Explicação de João 19:16b-42
Explicação de João 19:16b-42
19.l6b, 17 Jesus foi levado, e forçado a levar às costas a sua cruz. Mas Ele estava fraco por causa do açoitamento, e ordenaram a Simão que a tomasse (veja Mateus 27.32; Mc 15.21; Lc 23.26). Jesus foi levado ao Calvário. Esta colina pode ter recebido este nome por causa do seu topo rochoso ou porque o seu formato era semelhante ao de uma caveira. Gólgota é o nome hebraico para “caveira”. O nome familiar, “Calvário” é derivado do latim calvaria (que também significa “caveira”).

Com o desenrolar do drama da cruz, os escritos de João captam as ironias simples da tragédia. Os soldados que escoltaram Jesus ao calvário não sabiam quem Ele realmente era; eles simplesmente estavam realizando o seu dever. Pilatos sabia que Jesus náo era culpado a ponto de sofrer a pena de morte, mas Ele ainda não queria entender quem era Jesus. O povo, incitado a um “frenesi” pelos líderes religiosos, não parou para se preocupar sobre quem era Jesus (mesmo tendo-o saudado como seu rei alguns dias antes. Obviamente eles estavam desapontados com a zombaria que foi feita dele como um rei digno de piedade). Os principais dos sacerdotes talvez fossem os mais cegos de todos, pois tinham perdido completamente a perspectiva de tudo o que eles representavam, pedindo a morte de Jesus somente para agarrar-se às suas preciosas posições e para interromper os ensinos que estavam ameaçando a sua condição atual.
19.18-22 Os outros dois eram criminosos (veja Mateus 27.38; Mc 15.27; Lc 23.32). Novamente, isto cumpria profecias (veja Isaías 53.12). Lucas registra que um dos criminosos insultou a Jesus, ao passo que o outro voltou-se para Ele e pediu para ser salvo (Lc 23.42); a este, Jesus respondeu: “hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43).
Pilatos tinha preparado um título e prendeu-o à cruz. O título dizia: “JESU S NAZARENO, REI DOS JUDEUS”. Pilatos escreveu a frase em três idiomas, para que qualquer pessoa que passasse dentro ou fora da cidade pudesse lê-lo: hebraico (ou aramaico - a língua dos judeus), grego (a lingua franca, a língua comum) e latim (a língua dos romanos, a língua oficial).
Provavelmente amargurado pela sua derrota política pelas mãos dos líderes judeus, Pilatos talvez tenha atribuído a Jesus um título que poderia parecer irônico. A visão de um rei humilhado, destituído de qualquer autoridade, preso nu a uma cruz em execução pública somente levava à conclusão de uma derrota completa. Mas a ironia que Pilatos esperava não se perderia nas tábuas da cruz diante da ironia que Deus queria comunicar ao mundo. O rei que morria estava efetivamente assumindo o controle do seu reino. A sua morte e ressurreição infligiriam o golpe mortal ao domínio de Satanás e estabeleceriam a autoridade eterna de Jesus sobre a terra. Poucas pessoas que leram o sinal naquela sombria tarde entenderam o seu significado real, mas o sinal era completamente verdadeiro. Jesus era o rei dos judeus, e também dos gentios; Ele é o rei do universo, e também é o seu rei. Este sinal se tornou uma proclamação universal, uma profecia inconsciente de que Jesus Cristo é o Messias Real.
Os principais sacerdotes dos judeus queriam que o “crime” de Jesus expresso naquele título fosse uma falsa reivindicação de reinado; mas nada que eles pudessem dizer levaria Pilatos a mudar de ideia. Ele os dispensou, dizendo: “O que escrevi, escrevi”.
19.23,24 Contrariamente aos quadros que retratam a crucificação, Jesus morreu nu, outro detalhe horrível da sua humilhação. Os soldados romanos que realizaram a crucificação repartiram as suas vestes entre si. As roupas não eram baratas naquela época como são hoje. Assim, este costume era parte do “pagamento” recebido pelos que realizavam a execução por cumprir com as suas obrigações repulsivas. Mas a sua túnica não foi repartida porque não tinha costura. Assim sendo, eles lançaram sortes para ver quem ficaria com ela. Ao fazer isto, cumpriram as Escrituras: “Dividiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes” (uma citação de SI 22.18).
19.25 As quatro mulheres - em contraste com os quatro soldados - são crentes: elas permaneceram com Jesus até o fim. Ainda mais, se comparadas com os discípulos que tinham fugido depois que Jesus tinha sido preso, estas mulheres seguiram Jesus até a cruz e foram testemunhas oculares da sua
crucificação. A primeira mulher mencionada é a mãe de Jesus (veja 2.1 ss.). Imagine a sua inacreditável dor, ao assistir impotente o seu filho sofrer e morrer injustamente. Na verdade, o profeta Simeão, que tinha falado com ela no templo logo depois do nascimento de Jesus, estava certo quando lhe disse: “uma espada traspassará também a tua própria alma” (Lc 2.35). Certamente, Maria estava sentindo aquela “espada” naquele momento.
