucificação - 19:1-16 (cont.)
Jesus é condenado à crucificação - 19:1-16 (cont.)
O caminho rumo à cruz - 19:17-22
O caminho rumo à cruz - 19:17-22 (cont.)
Os jogadores ao pé da cruz - 19:23-24
O amor de um filho - 19:25-27
O final triunfante - 19:28-30
A água e o sangre - 19:31-37
Os últimos dons de Jesus - 19:38-42
JESUS É CONDENADO À CRUCIFICAÇÃO
Estudo sobre João 19:1-16
Já refletimos sobre a imagem da multidão neste juízo contra Jesus. Também meditamos sobre a imagem de Pilatos. Agora devemos nos ocupar do personagem central de tudo este drama: Jesus. Aqui apresenta a Jesus mediante uma série de pinceladas geniais.
(1) Primeiro e principal, ninguém pode ler este relato sem perceber a majestade absoluta de Jesus. Não se sente absolutamente que o estão julgando. Quando alguém enfrenta a Jesus não é a Ele a quem se julga mas à pessoa que o confronta. Pilatos pode ter tratado muitas das coisas dos judeus com um desprezo arrogante, mas não foi assim como tratou a Jesus. À medida que lemos o relato não podemos deixar de sentir que Jesus é quem controla a situação e que Pilatos se sente esmagado e intrigado em uma situação que não pode compreender. A majestade de Jesus nunca brilhou com tanto esplendor como quando os homens o julgaram.
(2) Aqui Jesus nos fala sem rodeios sobre seu reino. Estabelece que tal reino não pertence a este mundo. Em Jerusalém, a atmosfera sempre era explosiva; durante a época da páscoa era como pólvora. Os romanos sabiam e durante esses dias mandavam tropas de reforço a Jerusalém. Mas Pilatos jamais tinha mais de três mil homens sob seu mando. Alguns estariam em Cesaréia, seus quartéis; alguns estariam de guarda em Samaria; não pode ter havido mais de algumas centenas de homens em Jerusalém. Se Jesus quisesse organizar uma rebelião, se quisesse armar um batalhão de seguidores e lutar, poderia fazê-lo com facilidade.
Entretanto, aqui Jesus estabelece que é um rei e esclarece que seu reino não se baseia na força nem nas armas mas sim existe nos corações dos homens. Jamais negaria que seu objetivo era a conquista, mas se tratava da conquista do amor.
(3) Aqui Jesus nos diz por que veio a este mundo. Devia dar testemunho da verdade. Devia dizer aos homens a verdade a respeito de Deus, a verdade a respeito dos próprios homens e a verdade sobre a vida. Como o expressou Emerson: Quando se vão os semideuses, Chegam os deuses. Tinham terminado os dias das adivinhações, das buscas na escuridão e das verdades pela metade. Devia dizer a verdade aos homens. Esta é uma das grandes razões pelas quais devemos aceitar ou rechaçar a Cristo. Não há meias tintas com a verdade. Ou a aceitamos ou a rechaçamos. E Cristo é a verdade.
(4) Aqui vemos a heróica coragem física de Jesus. Pilatos o fez açoitar. Quando se açoitava a alguém, este era atado a um poste de maneira tal que as costas ficavam expostas. O látego era uma longa correia de couro, com partes de chumbo e pedaços de osso afiados. Literalmente arrancava pedaços de pele das costas. Poucos permaneciam conscientes até o final, alguns morriam e muitos enlouqueciam. Jesus passou por tudo isso. E depois disso, Pilatos o tirou até onde estava a multidão e disse: "Vejam! O homem!" Aqui temos um dos duplos sentidos de João. A intenção original de Pilatos deve ter sido despertar a piedade do povo. "Olhem!", disse, "Vejam esta pobre criatura ferida e a sangrar! Olhem a este despojo humano! Acaso podem desejar levar a uma morte absolutamente desnecessária a uma criatura como esta?" Mas inclusive enquanto pronunciava estas palavras quase podemos ver como muda o tom de sua voz e como entra em seus olhos uma expressão de surpresa. E em lugar de dizê-lo com desprezo, para despertar a piedade da multidão, diz com um sentimento de maravilha e admiração que não pode ocultar. A palavra que Pilatos empregou é ho anthropos que é o termo que usam os gregos para referir-se a um ser humano. Mas pouco tempo depois os pensadores gregos empregavam o mesmo termo para falar do homem celestial, do homem ideal, perfeito, o modelo de humanidade. Sempre é certo que seja o que for que digamos ou deixemos de dizer a respeito de Jesus, seu absoluto heroísmo não tem comparação. Aqui temos, na verdade, um homem.
