João 6:14-15 — Estudo Bíblico

Estudo Bíblico sobre João 6:14-15
por William Barclay


JOÃO 6, BÍBLICO, ESTUDO, EVANGELHOAqui temos a reação da multidão. Os judeus esperavam o profeta que, conforme criam, Moisés lhes tinha prometido. “O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás” (Deuteronômio 18:15). Esperavam o Messias, o escolhido de Deus. Tinham estado esperando durante toda sua história, e estavam esperando nessa época. Nesse momento, na Betsaida Julia estavam dispostos a aceitar a Jesus como esse Profeta e esse Rei.

Estavam dispostos a carregá-lo, a entronizá-lo no poder em um arroubo de ardor popular e entusiasmo maciço. Mas não muito depois outra multidão clamava: "Crucifica-o! Crucifica-o!" Por que foi que nesse momento a multidão aclamava a Jesus?

Por um lado, a multidão estava disposta a apoiar a Jesus quando dava o que eles queriam. Tinha-os curado e os havia alimentado; e nesse momento estavam dispostos a convertê-lo em seu chefe. Existe uma lealdade comprada, uma lealdade que depende dos favores, os presentes, para dizê-lo com toda crueldade, do suborno. Existe um amor falso, um amor que se baseia no que podemos tirar das pessoas e no que essas pessoas podem fazer por nós.

Em um de seus momentos de maior cinismo, o doutor Johnson definiu a gratidão como "um vivo sentido dos favores que estão por vir". O simples pensar nessa multidão nos revolta. Mas somos acaso muito diferentes dela? Quando necessitamos compaixão na dor, quando necessitamos fortaleza em meio das dificuldades, quando queremos paz no meio do tumulto, então, nesses momentos, não há ninguém tão maravilhoso como Jesus. Então falamos com Ele, e caminhamos a seu lado e lhe abrimos nossos corações.

Mas quando Ele se aproxima de nós com uma severa exigência de sacrifícios, com algum desafio que exige um esforço, com o oferecimento de alguma cruz, então não queremos ter nada que ver com Ele. Pode ser que ao examinar nossos corações descubramos que nós também amamos a Jesus pelo que podemos obter dele, e que quando Ele nos aborda com exigências e desafios também nos enfraquecemos, e nos voltamos ressentidos e hostis para com esse Cristo perturbador e exigente.

Por outro lado, queriam usá-lo para seus próprios fins e moldá-lo segundo seus sonhos. Estavam esperando o Messias. Mas imaginavam a seu modo. Esperavam um Messias que seria Rei e Conquistador. Alguém que pisaria na cabeça da águia e tiraria os romanos da Palestina, que mudaria o status de Israel e de uma nação submetida a converteria em uma potência mundial. Alguém que a libertaria do destino de ser um país ocupado e que o tornaria em conquistador de outros países. Tinham visto as coisas que Jesus podia fazer, e o que imaginavam era: "Este homem tem poder, um poder milagroso e maravilhoso. Se podemos adequá-lo a seu poder à medida de nossos sonhos, planos e desejos, começarão a acontecer coisas." Se tivessem sido sinceros teriam que reconhecer que estavam tratando de usar a Cristo.

Mais uma vez, somos nós muito diferentes? Quando nos dirigimos a Cristo, é para encontrar forças para seguir com nossos propósitos, planos e idéias, ou para aceitar com humildade e obediência seus planos e desejos? Nossa oração é: "Senhor, dá-me forças para eu fazer o que queres que faça" ou, "Senhor, dá-me forças para fazer o que eu quero fazer"?

Essa multidão de judeus estava disposta a seguir a Cristo nesse momento porque lhes estava dando o que eles queriam, e desejavam usá-lo para satisfazer seus planos, propósitos e idéias. Essa atitude com relação a Cristo ainda subsiste no coração dos homens. Queríamos obter os dons de Cristo sem a cruz de Cristo; queríamos usar a Cristo em lugar de permitir que ele nos use .