Explicação de João 4:1-38
Explicação de João 4:1-38
João 4.1, 2 — Jesus percebeu que sua popularidade havia chamado a atenção dos fariseus. Eles haviam estudado as atividades de João Batista e enviado alguns emissários para interrogá-lo sob te sua identidade (1.19-28). João sempre mostrava aos seus seguidores aquele que era maior, o Messias. Como o Maior já havia chegado, e estava verdadeiramente afastando as multidões de João, os fariseus começaram a observar Jesus cuidadosamente.
Jesus havia conquistado mais discípulos além dos doze originais. Sabemos que Ele tinha pelo menos setenta e dois discípulos comprometidos (Lc 10.1-17) e também que vários desses discípulos iam e vinham, especialmente quando os tempos estavam difíceis ou quando Jesus previa algum problema futuro (Lc 9.57-62; Jo 6.66). Parte das informações recebidas pelos fariseus era incorreta porque Jesus não batizava ninguém, somente seus discípulos batizavam. Essa informação adicional ajuda a explicar a declaração de João Batista em 1.33 de que o Messias iria batizar com o Espírito Santo - ao contrário de João que batizava com água. Portanto, Jesus pessoalmente nunca realizou o batismo com água e seus discípulos continuaram a executar essa tarefa durante os primeiros anos da Igreja. Esses batismos, que ainda obedeciam ao padrão estabelecido por João Batista, indicavam o arrependimento e a confissão dos pecados (veja Mateus 3.6).
João 4.3 — Sabendo que os fariseus (em Jerusalém) ficaram sabendo a respeito da sua popularidade e estariam observando cuidadosamente a sua pessoa e, ao mesmo tempo, que sua “hora” ainda não havia chegado (veja também 2.4), Jesus decidiu afastar-se de um possível conflito deixando a Judéia e retornando à Galiléia. Dessa forma terminou sua primeira visita à Judéia, uma visita que havia sido iniciada com sua vinda a Jerusalém para a Páscoa (veja 2.13). Os outros Evangelhos não registram essa visita.
João 4.4 — O território de Samaria estava situado entre a Judéia e a Galiléia - portanto, o itinerário de Jesus fazia com que Ele precisasse passar por Samaria. Como os samaritanos eram odiados pelos judeus, a maioria dos judeus religiosos que viajava da Judéia para a Galiléia tomava uma estrada que passava ao redor de Samaria (através de Peréia, a leste do rio Jordão), embora esse caminho fosse mais longo.
Mas para aqueles que queriam economizar tempo, era mais rápido ir à Galiléia através de Samaria. O contexto não indica que Jesus estivesse com pressa para chegar à Galiléia (veja 4.40,43). Portanto, a necessidade deve ser entendida de maneira diferente: Jesus foi a Samaria para dar aos samaritanos o que havia dado a Nicodemos - a oferta da vida eterna através de um novo nascimento. Além disso, o fato de ir a Samaria e levar o Evangelho aos repudiados samaritanos mostrava que Ele estava acima dos preconceitos dos judeus.
Mas de onde vinham esses preconceitos? A Samaria era uma região situada entre a Judéia e a Galiléia, e onde viviam os judeus de “sangue misto”. Na época do Antigo Testamento, quando o reino do norte de Israel, cuja capital era Samaria, foi derrotado pelos assírios, muitos dos seus habitantes foram deportados para a Assíria. Sargão, o seu rei, resolveu repovoar o reino do norte com cativos de outras terras a fim de estabelecer-se no território e manter a paz (2 Rs 17.24). Esses cativos acabaram se casando com alguns judeus que haviam permanecido nessa região, formando uma raça heterogênea de pessoas que se tornou conhecida como samaritanos. Os judeus odiavam os samaritanos porque haviam deixado de ser judeus “puros”. Aqueles que viviam no Reino do sul achavam que eles haviam traído o seu povo e sua nação através do casamento com estrangeiros. E esse ódio continuava a persistir através dos anos. Os samaritanos haviam adotado o Pentateuco como suas Escrituras e elegeram o monte Gerizim como o local adequado para a sede de sua religião, usando como diretriz Deuteronômio 11.26-29; 27.1-8. Embora soubessem da vinda do Messias, estavam longe de ter um conhecimento preciso da verdade.
