Explicação de João 21:1-25

Explicação de João 21:1-25



Explicação de João 21:1-2521.1-3 Este capítulo registra a aparição de Jesus aos discípulos junto ao mar de Tiberíades (mar da Galileia). Jesus tinha feito pelo menos seis aparições em Jerusalém, ou nas suas redondezas. Depois das aparições em Jerusalém, os discípulos evidentemente retornaram à Galileia. Jesus fez diversas aparições nesta região: para quinhentos crentes (1 Co 15.6); para Tiago, seu irmão (1 Co 15.7) e a aparição aqui registrada.

Antes da sua ressurreição, o Senhor tinha dito aos seus discípulos que Ele os encontraria num lugar determinado na Galileia depois da sua ressurreição (Mt 28.10; Mc 14.28). Mas devido à falta de fé e ao medo dos discípulos, eles tinham permanecido em Jerusalém. Depois que Jesus lhes apareceu a portas cerradas, eles fizeram o que Ele lhes tinha dito antes e retornaram à Galileia. Mas enquanto esperavam ali, continuavam inseguros e confusos. Então, eles fizeram o que melhor sabiam fazer - foram pescar. Sete discípulos estavam juntos desta vez:

Tendo retornado à Galileia, os discípulos não sabiam o que fazer a seguir, então era natural que alguns deles retomassem às suas ocupações. Simão, André e Tiago e João (os filhos de Zebedeu) tinham sido pescadores (veja Mc 1.16-20). Pedro tomou a iniciativa, e os outros seis discípulos foram com ele. Embora a pesca freqüentemente fosse boa durante a noite quando os peixes estão ativos e se alimentando próximos à superfície, os discípulos nada apanharam. Quando chegou a manhã, eles estavam cansados, famintos, e provavelmente mais do que frustrados.

21.4-6 Jesus tinha vindo para fazer outra aparição aos discípulos, especialmente a Pedro. Talvez por causa da distância, ou névoa sobre a água ou ainda falta de luz na manhã, os homens no barco não reconheceram o homem na praia. Ele perguntou: “Filhos, tendes alguma coisa de comer? Eles estavam há apenas duzentos côvados da praia, cerca de noventa metros (21.8) e gritaram como resposta: “Não”.

Então o homem disse: “Lançai a rede à direita do barco e achareis muitos peixes”. Os discípulos, cansados como estavam, reagiram positivamente à autoridade óbvia na voz, e lançaram as suas redes conforme foram instruídos - e aconteceu um milagre! Isto lembra Lucas 5.1-11, outra ocasião em que Pedro e os outros discípulos estavam pescando, sem pegar sequer um peixe. Jesus deu a ordem de que fossem para águas mais profundas. Pedro, embora duvidando, seguiu as ordens de Jesus. Quando eles obedeceram, aconteceu um milagre! Quando Pedro viu o primeiro milagre, ele reconheceu, além do poder de Jesus, uma santidade que não era parte da sua própria vida.

Nesta ocasião, Pedro é novamente um personagem central. Jesus se identificou com este pedido inesperado e aparentemente pouco comum. Os atos dos pescadores os envolveram num novo milagre. Se o pedido não lhes tivesse dado uma pista, os resultados inegavelmente apontariam para o poder do seu Senhor: eles já não podiam tirar a rede, pela multidão dos peixes. Tanto João como Pedro reconheceram que Jesus estava por trás daquela pesca tão maravilhosa.

21.7 João (aquele discípulo a quem Jesus amava) pode ter reconhecido imediatamente o milagre repetido, pois ele tinha tomado parte do episódio registrado em Lucas 5. Ao olhar em meio à névoa da manhã, ele reconheceu que o homem que estava na praia era o Senhor. Pedro imediatamente lançou-se ao mar para nadar até Jesus. Embora o seu amor por Jesus fosse muito grande, Pedro pode ter pensado que ainda existisse uma barreira entre o Senhor e ele, por causa da sua negação.

21.8,9 Nós só podemos imaginar o que Pedro fez quando saiu da água, pingando, diante daquele que ele havia negado anteriormente. Ele pode ter ficado sem palavras. Pedro deve ter apreciado o fogo que Jesus tinha acendido: ali ele se secou enquanto sentia o calafrio interior ao se lembrar do que tinha feito da última vez que tinha estado aquecendo-se ao lado de um fogo. Se alguma coisa foi dita, as palavras ficaram entre Jesus e Pedro, uma vez que os outros ainda estavam muito longe para ouvir.

