Estudo sobre NICODEMOS

Estudo sobre NICODEMOS
NICODEMOS (Νικόδημος, vencedor sobre as pessoas), um fariseu e posteriormente um discípulo de Jesus (Jo 19.38-42). Apesar desse ser um nome comum entre os judeus do 1 séc., este é o único homem, com esse nome, que é mencionado no NT (Jo 3.1). Certo Nicodemos ben Gorion, irmão do historiador Josefo, membro muito próspero do Sinédrio no l e séc. foi identificado, por alguns estudiosos, com esse homem que veio se encontrar com Jesus à noite. Nicodemos ben Gorion perdeu a sua riqueza e posição posteriormente, e muitos atribuem esse retrocesso na sua situação de vida ao fato de ter-se tomado cristão. Essa identificação, contudo, é muito improvável.

Nicodemos era um legislador dos judeus e, portanto, fazia parte dos setenta anciãos, um grupo conhecido como Sinédrio, que era a corporação religiosa mais poderosa dos judeus. Ele foi descrito, também, como “o” (este artigo está presente na versão em grego) mestre de Israel. Isto não quer dizer que fosse um mestre superior a todos os outros mestres, mas simplesmente que era um mestre bem conhecido e muito reconhecido, e que tinha lugar reservado no Sinédrio. Esse homem, assim se supõe, devia realmente conhecer o AT muito bem. Como mestre “de Israel”, tinha a responsabilidade da instrução religiosa do povo de Deus. O fato de que Nicodemos era um fariseu está diretamente relacionado à conversa que Jesus teve com ele, pois o seu teor seria inconcebível, caso Jesus estivesse conversando com um saduceu ou herodiano. Nicodemos era especialmente interessante para o escritor do quarto Evangelho, pois permite a exposição dos ensinamentos de Jesus. 

Somente a primeira parte da conversa entre Jesus e Nicodemos é relatada na forma de diálogo (Jo 3.2-10). Qualquer outro comentário que pudesse ter sido feito por Nicodemos foi deixado de lado, pois o tópico da conversa, introduzido por aquele homem, e sobre o qual Jesus teceu suas considerações, era de suma importância. Como fariseu, toda a esperança de Nicodemos repousava na sua linhagem, um descendente direto de Abraão. Os fariseus eram conhecidos por sua reivindicação de serem semente de Abraão. Foi essa herança dos ensinamentos farisaicos, aquela que postulava a importância da herança racial na religião, que Jesus contestou ao introduzir o conceito da necessidade do novo nascimento. Nicodemos pareceu não compreender o que aquele conceito — nascer de novo — significava. Isto se deve ao fato de que a palavra "de novo” em grego tinha outros significados. Naquela instância, foi especialmente importante o sentido “de cima”, que, portanto, equivale a “de Deus”. Esse encontro com Nicodemos apresenta um importante ensinamento, cuja essência é a necessidade de ser gerado espiritualmente, para o homem que possui a vida de Deus. Isto opõe-se ao ensinamento dos fariseus, que enfatizava a geração natural por intermédio de Abraão.

Muitos observaram a progressão do relacionamento de Nicodemos com Jesus. Este relacionamento se iniciou “à noite”, o que, para a maioria dos intérpretes, sugere que ele estava hesitante e temeroso de ser visto na companhia de Jesus, pois esse encontro sigiloso preservava a sua reputação e o fazia sentir-se protegido. Em um período posterior, Nicodemos defendeu, embora timidamente, Jesus diante do Sinédrio, ao dizer “Acaso a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?” (Jo 7.51). Este simples comentário mereceu um revide insultoso: “Dar-se-á o caso de que também tu és da Galileia? Examina e verás que da Galileia não se levanta profeta” (Jo 7.52). Por ocasião do enterro de Jesus, ele apresenta-se abertamente, diante de todos, levando especiarias para ungir o corpo e ajudar no sepultamento (Jo 19.39-42). Isto é tudo que sabemos desse homem nas Escrituras.