Estudo sobre João 20
Estudo sobre João 20
O amor surpreendido - 20:1-10
O grande descobrimento - 20:1-10 (cont.)
O grande reconhecimento - 20:11-18
Compartilhando as boas novas - 20:11-18 (cont.)
A comissão de Cristo - 20:19-23
O incrédulo convencido - 20:24-29
Tomé nos dias posteriores - 20:24-29 (cont.)
O objetivo do Evangelho - 20:30-31
O amor surpreendido - 20:1-10
O grande descobrimento - 20:1-10 (cont.)
O grande reconhecimento - 20:11-18
Compartilhando as boas novas - 20:11-18 (cont.)
A comissão de Cristo - 20:19-23
O incrédulo convencido - 20:24-29
Tomé nos dias posteriores - 20:24-29 (cont.)
O objetivo do Evangelho - 20:30-31
O AMOR SURPRENDIDO
Estudo sobre João 20:1-10
Ninguém amou tanto a Jesus como Maria Madalena. Lucas nos diz que sete demônios saíram dela. Jesus fazia algo por Maria que nenhum outro pôde fazer e Maria jamais o esqueceu. A tradição sempre afirmou que Maria era uma pecadora empedernida a quem Jesus recuperou, perdoou e purificou. Henry Kingsley tem um poema muito belo sobre Maria Madalena.
Madalena na porta de Miguel Atada ao madeiro;
No espinheiro de José cantava o pássaro,
'Deixa-a entrar. Deixa-a entrar.'
'Viu as feridas?', disse Miguel,
'Conheces teu pecado?'
'Chegou a tarde, a tarde', cantou o pássaro,
'Deixa-a entrar. Deixa-a entrar.'
'Se, vi as feridas,
E conheço meu pecado.'
'Conhece-o bem, bem, bem', cantou o pássaro.
'Deixa-a entrar. Deixa-a entrar.'
'Não trazes ofertas', disse Miguel,
'Só trazes pecados.'
E o pássaro cantou,
'Arrepende-se, arrepende-se, arrepende-se.'
'Deixa-a entrar. Deixa-a entrar.'
Quando cantou até dormir,
E chegou a noite,
Veio alguém e abriu a porta de Miguel,
E entrou Madalena.
Maria tinha pecado muito e amava muito: a única coisa que podia oferecer era amor.
Na Palestina era costume visitar a tumba dos seres queridos durante os três dias posteriores a seu enterro. Criam que durante três dias o espírito da pessoa morta dava voltas e esperava perto do sepulcro e que só depois desse tempo ia embora porque o corpo se tornou irreconhecível pela decomposição. Os amigos de Jesus não podiam aproximar-se do sepulcro durante o sábado pois se viajassem nesse dia teriam desobedecido a Lei. O sábado corresponde a nosso sábado de maneira que Maria chegou pela primeira vez ao sepulcro no domingo. Chegou muito cedo. A palavra que se usa para dizer cedo é proi. Esse era o termo técnico para referir-se à última dos quatro vigílias nas quais se dividia a noite: a vigília que ia das três às seis da manhã, Ainda era escuro quando Maria se aproximou do lugar porque não podia tolerar permanecer longe.
Quando chegou ao sepulcro se sentiu surpreendida e maravilhada. Na antiguidade não se fechavam os sepulcros com portas. Diante da entrada havia uma fenda sobre o solo e se fazia correr uma pedra que
fazia as vezes de porta. Por outro lado, Mateus nos diz que as autoridades tinham selado a pedra para assegurar-se de que ninguém a moveria (Mateus 27:66). Maria se sentiu esmagada ao ver que alguém
tinha movido a pedra. Ela deve ter imaginado duas coisas. Pode ter pensado que os judeus levaram o corpo de Jesus: que, longe de estar satisfeitos havendo-o matado na cruz, estavam infligindo mais profanações a seu cadáver. Também devemos levar em conta que um dos rasgos mais lúgubres do crime na antiguidade era que havia seres indignos que se ocupavam de assaltar sepulcros. Maria pode ter pensado que alguém tinha violado a tumba tirando o corpo de Jesus.