João 4.5,6 — De acordo com Gênesis 33.19, Jacó comprou um pedaço de terra nessa vizinhança e mais tarde deu a José algumas terras em Siquém (Gn 48.22). Josué 24.32 diz que José foi sepultado nessas terras (os judeus haviam levado os ossos de José consigo a fonte de Jacó” indica que a terra deve ter sido incluída na região onde o poço havia sido cavado. Assim sendo, esse poço era muito valorizado pelos samaritanos que consideravam Jacó (também chamado Israel) como seu pai (4.12), exatamente como faziam os judeus. Essa viagem deixou Jesus muito cansado. Ele havia caminhado desde a Judéia até Sicar, um roteiro que provavelmente durou dois dias. O cansaço de Jesus mostra a sua verdadeira humanidade. Ele esperou enquanto seus discípulos, mais descansados, ou mais famintos do que Ele, foram procurar alimento. Parece que Ele nunca se preocupava com o fato de que as limitações assumidas ao se tornar humano, poderiam, de alguma forma, prejudicar as suas afirmações de ser o Filho de Deus. Tais expressões sobre a humanidade de Jesus ajudam a nos identificar com Ele. Portanto, Ele assentou-se assim junto da fonte e era isso quase à hora sexta (quase meio-dia), a hora mais quente do dia.
João 4.7 — Dois fatos são bastante incomuns com respeito às atitudes da mulher: (1) ela podia ter ido a uma fonte mais próxima (os estudiosos identificaram outras fontes que eram mais próximas de Sicar); (2) as mulheres geralmente buscavam água no final do dia, quando a temperatura era mais amena. Essa mulher, cuja reputação parece ter sido muito conhecida naquela pequena cidade (4.18) provavelmente escolheu a fonte mais afastada de casa, e uma hora mais tardia, a fim de evitar o contato com outras mulheres. Também era bastante incomum que um homem se dirigisse a uma mulher, mas Jesus disse: “Dá-me de beber” . Essa frase revela, novamente, a verdadeira humanidade de Jesus; Ele estava realmente sedento. Embora tenha ficado assustada com esse pedido (4.9), ela começou a conversar com Jesus. 4.8 Essa frase serve para informar ao leitor que Jesus estava sozinho com essa mulher. Ele não podia pedir aos discípulos para ajudá-lo a tirar água, pois eles tinham partido para Sicar a fim de comprar comida. Assim vemos Jesus, cansado de sua viagem, dependendo dos outros para comer e beber.
João 4.9 — A mulher samaritana ficou muito surpresa; primeiro pelo de fato de um judeu se dirigir a um samaritano; segundo, por falar com uma mulher samaritana (ela também tinha má reputação e esse era um lugar público) e terceiro, por beber do copo de um samaritano. As leis cerimoniais judaicas diziam que certas pessoas eram impuras, e também que qualquer coisa elas tocassem se tornariam impuras. Em termos estritamente religiosos, muitos judeus da época de Jesus consideravam os samaritanos como um povo permanentemente impuro.
João 4.10 — A mulher ignorava o dom que Deus tinha para ela - o dom da vida, representado pela água da vida, e não conhecia o seu doador, Jesus Cristo, o Messias. Ele fez uma extraordinária oferta a essa mulher, a água viva que iria saciar a sua sede para sempre.
João 4.11,12 — A resposta de Jesus a respeito da “água viva” trouxe várias questões práticas à mente da mulher samaritana. Como Nicodemos, ela não percebeu imediatamente a profundidade das palavras de Jesus. Como essa água viva estava no fundo do poço, obviamente Jesus não tinha condições de oferecê-la porque não tinha com que a tirar. Ele não dispunha de corda nem balde. Ela começou a imaginar se Jesus tinha acesso a alguma fonte de água que não fosse o poço de Jacó. E perguntou se Ele se considerava maior que seu ancestral Jacó e se podia oferecer uma água melhor. Talvez essa mulher tivesse percebido nas palavras de Jesus uma possível desonra ao poço que fora dado por seu patriarca. Ou talvez estivesse começando a ter alguma idéia de quem Jesus estava afirmando ser. Ele havia aceitado essa mulher de uma forma que certamente despertou o seu raciocínio.
João 4.13,14 — A pessoa precisa de água diariamente caso contrário logo tomará a ter sede. A água da fonte de Jacó iria saciar a sede daquela mulher, mas apenas temporariamente. Assim são todos os outros “líquidos” da vida, pois nunca satisfazem plenamente, alguns até despertam uma sede ainda maior. A necessidade dos homens por amor, segurança e aprovação, mesmo quando atendidas, não satisfazem plenamente, e as tentativas para alcançar essa plenitude irão levar somente ao desapontamento e desespero. Mas a água que Jesus oferece mata a sede completamente, aquele que beber da água que Jesus lhe der nunca terá sede. Essa água satisfaz continuamente o desejo pela presença de Deus porque se fará na pessoa uma fonte de água a jorrar para a vida eterna. Esse dom de Jesus, essa fonte perpétua, sugere a disponibilidade, o acesso e a abundância da vida divina para os crentes.
