Explicação de João 17:1-19

Explicação de João 17:1-19


Explicação de João 17:1-19
17.1 Jesus começou a sua petição orando por si mesmo: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti”. Jesus sabia que a sua “hora” de sofrimento era chegada - anteriormente no Evangelho, diversas vezes João tinha enfatizado que a hora de Jesus não era chegada (2.4; 7.6,8,30; 8.20). Mas a hora da glorificação de Jesus tinha chegado. Se o Pai iria glorificar o Filho na crucificação e ressurreição, o Filho poderia, por sua vez, dar a vida eterna aos crentes e desta maneira glorificar ao Pai. Jesus pediu que o Pai lhe devolvesse os plenos direitos e poderes que tinha como o Filho de Deus (conforme descrito em Filipenses 2.5-11).

17.2 Jesus fez os seus pedidos ao Pai, sabendo que no passado, na eternidade, o Pai lhe tinha dado poder sobre toda a carne, para que Ele pudesse dar a vida eterna a todos os que o Pai lhe tinha dado.

17.3 Jesus define a vida eterna como conhecer empiricamente ao único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem Ele enviou à terra. Só podemos encontrar a vida eterna conhecendo o único Deus verdadeiro. Este conhecimento é contínuo e pessoal, (veja também Mateus 11.27).

17.4 A qui, Jesus afirmou que tinha glorificado o Pai na terra, tendo consumado a obra que Deus queria que Ele fizesse. A última fase da obra reveladora de Jesus estava prestes a ser concluída por meio da sua morte na cruz. Jesus falava da sua obra como se já tivesse acontecido - a sua obediência à morte na cruz era uma certeza. Jesus pediu novamente que a glória lhe fosse restituída com base na certeza da realização da sua obra na cruz.

17.5 Vendo além da cruz a sua ressurreição e ascensão, Jesus pediu ao Pai que lhe desse novamente a glória que tinha com Ele antes que o mundo existisse. Ao dizer isto, Jesus fornece um vislumbre do seu relacionamento com o Pai antes do início dos tempos. Jesus queria retornar à glória que ele tinha com o Pai antes da criação do mundo (veja 1.1,18). Jesus entraria naquela glória como o Senhor Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. 

Assim, o retorno de Jesus a Deus não era simplesmente um retorno ao seu estado préencarnado, uma vez que Jesus teria o seu corpo ressuscitado. A ressurreição e ascensão de Jesus - e a exclamação de Estevão ao morrer (At 7.56) — confirmam que a oração de Jesus foi atendida. Ele retornou à sua posição exaltada à direita de Deus.

17.6 Depois de orar por sua própria glorificação, Jesus direcionou o seu pedido aos seus discípulos. Eles eram os homens que Deus tinha selecionado para dar ao seu Filho como discípulos (veja 15.19). Para estes homens, que lhe haviam sido dados no mundo pelo Pai, Jesus tinha expressado a realidade da pessoa do Pai (veja 1.18), e eles tinham guardado a sua palavra. A sua fé não era perfeita, e eles iriam falhar com o seu Salvador nas próximas horas; mas eles estavam comprometidos com a Pessoa certa, e retornariam à sua fé e à obediência a Deus.

17.7,8 Os discípulos tinham recebido as palavras de Jesus como tendo vindo de Deus. Como resultado, creram que Jesus tinha sido enviado pelo Pai (veja 16.28-30). Antes que Jesus instituísse o plano da salvação de Deus ao morrer na cruz, Ele o apresentou aos seus discípulos. Eles tinham que crer nas palavras de Cristo para beneficiarem-se delas. Os discípulos não estavam em posição de aceitar o propósito salvador da morte de Jesus até terem aceitado o fàto de que Deus o tinha enviado. Quando soubessem que Deus tinha enviado a Jesus, eles estariam prontos para saber que Deus o tinha
enviado paia morrer! Jesus estava declarando que os discípulos estavam prontos para a próxima lição, por mais difícil que ela pudesse parecer.

17.9 Sabemos que Deus ama o mundo (3.16), mas nesta ocasião Jesus estava com seu enfoque nos discípulos, e não no mundo. Estes discípulos eram o objeto do afeto e da oração de Jesus. Ele não estava orando pelo mundo, porque o mundo era hostil e incrédulo. Na verdade, Ele estava orando por aqueles que o Pai lhe havia dado.

17.10 As palavras de Jesus revelam a sua unicidade, proximidade, e igualdade com Deus Pai. Estes discípulos pertenciam aos dois, a Ele e ao Pai, e eram aqueles em quem Jesus seria glorificado na terra depois que tivesse retomado ao Pai. As vidas dos discípulos revelariam o caráter essencial de Jesus àqueles que ainda não cressem, assim Jesus estaria presente no mundo por intermédio deles.

17.11 Jesus deixaria o mundo para unir-se ao Pai; os discípulos ficariam para trás para realizar o plano de Deus transmitindo as boas novas da salvação. Tal missão despertaria grande hostilidade do maligno, de modo que os discípulos precisavam de proteção especial. Jesus pediu que o Pai santo os
guardasse e cuidasse deles. A própria oração indica confiança na capacidade de Deus de “guardar” seus filhos, enquanto ao mesmo tempo permite que os discípulos ouçam a vontade de Jesus sobre como seriam protegidos. Jesus orou para que eles fossem um como Ele e o Pai são unidos também. Eles deveriam ter um desejo e propósito comum de servir e glorificar a Deus. Então eles teriam a união mais forte possível.