Tratava-se de uma situação que Maria se sentiu incapaz de enfrentar sozinha. De maneira que voltou para a cidade para buscar a Pedro e João. Maria é o maior exemplo do amor surpreendido. É o exemplo supremo de alguém que continuou amando e crendo apesar de sua incapacidade de compreender. E esses são o amor e a crença que encontram sua glória.
O GRANDE DESCOBRIMENTO
Estudo sobre João 20:1-10 (continuação)
Um dos elementos esclarecedores deste relato é que Pedro continuava sendo o líder reconhecido do grupo de apóstolos. Maria se dirigiu a ele. Apesar de sua negação, que já se devia ter difundido por toda parte, Pedro continuava sendo o líder. Estamos acostumados a falar da fraqueza e instabilidade de Pedro mas deve ter havido algo fora do comum em alguém que pôde enfrentar a seus companheiros depois dessa queda desastrosa na covardia. Deve ter tido algo especial esse homem a quem todos estavam dispostos a aceitar como líder inclusive depois de sua ação. A fraqueza de um momento não deve nos impedir de ver a força e a estatura moral de Pedro e o fato de que era um líder nato.
De maneira que Maria foi buscar a Pedro e João e estes saíram imediatamente em direção ao sepulcro. Foram correndo e João deve ter sido mais jovem que Pedro pois viveu até fins de século, de maneira que ganhou nesta carreira frenética. Quando chegaram ao sepulcro, João olhou para dentro mas não deu mais um passo. Pedro, com sua impulsividade característica, não só olhou mas também entrou. Nesse momento. Pedro agora se sentia esmagado pelo sepulcro vazio. Logo, João começou a imaginar algumas coisas. Se alguém tirou o corpo de Jesus ou se entraram ladrões de sepulcros por que teriam que deixar os tecidos? E imediatamente algo mais lhe chamou a atenção: os tecidos não estavam desordenados: jaziam ainda em suas dobras, esse é o significado das palavras gregas, as roupas do corpo onde ele esteve: o sudário onde esteve a cabeça. O sentido da descrição aponta para o fato de que os tecidos não estavam postos como se alguém os tivesse tirado.
Estavam dispostos com as dobras primitivas como se o corpo de Jesus se evaporou e os tivesse deixado ali. Tudo isto penetrou de repente na mente de João: deu-se conta do que tinha acontecido e creu. Não foi o que tinha lido nas Escrituras o que o convenceu de que Jesus tinha ressuscitado: convenceu-se pelo que viu com seus próprios olhos.
É extraordinário o papel que desempenha o amor neste relato. Foi Maria, que amava tanto a Jesus, quem chegou em primeiro lugar ao sepulcro. João, o discípulo a quem Jesus amava e que amava a Jesus, foi o primeiro em crer na ressurreição. Essa sempre será a grande glória de João. Foi o primeiro em compreender e crer. O amor lhe deu olhos para ler os sinais e uma mente para compreender.
Aqui temos a grande lei da vida. É certo que em qualquer tipo de trabalho não podemos interpretar por completo a mente de outra pessoa a menos que haja uma corrente de simpatia entre ambos. Ninguém pode falar, ensinar ou escrever com efetividade sobre a vida e a obra de outra pessoa por quem não sente nada. Alguém se dá conta imediatamente quando o diretor de uma orquestra sente simpatia pela obra do compositor cuja música dirige. O amor é o grande intérprete. O amor pode captar a verdade quando o intelecto permanece inseguro. O amor pode entender o sentido de algo sobre o qual a investigação não pode descobrir nada.