21.10,11 A pescaria milagrosa deve ter afetado profundamente a Pedro. Ele não disse uma palavra ao puxar a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes e, depois, estando com os demais discípulos, ao comer a refeição de pão e peixes que o Senhor tinha preparado antes mesmo que eles apanhassem os peixes.

A quantidade de peixes provavelmente não tinha outro significado exceto representar uma grande quantidade de peixes grandes - especialmente depois de não se ter pescado nada durante toda a noite. E o número exato é registrado simplesmente por uma questão de ser um fato histórico. O procedimento usual de um grupo de pescadores era contar o resultado do dia e então dividi-lo entre si
mesmos. Mais uma vez, João observou que quando Cristo entra em ação, o resultado é abundante.

21.12,13 Qualquer pergunta ou comentário parecia pouco original naquele momento. Eles ficaram num silêncio respeitoso diante daquele que, como sempre, estava servindo, convidando-os para jantar. Esta refeição especial com o Jesus ressuscitado teve um efeito profundo nestes sete discípulos. Pedro, mais tarde, confirmaria a sua confiabilidade como uma testemunha de Jesus (veja At 10.41). João não registra que Jesus tenha comido alguma coisa, mas Lucas 24.41-43 descreve uma aparição de Jesus em que Ele comeu um pouco de peixe.

21.14 Esta era a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos: as duas primeiras vezes tinham sido a portas trancadas, em Jerusalém. Jesus tinha vindo aos discípulos para incentivá-los a respeito do seu trabalho futuro - especialmente a Pedro. O texto parece deixar implícito que Jesus tinha vindo para lembrá-los de que não deviam voltar à sua antiga vida de pescadores. Ele os tinha chamado para que fossem pescadores de homens (Lc 5.10) e para iniciar a igreja (Mt 16.19). Pedro, o líder entre eles, precisava estar preparado para as responsabilidades que em breve iria assumir. Ele iria liderar e apascentar o rebanho - não com alimento físico (que Jesus providenciaria), mas com alimento espiritual.

21.15-17 Sim ão, filho de Jonas foi o nome que Jesus tinha dito quando encontrou pela primeira vez este homem que se tornaria seu discípulo (1.42). Mas Pedro ainda não tinha provado estar à altura daquele nome - Pedro, “a pedra”. De acordo com Lucas 24.34, Jesus provavelmente tinha encontrado Pedro anteriormente. A primeira pergunta a Pedro, “amas-me mais do que estes?” pode ser traduzida de três maneiras: (1) “você me ama mais do que estes homens me amam?” (2) “você me ama mais do que ama estes homens?” e (3) “você me ama mais do que a estas coisas?” (ou seja, o barco de pesca, as redes e os utensílios). Das três opções, a primeira parece ser a mais apropriada, porque Pedro tinha se vangloriado de que nunca abandonaria a Jesus, mesmo se todos os outros discípulos o fizessem (veja Mateus 26.33; Mc 14.29; Jo 13.37). Isto era a mesma coisa que dizer que ele tinha mais amor por Jesus do que os demais tinham.

Pedro fez exatamente o oposto do que tinha dito: ele negou a Jesus três vezes. Como conseqüência, Jesus perguntou Pedro três vezes: amas-me: para confirmar o amor e o compromisso de Pedro. A cada vez que Pedro dizia a Jesus “eu te amo”, Jesus o exortava a cuidar do seu rebanho: “Apascenta as minhas ovelhas” (21.17). Cordeiros e ovelhas podem ser interpretados como palavras de carinho. Jesus sente amor e preocupação por todos os crentes - por todo o “rebanho” que cresceria como resultado do ministério dos apóstolos. 

21.18,19 Jesus usou uma afirmação conhecida sobre a velhice para retratar a morte de Pedro, que seria por crucificação. A partir deste dia, Pedro soube que tipo de morte o esperava. Pedro nunca esqueceu esta profecia de Jesus; ele se referiu a ela em sua segunda epístola, ao falar da sua morte iminente (veja 2 Pedro 1.14). Pedro foi crucificado em Roma, sob o regime de Nero, aproximadamente em 65 a 67 d.C. Com estas palavras, “Segue-me” , Jesus estava confirmando e restaurando Pedro como seu discípulo. Que segurança estas palavras devem ter dado a Pedro. Independentemente de qualquer glória, tentação ou morte à frente, ele sempre estaria sob o cuidado do Salvador, pois estaria seguindo a Jesus.