As outras mulheres mencionadas aqui não tinham aparecido anteriormente no Evangelho de João. A irmã de Maria pode ter sido Salomé (veja Mateus 27.55ss.; Mc 15.40ss.), a mãe de João (o autor do Evangelho) e Tiago. Se isto for verdade, então Jesus, João e Tiago eram primos. Maria, mulher de Clopas era a mãe de Tiago, o mais jovem. Maria Madalena é mencionada aqui pela primeira vez neste Evangelho. Ela será uma pessoa importante no capítulo seguinte - pois a primeira aparição de Jesus depois da ressurreição foi a ela.
19.26,27 Ao ver sua mãe e o discípulo a quem ele amava (João, o autor do Evangelho), Jesus instruiu o seu discípulo para que cuidasse de Maria, sua mãe, na sua ausência. Maria aparentemente era viúva e o próprio Senhor Jesus cuidava dela. Mesmo sofrendo em agonia, Jesus demonstrou o cuidado que tinha por sua mãe.
19.28-30 Alguns estudiosos acreditam que a Escritura que estava se cumprindo era o Salmo 69.21: “Na minha sede me deram a beber vinagre”. Assim, Jesus disse “Tenho sede”. Isto enfatiza a humilhação de Jesus. Outros apontam para Salmos 42.2: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo”. Isto confirma a submissão de Jesus ao Pai. De qualquer maneira, as Escrituras se cumpriram.
Este vinagre não era a mesma coisa que o vinho com mirra oferecido anteriormente a Jesus (Mc 15.23). Jesus não tomou o vinho antes porque queria estar completamente consciente durante todo o processo. Jesus tomou o vinagre e então disse: “Está consumado”. De acordo com o texto grego, uma única palavra, tetelestai, significa “está terminado, está cumprido” ou até mesmo “está completamente pago”. A morte de Jesus trazia a redenção - “pago”; e a sua morte cumpria as profecias do Antigo Testamento. Era a hora de Jesus morrer (veja 4.34; 17.4). Até este ponto, o pecado só podia ser expiado por meio de um complicado sistema de sacrifícios. O pecado separa as pessoas de Deus, e somente por meio do sacrifício de um animal, um substituto, e da fé na promessa de Deus, é que as pessoas poderiam ser perdoadas e se tornar puras diante de Deus. Mas as pessoas pecam constantemente, assim eram necessários sacrifícios freqüentes. Jesus, entretanto, foi o sacrifício final e definitivo pelo pecado. Com a sua morte, foi extinto o complexo sistema de sacrifícios, porque Jesus tomou todos os pecados sobre si. Agora podemos nos aproximar livremente de Deus graças ao que Jesus fez por nós. Aqueles que crêem na morte sacrificial de Jesus e na sua ressurreição podem viver eternamente com Deus e escapar do castigo que vem do pecado.
Então Jesus, inclinando a cabeça, entregou o espírito. A linguagem descreve Jesus voluntariamente entregando seu espírito a Deus. Lucas registra as últimas palavras de Jesus na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46, ecoando SI 31.5). A vida de Jesus não foi tirada dele; Ele a entregou por sua livre vontade (veja 10.11,15,17,18; 15.13). Isto mostra a soberania de Jesus sobre tudo - Ele estava no controle até mesmo da sua morte!
19.31-34 Os líderes judeus estavam preocupados com o fato de que os corpos ficassem na cruz durante o sábado judeu, que começava no final da tarde da sexta-feira - e este era um grande sábado porque coincidia com a festa da Páscoa. Os judeus não queriam profanar o seu sábado (Dt 21.22,23) permitindo que os corpos de três judeus crucificados permanecessem a noite toda suspensos nas cruzes. Assim, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Uma pessoa crucificada podia usar suas pernas para levantar o corpo num esforço para obter mais oxigênio nos seus pulmões que já falhavam. Quebrar as pernas de uma pessoa crucificada, portanto, apressaria a morte. Pilatos concordou com o pedido.