João 4.15 — A resposta da mulher revela que ela entendeu literalmente as palavras de Jesus, e deve ter ficado emocionada ao pensar que esse homem podia lhe dar uma água que ia realmente saciar a sede, sem que precisasse ser retirada de um poço. Retirar água do poço representava uma tarefa penosa que exigia várias viagens por dia carregando jarros cheios de água para abastecer o lar. Se pelo menos tivesse um pouco dessa água, ela nunca teria sede novamente e não precisaria mais buscá-la todos os dias.
João 4.16-18 — De repente, Jesus passa do assunto da água viva para o estilo de vida dessa mulher. Ela havia percebido sua necessidade de água viva num determinado nível, mas Jesus sabia que sua necessidade era muito mais profunda, portanto mudou o diálogo para revelar que conhecia a sua vida pessoal e o seu pecado de adultério. Ao dizer: “Vai, chama o teu marido e vem cá”. Jesus queria que a mulher reconhecesse o seu pecado e a sua necessidade de obter perdão, para então lhe oferecer a água viva, isto é, a salvação. Esta mulher percebeu que Jesus não era o tipo de homem que poderia ser enganado. Assim, ela respondeu de forma transparente: “Não tenho marido”. A mulher falou a verdade sem dar nenhuma outra explicação.
Embora estivesse se defrontando com a vida pecaminosa dessa mulher, Jesus procurou conferir sua sinceridade. Ele não acusou ou desculpou, simplesmente descreveu sua vida a fim de que ela pudesse tirar conclusões sobre a iniqüidade em que estava vivendo. Quando chegamos a conclusões, sem conhecer os fatos, elas geralmente estão erradas em uma ou duas direções: ou acusamos os outros e despertamos suas defesas, ou os desculpamos e permitimos a sua contestação. Na comunicação entre Jesus e essa mulher vemos que quando as pessoas se encontram perante uma confrontação, elas em geral respondem positivamente. Quando falamos aos outros a respeito deles mesmos, devemos limitar as nossas palavras àquilo que conhecemos.
João 4.19 — A mulher reconheceu a verdade das observações de Jesus sobre sua vida. E, ao mesmo tempo, reconheceu que Ele devia ser um profeta que tinha o poder de “ver” o passado oculto, assim como o futuro. O tema de pessoas que “vêem” Jesus aparece muitas vezes no Evangelho de João (especialmente no capítulo 9). As pessoas que se encontravam com Jesus viam-no de diferentes maneiras, mas Ele consistentemente dirigia a atenção delas ao reconhecimento de quem Ele realmente era - o seu Salvador. Muitos estudiosos afirmaram que a mulher podia estar intencionalmente tentando evitar qualquer outra revelação sobre sua pecaminosa vida pessoal, mudando o tema da conversa para a religião. Observe como Jesus respondeu à essa mudança de orientação. Ele não estava apresentando um sistema ou uma descrição do Evangelho, mas tendo um diálogo com alguém que precisava da água viva. Ele não fez nenhuma tentativa de reconduzir a conversa para o estilo de vida dessa mulher, mas preferiu iniciar uma discussão sobre o verdadeiro lugar de adoração. Jesus manteve o seu interesse ao demonstrar a sua disposição de deixá-la dirigir a discussão.
João 4.20 — A pergunta que não foi expressa em palavras é a seguinte: Sendo um profeta, quem você diz que está certo? Os samaritanos haviam estabelecido um local de adoração no monte Gerizim, baseados na autoridade recebida de Deuteronômio 11.26-29; 27.1-8. Os judeus tinham seguido Davi ao tornar Jerusalém o centro da sua adoração. A separação havia se originado desde os tempos de Esdras e Neemias (Ed 4.1,2; Ne 4.1,2), quando os samaritanos se ofereceram para ajudar a reconstruir o templo de Jerusalém, e foram rejeitados. Portanto, existia uma discussão permanente entre os dois grupos sobre quem estava certo. As Escrituras haviam autenticado a cidade de Jerusalém como a sede da religião (Dt 12.5; 2 Cr 6.6; 7.12; SI 78.67,68); assim sendo, os judeus estavam certos e os samaritanos estavam errados. A mulher samaritana queria saber o que um profeta judeu tinha a dizer sobre essa questão.
