Soteriologia do Evangelho de João

Soteriologia do Evangelho de João

Soteriologia do Evangelho de João
No Novo Testamento, temos de falar simultaneamente de cristologia e soteriologia (a doutrina da salvação). Sem Jesus ser divino e humano, a salvação não seria possível. Sua morte sacrifical tinha de ser de imenso valor, assim, sua deidade providenciou isto. Mas sua humanidade tornou-lhe possível morrer. Se esta doutrina de fé cair, cai também a experiência e provisão de salvação. A chave para entender este tema no Evangelho de João surge de um contexto de confrontação entre a congregação ou congregações de João e o judaísmo. Esta confrontação começou com Jesus, mas com o tempo se estendeu, tanto em profundidade quanto em amplitude, de forma que pelos dias de João a tensão era alta. As questões tinham se tornado muito mais claras.

Hoje em dia os estudiosos encaram esta confrontação com o judaísmo em termos sectários. Judeus e cristãos reivindicavam as mesmas Escrituras, as mesmas tradições do Antigo Testamento. O judaísmo reivindicava o Êxodo, a Páscoa, o concerto e os patriarcas (sobretudo Abraão e seus méritos). Tinha um sistema completo de tradição, escrita e oral, que sobrevivia na comunidade. Os judeus não precisavam de salvação pessoal, pois Deus há muito havia-lhes provido tal coisa. Em épocas especiais do ano, com celebrações rituais agrupadas em volta do templo e da lei, Deus apenas estendia Sua obra de promessa e perdão entre o povo.

Claro que os judeus não aceitaram Jesus como o Filho do Deus das Escrituras hebraicas e como meio de perdão. É aqui que entra a mudança. Jesus, por quem Deus inicialmente criou o mundo, foi aquele por quem Deus criou a segunda vez. Ele criou uma nova ordem chamada Igreja. João tomou festas importantes, dias santos e rituais do Antigo Testamento, manteve algumas idéias fundamentais inerente neles, mas acrescentou conceitos significativos, mudando-os. Por exemplo, ele mudou a Festa da Páscoa na Ceia do Senhor, o sábado no domingo (lit., “no primeiro dos sábados”, Jo 20.1), o dia da ressurreição; a Festa dos Tabernáculos em Jesus e a vinda do Espírito. Ele mudou a submissão dos patriarcas Jacó Jo 4) e Abraão (Jo 8) para Jesus e os apóstolos.

Por meio deste contexto de confrontos e mediante o poder transformador de Deus João mostrou descontinuidade entre o Antigo e Novo Testamentos, ao mesmo tempo que mantinha continuidade.

1) Ele cria que Jesus cumpriu as promessas nas Escrituras.
2) Ele chegou às suas conclusões interpretando as Escrituras para mostrar sua ligação com Jesus e a salvação.
3) Sua experiência com Jesus moldou suas pressuposições e influenciou seu modo de abordar a Escritura. O judaísmo usava muitas das mesmas passagens da Escritura, mas João as via à luz de Jesus e do Espírito. Deus tinha feito uma coisa nova em Jesus. Exigia nova adoração, uma adoração de vida e Espírito, o que também trazia liturgia e ritual novos.

O sistema de salvação ocasionado por Jesus mudou o antigo. Jesus era o Cordeiro da Páscoa dos fins dos tempos, que tirou o pecado do mundo. Oferecendo-o como o Cordeiro de Deus na cruz no tempo da Páscoa, Deus tirou todas as ofensas entre Ele e seu povo. Colocando a fé em Jesus e tornando-se seus discípulos, os indivíduos recebem uma nova natureza pelo Espírito do Pai e do Filho. Através desta experiência, o novo crente entra no Reino de Deus — a nova, verdadeira e divina realidade. Sua morte e ressurreição são centrais à criação da Igreja.

Com a chegada desta nova era, a antiga perdeu significado. A Páscoa já não tem valor para a expiação. Considerando que o mundo está sob a influência do pecado e do Diabo, as pessoas não podem apelar para as realidades étnicas, preconceitos ou ligações patriarcais para dar fim ao poder do pecado. O pecado é inerente na natureza humana e nas várias estruturas sociais, políticas e religiosas do mundo. Jesus, em sua encarnação invadiu o mundo, fez expiação pelo pecado e enviou o Espírito para nos livrar do poder mundano. Jesus é o Messias divino que liberta o povo e predomina sobre tudo.