Conta-se que em uma oportunidade um jovem artista levou a Dore um quadro de Jesus que pintor para que o mestre lhe desse sua opinião. Dore demorou para pronunciar-se mas por fim deu seu veredicto em uma só frase: "Você não o ama, do contrário o pintaria melhor". Não podemos entender a Jesus ou ajudar a outros a que o compreendam a menos que lhe entreguemos tanto nossos corações como nossas mentes.
O GRANDE RECONHECIMENTO
Estudo sobre João 20:11-18
Alguém disse que este relato é a cena de reconhecimento mais sublime de toda a literatura. A Maria pertence a glória de ter sido primeira a ver o Cristo Ressuscitado. Todo o relato está imbuído de sinais do amor de Maria. Tinha voltado ao sepulcro, levou a mensagem a Pedro e João e logo estes a devem ter deixado atrás em sua carreira rumo ao sepulcro. Quando Maria chegou, os outros dois já não deviam estar ali. De maneira que ficou chorando.
Não há necessidade de buscar razões muito complicadas para entender por que Maria não reconheceu a Jesus. O fato muito singelo e emocionante é que ela não o podia ver através das lágrimas. Toda sua conversação com a pessoa a quem tomou pelo jardineiro manifesta seu amor. “Se tu o tiraste, dize-me onde o puseste”. Jamais mencionou o nome de Jesus; pensava que qualquer um saberia de quem estava falando. Sua mente estava tão ocupada com Jesus que não havia outra pessoa no mundo para ela. “Eu o levarei”. Como poderia fazer isso com seu força de mulher? Onde o ia levar? Nem sequer tinha pensado nestes problemas. Seu único desejo era chorar seu amor sobre o corpo morto de Jesus. Logo que respondeu à pessoa a quem confundiu com o jardineiro deve ter retornado ao sepulcro pois não podia tirar os olhos dele, de maneira que deu as costas a Jesus. Logo chegou a única palavra de Jesus, "Maria!" e sua resposta, "Mestre!" (Raboni não é mais que a forma aramaica de Rabino; não há nenhuma diferença entre as duas palavras).
De modo que vemos que houve duas razões muito simples e, não obstante, muito profundas, pelas quais Maria não reconheceu a Jesus.
(1) Não o pôde reconhecer pelas lágrimas. Estas lhe cegavam os olhos de maneira tal que não podia ver. Quando perdemos um ser amado, alguém a quem queríamos, sempre há dor em nosso coração e lágrimas em nossos olhos, embora não as derramemos.
Entretanto, há algo que sempre devemos ter em mente: nesse momento nossa dor é essencialmente egoísta. Pensamos em nossa solidão, nossa dor, nossa perda e desolação. Não podemos chorar por alguém que foi viver com Deus; não podemos chorar por alguém que depois da febre enlouquecedora da vida, dorme em paz. Choramos por nós mesmos. É natural e inevitável. Não obstante, jamais devemos permitir que nossas lágrimas nos ceguem à glória do céu e da vida eterna. Deve haver lágrimas mas através delas devemos vislumbrar a glória.
(2) Não pôde reconhecer a Jesus porque insistia em dirigir seu olhar na direção equivocada. Não podia tirar os olhos do sepulcro e dava as costas a Jesus. Isto também nos acontece com freqüência. Nesses momentos, nossos olhos estão fixos na terra fria do sepulcro. Mas devemos arrancar os olhos dali. Não é ali onde estão nossos seres queridos; aí estão seus corpos cansados mas o corpo não é a pessoa. A verdadeira pessoa está nos lugares celestiais em companhia de Jesus e na glória de Deus.
Quando nos chega a dor não devemos permitir que as lágrimas ceguem nossos olhos e lhes impeçam de ver a glória. Tampouco devemos atar nossos olhos à tumba e nos esquecer do céu. Alan Walker no Everybody's Calvary (O calvário de todos) contanos que uma vez oficiou um funeral para gente que só o via como uma formalidade e que careciam tanto de fé como de relações cristãs. "Quando terminou o serviço, um jovem olhou para dentro da tumba e disse, com o coração destroçado, 'Adeus, papai'. Para os que não têm a esperança cristã, esse é o fim. Para nós, pelo contrário, nesse momento é 'Até logo!' e, literalmente significa 'Até que nos voltemos a encontrar'.
