João Capítulo 1

João Capítulo 1


A Palavra Tornou-se Carne

1:1 No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 1:2 Ele estava no princípio com Deus. 1:3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
1:4 Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens; 1:5 e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 1:6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. 1:7 Este veio para testemunho para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. 1:8 Não era ele a luz, mas veio para que testificasse da luz. 1:9 Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo, 1:10 estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu. 1:11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 1:12 Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome, 1:13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.


Análise:

João 1.1 — o Verbo. O termo "verbo" (grego logos) designa Deus, o Filho, referindo-se à sua divindade:Jesus" e "Cristo" referem-se à sua encarnação e obra salvífica. Durante os primeiros três séculos, as doutrinas a respeito da Pessoa de Cristo incidiram intensamente sobre sua posição como o Logos. Na filosofia grega, o Logos era a "razão" ou a "lógica", como força abstrata que trazia ordem e harmonia ao universo. Porém, nos escritos de João, tais qualidades do Logos estão unidas na Pessoa de Cristo. Na filosofia neoplatônica e na heresia gnóstica (séculos II e III d.C.), o Logos era visto como um dos muitos poderes intermediários entre Deus e o mundo. Tais noções estão bem longe da simplicidade do Evangelho de João. Neste v. 1, João afirma expressamente que o Verbo é Deus. "No princípio" (uma clara referência às palavras de abertura da Bíblia), o Logos já existia, e esta é uma maneira de afirmar a eternidade que só Deus possui. João afirma claramente que "o Verbo era Deus". Alguns têm observado que a palavra traduzida "Deus", aqui, não é precedida do artigo definido e. com base nisto, dizem que a expressão significa "um deus", mais do que propriamente "Deus". É um erro entender assim. O artigo é omitido por causa da ordem da palavra na sentença grega (o predicado "Deus" foi colocado antes para ser enfatizado). O Novo Testamento nunca sustenta a ideia de "um deus", expressão que implica politeísmo e entraria em conflito com o constante monoteísmo da Bíblia. No Novo Testamento, a palavra grega para "Deus" ocorre frequentemente sem o artigo definido, dependendo da exigência da gramática grega.

A expressão "o Verbo estava com Deus" indica uma distinção de Pessoas, dentro da unidade da Trindade. Pai, Filho e Espírito Santo não são formas sucessivas de aparecimento de uma Pessoa, mas são Pessoas eternas presentes desde "o princípio" (v 2). A preposição "com" sugere uma relação de estreita intimidade pessoal. Ver "Um e Três: A Trindade", em Is 44.6

João 1.3 — Todas as coisas foram feitas por intermédio dele. Este versículo também dá ênfase à divindade do Verbo, uma vez que a criação é obra só de Deus. Ver também v. 1 O; CI 1.16-17; "Deus o Criador", no SI 148.5.

João 1.4 — A vida estava nele. Outra afirmação de divindade: o Filho, bem como o Pai, "tem vida em si mesmo" (5 26).

João 1.5 — e as trevas não prevaleceram contra ela. Ver nota textual. É característica do estilo deste Evangelho dar ênfase a conceitos contrastantes (Ver Introdução). O enredo deste Evangelho pode ser visto em termos de uma luta entre as forças da fé e as da descrença.

João 1.7-9 — todos... todo homem. A relevância universal do evangelho é afirmada (v.7) tanto quanto a iluminadora atividade da graça comum de Deus (v. 9). A atividade salvadora de Deus não se restringe a nenhum povo em particular.

João 1.9 — a verdadeira luz. Neste Evangelho, "verdade" e "verdadeiro(a)" são termos empregados frequentemente para significar aquilo que é eterno ou celestial em oposição ao meramente temporal ou terreno. Ver notas sobre 4.24; 6.32. "A Culpa da Humanidade e o Conhecimento de Deus", em Rm 1.19.

João 1.11 — e os seus não o receberam. O ministério público de Jesus foi rejeitado pelo "seu próprio povo". Ver nota textual.

João 1.12 — Ver nota textual. Os seres humanos decaídos não são filhos de Deus por natureza; este é um privilégio só daqueles que têm fé, urna fé gerada neles pela soberana ação de Deus (v 13) Ver Gl 4.5.

João 1.13 — os quais não nasceram. As primeiras versões latinas entenderam isto como descrevendo o nascimento virginal de Cristo. Contudo, o verbo "nasceram", no plural, mostra que este versículo se refere ao novo nascimento dos crentes cristãos (cf. 3.3,5,7-8) Este novo nascimento tem lugar pela ação do Espírito que dá vida àqueles que estavam mortos em delitos e pecados (Ef 2.1). O novo nascimento, frequentemente chamado de "regeneração", é indicado mais plenamente em 3.1-21 . Paulo usa a metáfora da ressurreição de mortos no pecado mais do que a figura de um novo nascimento (Rm 6.4-6; Ef 2.5-6; CI 2.13; 3.1; cf. Jo 5.24). A obra de salvação que Deus realiza é totalmente soberana e graciosa, mas a realidade da resposta humana em crer e receber nunca é revogada. Ver "Eleição e Reprovação", em Rm 9 18.


O Testemunho de João Batista


1:14 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. 1:15 João testificou dele e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: o que vem depois de mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. 1:16 E todos nós recebemos também da sua plenitude, com graça sobre graça. 1:17 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. 1:18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer. 


João Batista Repete seu Testemunho


1:19 E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? 1:20 E confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. 1:21 E perguntaram-lhe: Então, quem és, pois? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não. 1:22 Disseram-lhe, pois: Quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo? 1:23 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. 1:24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus, 1:25 e perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 1:26 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água, mas, no meio de vós, está um a quem vós não conheceis. 1:27 Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias. 1:28 Essas coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando. 1:29 No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 1:30 Este é aquele do qual eu disse: após mim vem um homem que foi antes de mim, porque já era primeiro do que eu. 1:31 E eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água. 


Batismo de Jesus


1:32 E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre ele. 1:33 E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. 1:34 E eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus. 


Dois Discípulos de João Batista Seguem Jesus


1:35 No dia seguinte João estava outra vez ali, na companhia de dois dos seus discípulos. 1:36 E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus. 1:37 E os dois discípulos ouviram-no dizer isso e seguiram a Jesus. 1:38 E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras? 1:39 Ele lhes disse: Vinde e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima. 1:40 Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João e o haviam seguido. 1:41 Este achou primeiro a seu irmão Simão e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). 1:42 E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). 


Filipe e Natanael


1:43 No dia seguinte, quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. 1:44 E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. 1:45 Filipe achou Natanael e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. 1:46 Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem e vê. 1:47 Jesus viu Natanael vir ter com ele e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo. 1:48 Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu estando tu debaixo da figueira. 1:49 Natanael respondeu e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel. 1:50 Jesus respondeu e disse-lhe: Porque te disse: vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás. 1:51 E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que, daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem.