Fílon de Alexandria e o Evangelho de João
Fílon pertence à primeira metade do primeiro século AD. Ele tentou entender sua própria fé judaica à luz da síntese do pensamento platônico e estóico feita por Posidônio (cerca de 100 a.C.). O objetivo do homem religioso é trazer a sua vida em relação com a realidade, de modo a atingir a sua verdadeira imortalidade final. Mas existe um abismo intransponível entre o mundo real das ideias divinas e o mundo existente, que está sujeito a mudanças e decadência. No entanto, nesta base platônica é sobreposto a noção estóica do Logos (Palavra). Por isso, “Fílon significa o mundo platônico de ideias, concebido não como auto-existente, mas como expressão da mente do Deus Único”.12 Portanto, o Logos é a imagem de Deus, impressa nas numerosas formas da ordem criada. Ele também é encontrado dentro do homem, supremamente em sua inteligência, capacitando-o a perceber a verdade última e, assim, elevar-se à comunhão com Deus. A Lei, como a expressão perfeita do Logos, está, portanto, preocupada com a atividade da alma. Assim Fílon se dedica à alegorização geral das Escrituras, na qual pessoas e eventos são identificados com as virtudes e vícios e a atividade da alma. Somos imediatamente lembrados de duas características do Quarto Evangelho: (i) João fala do Logos no prólogo de uma maneira similar. Mas isso é derivado de certas passagens chaves, notadamente Prov 8.22-3 I e Sir. 24, para o qual Fílon também está endividado. A diferença crucial é que, em João, o Logos ‘se tornou carne’ (1.14). Fílon não tem nada disso, o que de fato contraria seu sistema. De fato, João não demonstra nenhuma familiaridade com os trabalhos de Fílon, de modo que essa semelhança provavelmente será um desenvolvimento paralelo, e não um empréstimo direto (veja mais as notas de 1.1). (ii) João ocasionalmente usa alelhinos (“real, verdadeiro”) de um modo que poderia ser comparado com Fílon (1.9; 6.32; 15.1); mas, nessas passagens, temos metáforas, mas não a alegoria filônica característica. Não há realmente nenhuma conexão com o pensamento de Fílon, que deva ser contado a partir das influências do Quarto Evangelho.
Fonte: LINDARS. Barnabas. New Century Bible Commentary. Gospel of John, pp. 39-40