Explicação de João 11:1-37

Explicação de João 11:1-37


Explicação de João 11:1-3711.1-3 Embora João apenas nos apresente a família de Maria, Marta e Lázaro no final do ministério de Jesus, Jesus e os discípulos freqüentemente visitavam a casa deles. Jesus apreciava a sua íntima amizade e hospitalidade em suas visitas a Jerusalém, porque Betânia era uma aldeia situada fora da cidade, e bem próxima a Jerusalém. Desta vez, Jesus estava do outro lado do Rio Jordão, também em uma cidade chamada Betânia. Os eventos descritos em Lucas 13.22-17.10 ocorreram entre os capítulos 10 e 11 de João.

João identificou Maria com um evento descrito no capítulo seguinte (12.1-7) porque a demonstração de amor de Maria por Cristo era bem conhecida dos cristãos do século I (Mateus 26.6-13; Marcos 14.3-9). Lázaro estava enfermo, então as irmãs entraram em contato com Jesus, seu amigo que tinha curado a tantos.

11.4 Quando Jesus soube da enfermidade de Lázaro, Ele disse que esta não terminaria em morte. Ele sabia que Lázaro iria morrer, mas o fim da história não seria a morte. Seus discípulos entenderam que Ele quis dizer que a enfermidade não era séria. Outra vez, vemos o paralelo entre a resposta de Jesus aqui e em 9.3. Na primeira passagem, Jesus falou da cegueira do homem como uma oportunidade para as obras de Deus serem vistas. A morte de Lázaro era uma oportunidade para que o Filho de Deus fosse glorificado. Deus colocou estrategicamente alguns milagres na história humana para demonstrar a sua sábia providência e a sua soberania.

11.5-7 Esta declaração do amor de Jesus pela família explica que não foi falta de amor que impediu Jesus de ir até eles. Humanamente falando, Jesus teria desejado ir até eles imediatamente. Mas Ele foi retido, aguardando o tempo determinado pelo Pai. Quando chegou o tempo do Pai, Jesus se dirigiu de volta à Judeia para estar com seus queridos amigos em sua dor. O tempo certo de Deus é sempre perfeito, seja em se tratando de guiar o seu Filho através de seu ministério na terra, ou nos guiando hoje e respondendo as nossas orações.

11.8-10 Os discípulos não conseguiam entender por que Jesus queria ir para a Judeia, quando os líderes judeus ali bem recentemente haviam procurado matá-lo (veja 10.31ss.). Por que deixar um lugar onde as pessoas creem em você e lhe recebem (10.42), para voltar e enfrentar a morte certa? Mas Jesus não estava com medo, porque Ele sabia que teria que morrer, e que a sua morte ocorreria apenas no tempo determinado pelo Pai.

Os discípulos preocupavam-se com aquilo que os líderes judeus poderiam fazer. Jesus apontou para uma esfera ilimitada - a soberania de Deus que transcende os limites do tempo, e sobre a qual as pessoas não têm nenhum controle. Como Jesus obedecia ao seu Pai, Ele estava tão confiante sobre o resultado vitorioso, quanto estava certo de que todos os dias possuíam doze horas. Devemos nos lembrar de que a soberania de Deus se estende a cada momento de nossa vida; do contrário, a nossa confiança nele será limitada apenas àqueles momentos em que Ele atende as nossas expectativas. Iremos repetir o erro dos discípulos — tentando limitar Deus à esfera do esforço humano.

A resposta de Jesus mencionava um esperado número de “horas” durante o qual as pessoas podem andar com segurança. Isto também sugeria claramente que o tempo acabaria. Depois de doze horas de dia claro, a noite vem. O “dia” do nosso Senhor (o seu tempo na terra) estava se aproximando de sua hora final. Mas Jesus ainda tinha tarefas a realizar, e Ele não se desviaria de sua missão. A simples lição de usar o dia claro para andar com segurança ilustra a nossa necessidade mais profunda de confiar na “luz” da presença de Jesus Cristo, e na direção de Deus. Jesus já tinha usado a frase “a luz do mundo” para se referir à sua própria presença entre o povo. Enquanto estava com eles, Ele era a sua luz (veja 1.4; 8.12; 9.5). Desde que fizessem a sua obra à luz da presença de Cristo, não tropeçariam. Infelizmente, aqueles que vivem em trevas, sem a presença da luz de Jesus em si mesmos, tropeçarão.

11.11-15 Os discípulos não entenderam o que Jesus quis dizer quando disse, “Lázaro... dorme”. Talvez tenham presumido que ele estivesse melhorando. Jesus explicou: “Lazaro está morto”. Lázaro morreu para que Jesus pudesse mostrar - aos seus discípulos e aos outros - o seu poder sobre a morte. Ele iria despertá-lo, dando assim aos seus discípulos outra oportunidade para crer. A ressurreição de Lázaro mostrou o poder de Cristo - a ressurreição dos mortos é uma crença crucial da fé cristã. Jesus náo só ressuscitou dos mortos (10.18), mas Ele também tem poder para ressuscitar os outros.

11.16 Nós freqüentemente nos lembramos de Tomé como “aquele que duvidou”, porque duvidou da ressurreição de Jesus (20.24,25). Mas ele também amava ao Senhor, e era um homem de grande coragem. Os discípulos sabiam dos perigos de ir com Jesus para Jerusalém, então tentaram dissuadi-lo disso. Tomé só expressou o que todos eles estavam sentindo. Quando as suas objeções falharam, eles se mostraram dispostos a ir, e até mesmo a morrer com Jesus. Eles podem não ter entendido por que Jesus seria morto, mas eram leais. Nós podemos enfrentar perigos desconhecidos ao fazermos a obra de Deus. É sábio considerar o alto preço de ser um discípulo de Jesus.