JESUS É CONDENADO À CRUCIFICAÇÃO
Estudo sobre João 19:1-16 (continuação)
(5) Mais uma vez vemos neste juízo contra Jesus o caráter espontâneo de sua morte e o supremo controle de Deus. Só uma vez Pilatos apela a uma ameaça que mais que isso é uma advertência. Pilatos advertiu a Jesus que tinha poder para libertá-lo e para crucificá-lo. A resposta de Jesus foi que Pilatos carecia de todo poder com exceção do que lhe outorgasse Deus. O estranho a respeito de todo o relato da crucificação é que nunca, de principio a fim, aparece como a história de um homem apanhado em uma série de circunstâncias inexoráveis sobre as quais ninguém exercia controle. Nunca aparece como o relato de um homem a quem se encurralou até sua morte. Jamais aparece como a história de um homem a quem se matou: é o relato de Alguém cujos últimos dias foram uma procissão triunfante rumo ao objetivo da cruz.
(6) E aqui também temos a imagem terrível do silêncio de Jesus. Chegou o momento quando Jesus não tinha resposta para Pilatos. Houve outros momentos quando se manteve em silêncio. Ele o fez diante do sumo sacerdote (Mat. 26:63; Mar. 14:61). Manteve silêncio diante de Herodes (Luc. 23:9). Manteve silêncio quando as autoridades judias verteram suas acusações contra Ele diante de Pilatos (Mat. 27:14; Mar. 15:5). Às vezes nos acontece, ao falar com outras pessoas, que já não é possível a discussão, o debate ou a argumentação porque não há nada em comum entre nós e eles. Não há mais nada a dizer. Nós não os compreendemos e eles não nos compreendem. É como se falássemos outra língua. Isso acontece quando os homens falam, em realidade, outra linguagem mental e espiritual. É tremendo quando Jesus se mantém em silencio diante do homem. Não pode haver nada mais terrível para a mente do homem que estar tão fechada pelo orgulho e a determinação de fazer sua própria vontade que não haja nada que Jesus possa dizer que o faça revisar sua posição.
(7) Por último, é possível que nesta cena do juízo haja uma culminação estranha e dramática que, de existir, é um exemplo esplêndido da ironia dramática de João. A cena aparece no final quando se diz que Pilatos levou a Jesus fora. Segundo nossa tradução Pilatos saiu a um lugar chamado Pátio ou Gabatá, que pode significar um pátio de mosaico de mármore, e se sentou na poltrona do juízo. Esta poltrona era o bema sobre o qual se sentava o magistrado para pronunciar suas decisões oficiais. Agora, o verbo que se emprega para sentar-se é kathizein e pode ser transitivo ou intransitivo. Pode significar que alguém se sinta ou que sinta a outro em um lugar determinado. Há uma possibilidade de que aqui signifique que Pilatos, em um último gesto de brincadeira, tenha levado fora a Jesus, vestido com o luxo tremendo do velho manto púrpura e com a frente rodeada por uma coroa de espinhos e as gotas de sangue causados por ela manchando sua frente, tenha-o sentado na poltrona do juízo, e com um movimento do braço tenha dito: "Tenho que crucificar o rei de vocês?"
O Evangelho apócrifo de Pedro diz que ao zombar de Jesus o sentaram na poltrona do juízo dizendo, "Julga com equanimidade, rei de Israel." Justino mártir também diz que puseram a Jesus na poltrona do juízo e disseram: "Julgue-nos". Pode ser que Pilatos escarneceu de Jesus dando-lhe o lugar do juiz. Se foi assim, se realmente o sentou na poltrona do juiz para zombar dele, que ironia terrível! O que fez como brincadeira era a verdade. E um dia aqueles que escarneceram de Jesus como juiz o enfrentariam nessa situação e se lembrariam. De maneira que nesta cena dramática do juízo vemos a majestade imutável de Jesus, sua coragem incomovível e a aceitação serena da cruz. Nunca manifestou tanto sua realeza como quando os homens fizeram o pior possível para humilhá-lo.
JESUS É CONDENADO À CRUCIFICAÇÃO
Estudo sobre João 19:1-16 (continuação)
Analisamos as personalidades principais no juízo de Jesus. Os judeus com seu ódio, Pilatos com o passado que o torturava e Jesus com a serenidade de sua majestade real. Mas havia outras pessoas nos arredores do drama, por assim dizer. Eram os soldados. Quando Jesus caiu em suas mãos para que o açoitassem, divertiram-se com sua zombaria cruel. Era um rei? Pois, que tivesse manto e coroa. De maneira que lhe puseram um velho manto púrpura e uma coroa de espinhos ao redor da fronte e o esbofetearam com sanha. Brincavam algo muito comum entre as pessoas da antiguidade.
