Estudo sobre João 14

Estudo sobre João 14
Estudo sobre João 14


A promessa de glória - 14:1-3
A promessa de glória - 14:1-3 (cont.)
O caminho, a verdade e a vida - 14:4-6
A visão de Deus - 14:7-11
A visão de Deus - 14:7-11 (cont.)
As promessas tremendas - 14:12-14
O Consolador prometido - 14:15-17
O caminho rumo à fraternidade e à revelação - 14:18-24
Os dons do Espírito - 14:25-31




A PROMESSA DE GLÓRIA
Estudo sobre João 14:1-3

Em muito poucos instantes se derrubaria a vida dos discípulos. O Sol se poria ao meio-dia e seu mundo cairia no caos. Nesse momento, só se podia fazer uma coisa: confiar em Deus com todas as forças. Como disse o salmista: “Eu creio que verei a bondade do SENHOR na terra dos viventes.” (Salmo 27:13). “Pois em ti, SENHOR Deus, estão fitos os meus olhos: em ti confio; não desampares a minha alma.” (Salmo 141:8).

Há momentos quando temos que crer apesar de que não podemos comprovar o que cremos e temos que aceitar o que não compreendemos. Se inclusive nas horas mais terríveis cremos que, de algum modo, há um objetivo na vida e que esse objetivo é o amor, até o mais insuportável se faz suportável e na escuridão mais extrema se percebe uma luz. Mas Jesus acrescenta algo. Jesus não se limita a dizer, “Credes em Deus”, mas diz também: “Crede também em mim.” Se ao salmista pôde crer na bondade última de Deus, quanto mais fácil é para nós. Pois Jesus é a prova de que Deus está disposto a nos dar tudo o que tem. Como o Paulo o expressou: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele
todas as coisas?” (Romanos 8:32).

Se crerem que Deus é como Jesus nos disse, se crerem que em Jesus vemos a imagem de Deus, perante esse amor esmagador se faz, não fácil, mas ao menos possível, aceitar até o que não podemos entender e manter uma fé serena nas tormentas da vida.

Jesus continuou dizendo: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.”

Ao falar da casa de seu Pai se referia ao céu. Mas o que quis dizer ao falar das muitas moradas no céu? A palavra que se emprega para designar moradas é monai. São dadas três sugestões.

(a) Os judeus afirmavam que no céu há diferentes graus ou níveis de beatitude que se darão aos homens segundo sua bondade e sua fidelidade na Terra. No Livro dos segredos de Enoque diz: "No mundo por vir há muitas mansões preparadas para os homens: boas para os bons, más para os maus". Segundo essa imagem podemos comparar o céu com um palácio imenso que tem muitas habitações. A cada um lhe atribui a habitação que mereceu segundo a vida que levou.

(b) O escritor grego Pausanias emprega a palavra monai no sentido de estágios no caminho. Se isso for o que significa nesta passagem, quer dizer que há muitas etapas no caminho que conduz ao céu e que até no céu existe o progresso, o desenvolvimento e o adiantamento.

Pelo menos alguns dos grandes pensadores cristãos dos primeiros tempos criam nesta acepção. Um deles era Orígenes. Dizia que quando alguém morria, sua alma ia a um lugar chamado Paraíso, que está na Terra. Ali recebia ensinos e preparações e, quando o merecia e estava preparado para fazê-lo, a alma subia ao ar. Logo passava por vários estágios, monai, que os gregos chamavam esferas e às quais os cristãos deram o nome de céus, até que por fim chegava ao reino celestial. Ao fazer tudo isto, a alma copiava a Jesus que, como disse o autor de Hebreus: “penetrou os céus” (Hebreus 4:14).

Irineu faz referência a certa interpretação da frase que diz que a semente que se semeia às vezes produz cem, outras sessenta e outras trinta por um (Mateus 13:8). A colheita era diferente e portanto também o era a recompensa. Alguns homens serão considerados dignos de passar toda a eternidade na presença de Deus; outros ressuscitarão no Paraíso e outros se farão cidadãos de "a cidade".

Clemente de Alexandria cria que havia graus de glória, recompensas e estágios segundo o grau de santidade que tinha alcançado cada homem durante sua vida na Terra. Aqui há algo muito atrativo. Em certo sentido, a alma rechaça a idéia do que poderíamos denominar um céu estático. Há algo interessante na idéia de um progresso, de um desenvolvimento que continua inclusive nos lugares celestiais. Para dizê-lo em termos puramente humanos e inadequados, às vezes pensamos que nos sentiríamos esmagados com muito esplendor se ingressássemos imediatamente à presença de Deus. Sentimos que, até no próprio céu, precisaríamos nos limpar, nos purificar e receber alguma ajuda antes de nos defrontar com a glória maior. Ninguém saberá se estas idéias são corretas ou não, mas tampouco há quem pode afirmar que estão proibidas.