COMPARTILHANDO AS BOAS NOVAS
Estudo sobre João 20:11-18 (continuação)
Nesta passagem há uma dificuldade muito concreta. Quando termina a cena de reconhecimento pelo menos à primeira vista, Jesus diz a Maria: “Não me toques; porque ainda não subi ao Pai” (20:17, TB). Uns poucos versículos mais adiante o encontramos convidando a Tomé a tocá-lo (João 20:27). Em Lucas lemos que Jesus convida os discípulos aterrados: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24:39). No relato do Mateus lemos que “elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram” (Mateus 28:9). Inclusive a forma da afirmação de João é difícil. Faz Jesus dizer:
"Não me toques, porque ainda não subi a meu Pai", para dizer que ele o podia tocar depois da ascensão. Não há uma explicação totalmente satisfatória desta frase.
(1) Tem sido dado um sentido espiritual. Foi sustentado que o único contato real com Jesus chega, em realidade, só depois de sua ascensão. Afirma-se que o que importa não é o contato físico de uma mão com a outra mas o contato que chega através da fé com o Senhor ressuscitado e vivo. O que interessa não é que se possa tocar um corpo mas sim um espírito se possa encontrar com outro. Sem dúvida isso é certo e muito valioso mas não parece ser o sentido desta passagem.
(2) Sugere-se que a versão grega é uma tradução errônea do original aramaico. Jesus, é obvio, falaria a aramaico, não o grego e o que nos dá João é uma tradução ao grego das palavras de Jesus. Sugere-se que o que Jesus disse foi: "Não me toques, mas antes de eu subir a meu Pai vai a meus irmãos e lhes diga..." Seria como se Jesus houvesse dito: "Não ocupe tanto tempo em me adorar na alegria de seu novo descobrimento.
Vai e dá a boa nova aos outros discípulos." Pode ser que esta seja a explicação. No idioma grego o imperativo é um presente imperativo. O sentido estrito das palavras seria: "Deixa de me tocar". Pode ser que Jesus dissesse a Maria: "Não continue ficando comigo de maneira egoísta, pois dentro de pouco tempo voltarei a meu Pai. Quero me encontrar com meus discípulos tantas vezes quanto possível antes que isso ocorra. Vai dar-lhes a boa nova para não perder nem um momento do tempo que podemos estar juntos." Pode tratar-se de uma ordem a Maria de que solte a Jesus, que não se aferre a Ele sozinha mas sim vá dar as santas notícias a outros. Isso faria sentido e foi o que Maria fez.
(3) Há outra possibilidade. Nos outros três Evangelhos sempre se acentua o medo daqueles que reconheceram repentinamente a Jesus. Em Mateus 28:10 as palavras de Jesus são: “Não temais!” Em Lucas 24:5 se diz que estavam “possuídas de temor”. Em Marcos 16:8 o relato termina “porque estavam possuídas de medo” (TB). Tal como aparece no relato de João não se menciona este temor profundo. Agora, às vezes os olhos dos escribas que copiavam os manuscritos cometiam enganos pois não eram fáceis de ler. Alguns especialistas crêem que o que João escreveu originariamente não foi Me Aptou, “Não me toques”, mas Me ptou, “Não temas”. O verbo ptoein significa tremer de medo. Nesse caso, Jesus haveria dito a Maria: "Não temas; ainda não subi a meu Pai, ainda estou contigo."
Nenhuma explicação desta frase de Jesus é completamente satisfatória mas possivelmente a segunda seja a mais conveniente das três que consideramos. Seja o que for que tenha ocorri, Jesus enviou Maria e os discípulos com a mensagem de que o que Ele lhes disse tantas vezes estava por acontecer: estava para ir ao seu Pai. E Maria chegou com a notícia: “Vi o Senhor!”