Em sua obra A respeito de Flacco, Filo nos fala de algo muito similar que faziam as multidões em Alexandria. "Havia um demente chamado Carabas que não sofria o tipo de loucura selvagem e animal — porque esta não se pode ocultar nem os que a padecem nem os que os observam — mas com o tipo mais suave e tranqüilo. Era costume passar dias e noites desnudo pelas ruas, sem proteger-se do calor nem do frio, convertido em um brinquedo de meninos e jovens folgazões. Uniam-se para levar o pobre desgraçado ao ginásio e, situando-o em algum lugar alto para que todos pudessem vê-lo, achatavam uma parte de casca e o punham sobre sua cabeça, envolviam o tapete ao redor de seu corpo como se fosse um manto e alguém que via uma pequena parte de papiro atirado na rua o alcançava como se fosse um cetro. E quando se converteu em um rei com todo o ornamento, como se fosse um ator de teatro, alguns jovens se colocavam a cada lado como guardas de honra.
Logo se aproximavam outros, alguns para saudá-lo, outros para lhe pedir favores, outros para lhe pedir coisas de interesse público. Logo, das multidões que o rodeavam surgia um grito 'Marin', o nome que, conforme se diz, emprega-se para denominar os reis da Síria." É tremendo pensar que os soldados tratavam a Jesus como uma banda de jovens trataria um idiota. Entretanto, de todas as pessoas implicadas no juízo de Jesus, os menos culpados são os soldados porque ao menos eles não sabiam o que faziam. O mais provável é que viessem de Cesaréia e que não soubessem do que se tratava toda essa questão. Para eles, Jesus não era mais que um criminoso qualquer. Em seu caso, era certo que não sabiam o que faziam. Mas aqui temos outro exemplo da ironia dramática de João. Os soldados o disfarçaram de rei quando na verdade Ele era o único Rei. Por trás da brincadeira havia uma verdade eterna.
O CAMINHO RUMO À CRUZ
Estudo sobre João 19:17-22
Não havia morte mais terrível que a morte por crucificação. Até os próprios romanos a contemplavam com um sentimento de horror. Cícero declarou que era "a morte mais cruel e horrível". Tácito disse que era uma morte "indescritível". Originalmente, a crucificação era um método empregado pelos persas. Possivelmente a usavam porque para os persas a terra era sagrada e não quereriam poluí-la com o corpo de um criminoso ou de alguém que tinha vivido mau. De maneira que o cravavam a uma cruz e o deixavam morrer ali, os abutres e os corvos faziam o resto. Os cartagineses copiaram a crucificação dos persas e os romanos a tiraram dos primeiros. Na Itália nunca se empregou esse método; só foi usava nas províncias e quando se tratava de escravos. Era impensável que um cidadão romano padecesse semelhante morte.
Diz Cícero: "É um crime atar um cidadão romano; é um crime mais grave ainda que o açoitem; é quase um parricídio que o matem; o que direi da morte na cruz? Uma ação tão nefasta como essa não se pode descrever com palavras porque não existem as palavras para fazê-lo." Foi essa morte, a mais temida no mundo antigo, a que se aplicava a escravos e criminais, a morte que padeceu Jesus. A rotina da crucificação sempre era igual. Uma vez que se ouviu o caso e se condenou o criminoso, o juiz pronunciava a sentença fatal: "Ibis ad crucem", "Irá à cruz." A sentença se cumpria nesse mesmo momento. O criminoso era posto no meio de um quaternion, uma companhia de quatro soldados romanos. A cruz era posta sobre seus próprios ombros.
É preciso lembrar que os açoites sempre precediam à crucificação e quão terrível era esse castigo. Com freqüência era preciso atar e empurrar o criminoso com o passar do caminho para mantê-lo em pé pois tropeçava todo o tempo. Na frente dele caminhava um oficial com um cartaz no qual estava escrito o crime pelo qual ia morrer. Era levado pela maior quantidade de ruas possível no caminho rumo à cruz. Havia duas razões para isso. Havia uma razão cruel: que a maior quantidade de gente possível o visse para que soubessem que não valia a pena cometer crimes e que aprendessem ao ver a sorte de outros. Mas também havia uma razão piedosa. Levava-se o cartaz diante do condenado e se escolhia o caminho longo porque se qualquer pessoa quisesse testemunhar a seu favor podia fazê-lo. Nesse caso, detinha-se a procissão e se voltava a julgar o caso.
O lugar de execução em Jerusalém se denominava O Lugar da Caveira; em hebraico: Gólgota. Calvário é a palavra latina que designa O Lugar da Caveira. Deva ter estado fora das muralhas da cidade porque era ilícito crucificar a alguém dentro dos limite da cidade. Não sabemos com segurança onde estava. Deu-se mais de uma razão para explicar o estranho e lúgubre nome de Lugar da Caveira. Uma lenda afirmava que levava esse nome porque ali estava enterrada a caveira de Adão. Também se sugere que levava esse nome porque estava tapetada com as caveiras dos criminosos crucificados. Isso não é muito provável. A lei romana estabelecia que o criminoso devia pendurar da cruz até morrer de fome, de sede e de exposição aos elementos; esta tortura acostumava durar vários dias. Mas segundo a Lei judia era preciso tirar os corpos e enterrá-los ao anoitecer. Segundo a lei romana os corpos não se enterravam, simplesmente eram atirados para que as aves de rapina e os cães de rua se encarregassem deles. Mas isso seria ilegal aos olhos da Lei judia e nenhum lugar judaico podia estar semeado de caveiras. O mais provável é que o lugar recebeu esse nome porque estava localizado sobre uma colina com forma de caveira. Era um nome lúgubre para um lugar onde se faziam coisas lúgubres. De maneira que Jesus saiu, machucado e a sangrar, com a carne esmigalhada pelos açoites, carregando sua própria cruz, rumo ao lugar onde teria que morrer.