11.17-19 Lázaro já estava há quatro dias na sepultura quando Jesus chegou. No clima quente da Palestina, um cadáver iria se decompor rapidamente, assim o corpo de uma pessoa era freqüentemente sepultado no mesmo dia da morte. Quando Jesus e os discípulos chegaram a Betânia, muitos judeus de Jerusalém haviam se reunido para consolar a família de Lázaro, e alguns daqueles que chegaram eram líderes religiosos. Na sociedade judaica, o luto prolongado pelo morto era considerado uma parte essencial de todos os funerais.

11.20-24 Ao ver Jesus, Marta lhe disse, “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. Marta provavelmente percebeu que Jesus não poderia ter vindo antes, mas estava certa de que a presença de Jesus teria impedido a morte de Lázaro. Maria faz o mesmo comentário mais tarde (11.32). Apesar de sua dor e pesar, a sua fé em Jesus náo mudou. A implicação para nós é que não devemos supor rapidamente que Deus nos decepcionou quando estamos em meio a dificuldades. Então ela acrescentou, “Mas também, agora, sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá”. Talvez Marta tenha pensado que Jesus poderia trazer o seu irmão de volta à vida. Mas a sua resposta no versículo 24 e a subseqüente relutância diante do túmulo (11.39) sugerem o contrário. Ela não percebia, entendia, nem ousava esperar que Jesus pedisse a Deus Pai para devolver a Lázaro a sua vida física, e ser restituído à sua família. Em vez disso, ela reafirmou a sua confiança em seu poder, embora pensasse que Jesus tinha perdido uma oportunidade de demonstrá-lo curando o seu irmão.

Quando Jesus disse, “Teu irmão há de ressuscitar”, ela atribuiu esta frase à futura ressurreição - “Na ressurreição do último dia”. Mas Jesus não estava se referindo a uma ressurreição eventual e distante; Ele quis dizer que Lázaro iria ressuscitar naquele mesmo dia! 11.25,26 Para a mulher no poço (4.25,26), Jesus se identificou como o Messias; ao homem cego (9.35-37), Ele se revelou como o Filho do Homem; mas aqui o Senhor ampliou o retrato revelando-se como a fonte da vida da ressurreição.

Para entender a declaração de Jesus, devemos vê-la em duas partes. Primeiro, Jesus explicou a ressurreição: “Eu sou a ressurreição... quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. Então Ele explicou a vida: “Eu sou... a vida... e todo aquele que vive e crê emO crente não passará pela morte
eterna. Lázaro tinha sido um crente em Jesus; portanto, embora tivesse morrido, ele viveria. Todo crente que morreu irá, contudo, viver; e todos aqueles que ainda estão vivos, e crêem, morrerão, mas não eternamente. Cristo não prometeu o impedimento da morte física; Ele garantiu em si mesmo dar vida abundante, incluindo a ressurreição e a eternidade consigo. Cristo não impediu a morte física de Lázaro (depois de ser ressuscitado, Lázaro um dia finalmente morreria), mas Lázaro tinha a garantia da vida eterna.

11.27 Marta ficou mais conhecida por estar ocupada demais para se sentar e conversar com Jesus (Lucas 10.38-42), mas aqui a vemos como uma mulher de profunda fé. Quando questionada pelo Senhor se cria em suas palavras sobre a ressurreição, ela respondeu: “Creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”. Sua declaração de fé é exatamente a resposta que Jesus Cristo quer de nós. Esta confissão apresenta um ponto alto no Evangelho de João, porque aqui vemos um crente reconhecendo que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Ao reconhecer Jesus como o Messias, ela o viu como o enviado de Deus designado para libertar o povo de Deus; ao reconhecer Jesus como o Filho de Deus, ela enxergou a sua divindade.

11.28-32 Marta falou com Maria secretamente para que os judeus visitantes não a seguissem até onde Jesus estava - em algum lugar fora da aldeia. No entanto, quando Maria se levantou rapidamente para ir até Jesus, ela foi seguida pelos pranteadores. Maria se encontrou com Jesus e repetiu a declaração de Marta (11.21). Ambas estavam convencidas de que Jesus teria sido capaz de fazer alguma coisa se Lázaro ainda estivesse vivo. Mas elas náo faziam idéia de que a morte poderia ser reversível.

11.33-37 A palavra grega para moveu-se muito pode significar “agitou-se intensamente”. Jesus pode ter se perturbado pelo choro excessivo dos pranteadores, pela fé limitada de Marta e de Maria, ou pela incredulidade geral. Além disso, Jesus estava irado com o poder da morte, o inimigo final do homem (1 Coríntios 15.26). Entre a comoçáo e o choro alto dos pranteadores, Jesus chorou. O que fez Jesus chorar? Foi o seu amor por Lázaro? Foi a presença da tristeza e da morte? Ou foi o pesar pela pouca fé que o rodeava? Seja qual for a razáo, a situação fez com que Jesus derramasse algumas lágrimas. Os judeus interpretaram as lágrimas de Jesus como um sinal do grande amor que Ele sentia por Lázaro. Eles presumiram que Jesus chorava em meio à frustração e à dor por não ter chegado antes, para que pudesse curar Lázaro. Seguindo Marta e Maria, outros também perguntavam, “Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?” (referindo-se ao milagre anterior de Jesus - veja 9.1-7).