Comentário de João 1 — Matthew Henry

Comentário de João 1 
por Matthew Henry


Comentário de João 1:1-5

Comentário de João 1 — Matthew Henry
A razão mais simples do por quê se chama Verbo ao Filho de Deus parece ser que como nossas palavras explicam nossas idéias aos outros, assim foi enviado o Filho de Deus para revelar o pensamento de Seu Pai ao mundo.

O que diz o evangelista acerca de Cristo prova que Ele é Deus. Afirma sua existência no começo; sua co-existência com o Pai. O Verbo estava com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e não como instrumento. Sem Ele nada do que existe foi feito, desde o anjo mais elevado até o verme mais baixo. Isto mostra quão bem qualificado estava para a obra de nossa redenção e salvação. A luz da razão, e a vida dos sentidos, deriva dEle, e depende dEle. Este Verbo eterno, esta Luz verdadeira, resplandece, mas as trevas não a compreenderam. Oremos sem cessar para que nossos olhos sejam abertos para contemplar esta luz, para que andemos nEle; e assim sejamos feitos sábios para salvação por fé em Jesus Cristo.

Comentário de João 1:6-14

João Batista veio dar testemunho de Jesus. Nada revela com maior plenitude as trevas da mente dos homens que quando apareceu a Luz que houve necessidade de uma testemunha para chamar a atenção a ela. Cristo era a Luz verdadeira; essa grande Luz que merece ser assim chamada. Por seu Espírito e graça ilumina a todos os que estão iluminados para salvação; e os que não estão iluminados por Ele, perecem nas trevas. Cristo esteve no mundo quando assumiu nossa natureza e habitou conosco. O Filho do Altíssimo esteve aqui neste mundo inferior. Esteve no mundo, mas não era do mundo. Veio salvar um mundo perdido, porque era um mundo de Sua própria feitura. Contudo, o mundo não o conheceu. Quando venha como Juiz, o mundo o conhecerá. Muitos dizem que são de Cristo, embora não o recebem porque não deixam seus pecados nem permitem que Ele reine sobre eles.

Todos os filhos de Deus são nascidos de novo. Este novo nascimento é por meio da palavra de Deus (1 Pe 1.23), e pelo Espírito de Deus Enquanto a Autor. Por sua presença divina, Cristo sempre esteve no mundo, porém, agora que chegaria o cumprimento do tempo, Ele foi, de outra forma, Deus manifestado na carne. Observem-se, não obstante, os raios de sua glória divina que perfuraram este véu de carne. Embora esteve na forma de servo, no que diz respeito às circunstâncias externas, a respeito da graça sua forma foi a do Filho de Deus cuja glória divina se revela na santidade de sua doutrina e em seus milagres. Foi cheio de graça, completamente aceitável a seu Pai, portanto, apto para interceder por nós; e cheio de verdade, plenamente ciente das coisas que revelaria.

Comentário de João 1:15-18

Cronologicamente e na entrada em sua obra, Cristo veio depois de João, mas em toda outra forma, foi antes dele. A expressão mostra claramente que Jesus tinha existência antes de aparecer na terra como homem. NEle habita toda plenitude, de quem só os pecadores caídos têm, e receberão por fé, todo o que os faz sábios, fortes, santos, úteis e ditosos. Todo o que recebemos por Cristo se resume nesta só palavra: graça. Recebemos "graça sobre graça", um dom tão grande, tão rico, tão inapreciável; a boa vontade de Deus para conosco, e a boa obra de Deus em nós. A lei de Deus é santa, justa e boa; e devemos fazer uso apropriado dela. Mas não podemos derivar dela o perdão, a justiça ou a força. Nos ensina a enfeitar a doutrina de Deus nosso Salvador, mas não pode tomar o lugar dessa doutrina. Como nenhuma misericórdia procede de Deus para os pecadores senão por meio de Jesus Cristo, nenhum homem pode ir ao Pai senão por Ele; ninguém pode conhecer a Deus salvo que Ele o dê a conhecer no Filho unigênito e amado.

Comentário de João 1:19-28

João nega ser o Cristo esperado. Veio no espírito e o poder de Elias, mas não era a pessoa de Elias. João não era aquele Profeta do qual Moisés falou, que o Senhor levantaria de seus irmãos como para Ele. Não era o profeta que eles esperavam os resgataria dos romanos. Se apresentou de tal modo que poderia tê-los despertado e estimulado para que o ouvissem. Batizou a gente com água como profissão de arrependimento e como sinal externo das bênçãos espirituais que lhes conferiria o Messias, que estava em meio deles, embora não o reconhecessem, Aquele ao qual ele era indigno de prestar o serviço mais vil.