O CAMINHO RUMO À CRUZ
Estudo sobre João 19:17-22 (continuação)
Nesta passagem há mais dois elementos que devemos assinalar. A inscrição sobre a cruz de Jesus estava em hebraico, latim e grego. Estes eram os três grandes idiomas do mundo antigo e representavam a três nações importantes. Na economia de Deus, cada nação tem algo que ensinar ao mundo e estas três nações representavam três grandes contribuições ao mundo e à seu historia. Grécia ensinou ao mundo a beleza da forma e do pensamento. Roma lhe ensinou a lei e o bom governo. O povo hebreu ensinou ao mundo a religião e o culto ao Deus verdadeiro. A consumação destas três coisas se encarna em Jesus. Nele estava a beleza e o pensamento supremo de Deus. Nele estava a lei e o Reino de Deus. Nele estava a imagem de Deus. Todas as buscas do mundo encontravam sua consumação nele. É simbólico que as três grandes línguas do mundo o chamassem Rei. Não há a menor dúvida de que Pilatos pôs esta inscrição sobre a cruz para irritar e incomodar os judeus. Acabavam de dizer que seu único rei era César; tinham rechaçado de maneira absoluta aceitar a Jesus
como seu rei. E Pilatos, a título de zombaria, pôs essa inscrição sobre a cruz de Jesus. Os líderes judeus lhe pediram uma e outra vez que a tirasse e Pilatos se negou a fazê-lo. "O que escrevi", disse, " escrevi."
Aqui está Pilatos o severo, o inflexível, aquele que se nega a aceitar o menor pedido dos judeus. Fazia tão pouco tempo que fora débil, vacilara a respeito de se devia crucificar a Jesus ou não. No fim das contas, este mesmo Pilatos aceitou que o atropelassem, que o pressionassem e o chantageassem para que cumprisse a vontade dos judeus. Foi muito estrito quanto à inscrição, foi muito fraco sobre a decisão a respeito da cruz.
Um dos estranhos paradoxos da vida é que podemos ser inflexíveis a respeito das coisas que não são muito importantes enquanto somos bastante fracos quando se trata de coisas que são importantes. Podemos finca o pé e nos negar a mudar de parecer a respeito de alguma pequenez e possivelmente aceitemos com debilidade algo em que se lança algum princípio vital. Se Pilatos superasse as táticas de chantagem dos judeus e se não aceitasse a coerção mediante a qual o queriam obrigar a satisfazer seus desejos com respeito a Jesus, poderia ter passado à história como um de seus homens mais fortes e grandes. Mas como claudicou no fundamental e se manteve firme no que carecia de importância, seu nome representa a vergonha. Pilatos foi o homem que assumiu uma posição firme nas coisas que não o mereciam e muito tarde.
OS JOGADORES AO PÉ DA CRUZ
Estudo sobre João 19:23-24
Já vimos que um quaternion de quatro soldados escoltava ao criminoso até o lugar de execução. Um dos prêmios que recebiam esses soldados que presenciavam a execução era a roupa da vitima. Todo judeu levava cinco vestimentas: os sapatos, o turbante, o cinturão, a túnica e o manto exterior. Havia quatro soldados e cinco artigos. Atiravam os jogo de dados para cada um deles e ficava a túnica interior. Era uma túnica sem costura de um solo tecido. Se a cortavam em quatro pedaços a inutilizavam de maneira que voltaram a atirar os jogo de dados para decidir quem ficava com ela. Assim foi como os soldados jogaram pé da cruz. Há muitos elementos nesta imagem tão vivida.
(1) Studdert Kennedy escreveu um poema sobre esta cena. Os soldados eram jogadores e, em certo sentido, Jesus também o era. Jesus jogou tudo em sua absoluta fidelidade a Deus: jogou-se tudo na cruz. A cruz foi seu último chamado, e o maior, aos homens e o último e maior de obediência a Deus.
E, sentados, observaram-no,Olhavam-no os soldados;Ali, enquanto jogavam dados,Ele ofereceu seu sacrifício,E morreu sobre a cruz para libertarO mundo de Deus do pecado.Também ele era um jogador, meu Cristo.Tomou sua vida e a lançouPara redimir um mundo.
E antes de culminar sua agonia,Antes se pôr o sol,Coroando o dia com seu aro carmesim,Soube que tinha ganho.Em certo sentido, todo cristão é um jogador porque deve apostartudo em nome de Cristo.
