Explicação de João 8:3-20

Explicação de João 8:3-20
Explicação de João 8:3-20

João 8

8.3 E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério. Os líderes religiosos não levaram esta mulher a Jesus para promover a justiça; eles a usaram para tentar apanhar Jesus em uma armadilha. Embora indignados pelo pecado desta mulher, os líderes religiosos a levaram a Jesus por terem em mente motivos políticos, e não espirituais. Eles se esqueceram do fato óbvio de que apanhar alguém em flagrante adultério envolvia apanhar duas pessoas. A desvalorização da mulher por parte daqueles religiosos (que ignoraram o pecado do homem), a tornava não mais que um fantoche no esforço de apanhar Jesus em uma armadilha.

8.4-6 Os líderes judeus já haviam desconsiderado a lei prendendo a mulher sem o homem (Levítico 20.10; Deuteronômio 22.22). Ambos deveriam ser apedrejados. Mas os procedimentos diante de Jesus tinham pouco a ver com a justiça. Os líderes estavam usando o pecado da mulher como uma oportunidade de colocar Jesus em uma situação difícil, e destruir a sua credibilidade diante do povo. Se Jesus dissesse que a mulher não deveria ser apedrejada, eles poderiam acusá-lo de violar a lei de Moisés. Se Ele dissesse que a executassem, eles o denunciariam aos romanos, que não permitiam aos judeus efetuarem as suas próprias execuções (18.31). Mas Jesus estava ciente de suas intenções e não deu nenhuma das respostas esperadas ao dilema que colocaram diante dele. Ele simplesmente se inclinando, escrevia com o dedo na terra. Muitos especulam sobre o que Ele escreveu: talvez estivesse listando os nomes daqueles que estavam presentes e que haviam cometido adultério (se isto ocorreu, estes devem ter se sentido apavorados); Ele pode ter listado nomes e vários pecados que cada pessoa tinha cometido; talvez estivesse escrevendo os Dez Mandamentos para mostrar que ninguém poderia reivindicar estar sem pecado. Seja qual for caso, Jesus fez com que os acusadores se sentissem desconfortáveis.

8.7,8 Os líderes religiosos poderiam ter resolvido este caso sem a opinião de Jesus. Jesus estava totalmente ciente de que a mulher só foi levada à sua presença para que os fariseus pudessem testá-lo. A declaração de permissão de Jesus, “Atire pedra contra ela,” equilibrou vários pontos cruciais da verdade. Ele defendeu a penalidade legal para o adultério (apedrejamento), para que não pudesse ser acusado de estar contra a lei. Mas requerendo que apenas aquele que está sem pecado seja o primeiro que atire pedra, Jesus expôs o que estava nos corações dos acusadores. Sem condenar as ações da mulher, Ele destacou a importância da compaixão e do perdão e ampliou o foco de julgamento até que cada acusador se sentisse incluído. Jesus sabia que a execução não poderia ser efetuada.

Como devemos aplicar a declaração de Jesus de que apenas as pessoas sem pecado é que podem conduzir um julgamento? Jesus não estava dizendo que apenas as pessoas perfeitas e sem pecado podem fazer acusações legítimas, fazer julgamentos, ou executar uma pena de morte. Nem estava desculpando o adultério ou qualquer outro pecado dizendo que todos pecam. Este evento ilustra que o juízo sábio flui a partir de motivos honestos. Jesus resolveu um caso de injustiça que estava prestes a se concretizar, expondo a hipocrisia das testemunhas contra a mulher. Fazendo os acusadores examinarem a si mesmos, Ele expôs os seus verdadeiros motivos. Jesus confrontou o pecado da mulher, mas exerceu a compaixão juntamente com a confrontação. Como no caso da mulher no poço (capítulo 4), Jesus demonstrou a esta mulher que ela era mais importante do que aquilo que ela havia feito de errado.

8.9-11 Quando Jesus convidou aquele que não tinha pecado a atirar a primeira pedra, os líderes saíram um a um, dos mais velhos até aos mais jovens. Evidentemente, os homens mais velhos estavam mais cientes de seus pecados do que os mais jovens. A idade e a experiência freqüentemente abrandam a hipocrisia que se manifesta na juventude. Todos nós temos uma natureza pecadora e somos desesperadamente necessitados de perdão e transformação. Nenhum de nós teria sido capaz de jogar a primeira pedra; nenhum de nós pode afirmar não ter pecado. Nós, também, teríamos que nos retirar. Ficaram só Jesus e a mulher, que estava no meio. Aparentemente ninguém pôde afirmar não ter pecado para apedrejar a mulher. Jesus tinha exposto a hipocrisia deles e os constrangido, e não houve nada que eles pudessem fazer a não ser voltar e pensar em alguma outra maneira astuta de surpreender Jesus.