Nessa mensagem de Maria está contida a própria essência do cristianismo. Um cristão é alguém que pode dizer: "Vi o Senhor." O cristianismo não significa saber coisas sobre Jesus, significa conhecer a
Jesus. Não significa discutir sobre Jesus, significa encontrá-lo. Significa a certeza da experiência de que Jesus vive.
A COMISSÃO DE CRISTO
Estudo sobre João 20:19-23
O mais provável é que os discípulos continuassem reunindo-se no cenáculo, onde tinham celebrado a Última Ceia. Mas se reuniam com um sentimento semelhante ao terror. Tinham medo; conheciam o rancor amargo dos judeus, tinham planejado a morte de Jesus e os discípulos temiam que o fizessem com eles. De maneira que se reuniam com temor, ouviam com atenção para descobrir um passo na escada ou um golpe na porta pensando que os emissários do Sinédrio pudessem ir prendê-los. Enquanto estavam sentados, Jesus apareceu de repente no meio deles.
Pronunciou a saudação comum e cotidiana dos orientais: “Paz seja convosco!” Significa muito mais que: "Desejo que vocês não tenham problemas." Quer dizer: "Que Deus lhes outorgue todo o bem." Logo Jesus deu aos discípulos a ordem que a Igreja jamais deve esquecer.
(1) Disse-lhes que tal como Deus o enviou, Ele os enviava. Isto é o que Westcott denominou "A missão da Igreja." Significa três coisas.
(a) Significa que Jesus Cristo precisa da Igreja. Isto é exatamente o que quis dizer Paulo ao referir-se à Igreja como "o corpo de Cristo" (Efésios 1:23; 1 Coríntios 12:12). Jesus tinha vindo com uma mensagem para todos os homens: agora voltava ao Pai; não se podia levar essa mensagem aos homens a menos que a Igreja o fizesse. A Igreja devia ser a boca que falasse por Jesus, os pés que levassem suas mensagens, as mãos que fizessem seu trabalho. A mensagem de Cristo foi entregue nas
mãos da Igreja. Jesus não podia converter-se em posse e Salvador do mundo a menos que a Igreja levasse seu história a todo o inundo. Portanto, o primeiro sentido desta passagem é que Jesus depende de sua Igreja.
(b) Significa que a Igreja precisa de Jesus. A pessoa a ser enviada precisa de alguém que o envie; precisa de uma mensagem; precisa de uma força e uma autoridade que apóiem sua mensagem; precisa de alguém para a quem dirigir-se quando duvida ou tem dificuldades. A Igreja precisa de Jesus. Sem Ele não há mensagem, não há poder; sem Ele não há a quem dirigir-se quando há problemas, não há ninguém que a ilumine, que dê poder a seu braço e que alente seu coração. De modo que isto significa que a Igreja depende de Jesus.
(c) Entretanto, há algo mais: O fato de enviar a Igreja da de Jesus corre paralelo ao envio de Jesus da parte de Deus. Mas ninguém pode ler a história do Quarto Evangelho sem perceber que a relação entre Jesus e Deus dependia continuamente da obediência, da submissão e do amor perfeitos de Jesus para com Deus. Jesus só podia ser o mensageiro de Deus porque lhe oferecia essa obediência e esse amor perfeitos. Disso se deduz que a Igreja só pode ser a mensageira e o instrumento de Cristo quando o ama e lhe obedece de maneira perfeita. A Igreja jamais ocupar-se em proclamar sua própria mensagem mas a mensagem de Cristo.
Jamais deve ocupar-se em seguir sua política elaborada pelos homens; deve ocupar-se em seguir a vontade de Cristo. A Igreja fracassa quando tenta resolver algum problema a partir de sua própria sabedoria e força e não busca a vontade e a guia de Jesus Cristo.