(2) Não há outra imagem que demonstre com tanta eloqüência a indiferença do mundo para com Cristo. Ali, sobre a cruz, Jesus agonizava e, aí mesmo, ao pé da cruz, os soldados lançavam os dados como se não nada acontecia. Um artista pintou um quadro. Mostra a Cristo de pé com os braços abertos, as mãos perfuradas pelos pregos, em uma cidade moderna, enquanto as multidões passam apressadas. Nenhuma só pessoa se detém um minuto para olhá-lo, com exceção de uma jovem enfermeira. Debaixo do quadro há uma pergunta: “Não vos comove isto, a todos vós que passais pelo caminho?” (Lamentações 1:12). A tragédia não é a hostilidade do mundo para com Cristo, mas sua indiferença, essa indiferença que trata o amor de Deus como se não fosse algo importante.
(3) Nesta imagem há mais dois elementos que devemos assinalar. Existe uma lenda que diz que Maria mesmo teceu a túnica sem costura e a presenteou a seu Filho quando saiu ao mundo. Se isso for certo, e pode sê-lo pois era um costume muito generalizado entre as mães judias, a imagem destes soldados insensíveis e incapazes de compreender que jogam dados pela túnica de Jesus que era um presente de sua mãe, adquire um pateticismo e uma dor dobrada.
(4) Não obstante, em tudo isto há algo semi-oculto. Diz-se que a túnica de Jesus não tinha costura e era de um só tecido de cima abaixo. Essa é a descrição exata da túnica que vestia o sumo sacerdote. Lembremos a função do sacerdote. Sua tarefa era funcionar como laço entre Deus e o homem.
A palavra latina que designa o sacerdote é pontifex que significa o construtor de pontes. A função do sacerdote era construir uma ponte entre Deus e o homem. Ninguém fez isso como Jesus. Foi o sumo sacerdote perfeito mediante quem os homens chegam a Deus. Vimos em reiteradas oportunidades que as afirmações de João têm um duplo sentido: um significado superficial e outro mais rico e mais profundo. Quando João nos fala da túnica sem costura de Jesus não se limita a nos dar uma descrição da roupa que usava o Mestre. Diz-nos que Jesus é o Sacerdote perfeito que abre o caminho perfeito que leva a todos os homens à presença de Deus.
(5) Por último, podemos notar que neste incidente João encontra o cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento. Lê nele a frase do salmista: “Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes” (Salmo 22:18).
O AMOR DE UM FILHO
Estudo sobre João 19:25-27
No final, Jesus não estava completamente sozinho. Ao pé da cruz estavam as quatro mulheres que amavam a Jesus. Alguns comentaristas explicam sua presença dizendo que nessa época as mulheres tinham tão pouca importância e eram tão desprezadas que ninguém levava em conta as discípulas e que, em conseqüência, estas mulheres não corriam nenhum risco ao estar perto da cruz. Sem dúvida, trata-se de uma explicação fraca e inconseqüente. Sempre era arriscado estar perto de alguém que era um criminoso tão perigoso para o governo romano para merecer a cruz. Sempre é perigoso demonstrar nosso amor por alguém a quem a ortodoxia olha como pecador e herege.
A presença destas mulheres ao pé da cruz não se devia ao fato de que ninguém as levava em conta mas ao fato eterno de que o amor perfeito afugenta o temor. Quando as observamos vemos que se trata de um grupo estranho. Sobre uma delas, Maria a esposa de Clopas, não sabemos nada. Mas sabemos algo sobre as outras três.
(1) Ali estava Maria, a mãe de Jesus. Possivelmente Maria não podia entender mas podia amar. Seu presencia ali era a coisa mais natural do mundo para uma mãe. Aos olhos da lei Jesus podia ser um criminoso mas era seu filho. Como disse Kipling:
Se me pendurassem no topo mais alto,
Minha mãe, oh, minha mãe!
Sei qual amor me seguiria até ali,
Minha mãe, oh, minha mãe!
Se me afogasse no mar mais profundo,
Minha mãe, oh, minha mãe!
Sei que lágrimas chegariam até mim,
Minha mãe, oh, minha mãe!
Se me condenasse o corpo e a alma,
Minha mãe, oh, minha mãe!
Sei que orações me salvariam,
Minha mãe, oh, minha mãe!
O amor eterno do coração da mãe está em Maria ao pé da cruz.
(2) Ali estava a irmã da mãe de Jesus. No Evangelho de João não a nomeia mas ao estudar as passagens paralelas (Mar. 15:40; Mat. 27:56) não fica nenhuma dúvida de que se trata do Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu quer dizer, a mãe de Tiago e João. Agora, o estranho é que Jesus fez uma observação muito severa e definitiva a Salomé. Em uma ocasião se aproximou de Jesus para lhe pedir que desse a seus filhos o lugar de honra em seu reino (Mateus 20:20), e Jesus lhe ensinou quão equivocados eram esses pensamentos ambiciosos e que seu caminho passava pelo cálice amargo. Salomé era a mulher a quem Jesus desafiou e, entretanto, estava ali, na cruz. Seu presença fala muito a seu favor e a favor de Jesus.