Ninguém tinha acusado a mulher, e Jesus gentilmente disse que Ele também não iria condená-la. Mas havia mais - ela não estava simplesmente livre para seguir o seu caminho. Jesus não só a libertou dos fariseus, Ele queria libertá-la do pecado; portanto, o Senhor acrescentou: “Vai-te e não peques mais” . Jesus não a condenou, mas também não ignorou ou tolerou o seu comportamento. Jesus disse à mulher que deixasse a sua vida de pecado.

8.12 Nos manuscritos mais antigos de João, este versículo vem logo após 7.52. Os capítulos 7 e 8 registram os diálogos que Jesus teve com os líderes religiosos em Jerusalém durante a Festa dos Tabernáculos. Além da cerimônia com água, imensas lâmpadas no Pátio das Mulheres no Templo eram acesas em comemoração à coluna de fogo que conduziu os israelitas em sua viagem pelo deserto (Números 9.15-23). A luz destas lâmpadas iluminava boa parte de Jerusalém. Ao se declarar como sendo a própria luz, Jesus estava reivindicando a sua própria divindade. Na Bíblia, o termo “luz” simboliza a santidade de Deus (veja também Salmo 27.1; 36.9; Atos 9.3; 1 João 1.5). Como a luz, Jesus ilumina a verdade, dá às pessoas o entendimento espiritual, nos revela o próprio Deus, e aquilo que Ele tem feito por nós.

Afirmando ser a luz do inundo, Jesus definiu a sua posição incomparável como a única luz verdadeira para todas as pessoas, náo apenas para os judeus (Isaías 49.6). A morte traz trevas eternas; mas seguir Jesus significa não tropeçar nas trevas, mas ter a luz que conduz à vida. Os crentes não andam mais cegamente em pecado; em vez disso, a luz de Jesus mostra o pecado e a necessidade de perdão, traz direção, e conduz cada um de nós à vida eterna com Ele.

8.13,14 Depois que Jesus disse isto, os fariseus responderam: “ Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro!” Mas eles não sabiam nada a respeito de Jesus. Eles presumiam que Ele estivesse falando sem o suporte de algum testemunho válido, o testemunho de uma outra pessoa. A lei judaica diz que duas testemunhas são necessárias para um testemunho válido em uma ofensa capital, como era a acusação deles de blasfêmia (5.31; também Deuteronômio 19.15). Jesus afirmou que o seu testemunho era verdadeiro porque Ele conhecia a Deus Pai, e as palavras que Jesus falava eram do próprio Pai. Portanto, quando Jesus falava, Ele não estava testificando apenas a respeito de si mesmo; mas, por falar as palavras de Deus, Deus também estava testificando dele.

8.15,16 Os líderes religiosos não conheciam a origem divina de Jesus, e o consideravam como um falso Messias; isto é, eles o estavam julgando com todas as suas limitações humanas. Embora agissem assim, Jesus não estava julgando ninguém. Jesus queria dizer que enquanto seus acusadores julgavam conforme padróes humanos, Ele não julgava. Jesus reservou para si o direito de julgar, embora esta náo fosse a razão principal de sua presença. Jesus não veio para julgar, mas para salvar. Ele já havia dito a um célebre fariseu (Nicodemos): “Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (3.17). Mas como o Filho do Homem, Ele recebeu autoridade para julgar; e quando vier o futuro dia do juízo, o juízo de Jesus será correto em todos os aspectos porque Ele julgará de acordo com a vontade do Pai (veja 5.27,45). Portanto, poderia se dizer que embora Jesus não tenha vindo para julgar, a sua vinda levou ao juízo porque ela forçou uma decisão - e a rejeição a Jesus levou ao juízo. 

8.17,18 Os líderes religiosos não entenderam que o Pai e o Filho viviam um no outro e estavam um com o outro (veja 10.38; 14.9-11; 17.21). Portanto, embora o Filho tenha vindo do Pai (8.14) e tenha sido enviado pelo Pai (8.16,18), Ele não estava separado do Pai - porque o Pai que enviou o Filho estava com Ele, e deu testemunho dele. A sua testemunha de confirmação foi o próprio Deus. Jesus e o Pai formavam duas testemunhas, o número exigido pela lei.

8.19,20 Ao pedirem para ver seu pai, os líderes estavam dizendo, “Traga a outra testemunha; desejamos interrogá-la” . Se o seu pai era a outra testemunha, então onde estava Ele? Na própria presença deles, Jesus afirmou que aqueles homens não conheciam a Ele nem a seu Pai. Sua má vontade em “conhecer” Jesus enquanto Ele estava entre eles, também os impedia de conhecer o Pai, que estava, da mesma forma, verdadeiramente entre eles. Jesus já havia lhes dito que seu Pai estava com Ele, mas a pergunta deles mostrava que eles não conheciam o Filho nem o Pai - porque “ Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai” . Quando Jesus fala, o Pai fala. Mas a capacidade de reconhecer esta preciosa bênção foi completamente perdida na vida destes líderes religiosos.