Comentário de João 1:29-36

João viu a Jesus que vinha a ele, e o indicou como o Cordeiro de Deus. O cordeiro pascoal, no derramamento e no aspergir de seu sangue, o assar e comer sua carne e todas as demais circunstâncias da ordenança, representavam a salvação dos pecadores por fé em Cristo. Os cordeiros sacrificados a cada manhã e cada tarde podem referir-se somente a Cristo morto como sacrifício para redimir-nos para Deus por seu sangue. João veio como pregador de arrependimento, apesar de que disse a seus seguidores que deviam buscar o perdão de seus pecados somente em Jesus e em sua morte. Concorda com a glória de Deus perdoar a todos os que dependem do sacrifício expiatório de Cristo. Ele tira o pecado do mundo; adquire perdão para todos os que se arrependem e crêem no evangelho. Isto estimula nossa fé; se Cristo tira o pecado do mundo, então, por quê não meu pecado? Ele levou o pecado por nós, e, assim, o tira de nós. Deus poderia ter tirado o pecado eliminando o pecador, como tirou o pecado do velho mundo, porém eis aqui uma maneira de tirar o pecado salvando o pecador, fazendo pecado a seu Filho, isto é, fazendo-o oferta pelo pecado por nós. Vejamos a Jesus tirando o pecado, e que isso nos faça odiar o pecado e decidir-nos em sua contra. Não nos aferremos daquilo que o Cordeiro de Deus veio eliminar.

Para confirmar seu testemunho de Cristo, João declara suas aparição em ocasião de seu batismo, coisa que o próprio Deus testificou. Viu e tomou nota de que era o Filho de Deus. Este é o fim e o objetivo do testemunho de João: que Jesus era o Messias prometido. João aproveitou toda oportunidade que lhe foi oferecida para guiar a gente a Cristo.

Comentário de João 1:37-42

O argumento mais forte e dominante de uma alma vivificada para seguir a Cristo é que Ele é o único que tira o pecado. Qualquer seja a comunhão que exista entre nossas almas e Cristo, Ele é quem começa a conversação. Perguntou, "Que buscam?" A pergunta que lhes faz Jesus é a que deveríamos fazer-nos todos quando começamos a segui-lo: que queremos e que desejamos? Ao seguir a Cristo, buscamos o favor de Deus e a vida eterna? Os convida a acudir sem demora. Agora é o tempo aceitável (2 Co 6.2). Bom é para nós estar onde esteja Cristo, onde quer que seja. Devemos trabalhar pelo bem-estar espiritual de nossos parentes, e procurar levá-los a Ele. Os que vão a Cristo devem ir com a resolução fixa de ser firmes e constantes nEle, como pedra, sólida e firme; e é por sua graça que são assim.

Comentário de João 1:43-51

Veja-se a natureza do cristianismo verdadeiro: seguir a Jesus, dedicar-nos a Ele e seguir suas pegadas. Olhem para a objeção que fez Natanael. Todos os que desejam aproveitar a palavra de Deus devem cuidar-se dos prejuízos contra lugares ou denominações dos homens. Devem examinar-se por si mesmos e, às vezes, acharão o bem onde não o procuraram. Muita gente se mantém fora dos caminhos da religião pelos prejuízos irracionais que concebem. A melhor maneira de eliminar as falsas noções da religião é julgá-la.

Não havia engano em Natanael. Sua profissão não era hipócrita. Não era um simulador nem desonesto; era um caráter sadio, um homem realmente reto e piedoso. Cristo sabe, sem dúvida, o que são os homens. Nos conhece? Desejemos conhecê-lo. Procuremos e oremos para sermos um verdadeiro israelita no qual não há engano, cristãos verdadeiramente aprovados pelo próprio Cristo. Algumas coisas débeis, imperfeitas e pecaminosas encontram-se em todos, mas a hipocrisia não cor-responde ao caráter do crente. Jesus deu testemunho do que aconteceu quando Natanael estava embaixo da figueira. Provavelmente, então, estavam orando com fervor, buscando direção acerca da Esperança e do Consolo de Israel, onde nenhum olho humano o visse. Isto demonstrou que nosso Senhor conhecia os segredos de seu coração.

Por meio de Cristo temos comunhão com os santos anjos e nos beneficiamos deles; e se reconciliam e unem as coisas do céu e as coisas da terra.