Demonstra que Salomé tinha a humildade cheia de amor para aceitar a observação de Jesus e para amar sem reticências. Mostra-nos que Jesus podia fazer admoestar a alguém de maneira tal que através de sua observação brilhava o amor. A presença do Salomé nos ensina a dar e receber uma advertência e uma observação.
(3) Ali estava Maria Madalena. Tudo o que sabemos dela é que Jesus expulsou dela sete demônios (Marcos 16:9; Lucas 8:2). Maria Madalena não podia esquecer nunca o que Jesus fez por ela. Seu amor a salvou e o amor que ela sentia não podia morrer jamais. O lema de Maria, escrito em seu coração era: "Não esquecerei o que fez por mim." Mas nesta passagem há algo que possivelmente seja o mais bonito de todo o relato evangélico. Quando Jesus viu Maria, sua mãe, ali não pôde menos que pensar nos dias por vir. Não podia deixá-la em mãos de seus irmãos porque estes ainda não criam nEle (João 7:5). Depois de tudo, havia duas razões pelas quais João era particularmente indicado para a tarefa que Jesus lhe encarregou: era sua primo, pois era filho do Salomé, e era o discípulo a quem Jesus amava. De maneira que Jesus encarregou a João que cuidasse de Maria e encarregou a Maria que cuidasse de João para que ambos se consolassem quando Ele já não estivesse presente.
Há algo imensamente comovedor no fato de que na agonia da cruz, quando a salvação do mundo estava no fio da navalha, Jesus pensasse na solidão de sua mãe quando Ele já não estivesse com ela. Jesus nunca esqueceu suas obrigações. Era o filho maior de Maria e, até no momento de seu batalha cósmica não esqueceu as coisas singelas do lar. Até o final do dia, inclusive na cruz, Jesus pensava mais nas tristezas de outros que nas suas.
O FINAL TRIUNFANTE
Estudo sobre João 19: 28-30
Nesta passagem, João nos confronta com duas coisas a respeito de Jesus.
(1) Confronta-nos com seu sofrimento humano. Quando estava na cruz, conheceu a agonia da sede. Quando João escreveu seu Evangelho, ao redor do ano 100 D.C., apareceu uma certa tendência no pensamento religioso e filosófico. É conhecida pelo nome de gnosticismo. Uma das grandes doutrinas desta escola é que o espírito é completamente bom e a matéria é absolutamente má. A partir desta crença, os gnósticos tiravam certas conclusões. Uma delas era que Deus, que é espírito puro, não podia assumir um corpo visto que este é matéria e a matéria é má. Portanto, ensinavam que Jesus nunca teve um corpo real. Diziam que só foi um fantasma com forma humana na qual o Espírito de Deus se fez presente. Diziam, por exemplo, que quando Jesus caminhava não deixava rastros porque era puro espírito em um corpo fantasma. Diziam que Deus, em realidade, nunca pode sofrer e que, portanto, Jesus jamais padeceu nenhum sofrimento, que tinha passado por toda a experiência da cruz sem nenhuma dor.
Quando os gnósticos pensavam desse modo criam que honravam a Deus e a Jesus, mas o que faziam, em realidade, era destruir a Jesus. Se Jesus devia redimir o homem, devia tornar-se um deles. Tinha que converter-se no que nós somos para poder nos converter no que Ele é. Essa é a razão pela qual João insiste que Jesus padeceu sede. Queria mostrar que Jesus era verdadeiramente um ser humano e que passou, em realidade, pela agonia e pela dor da cruz. João se ocupa especialmente de enfatizar a verdadeira humanidade, a qualidade de homem e o verdadeiro sofrimento de Jesus.
(2) Mas, ao mesmo tempo, João nos confronta com o triunfo de Jesus. Quando comparamos os quatro Evangelhos encontramos algo muito esclarecedor. Os outros três Evangelhos não nos dizem que Jesus afirmou: “Está consumado!” Mas sim nos dizem que morreu com um grande grito nos lábios (Mateus 27:50; Marcos 15:37; Lucas 23:46). João, pelo contrário, não fala do grande grito mas diz que as últimas palavras de Jesus foram: “Está consumado!” A explicação desta diferença é que o grito profundo e as palavras “Está consumado!” são a mesma coisa. “Está consumado!” se expressa com uma só palavra em grego, tetelestai, e Jesus morreu com uma exclamação de triunfo em seus lábios. Não disse “Está consumado!” em tom de derrota, disse-o como alguém que grita de alegria porque obteve a vitória. Jesus parecia estar destroçado em uma cruz mas sabia que a vitória era sua.