(2) Jesus soprou sobre seus discípulos e lhes deu o Espírito Santo. Não há dúvida de que quando João falava deste modo pensava no antigo relato da criação do homem. O autor daquele passagem diz: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” (Gênesis 2:7).
Esta foi a mesma imagem que Ezequiel viu ao vislumbrar o vale dos ossos mortos e secos e ouviu que Deus dizia ao vento: “Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam” (Ezequiel 37:9). A vinda do Espírito Santo é como uma nova criação; é como o despertar da morte para a vida. Quando o Espírito Santo vem sobre esta Igreja é despertada e recriada para sua tarefa.
(3) Jesus disse aos discípulos: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e, àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos.” Trata-se de uma frase que devemos nos esforçar por compreender com cuidado. Há uma coisa segura: ninguém pode perdoar os pecados de outro. Mas há outra coisa que também é certa: o grande privilégio da Igreja é comunicar a mensagem, o anúncio e o fato do perdão de Deus aos homens.
Agora, suponhamos que alguém nos traz uma mensagem de outra pessoa, nossa aceitação e valorização da mensagem dependerá de quão bem o portador conheça a pessoa que o enviou. Se alguém se oferecer para interpretar o pensamento de um terceiro, sabemos que o valor da interpretação depende de sua intimidade com essa pessoa.
Os apóstolos tinham o maior direito de levar a mensagem de Jesus aos homens porque eram aqueles que melhor o conheciam. Se sabiam que alguém era realmente penitente, podiam lhe anunciar com absoluta certeza o perdão de Cristo. Do mesmo modo, se sabiam que no coração de uma determinada pessoa não existia o menor sentimento de penitência ou que brincava com o amor e a misericórdia de Deus, podiam lhe dizer que a menos que mudasse seu coração não receberia o perdão. Esta frase não significa que alguma vez se confiou a alguém o perdão dos pecados.
Significa que foi confiado o poder de proclamar tal perdão assim como o poder de advertir que esse perdão não está à disposição daqueles que não se arrependem. Esta frase estabelece o dever da Igreja de levar o perdão aos de coração arrependido e de advertir àqueles que não o estão que brincam com a misericórdia de Deus.
O INCRÉDULO CONVENCIDO
Estudo sobre João 20:24-29
Para Tomé a cruz não foi nenhuma surpresa; era o que esperava. Quando Jesus propôs ir a Betânia depois de receber a notícia da enfermidade de Lázaro, a reação de Tomé foi: “Vamos também nós para morrermos com ele.” (João 11:16). Tomé nunca teve falta de coragem mas era pessimista por natureza. Não se pode duvidar de que Tomé amava a Jesus. Amava-o o suficiente para ir a Jerusalém para morrer com Ele quando os outros discípulos titubearam e sentiram medo. Tinha sucedido o que Tomé previu mas, apesar disso, sentia-se destroçado. Tinha o coração tão pesaroso que não podia encontrar-se com outras pessoas, só queria estar a sós com sua dor.
O rei Jorge V costumava dizer que um dos lemas de sua vida era:
"Se tiver que sofrer, espero ser como um animal bem educado e sofrer a sós."
Tomé devia enfrentar seu sofrimento e sua dor a sós. De maneira que quando Jesus voltou, Tomé não estava presente e a notícia de que Jesus retornou lhe parecia muito boa para ser verdade. pelo que se negou a crê-la. Sendo belicoso em seu pessimismo, afirmou que jamais creria que Jesus ressuscitou dentre os mortos até que ver e tocar na marca dos pregos em suas mãos e até que pusesse o dedo na ferida que fez a lança em seu lado. (Não se menciona alguma ferida nos pés de Jesus porque na crucificação não se cravavam os pés, simplesmente eram atados à cruz).
