Explicação de João 6:60-71
Explicação de João 6:60-71
João 6
6.60 Neste momento no ministério de Jesus, Ele tinha vários seguidores que poderiam vagamente serem chamados de seus discípulos (veja 4.1). Estes “discípulos” não eram os doze, e muitos deles náo receberiam a sua mensagem. Eles demonstravam dificuldades para entender. O motivo por trás das palavras ásperas de Jesus não é difícil de se ver - Ele queria que as pessoas considerassem o custo de segui-lo (Lucas 14.25-33). Suas palavras chocavam e desafiavam. Não havia meias-verdades confortáveis, mas uma verdade dura e penetrante. Aqueles que seguem Jesus na esperança de se sentirem bem, sempre se desapontarão - mais cedo ou mais tarde. Somente aqueles que encontram em Jesus a verdade sólida como a rocha, serão capazes de enfrentar as dificuldades de se viver neste mundo caído.
João 6
6.61 Jesus, sabendo que os seus ouvintes estavam murmurando, perguntou: “ Isto vos escandaliza?” ou mais literalmente, “Isto vos faz tropeçar?” (A palavra grega skandalizo significa “apanhar em laço, apanhar em armadilha, fazer tropeçar”; ela é freqüentemente usada para indicar a queda na descrença. Veja, por exemplo, Mateus 13.21; 24.10; Marcos 6.3; Romanos 14.20,21). Jesus estava profundamente ciente de que aqueles que não estavam prontos a responder totalmente a Ele se escandalizariam dele ou se sentiriam ofendidos por Ele. Lembre-se de que é possível sermos ofensivos na maneira como transmitimos o Evangelho - e esta seria uma razão pela qual estaríamos em falta. Mas se apresentarmos Jesus amavelmente e honestamente, não deveremos ficar chocados nem nos sentirmos culpados se as Boas Novas ofenderem alguém.
6.62 Eles não creram que Jesus desceu do céu. Se eles o vissem voltar ao céu, será que creriam então? De acordo com o versículo 65, eles não creriam, porque não eram crentes verdadeiros. Jesus havia sido propositalmente severo, com a finalidade de separar os verdadeiros crentes daqueles que o estavam acompanhando pelas razões erradas. Alguns buscavam um novo partido político; outros pensavam que Jesus poderia liderar uma revolta contra Roma; havia ainda outros que estavam simplesmente fascinados pelas discussões teológicas. Todos estes pensamentos eram pontos iniciais de um potencial interesse por Jesus, mas não eram suficientes para torná-los verdadeiros discípulos.
6.63 Esta declaração nos dá a chave para interpretar o discurso de Jesus. Seus ouvintes não tinham entendido o propósito espiritual de sua mensagem. Uma interpretação carnal de suas palavras não produziria nada; deve-se aplicar uma interpretação espiritual às palavras inspiradas pelo Espírito. O esforço humano que começa com os desejos e objetivos de sabedoria humana para nada aproveita. Em vez disso, é o Espírito que dá a vida eterna. As próprias palavras de Jesus são espírito e vida; portanto, devemos depender do Espírito que dá a vida para nos apropriarmos das palavras de Jesus. Pedro era um crente que veio a perceber que Jesus tinha as palavras de vida eterna (veja 6.68).
6.64 Desde o princípio de seu ministério, Jesus sabia que alguns dos que o seguiam não criam em sua verdadeira identidade como o Filho de Deus vindo do céu. Jesus também sabia desde o princípio quem era que o havia de entregar. Este era Judas, filho de Simão Iscariotes (6.70). Por um momento, João interrompe com uma breve palavra de explicação dirigida aos seus leitores originais, e a nós. Jesus incluiu Judas em toda faceta de seu ministério, sabendo todo o tempo que Ele não iria responder à verdade viva. O tratamento de Jesus a Judas foi coerente com o seu próprio caráter, a despeito daquilo que Judas merecesse por sua falta de vontade de crer.