A última oração desta passagem esclarece ainda mais tudo isto. João diz que Jesus inclinou a cabeça e entregou seu espírito. A palavra que João emprega é a que se poderia usar ao dizer que alguém reclina a cabeça sobre o travesseiro. Para Jesus a luta tinha terminado e a batalha estava ganha e já na cruz conheceu a alegria da vitória e o descanso de alguém que terminou sua tarefa e pode descansar em paz, tranqüilidade e satisfação.
Devemos assinalar mais duas coisas nesta passagem. João localiza a frase de Jesus "Tenho sede" como o cumprimento de um versículo do Antigo Testamento. Pensava no Salmo 69:21: “Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre.” O segundo elemento que devemos notar é outra das coisas ocultas de João. João nos diz que puseram a esponja com vinagre em um hissopo. Agora, um hissopo não é algo que se costuma a usar com esse fim pois não era mais que um caule, um pasto duro, que não tinha mais de sessenta centímetros de comprimento. É tão pouco provável que foi empregado que alguns especialistas pensaram que se trata de uma confusão com uma palavra muito semelhante que significa lança. Mas João escreveu hissopo e isso foi o que quis dizer.
Quando remontamos muitos séculos até a primeira páscoa, naquela noite quando os filhos de Israel abandonaram sua escravidão no Egito lembremos que o anjo da morte devia sair durante a noite e matar todos os filhos varões primogênitos dos egípcios. Lembremos que os israelitas deviam matar o cordeiro pascal e manchar as portas de suas casas com o sangue desse cordeiro de maneira que o anjo vingador da morte passasse por alto seus lares. E as instruções eram: “Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia.” (Êxodo 12:22). Foi o sangue do cordeiro pascal que salvou o povo de Deus; era o sangue de Jesus que salvaria o mundo do pecado. A só menção do hissopo levaria qualquer judeu a pensar no sangue salvador do cordeiro pascal. De maneira que esta é a forma suprema na qual João diz que Jesus foi o grande Cordeiro pascal de Deus cuja morte salvaria o mundo inteiro do pecado.
A ÁGUA E O SANGUE
Estudo sobre João 19:31-37
Em um detalhe os judeus eram mais misericordiosos que os romanos. Quando os romanos crucificavam segundo seu costume, deixavam a vítima morrer na cruz embora demorasse dias em fazê-lo. Podia estar pendurado durante dias inteiros no calor do Sol do meio-dia e no frio da noite, torturado pela sede, os insetos, as moscas que se metiam nas feridas das costas causadas pelos açoites. Muito freqüentemente as pessoas morriam enlouquecidas na cruz. Os romanos tampouco enterravam os crucificados. Limitavam-se a atirá-los e deixavam que as aves de rapina, os corvos e os cães se ocupassem dos cadáveres. A lei judia, pelo contrário, era diferente. Segundo ela: “Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tiver sido morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia” (Deut. 21:22-23).
O Mishna, a Lei dos escribas, estabelece: "Quem quer que permita que os mortos permaneçam expostos durante toda a noite, transgride uma ordem específica." E, de fato, encarregava-se ao Sinédrio que tivesse dois sepulcros preparados para aqueles que tinham merecido a pena de morte se não fossem enterrados nas tumbas de seus pais. Nesta oportunidade, era até mais importante que não se permitisse que os corpos permanecessem pendurados da cruz durante toda a noite porque no dia seguinte era sábado e um sábado muito especial pois era o da páscoa.
Empregava-se um método muito nefasto para desfazer-se dos criminosos que não morriam em seguida. Golpeavam-lhes as pernas até que morriam. Isso foi o que se fez com os homens que foram crucificados com Jesus. Jesus não sofreu a mesma sorte pois já estava morto. João vê esse fato como o cumprimento de outra passagem do Antigo Testamento. Ordenava-se que não se devia romper nenhum osso do Cordeiro Pascal (Números 9:12). Mais uma vez, João vê Jesus como o Cordeiro pascal que libera seu povo da morte. Por último, vem um incidente estranho. Quando os soldados viram que Jesus já estava morto não lhe quebraram os ossos com a lança mas sim um deles, provavelmente para certificar-se de que Jesus estava realmente morto, cravou-lhe uma lança no flanco. E saiu sangue e água.
João adjudica uma importância especial a este fato. Vê nele o cumprimento da profecia de Zacarias 12:10: “Olharão para mim, a quem traspassaram”. E se ocupa de dizer que se trata do relato de uma testemunha ocular e que ele garante pessoalmente que é verdade. Em primeiro lugar, nos perguntemos o que foi que aconteceu. Não podemos estar seguros mas pode ser que Jesus tenha morrido, literalmente, porque seu coração foi destroçado. É obvio que normalmente um corpo morto não sangra. Sugeriu-se que o que aconteceu foi que as experiências de Jesus, físicas e emocionais, foram tão tremendas que lhe rompeu o coração. Quando aconteceu isso, o sangue do coração se misturou com o fluido do pericárdio que o rodeia. A lança do soldado rasgou o pericárdio e brotou a mistura do sangue com o fluido do pericárdio. Seria algo muito assustador provar que Jesus morreu com o coração destroçado, no sentido literal do termo.