(c) Entretanto, pode ser que o significado destas palavras seja muito simples e valioso: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” Pode significar que no céu há lugar para todos. Qualquer casa da Terra se pode encher muito, uma estalagem pode ter que rechaçar a algum viajante esgotado porque carece de lugar. Isto não acontece com a casa de nosso Pai, porque o céu é tão vasto como o coração de Deus e há lugar para todos. De maneira que o que Jesus dizia a seus amigos era o seguinte: "Não temam. Os homens possivelmente lhes fechem as portas mas jamais os expulsarão do céu."


A PROMESSA DE GLÓRIA
Estudo sobre João 14:1-3 (continuação)

Esta passagem também inclui outras grandes verdades.

(1) Fala-nos da honestidade de Jesus. Ele disse: “Se assim não fora, eu vo-lo teria dito.” Ninguém pode afirmar que o enganaram com promessas falsas para que se convertesse ao cristianismo. Jesus falou com toda franqueza aos homens sobre o adeus que o cristão deve dar à comodidade (Lucas 9:57-58). Falou-lhes sobre as perseguições, o ódio, os castigos que deveriam suportar (Mateus 10:16-22). Advertiu-os a respeito da cruz iniludível que deveriam carregar (Mateus 16:24). Mas também lhes falou sobre a glória final do caminho cristão. Jesus falou aos homens com franqueza e honestidade a respeito do que podiam esperar quanto a glória e dor se eles se propunham segui-lo. Não era um líder que tentava enrolar os homens, prometendo um caminho fácil; buscava desafiá-los para que obtivessem a grandeza.

(2) Fala-nos sobre a função de Jesus. “Pois vou preparar-vos lugar.” Uma das noções principais do Novo Testamento é que Jesus vai adiante para que nós o sigamos. Abre um caminho que podemos tomar e seguir os seus passos.

Uma das palavras mais importantes que se empregam para descrever a Jesus é pródromos (Hebreus 6:20). A versão Almeida Atualizada (1995) a traduz como precursor. Esta palavra tem dois usos que podem iluminar a imagem. No exército romano, os pródromos eram as tropas de reconhecimento. Foram na frente do grosso da tropa para queimar o atalho e assegurar-se de que as tropas podiam seguir por ele sem perigo. Era muito difícil aproximar-se do porto de Alexandria.

Quando chegavam os grandes barcos trigueiros, enviava-se um pequeno bote piloto para guiá-lo. Ia diante dos barcos e estes o seguiam com o passar do canal até chegar às águas que não apresentavam nenhum risco. Esse bote piloto se chamava pródromos. Ia adiante para que outros pudessem segui-lo sem perigo. Isso foi o que fez Jesus. Abriu o caminho que leva a céu e a Deus para que nós possamos seguir seus passos.

(3) Fala-nos sobre a vitória final de Jesus. Disse: "Virei outra vez". Esta é uma referência muito clara à Segunda Vinda de Jesus. Trata-se de uma doutrina que, em grande medida, desapareceu do pensamento e da pregação cristãos. O que é estranho a respeito dela é que os cristãos assumem duas posições opostas com referência à Segunda Vinda: ou a ignoram por completo ou não pensam em outra coisa. É certo que não podemos predizer quando acontecerá; também é muito certo que não podemos dizer o que acontecerá ao chegar esse momento. As mesmas extravagâncias nas quais se incorreu ao calcular o momento e a época e ao descrever os acontecimentos que se desenvolveriam na Segunda Vinda têm feito com que as pessoas a deixassem de lado como uma idéia própria de fanáticos. Mas há algo indubitável: a história tem uma direção. A história é necessariamente incompleta se não tem um fim e um momento culminante. Deve ter uma consumação e essa consumação deve ser o triunfo de Jesus Cristo. E o que Jesus promete é que o dia de sua vitória dará as boas-vindas a seus amigos.

(4) Jesus disse: “... para que, onde eu estou, estejais vós também”. Esta é uma verdade muito profunda expressa com a maior simplicidade.