De maneira que passou outra semana e Jesus retornou e desta vez Tomé estava presente. E Jesus conhecia o coração de Tomé. Repetiu suas próprias palavras e o convidou a fazer a prova que tinha proposto. E o coração de Tomé se encheu de amor e devoção; tudo o que atinou a dizer foi: “Senhor meu e Deus meu!” De modo que Jesus lhe disse: "Tomé, você precisou dos olhos físicos para crer, mas virá o dia quando os homens verão com os olhos da fé e crerão."
Neste relato, aparece com toda clareza a personalidade de Tomé.
(1) Tomé cometeu um engano. Afastou-se da comunidade cristã. Buscou a solidão antes que a união com os outros. E como não estava junto com seus irmãos cristãos perdeu a primeira aparição de Jesus. Perdemos muitas coisas quando nos separamos da comunidade cristã e buscamos estar sozinhos. Podem-nos acontecer certas coisas dentro da comunidade da Igreja de Cristo que não nos podem passar quando estamos sozinhos. Quando experimentamos a dor e a tristeza nos embarga costumamos nos encerrar em nós mesmos e nos negamos a ver outras pessoas. Esse é o momento quando, apesar da dor, deveríamos buscar a companhia das pessoas de Cristo porque ali é onde o encontraremos face a face com maior probabilidade.
(2) Mas Tomé tinha duas grandes virtudes. Negava-se por completo a dizer que cria quando não fosse verdade. Jamais diria que entendia quando não entendia ou que cria quando não cria. Há uma certa honestidade sem rodeios em Tomé. Jamais acalmaria as dúvidas simulando que não existiam. Não era o tipo de homem que repetiria um credo como se fosse um papagaio sem entender o que dizia. Tinha que estar seguro e tinha razão.
Tennyson escreveu:
Há mais fé na dúvida honesta,
Creiam-me, que na metade dos credos.
Há mais fé verdadeira no homem que insiste em certificar-se que naquele que repete bobamente coisas que jamais pensou e nas quais não crê. Esse é o tipo de dúvida que, no fim das contas, conduz à certeza.
(3) A outra grande virtude de Tomé é que quando esteve seguro continuou até o fim. “Senhor meu e Deus meu!” disse. Não havia meias tintas para ele. Não ventilava suas dúvidas para praticar uma espécie de acrobacia mental. Duvidava a fim de estar seguro e quando o esteve sua entrega à certeza foi total. Se alguém lutar com suas dúvidas até chegar à convicção de que Jesus Cristo é Senhor, chega a uma certeza que nunca alcançará aquele que aceita as coisas sem refletir sobre elas.
TOMÉ NOS DIAS POSTERIORES
Estudo sobre João 20:24-29 (continuação)
Não sabemos com certeza o que aconteceu com Tomé nos dias posteriores. Entretanto, há um livro apócrifo chamado Os Atos de Tomé que, conforme afirma, dá-nos a história deste apóstolo. É obvio que não é mais que uma lenda mas pode ser que haja algo de verdade nela. Sem dúvida, Tomé responde às características de sua personalidade. Esta é parte do relato que conta.
Depois da morte de Jesus os discípulos dividiram o mundo a fim de que cada um fosse a um país para pregar o evangelho. Coube a Tomé a Índia. Esta parte é verdade: a Igreja tomista do sul da Índia se origina em Tomé. A princípio se negou a ir. Dizia que não era o suficientemente forte para fazer essa longa viagem. Disse: "Sou um homem hebreu; como posso ir entre os índios e pregar a verdade?" Jesus lhe apareceu durante a noite e lhe disse: "Não temas Tomé, vai à a Índia e prega a palavra ali pois minha graça está contigo." Mas Tomé continuou não querendo ir pondo dificuldades.. "Envie-me aonde quiser", disse, "mas a outro lugar porque à Índia não irei."