6.65 Isto repete o que Jesus havia declarado antes (veja 6.44,45). Os sinais em si, a despeito de quão extraordinários possam ser, náo são completamente convincentes. Alguns crêem vendo, e outros crêem sem precisar ver; mas todos precisam da ajuda de Deus (20.29). 6.66 Jesus estava dizendo coisas severas, e isto fez com que muitos dos seus discípulos não o seguissem mais. Embora estivessem vendo o Reino dos Céus, tendo o privilégio de experimentar o sabor do pão da vida, e vendo a água da vida fluir, eles se retiraram. Em uma frase curta, Joáo mostrou um dos momentos mais tristes do ministério de Jesus.
6.67,68 De acordo com a gramática grega, esta pergunta espera uma reposta negativa. Jesus conhecia a fraqueza deles, bem como o entendimento limitado que possuíam. Ele sabia que um deles náo só se retiraria, mas também o trairia. Contudo, Ele também sabia que Deus havia escolhido onze para crerem nele. Náo podemos ficar em uma posição de meio termo em relaçáo a Jesus. Quando Ele perguntou aos discípulos, “Quereis vós também retirarvos?” estava lhes mostrando que náo tinha a fé deles como algo garantido. Jesus nunca tentou repelir as pessoas através dos seus ensinos. Ele simplesmente dizia a verdade. Quanto mais as pessoas ouviam a verdadeira mensagem de Jesus, mais se dividiam em dois campos - aqueles que o buscavam honestamente querendo entender mais, e aqueles que rejeitavam a Jesus porque náo gostavam daquilo que ouviam.
Pedro respondeu, “Para quem iremos nós?” Com seu modo direto, Pedro respondeu por todos nós - náo há outro caminho. Embora haja muitas filosofias e pretensas autoridades, somente Jesus tem as palavras da vida eterna. As pessoas procuram a vida eterna em todos os lugares, e há aquelas que náo enxergam a Cristo, a única fonte da vida eterna. Quando se trata de salvaçáo, não há ninguém a quem possamos recorrer além de Jesus Cristo.
6.69 A declaração de Pedro faz um paralelo com o que ele fez em Cesaréia de Filipe, mas cada um dos Evangelhos sinóticos apresenta uma versão ligeiramente diferente das palavras de Pedro (veja Mateus 16.16; Marcos 8.29; Lucas 9.20). Pedro estava na verdade dizendo mais do que ele sabia. As palavras descritivas que ele falou sem pensar para dizer a Jesus como ele e os outros discípulos se sentiam a respeito do Mestre, transmitem tanto a natureza impulsiva de Pedro como a genuína impressão que ele tinha de Cristo. Primeiro ele chamou a Jesus de “Senhor” (6.68). E então, ele acrescentou: (1) não há nenhum outro como Tu; (2) Tu tens a verdade sobre a vida eterna; (3) nós temos crido; (4) sabemos que tu és o Santo de Deus. Pedro estava fazendo o melhor que podia para descrever Jesus em uma categoria separada de qualquer outro homem que já viveu.
Como o entendimento de Pedro, o nosso próprio entendimento a respeito de Jesus deve se expandir à medida que vivemos para Ele. Quando a princípio cremos em Jesus como Salvador e Senhor, o nosso entendimento é real, mas limitado. Mas com o passar do tempo, a nossa consciência da amplitude e profundidade da obra salvadora de Jesus e do seu senhorio deve crescer.
6.70,71 Pedro pode ter pensado que estava falando pelos doze, mas não foi assim. Um dentre eles - Judas Iscariotes - era um diabo, o traidor que iria trair Jesus. De acordo com 13.2 e 27, Satanás colocou no coração de Judas a idéia de trair Jesus, e então entrou em Judas para instigar a traição real. Diabolos (6.70) significa “difamador, diabólico”, algo ou alguém que tem a natureza e as características de Satanás. Judas se deixou levar por pensamentos maus e ficou sob o controle do diabo. João lembrou aos seus primeiros leitores o que estava em jogo. Quase toda palavra de ensino proferida por Jesus foi dada dentro do contexto de um intenso drama espiritual. O céu deve ter ficado em uma situação de expectativa, enquanto os homens tentavam entender a verdadeira identidade de Jesus.