Para o cristão, o Céu é o lugar onde está Jesus. Não temos por que especular a respeito de como será o céu. Basta saber que estaremos com Ele para sempre. Quando amamos a alguém de todo nosso coração, a vida começa quando estamos com essa pessoa; só em sua companhia vivemos verdadeiramente. Isso é o que acontece com Cristo. Nosso contato com Ele neste mundo se faz nas sombras, porque só o vemos através de um vidro escuro. É espasmódico, porque somos criaturas débeis e não podemos viver sempre nas cúpulas. A melhor definição de Céu quer dizer que é esse estado no qual estaremos sempre com Jesus e nada nos voltará a separar dEle.


O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA
Estudo sobre João 14:4-6

Jesus disse várias vezes a seus discípulos para com onde se dirigia mas, de algum modo, ainda não o tinham compreendido. Disse: “Ainda por um pouco de tempo estou convosco e depois irei para junto daquele que me enviou.” (João 7:33). Disse-lhes que ia para o Pai que o enviou e com quem era um; entretanto, os discípulos ainda não entendiam o que sucedia. Menos ainda podiam entender o caminho pelo qual transitava Jesus, porque esse caminho era a cruz. Neste momento, os discípulos eram homens afligidos e incapazes de compreender. Havia um entre eles que jamais podia dizer que entendia algo quando não era certo: esse homem era Tomé. Era um homem muito honesto e que fazia as coisas muito a sério para ficar satisfeito com expressões vagas e piedosas.

Tinha que estar seguro. De maneira que Tomé expressou suas dúvidas e sua incapacidade para entender e o maravilhoso é que a pergunta de um homem que duvidava provocou uma das coisas mais importantes que Jesus disse em toda sua vida. Ninguém deve envergonhar-se de suas dúvidas porque há uma verdade surpreendente e bendita: aquele que busca encontrará.

Jesus disse a Tomé: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida". Para nós é uma frase muito profunda, mas o seria em maior medida para o judeu que a ouvia pela primeira vez. Nessas palavras, Jesus tomou três das concepções principais da religião judia e fez a tremenda afirmação de que nele as três alcançavam sua realização e expressão totais.

Os judeus falavam muito sobre o caminho que deviam tomar os homens e os caminhos de Deus. Deus disse a Moisés: “Cuidareis em fazerdes como vos mandou o SENHOR, vosso Deus; não vos desviareis, nem para a direita, nem para a esquerda. Andareis em todo o caminho que vos manda o SENHOR, vosso Deus” (Deuteronômio 5:32-33). Moisés disse ao povo: “Sei que, depois da minha morte, por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do caminho que vos tenho ordenado” (Deuteronômio 31:29). Isaías havia dito: “Os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” (Isaías 30:21). No mundo novo haveria uma estrada chamada o Caminho de Santidade. Nela, os caminhantes, por simples que fossem suas almas, não se extraviariam (Isaías 35:8). O salmista orou: “Ensiname, SENHOR, o teu caminho” (Salmos 27:11). Os judeus sabiam muito sobre o caminho de Deus que o homem devia seguir. E Jesus disse: "Eu sou o caminho".

O que quis dizer com essas palavras? Suponhamos que estamos em uma cidade estranha e pedimos indicações. Suponhamos que nosso guia nos diz: "Tome a primeira rua à direita e a segunda à esquerda. Cruze a praça, passe na frente da Igreja e dobre na terceira quadra à direita; o caminho que você busca é o quarto à esquerda". Se nos disser isso, o mais provável é que nos percamos na segunda quadra. Mas suponhamos que a pessoa a quem lhe fazemos a pergunta nos diz: "Venha. Eu o levarei até ali". Nesse caso, a pessoa que nos leva é o caminho e não nos podemos perder. Isso é o que Jesus faz por nós. Não se limita a nos dar conselhos e indicações. Pega-nos pela mão e nos guia, caminha conosco, fortalece-nos, conduz-nos e nos dirige todos os dias de nossa vida. Não nos fala sobre o caminho, Ele é o caminho.

Jesus disse: "Eu sou a verdade". O salmista disse: “Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade” (Salmo 86:11). “Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado na tua verdade” (Salmo 26:3). “Escolhi o caminho da verdade” (Salmo 119:30, RC). Há muitos que nos disseram a verdade, mas nenhum foi a encarnação da verdade.

Há algo fundamental a respeito da verdade moral. A personalidade do homem que ensina a verdade acadêmica ou científica não afeta muito a sua mensagem. A personalidade não tem maior peso quando se busca ensinar geometria, astronomia ou os verbos latinos. Pelo contrário, se alguém se propõe ensinar a verdade moral, sua personalidade é essencial. Um adúltero que prega a necessidade da pureza, uma pessoa egoísta que prega o valor da generosidade, uma pessoa dominante que ensina a beleza da humildade, uma criatura irascível que prega a beleza da serenidade, uma pessoa amargurada que prega a beleza do amor estão condenadas a não ter êxito. A verdade moral não se pode transmitir unicamente em palavras, deve-se transmiti-la com o exemplo. E ali é onde falha grandemente até o mais excelso dos professores humanos.