Três anos antes, junto ao mesmo lago, Jesus tinha dito as mesmas palavras a Pedro - “Segue-me”. Estas palavras significam “continue seguindo”. Desprovido do orgulho, da impulsividade e das falsas expectativas da liderança, Pedro estava pronto para seguir a Cristo de uma nova maneira, por causa das novas experiências e de uma imagem mais exata de si mesmo. “Segue-me” significa um discipulado coerente e uma procura constante de Cristo, mesmo se isto exigir o martírio. Significa continuar a obra de Cristo da maneira como Ele quer que ela seja realizada, não da maneira como nós
queremos realizá-la.

21.20-23 Tendo sido informado sobre o seu destino, Pedro quis saber o que aconteceria com João (chamado de aquele discípulo a quem Jesus amava). Em sua repreensão profunda, embora amorosa, Jesus explicou ao impulsivo Pedro que ele não devia se preocupar com os planos de Deus para ninguém mais além de si mesmo. Na verdade, a contribuição de Pedro para o início da igreja cristã seria assombrosa (desde o seu sermão no Pentecostes, dentro de poucas semanas, até o fato de que ele foi o primeiro a entender que os gentios também podiam ser cristãos), e tanto o seu milagroso escape da morte (At 12.1-19), quanto a sua morte, como mártir, seriam heróicos. João, embora continuasse vivo, seria chamado para um tipo diferente de serviço, mesmo sofrendo o exílio numa ilha distante - pois João escreveria este incrível Evangelho, três cartas e o impressionante relato do triunfante retorno do Filho de Deus no livro do Apocalipse. Pedro, o impulsivo, escreveria duas epístolas para incentivar a paciência enquanto esperamos pela volta de Cristo. Pedro e João foram chamados para diferentes tipos de serviço para o seu Senhor; porém nenhum deles devia perguntar qual era a razão deste fato.

A afirmação de Jesus a Pedro foi interpretada como significando que João não morreria, mas permaneceria vivo na terra até a segunda vinda. João tinha que corrigir o que tinha sido divulgado. Se
João morresse e o Senhor ainda não tivesse retornado, este pequeno boato poderia confundir muitos crentes, e a própria igreja. João insistiu que as palavras de Jesus tinham sido mal interpretadas. Jesus não tinha dito que João não iria morrer; na verdade, se Jesus quisesse que ele ficasse vivo, não era problema de Pedro. A questão é que a decisão era de Jesus - não de João nem de Pedro. O que Jesus estava dizendo a Pedro é que ele não devia ficar preocupado com o que aconteceria com a vida de João. Cada um era responsável por seguir ao Senhor de acordo com o que o Senhor lhe havia revelado. E esta era a situação de João.

21.24 Os dois últimos versículos do Evangelho de João contêm o toque de encerramento do livro que confirma a verdade do testemunho escrito de João. O testemunho é confiável porque João foi uma testemunha ocular de Jesus Cristo. Depois de muitos anos de experiência e reflexão, João escreveu um relato que reflete o seu discernimento espiritual da vida de Jesus Cristo (veja 1.14; 1 Jo 1.1-3).

A afirmação “sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” provavelmente é de algum dos contemporâneos de João que sabia que o que João tinha escrito era verdade. Alguns estudiosos pensam que estes contemporâneos podem ter sido os anciãos de Éfeso, que tinham ouvido e/ou lido a narrativa. A história da igreja primitiva relata que depois de João ter passado muitos anos como um exilado na ilha de Patmos (veja Apocalipse 1.9), ele retornou a Éfeso, onde morreu já idoso, quase no fim do século I.

21.25 Esta afirmação final não é uma mera hipérbole. É uma afirmação do fato de que o único livro de João está longe de ser abrangente porque ele registrou somente algumas das coisas que Jesus tinha feito. Se João tivesse registrado todos os eventos, quantos livros mais seriam necessários para conter todo o material? Um pouco deste material pode ser encontrado nos três outros Evangelhos. Mas existe muito mais que poderia ter sido dito sobre Jesus. Apesar disto, o que foi escrito deu aos crentes
uma biografia fiel da maior pessoa que já viveu: Jesus Cristo, o Filho de Deus.