João 4.21 — Tanto judeus como samaritanos estavam convencidos de que a forma correta de adorar a Deus dependia de uma localização geográfica especial. Mas Jesus estava indicando outro reino, localizado não no monte Gerizim, nem em Jerusalém, mas no Espírito de Deus. Ele também sabia que o templo de Jerusalém logo seria destruído. Os primeiros leitores do Evangelho de João teriam entendido isso como um fato histórico, porque ele realmente aconteceu!
João 4.22 — Os samaritanos eram religiosos, mas a sua maneira de adorar era diferente. Como usavam apenas o Pentateuco (Gênesis a Deuteronômio) como suas Escrituras, desconheciam o que o restante do Antigo Testamento ensinava sobre a religião. Os judeus, a quem Jesus havia se identificado explicitamente, sabiam muito bem a quem adoravam, pois dispunham de toda a revelação das Escrituras do Antigo Testamento. Essas Escrituras revelavam que a salvação vem dos judeus, pois o Messias seria da raça judaica (Gn 12.3). A mensagem é a seguinte: “Você está demonstrando o seu bom caráter ao desejar ser um adorador, mas a sua religião está mal orientada; o perfeito objeto a ser adorado, o Messias, já chegou”. A água viva que vem de Cristo, e que está sempre presente no crente, transforma em realidade a idéia de uma constante adoração. Pelo menos em parte, ela se transforma no prazer do nosso relacionamento com Cristo, onde quer que estejamos e em qualquer momento.
João 4.23,24 — A nova adoração já está presente entre os seguidores de Jesus (incluindo os judeus e os samaritanos que estão unidos em Cristo) e, embora o final da adoração no templo ou no monte Gerizim ainda esteja no futuro... a hora vem, e agora é. Jesus anunciou a vinda de um novo tempo, um tempo em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. Os verdadeiros adoradores devem ser reconhecidos pela maneira como prestam a sua adoração. Depois de transformar em secundários o lugar e a ordem da adoração no nosso relacionamento espiritual com Deus, Jesus definiu a verdadeira adoração. De acordo com suas palavras, ela deve assumir dois novos aspectos; deverá ser em espírito e em verdade (veja também 4.24). A expressão “em espírito” se refere ao espírito humano, isto é, o ser interior e imaterial que existe em cada pessoa, a entidade soprada por Deus que corresponde à própria natureza de Deus, que é Espírito. Usando os temas do diálogo de Jesus, a adoração envolve a consciência daquela “fonte de água viva” individual que Deus plantou dentro de cada um. Deus habita dentro de cada crente; este é o lugar onde ocorre a verdadeira adoração. Nosso corpo pode estar em qualquer lugar, no entanto a adoração ocorre quando nossa atenção e nosso louvor estão dirigidos a Deus. Precisamos nos concentrar conscientemente em Deus quando estivermos em sua casa de adoração, pois facilmente assumimos que a nossa presença na igreja é tudo o que precisamos para adorar.
Geralmente nos lembramos de quanto tempo durou o culto, mas será que conseguimos nos lembrar de quanto tempo nós realmente adoramos ao Senhor? A expressão “em verdade” significa “de forma verdadeira” ou “autêntica”. Isso quer dizer que todas as pessoas, judeus, samaritanos e até gentios, precisam adorar a Deus reconhecendo o seu caráter e natureza, assim como a necessidade da sua presença. Adoramos em verdade porque estamos adorando o que é verdadeiro. No texto grego, a palavra Espírito vem antes para dar maior ênfase: “Espírito é o que Deus é”. Aqui está uma simples, porém sublime definição da natureza de Deus. Ele é Espírito e não um ser físico limitado por tempo ou lugar como nós. Ele está presente em toda parte, e pode ser adorado em qualquer momento e em qualquer lugar.
João 4.25 — A conversa sobre uma nova forma de adoração deve ter levado a mulher
João 4.27 — Os discípulos retornaram depois de conseguir alimento (4.8) e ficaram maravilhados ao ver Jesus conversando com uma mulher. Jesus havia quebrado dois tabus culturais: (1) Judeus não falavam com samaritanos e (2) normalmente, um homem não falava com uma mulher estranha. No entanto, eles não indagaram os seus motivos, pois devem ter entendido que todos os motivos de Jesus eram bons. Qualquer outra pessoa seria obrigada a se explicar.
