Teologia do Evangelho de João
Teologia do Evangelho de João
A teologia do evangelho de João, em essência, é cristológica.1 A pessoa de Jesus Cristo está no centro de tudo que o apóstolo João escreve. Quer no Evangelho de João, com sua ênfase única na Palavra que se fez carne, quer nas epístolas joaninas, com o foco na Palavra de vida em meio à controvérsia do cisma da Igreja, quer em Apocalipse, com suas visões do Cristo exaltado (Ap 1.12-16) e de seu triunfo final, o principal objetivo do apóstolo é explicar a seus leitores quem Jesus é. Inevitavelmente, a tentativa de discutir a teologia dos escritos joaninos dividindo-os entre as categorias tradicionais da teologia sistemática (por exemplo, antropologia, soteriologia, pneumatologia, escatologia) gera algumas distorções, pois João não organizou seu material de acordo com essas linhas. Ao contrário, ele tinha um foco central, Jesus Cristo. Muito do que João escreveu a respeito de Jesus, em especial, no Evangelho e nas três epístolas, foi temperado por anos de reflexão e experiência cristã, mas Cristo está sempre no centro.
Todavia, isso não quer dizer que João não fala nada sobre antropologia, soteriologia, pneumatologia ou escatologia. Isso só quer dizer que tudo que ele diz sobre esses tópicos e outros está quase sempre relacionado à sua ênfase cristológica. Por isso, quaisquer tentativas de tratar esses aspectos individuais da teologia joanina são um tanto repetitivas, já que todos os pontos voltam a Cristo. Nesta discussão, a principal ênfase da teologia joanina será considerada junto com as estruturas e as técnicas empregadas pelo evangelista para transmitir essas ênfases para seus leitores.
O primeiro tema teológico fundamental a ser examinado é a cristologia. Ele não incluirá apenas uma visão geral da percepção de João em relação à pessoa de Jesus Cristo, mas também investigações específicas de títulos-chave de Jesus nos escritos joaninos. A seguir, examinaremos a perspectiva dos quatro Evangelhos a respeito da glorificação de Jesus. Esta consiste não só de sua exaltação pelo Pai, mas também de sua morte, ressurreição e ascensão. A isso, segue-se uma reflexão sobre a ênfase de João no Espírito Santo, o substituto de Jesus após sua partida, e, depois, a discussão da polarização na teologia joanina — o uso por João de duplas de opostos, ou antíteses, como luz e trevas, fé e descrença, céu e terra, e carne e espírito. Esses pares de opostos são incrivelmente importantes para a compreensão da teologia joanina. E isso não só pelo notável impacto que têm sobre os leitores, como também por que eles ressaltam a apresentação de Jesus, por parte de João, como o Messias e o Filho de Deus em escolhas antitéticas — o leitor do Evangelho de João tem de escolher ficar a favor de Jesus ou contra Ele, e essa escolha determina seu destino eterno.
O assunto a ser examinado a seguir é a doutrina da salvação de João em seus vários aspectos. Esta, depois da cristologia, é o segundo tema mais importante dos escritos joaninos. A discussão contemplará a teologia de João em relação à cruz, incluindo sua ênfase na morte de Jesus como parte do plano de Deus, a natureza voluntária da morte de Jesus e seus aspectos sacrificiais. Daremos atenção ao desenvolvimento da fé em Jesus, por parte dos discípulos, nos quatro Evangelhos, a começar pela fé que tinham em Jesus como o Messias e culminando com a confissão de Tomé de que Jesus é Senhor e Deus (Jo 20.28).
Após isso, discutiremos a regeneração nos escritos joaninos e a longa seção sobre fé. Depois, examinaremos a ênfase exclusiva de João na vida eterna como uma experiência presente que está disponível aos crentes. A última seção principal discute a escatologia joanina, incluindo a tensão existente no Evangelho de João entre a escatologia “futura” e a, assim chamada, escatologia “cumprida”. Embora pudéssemos discutir outros tópicos, esses temas centrais dos escritos joaninos foram selecionados, pois tudo o mais gira em torno deles.
FONTE: ZUCK, Roy B., Teologia do Novo Testamento, p. 188.