17.12 A presença física de Jesus tinha fornecido o ponto de união óbvio para os discípulos. Quanto mais eles estivessem “em Cristo”, mais estariam unidos e protegidos. Jesus os tinha guardado como um presente precioso dado pelo Pai; aqui Ele fez um relato do trabalho que tinha feito. Todos os discípulos tinham sido guardados - nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. Esse era Judas Iscariotes que, por sua própria vontade, traiu a Jesus. Assim, Jesus tristemente identificou Judas como aquele que tinha rejeitado a proteção oferecida.

O lugar de Judas entre os discípulos e sua decisão de trair a Jesus destacam o equilíbrio que encontramos por toda a Bíblia entre a impressionante soberania de Deus e a liberdade que Ele concede às pessoas. Nós faríamos a balança pender para o erro se disséssemos que Jesus intencionalmente removeu a sua proteção de Judas para expô-lo à tentação de Satanás, de modo que a traição pudesse acontecer. Também estaríamos errando se disséssemos que a tentação de Satanás era mais forte que a capacidade de Jesus de proteger Judas. Judas não era uma marionete. Judas compartilhava da proteção oferecida pela presença de Jesus durante todo o tempo em que estiveram juntos. Judas tomou a decisão de trair a Jesus, e ao fazer isto ele mesmo se retirou da proteção de Cristo. Ele chegou a um ponto onde já não tinha mais como voltar e desta forma cumpriu a predição das Escrituras.

A extensão da proteção de Deus sobre nós, todos os dias, está além da nossa compreensão. A sua soberania é completa, incluindo a sua decisão de permitir que sejamos efetivamente capazes de rejeitá-lo. Deus poderia ter criado pessoas cujas escolhas realmente não tivessem importância. Mas, por causa do seu amor por nós, Ele nos criou com liberdade suficiente para viver um relacionamento com Ele.

17.13 Jesus tinha dito aos seus discípulos muitas coisas sobre a sua morte vindoura - um assunto que dificilmente seria alegre. Mas depois que estes eventos tivessem ocorrido - especialmente depois da ressurreição - os discípulos sentiriam alegria completa, pois então entenderiam que Jesus tinha derrotado a morte e Satanás, e tinha trazido a vida eterna para todos os que crêem nele.

17.14 O mundo odeia os cristãos, porque os valores dos cristãos são diferentes dos do mundo, e porque os cristãos expõem os valores do mundo como são - sem valor nenhum. Como os seguidores de Cristo não cooperam com o mundo, unindo-se ao pecado, eles são acusações vivas à imoralidade do mundo. O mundo segue a programação de Satanás, e Satanás é o inimigo declarado de Jesus e do seu povo (veja 15.18; 16.2).

17.15,16 Jesus não orou para que Deus os tirasse do mundo para protegê-los do ódio e da perseguição que viriam, mas sim que eles fossem livres do mal - para que, em circunstâncias difíceis, não fossem presas fáceis do diabo. A única maneira de os crentes serem testemunhas para o mundo é serem testemunhas de Cristo no mundo. Nós precisamos levar a nossa mensagem, confiando na proteção de Deus. Jesus não era parte do sistema do mundo, liderado por Satanás (na verdade, Ele tinha sido tentado com esta finalidade e tinha se recusado a ceder - veja Mateus 4.1-11). Os crentes também não são parte do mundo, porque nasceram de novo (3.3).

17.17 Três interpretações diferentes surgiram para explicar o que Jesus queria dizer com: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. (1) A verdade encontrada na Palavra de Deus irá nos tornar puros e santos. (2) A verdade básica do amor salvador de Deus coloca em ação a obra de Deus em nós. (3) O processo de transmissão (pregação, ensino) da verdade de Deus teria um efeito purificador nas vidas dos discípulos. Estas interpretações na verdade se complementam, pois descrevem diferentes aspectos do tornar-se puro e santo (que é a santificação): a segunda interpretação destaca o derramamento inicial da graça de Deus em nossas vidas por meio da verdade do Evangelho; a primeira resume os efeitos continuados das verdades aplicadas da Palavra de Deus; e a terceira enfatiza que o progresso da santificação será visto no desejo que temos de comunicar o Evangelho, e na maneira como o fazemos. A Palavra de Deus, então, trabalha como um agente purificador divino que Deus utiliza para realizar a nossa santificação.

17.18 Jesus veio ao mundo numa missão para o Pai; assim, Ele enviou estes discípulos ao inundo numa missão para o Filho. Esta missão devia fazer Deus conhecido. Este é um tema importante e emocionante no Evangelho de João. O Pai enviou o Filho ao mundo, o Pai e o Filho enviaram o Espírito aos discípulos e os discípulos são enviados pelo Pai e pelo Filho ao mundo.

Devemos realizar a missão de Jesus - de fazer Deus conhecido a outros. Como Jesus nos envia ao mundo, nós não devemos tentar escapar do mundo, nem devemos evitar todos os relacionamentos com os não cristãos. Somos convocados a ser sal e luz (Mt 5.13-16), e devemos fazer o trabalho que Deus nos enviar a fazer.

17.19 Jesus se dedicou a fazer a vontade do Pai como um sacerdote que se consagra para fazer o sacrifício. O seu ato final de dedicação ocorreu quando Jesus ofereceu a si mesmo na cruz (veja Hebreus 10.10). O objetivo desta morte foi que os discípulos (e todos os crentes) pudessem ser inteiramente santificados, ou seja, para que eles se tornassem uma propriedade exclusiva de Deus. Jesus morreu para que sejamos separados para Deus Pai.