Explicação de João 18:25-40
Explicação de João 18:25-40
18.25 Estes versículos são uma continuação dos versículos 15-18. Pedro ainda estava na casa de Anás e estava do lado de fora, junto ao fogo com diversas outras pessoas. Uma vez mais perguntaram a Pedro: “Não és também tu um dos seus discípulos?” Pedro negou, dizendo: “Não sou”. A veemência da negação de Pedro pode ter chamado a atenção de vários outros que estavam reunidos ao redor do fogo. Para pelo menos um deles, Pedro parecia muito familiar.

18.26, 27 Esta, a terceira negação, aconteceu exatamente como Jesus tinha predito (veja 13.38; Mc 14.30). Os outros três Evangelhos dizem que as três negações de Pedro aconteceram junto ao fogo no pátio, fora do palácio de Caifás. João coloca as três negações do lado de fora da casa de Anás. Provavelmente era o mesmo pátio. A residência do sumo sacerdote era grande, e Anás e Caifás sem dúvida moravam perto um do outro. Desta vez, um dos servos que por coincidência era parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, perguntou: “Náo te vi eu no horto com ele?” Mas, pela terceira vez, Pedro negou. Um galo cantando e o olhar penetrante de Jesus (Lc 22.61,62) fizeram Pedro perceber com que rapidez ele tinha abandonado o seu Senhor.
18.28,29 A esta altura, já eram a manhã da sexta-feira, bem cedo. Esta audiência também era chamada Pretório, a residência do governador romano quando ele estava em Jerusalém. Segundo a lei judaica, entrar na casa de um gentio tornaria um judeu cerimonialmente impuro. Como conseqüência, um judeu não poderia participar da adoração no templo ou celebrar as festas até que fosse restaurado a um estado de “pureza”. Com medo de ficar impuros, os acusadores de Jesus ficaram do lado de fora da casa, onde tinham levado a Jesus para julgamento. Eles observavam os requisitos cerimoniais da sua religião enquanto abrigavam assassinato e traição nos seus corações. Como os judeus estavam do lado de fora, Pilatos saiu e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem?
Pilatos esteve encarregado da Judéia (a região onde estava situada Jerusalém) entre 26 e 36 d.C. Ele não era popular entre os judeus. Residia em Cesaréia, mas vinha a Jerusalém durante as principais festas para controlar quaisquer problemas que pudessem surgir com a presença de tanta gente na cidade nessas ocasiões. A Páscoa era uma festa muito importante para os judeus, porque eles recordavam a sua libertação da escravidão no Egito.
Para chegarem a procurar Pilatos, estes líderes judeus devem ter estado realmente desesperados para se livrar de Jesus. Normalmente, os judeus nunca entregariam um dos seus aos odiados romanos.
18.30,31 Pilatos percebeu que alguma coisa neste caso náo era normal. Ele deve ter percebido a inveja dos líderes judeus que trouxeram este mestre popular até ele. Pilatos certamente tinha visto ou pelo menos ouvido sobre a entrada gloriosa de Jesus em Jerusalém apenas alguns dias antes, de modo que entendeu os motivos destes líderes religiosos. Portanto, Pilatos exigiu que eles fornecessem uma acusação legal autêntica contra Jesus. Os líderes religiosos responderam tão vagamente quanto possível: “Se este náo fosse malfeitor, não to entregaríamos”.
Mas Pilatos, desinteressado da constante disputa entre os judeus, estava satisfeito com o fato de que este potencial agitador estivesse sob custódia. Ele não tinha razão para prolongar ainda mais o julgamento, e tentou encerrá-lo: “Levai-o vós e julgai-o segundo a vossa lei” . Mas os líderes religiosos persistiram e obtiveram a atenção de Pilatos insinuando que já tinham encontrado razões, na sua lei, para a execução de Jesus. Mas os judeus precisavam de que Pilatos julgasse Jesus, porque aos judeus não era lícito matar pessoa alguma. Estando sob a legislação romana, os judeus não tinham permissão de levar a cabo o tipo de execução que estavam planejando sem a sanção do governo romano. Parece que execuções “espontâneas”, como o apedrejamento de Estevão ou da mulher adúltera eram toleradas pelos romanos. Mas aos olhos dos líderes judeus, Jesus precisava ser executado publicamente. Assim, os judeus precisavam que os romanos o executassem para eles.