No entanto, quando os soldados chegaram a Jesus, viram que já estava morto, então não quebraram suas pernas. Em lugar de fazer isto, um soldado perfurou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saíram sangue e água. Esta perfuração certificava que Jesus já estava realmente morto. Especialistas médicos tentaram determinar que parte do corpo teria sido perfurada para produzir uma mistura de água e sangue. Alguns crêem que o saco pericárdico foi rompido. O testemunho que Joáo dá deste acontecimento, era importante para confirmar um argumento principal neste Evangelho contra os docetistas que estavam negando a humanidade de Jesus. Jesus era, na verdade, um homem composto de água e sangue como todos os demais. Ele verdadeiramente sentiu a morte como um ser humano (veja 1 João 5.6,7). A menção ao sangue e à água também responde ao argumento de alguns de que Jesus não morreu realmente, mas entrou em um tipo de coma do qual Ele despertou posteriormente, no túmulo. Mas o testemunho ocular relatado do sangue e da água refuta esta opinião. A própria perfuração poderia ter matado Jesus, mas Ele já estava morto, como revela a separação do sangue e da água. Jesus realmente morreu uma morte humana. Além disto, os soldados romanos, que tinham participado de diversas crucificações, relataram a Pilatos que Jesus estava morto (Mc 15.44,45).
19.35 Aquele que viu a crucificação e testemunhou a questão do sangue e da água é João, o apóstolo (veja 20.30,31 e 21.24,25). O prólogo de Lucas (Lc 1.1-4) e as palavras de João demonstram que os autores do Evangelho estavam escrevendo uma história confiável, não apenas uma descrição subjetiva do que sentiam (veja também 2 Pedro 1.16-18).
19.36,37 Sem sabê-lo, os soldados cumpriram duas profecias bíblicas quando perfuraram o lado de Jesus em lugar de quebrar suas pernas: (1) Nenhum dos seus ossos será quebrado. Êxodo 12.46 e Números 9.12 falam dos ossos do cordeiro da Páscoa, que não devem ser quebrados. Como Jesus foi o sacrifício final, estes versículos se aplicam a Ele; e (2) Veráo aquele que traspassaram. Esta citação é de Zacarias 12.10; veja também Apocalipse 1 .7.0 Cristo ressuscitado tinha a marca da perfuração no corpo (20.19ss.).
19.38,39 José era de Arimatéia, uma cidade de localização incerta hoje em dia, mas em geral considerada como tendo estado situada a cerca de 32 quilômetros a noroeste de Jerusalém. Ele era um discípulo em oculto. O Evangelho de Mateus afirma que José era um homem rico (Mt 27.57). Marcos o descreve como um “senador honrado” do conselho (Mc 15.43); e Lucas acrescenta que ele era um “homem de bem e justo”, que “não tinha consentido” nos atos do conselho com relação a Jesus (Lc 23.50,51). José não teria sido capaz de interromper o assassinato de Jesus planejado pelo conselho, mas depois fez o que podia, indo corajosamente a Pilatos para pedir-lhe o corpo de Jesus para que pudesse lhe dar um sepultamento apropriado. Ele tinha que pedir permissão, porque normalmente os romanos deixavam os corpos expostos sem enterro, tanto como uma lição para quem passasse por ali, como também como uma humilhação final para os que tinham sido executados. Assim, José foi pedir a Pilatos, e este concordou em deixá-lo sepultar o corpo.
Jesus tinha falado longamente com Nicodemos sobre nascer de novo (3.1ss.), e Nicodemos tinha defendido Jesus diante dos principais dos sacerdotes e dos fariseus (7.50-52). Nicodemos ajudou José a preparar e envolver o corpo de Jesus em régio estilo. As quase cem libras de um composto de mirra e aloés correspondiam a uma quantia extraordinária e devem ter sido extremamente caras.
Talvez o ato de José e Nicodemos indique uma lição de trabalho de equipe. Os dois homens eram cautelosos por natureza. Talvez tivessem sido castigados repetidas vezes por náo rejeitar abertamente Jesus. Mas quando chegou o momento da coragem, eles trabalharam juntos. Quando nos unimos com
outros crentes, freqüentemente conseguimos realizar o que não ousaríamos tentar fazer sozinhos. Embora José e Nicodemos provavelmente tivessem muito medo, eles agiram com coragem. A obediência sempre exige que tomemos atitudes, a despeito dos nossos medos.
19.40-42 Os costumes judeus para o sepulcro não incluíam mumificação nem embalsamamento; eles lavavam o corpo e então o envolviam em lençóis embebidos com os unguentos aromáticos e as especiarias. De acordo com Mateus 27.60, este sepulcro novo pertencia a José, e ele o cedeu para Jesus (veja também Lucas 23.53). Estes sepulcros escavados em rocha eram caros. Até mesmo no seu sepultamento, Jesus cumpriu profecias (veja Isaías 53.9). Foi uma coincidência que José tivesse um sepulcro nas proximidades e que desejasse colocar o corpo de Jesus ali; o sepultamento deveria acontecer rapidamente porque era o dia da preparação dos judeus, anterior ao sábado judeu. Assim, eles puseram a Jesus ali.