Agora, aconteceu que chegou a Jerusalém um comerciante da Índia chamado Abbanes. Foi enviado pelo rei Gundaphoros para buscar um perito carpinteiro e levá-lo à Índia. Tomé era carpinteiro. Jesus apareceu a Abbanes no mercado e lhe disse: "Quer comprar um carpinteiro?" Abbanes respondeu, "Sim". Jesus lhe disse: "Tenho um escravo que é carpinteiro e desejo vendê-lo" e apontou aonde estava Tomé. De maneira que ficaram de acordo sobre o preço e Tomé foi vendido. O acordo dizia assim: "Eu, Jesus, filho de José o carpinteiro, dou fé de que vendi a meu escravo, de nome Tomé, a Abbanes, um mercado do Gundaphoros, rei dos índios". Quando foi assinado o acordo, Jesus buscou Tomé e o levou perante Abbanes. Este lhe perguntou: "É este seu amo?" Tomé respondeu, "Por certo que sim". Abbanes disse: "Comprei-te." Tomé não disse nada, porém no dia seguinte se levantou cedo e orou. Depois da oração disse a Jesus: "Irei onde tu queiras, Senhor Jesus; faça-se a tua vontade". É o mesmo Tomé, lento mas seguro, lento para render-se mas uma vez que o faz, sua entrega é total.
O relato prossegue contando que Gundaphoros ordenou a Tomé que construísse um palácio e este respondeu que era capaz de fazê-lo. O rei lhe deu suficiente dinheiro para comprar os materiais e contratar operários mas Tomé deu tudo aos pobres. Sempre dizia ao rei que o palácio ia muito bem. O rei começou a suspeitar. Por último mandou chamar Tomé: "Você construiu o meu palácio?" perguntou-lhe. Tomé respondeu: "Agora não pode vê-lo mas quando abandonar esta vida o verá". No princípio o rei se sentiu muito zangado e a vida de Tomé corria perigo mas por último também ele foi conquistado para Cristo. E assim foi como Tomé levou o cristianismo à Índia. Há algo muito amável e digno de admiração em Tomé. A fé nunca lhe foi fácil; tampouco lhe surgia espontaneamente a obediência. Era um homem que tinha que estar seguro. Tinha que avaliar os custos. Mas uma vez que estava seguro e que tinha avaliado o preço, chegava até o limite da fé e da obediência. Uma fé como a de Tomé é melhor que qualquer afirmação sem sentido e uma obediência como a de Tomé é melhor que uma aceitação fácil que faz qualquer um sem avaliar o custo e que logo não cumpre sua palavra.
O OBJETIVO DO EVANGELHO
Estudo sobre João 20:30-31
É evidente que segundo o plano original do evangelho, termina com este versículo. Aqui temos o final natural e o capítulo 21 deve ser visto como um apêndice e agregado depois.
Nenhum outra passagem dos Evangelhos resume com maior clareza o objetivo de seus autores.
(1) É evidente que os Evangelhos nunca se propuseram nem afirmaram dar uma versão completa da vida de Jesus. Não seguem seus passos dia após dia nem hora após hora. Fazem uma seleção. Não nos dão um relatório exaustivo de tudo o que Jesus disse ou fez mas uma seleção de acontecimentos característicos que nos mostram como era e o tipo de coisas que fazia.
(2) Por outro lado, é evidente que os Evangelhos não têm como objetivo ser biografias de Jesus. São chamados ou convites a receber a Jesus como Salvador, Mestre e Senhor. Seu objetivo não era proporcionar informação mas Vida. Seu propósito era pintar uma imagem tal de Jesus que o leitor se visse obrigado a ver que a pessoa que podia falar, ensinar, agir e curar desse modo não podia ser outro senão o Messias e o Filho de Deus e que, ao crer nEle, encontrasse o segredo da vida verdadeira.
Quando nos aproximamos dos Evangelhos como se fossem uma história ou uma biografia, aproximamo-nos com um ânimo equivocado. Não devemos lê-los principalmente como historiadores que buscam informação mas sim como homens e mulheres que buscam a Deus.