João 4.28 — Além de exibir seu atribulado estado de espírito, o ato dessa mulher de abandonar seu cântaro na fonte e retornar à cidade tinha várias e importantes implicações: por um lado, o feto de essa mulher deixar para trás seu cântaro de água representava sua sede de uma verdadeira vida e satisfação, e por outro também revelava sua intenção de voltar. O cântaro de água era um valioso e prático objeto doméstico, mas embora fosse muito útil para recolher a água da fonte, era totalmente inútil para recolher a água da vida. Entretanto, ela tinha acabado de encontrar alguém que lhe prometera água viva e havia demonstrado um íntimo conhecimento da sua vida e uma profunda compreensão das verdades espirituais. Não podemos ter certeza sobre seu entendimento daquilo que Jesus lhe contara, mas ela estava convencida de que todos na cidade deviam ouvir o que Ele tinha a dizer.
João 4.29,30 — Em essência, a mulher samaritana estava contando que Jesus poderia ter-lhe dito, naquela tarde, tudo sobre a sua vida; pois ao descrever os seus relacionamentos com outros homens, Ele revelava ter conhecimento da sua história. Ela não fez nenhuma promessa sobre o que Jesus poderia saber sobre as outras pessoas, mas apelou para sua curiosidade. O que podia existir nesse estranho que fazia com que uma mulher, com todas as razões para se envergonhar da sua vida, agora falasse publicamente e com toda a clareza sobre a experiência transparente que teve na presença dele? No entanto, ela disse aos habitantes da cidade: “Porventura, não é este o Cristo?” Seu convite era irresistível. Provavelmente, ela já sabia que a sua reputação a precederia, e qualquer declaração da sua parte sobre a crença nesse homem não receberia nenhuma atenção. Mas a sua pergunta teve o efeito desejado — as pessoas saíram, pois, da cidade e foram ter com ele.
João 4.31-33 — Depois que a mulher partiu para a cidade, os discípulos insistiram com seu mestre para comer. Sua resposta foi desconcertante: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. Os discípulos pensaram que Ele estivesse falando sobre o alimento físico, mas Jesus queria dizer que estava espiritualmente satisfeito por ter compartilhado as Boas Novas com a mulher samaritana.
João 4.34 — Essa declaração mostra que Jesus vivia para agradar ao Pai e, dessa forma, encontrar a comida espiritual (17.40). Fazer a vontade de Deus significava que Jesus estava se submetendo ao plano do seu Pai e sentia-se satisfeito por executar os seus desejos. Satisfazer ao Pai dava a Jesus a verdadeira satisfação. A frase final, realizar a sua obra, fala de concluir a tarefa - desde lançar a semente até fazer a colheita (veja os versículos seguintes). De acordo com 17.4, Jesus havia realizado tudo que o Pai lhe havia pedido para fazer antes de deixar a terra, Ele havia principalmente revelado o Pai ao mundo.
João 4.35 — Para os lavradores, aproximadamente quatro meses se passam entre o fim da semeadura até o início da colheita. Do ponto de vista da perspectiva espiritual de Jesus, o tempo da colheita já havia chegado. Os samaritanos, que chegavam da cidade, estavam prontos para serem colhidos. Ao pedir aos discípulos para levantar os seus olhos e ver as terras, Jesus pode ter estado dirigindo seu olhar aos samaritanos que se aproximavam.
João 4.36-38 — O ceifeiro espiritual fica satisfeito por levar outros a experimentar a vida eterna. Esse é o exemplo da experiência de Jesus com a mulher samaritana; Ele estava satisfeito por ter oferecido a ela o dom da vida. Ele também menciona aqui o semeador, além do ceifeiro. Jesus, por fazer o papel de ambos, semeou a semente através de uma única mulher samaritana e fez a colheita de muitos numa cidade samaritana. Essa semeadura e essa safra se revelaram tão rapidamente que ambos puderam se alegrar juntos.
O semeador e o ceifeiro têm papéis diferentes, assunto no próximo versículo: “Um é o que semeia, e outro, o que ceifa”. Esse ditado pode ter tido sua origem em passagens como Deuteronômio 20.6; 28.30; Miqueias 6.15 e Jó 31.8, mas não corresponde a qualquer citação direta de alguma passagem bíblica. O fato dos discípulos ceifarem onde não semearam provavelmente se refere à futura safra de crentes samaritanos que seria colhida por Jesus e seus discípulos, assim como à futura safra que seria colhida depois do Pentecostes (veja At 1.8; 2.41; 9.31; 15.3). Os outros que trabalharam podem ter sido alguns dos profetas do Antigo Testamento ou, mais provavelmente, João Batista e seus seguidores (veja 3.23).