Entretanto, embora assim fosse por que João o acentua tanto?
(1) Para João se tratava da prova definitiva, irrefutável, de que Jesus era um homem verdadeiro com um corpo real. Aqui estava a resposta para os gnósticos com suas idéias de fantasmas, espíritos e uma humanidade irreal. Esta era a prova de que Jesus era osso de nosso osso e carne de nossa carne.
(2) Não obstante, para João isto era mais que uma prova da humanidade de Jesus. Era o símbolo dos dois grandes sacramentos da Igreja. Um deles se baseia na água: o batismo, o outro parte do sangue: o sacramento da Ceia do Senhor com seu cálice de vinho vermelho como o sangue. A água do batismo é o sinal da graça purificadora de Deus em Jesus Cristo. O vinho da Ceia do Senhor é o símbolo do sangue vertido para salvar aos homens de seus pecados. Para João, a água e o sangue que brotaram do lado de Cristo eram o símbolo da água purificadora do batismo e do sangue, igualmente purificadora, que se comemora e experimenta na Eucaristia. Nesse lúgubre incidente, João vê um símbolo e um sinal, uma antecipação da graça purificadora e do perdão que emanam de Jesus Cristo e de sua cruz.
Como escreveu Toplady: Rocha de anos, atalho para mim,Deixa-me esconder em ti;Permite que a água e o sangue,Que brotou de teu lado,Seja a dupla cura do pecado,Purifica-me de seu culpa e de seu poder.
OS ÚLTIMOS DONS DE JESUS
Estudo sobre João 19:38-42
De maneira que Jesus morreu e o que era preciso fazer devia realizar-se logo porque o sábado estava perto e durante esse dia não se podia fazer nenhum trabalho. Os amigos de Jesus eram pobres e não lhe poderiam oferecer um enterro adequado; mas nesse momento aparecem duas pessoas em cena. Apresenta-se José de Arimatéia. Sempre foi discípulo de Jesus. Era um homem importante e formava parte do Sinédrio. Até esse momento tinha mantido sua condição de discípulo em segredo porque temia dá-la a conhecer. Aparece Nicodemos. Os judeus tinham o costume de envolver os mortos em tecidos de linho e pôr especiarias aromáticas entre as dobras do tecido. Nicodemos levou especiarias suficientes para enterrar a um rei. De maneira que José lhe deu um sepulcro e Nicodemos lhe proporcionou roupas para usar dentro do sepulcro.
Aqui temos elementos de tragédia e de glória.
(1) O elemento de tragédia. Tanto Nicodemos como José eram membros do Sinédrio mas eram discípulos em segredo. Podem ter ocorrido duas coisas: ou não estavam presentes na reunião do Sinédrio que interrogou a Jesus e que formulou as acusações contra Ele ou permaneceram em silêncio durante todo o processo.
Quão diferentes teriam sido as coisas para Jesus se entre todas as vozes condenatórias e insultantes tivesse surgido uma em seu apoio! Quão diferente teria sido ver lealdade em um rosto entre tantas caras envenenadas e cruéis! Mas Nicodemos e José tinham medo. Acontece tão freqüentemente que deixamos nossas honras para quando a pessoa já está morta. Quanto mais importante teria sido a lealdade em vida que um sepulcro novo e uma veste digna de um rei na morte! Uma flor em vida tem mais valor que todas as coroas do mundo depois da morte. Uma palavra de amor, louvor e agradecimento em vida vale mais que todos os panegíricos do mundo depois de morto.
(2) Mas também temos um elemento de glória. A morte de Jesus operou algo em José e Nicodemos que nem sequer sua vida pôde obter. Tão logo Jesus morreu na cruz, José esqueceu seu temor e enfrentou o governador romano com seu pedido do corpo de Jesus. Tão logo Jesus morreu, Nicodemos estava preparado com um tributo que todos podiam ver. Desapareceu a covardia, o medo, a dúvida, o ocultação prudente. Os que experimentaram temor quando Jesus estava vivo testemunharam a seu favor de maneira visível a todo mundo quando morreu. Não fazia uma hora que Jesus estava morto na cruz quando se cumpriu sua própria profecia: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (João 12:32). Pode acontecer que o silêncio ou a ausência de Nicodemos no Sinédrio produziu dor a Jesus mas não há dúvida que soube como deixaram de lado seus temores depois da cruz e seu coração se alegrava porque o poder da cruz tinha começado a agir e começava a atrair os homens a Ele. Até nesse momento tinha começado a agir o magnetismo da cruz, seu poder já tinha começado a converter o covarde em um herói e o homem indeciso em alguém que fez uma opção irrevogável por Cristo.