18.32 Jesus sabia durante o tempo todo que a sua execução seria romana, pois Ele tinha predito que morreria numa cruz. A pena de morte dos judeus era o apedrejamento, e a dos romanos era a crucificação. Jesus sempre tinha predito a sua morte em termos de crucificação e não de apedrejamento (Mt 20.19).
18.33,34 Como os inimigos de Jesus o tinham acusado de motim contra Roma (Lc 23.1,2), Pilatos perguntou a Jesus se Ele realmente era o rei dos judeus. Jesus então perguntou a Pilatos de onde vinha a pergunta. Se Pilatos estava fazendo a pergunta no seu papel de governador romano, ele estaria perguntando se Jesus estava estabelecendo um governo rebelde. Mas os judeus estavam usando a palavra “rei” querendo dizer o seu governante religioso, o Messias. Israel era uma nação cativa, sob a autoridade do império romano. Um rei rival poderia ter ameaçado Roma; porém um Messias seria um líder puramente religioso.
18.35,36 A reação de Pilatos indica que o seu interrogatório era motivado pelos judeus. A impressão é a de que ele estava simplesmente realizando a sua tarefa. Jesus explicou que Ele não era uma ameaça a Roma porque não era um rei terreno. Ao contrário, o seu reino não era deste mundo. Jesus estava se referindo a tudo o que tinha feito e ainda fària como o Filho de Deus, e a tudo o que está sob a sua autoridade. Quando os fiéis nascem de novo, eles se tornam cidadãos do reino - um reino espiritual.
18.37 Pilatos tentou obter uma resposta para a sua pergunta original (veja 18.33): “Logo tu és rei?” Jesus explicou que Ele era um rei, e que havia nascido para isso. Mas Ele era o rei num campo diferente, um rei que tinha vindo para dar testemunho da verdade ao mundo. Jesus não veio ao mundo com qualquer objetivo político; ao contrário, Ele veio para dar testemunho da verdade. Parece náo haver dúvida na mente de Pilatos de que Jesus falava a verdade e era inocente de qualquer crime. Também parece aparente que embota reconhecesse a verdade, Pilatos decidiu rejeitá-la. A tragédia é muito maior quando reconhecemos a verdade, mas não damos atenção a ela.
18.38 Pilatos era cínico: ele pensava que toda a verdade era relativa — poderia ser o que Roma quisesse que fosse. Para muitas autoridades do governo, a verdade era o que estivesse de acordo com a opinião da maioria, ou o que ajudasse no aumento do seu próprio poder pessoal e objetivos políticos. Quando não existe base para a verdade, náo há base para o certo e o errado, moralmente. A justiça se torna o que funcionar ou o que ajudar aqueles que estão no poder. Em Jesus e na sua palavra nós temos um padrão para a verdade e para o nosso comportamento moral. A esta altura, Pilatos tinha o poder e a autoridade para simplesmente libertar a Jesus, porque náo achava nele crime algum. Mas lhe faltava a coragem para assumir a sua convicção face à oposição destes judeus e um possível tumulto resultante. Problemas como estes poderiam significar a remoção de Pilatos do seu posto por ser incapaz de manter a paz. Sendo assim, Pilatos tentou entregar Jesus a Herodes, que governava a Galiléia, a região de Jesus (Lc 23.6,7). Mas Herodes apenas zombou de Jesus e enviou-o de volta a Pilatos.
18.39,40 Pilatos esperava se esquivar de pronunciar um julgamento a respeito de Jesus, permitindo que os judeus determinassem o destino dele. Como era costume, Pilatos soltava alguém da prisão todos os anos por ocasião da Páscoa. Ele esperava que eles pedissem para soltar o rei dos judeus. As autoridades judaicas, aos gritos, exigiram que um rebelde condenado, Barrabás, fosse perdoado, em lugar de Jesus. Barrabás era um rebelde contra Roma (Mc 15.7), e embora tivesse cometido assassinato, provavelmente era um herói entre os judeus. Barrabás, que tinha liderado uma rebelião, e fracassado, foi libertado no lugar de Jesus, o único que realmente poderia ajudar Israel.