Nenhum professor foi jamais a encarnação de seus ensinos, com exceção de Jesus. Muitos homens poderiam dizer: "Ensinei-lhes a verdade." Jesus era o único que podia afirmar: "Eu sou a verdade." O tremendo a respeito de Jesus não é que a afirmação da perfeição moral encontra sua cúspide nele, embora isso seja certo, mas sim o fato da perfeição moral se vê realizada nele.

Jesus disse: "Eu sou a vida". O autor dos Provérbios disse: “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Provérbios 6:23). “O caminho para a vida é de quem guarda o ensino” (Provérbios 10:17). “Tu me farás ver os caminhos da vida”, disse o salmista (Salmos 16:11). Em última instância, o homem sempre busca a vida. O que querem os homens é encontrar aquilo que faça que a vida mereça a pena vive. Um novelista faz dizer a um de seus personagens, que se apaixonou: "Nunca soube o que era a vida até que a vi em seus olhos." O amor havia trazido a vida. Isso é o que faz Jesus. A vida com Jesus merece viver-se; é vida autêntica.

E há uma maneira de expressar tudo isto. “Ninguém vem ao Pai”, disse Jesus, “senão por mim”. Jesus é o único caminho que conduz a Deus. Só nele vemos como é Deus, temos acesso a Deus. Ele é o único que pode mostrar Deus aos homens e o único que pode conduzir aos homens à presença de Deus sem temor nem vergonha.

A VISÃO DE DEUS
Estudo sobre João 14:7-11

Pode ser que esta tenha sido a coisa mais esmagadora que Jesus disse segundo a interpretação do mundo antigo. Para os gregos Deus era, por definição, o invisível. Para o judeu era um artigo de fé que ninguém jamais viu a Deus. Jesus se dirigiu a pessoas que pensavam desse modo dizendo: “Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai.” Então Filipe pediu algo que deve ter considerado como um impossível. Possivelmente pensava naquele dia grandioso quando Deus revelou sua glória a Moisés (Êxodo 33:12-23). Mas inclusive naquele grande dia, Deus havia dito a Moisés: “Tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá”. Na época de Jesus os homens estavam oprimidos e fascinados pelo que se denomina a transcendência de Deus.

Sentiam-se esmagados pela idéia da diferença e a distância entre Deus e o homem. Jamais teriam ousado pensar que podiam ver a Deus. Nesse contexto, Jesus diz com toda simplicidade: “Quem me vê a mim vê o Pai” Ver Jesus é ver como é Deus. Um autor contemporâneo disse que Lucas havia "domesticado a Deus" em seu Evangelho. Quis dizer que Lucas nos mostra a Deus, em Jesus, tomando parte e compartilhando as coisas mais íntimas e cotidianas.

Quando vemos Jesus podemos dizer: "Este é Deus tomando sobre si e vivendo nossa vida". Se for assim, e o é, podemos dizer as coisas mais valiosas a respeito de Deus.

(1) Deus entrou em um lar e em uma família singela. Como o expressou de maneira formosa Francis Thompson em Ex Ore Infantum: Menino Jesus: foste tímido alguma vez e tão pequeno como eu? e como te sentias ao estar fora do Céu e ser como eu?

Qualquer habitante do mundo antigo teria pensado que se Deus chegava a vir a este mundo Ele o faria como um rei, num grande palácio, com todo o poder, a majestade e a força que, aos olhos do mundo, conforma a grandeza. Como escreveu George Macdonald:

Todos buscavam um rei
Para matar a seus inimigos e lhes dar glória:
Vieste tu, um bebê pequeno,
Que fez chorar a uma mulher.
Segundo as palavras da canção infantil:
Houve um cavaleiro em Belém
Cujo poder foram lágrimas e tristezas;
Seus homens armados foram ovelhinhas,
Suas trombetas, andorinhas.

Em Jesus, Deus santificou uma vez para sempre o nascimento humano, o lar humilde da gente simples e a infância.

(2) Deus não se envergonhava de fazer a tarefa de um homem. Deus entrou em mundo como um trabalhador. Jesus era o carpinteiro de Nazaré. Nunca chegaremos a compreender totalmente a maravilha que significa o fato de que Deus compreende nosso trabalho cotidiano. Conhece o problema de fazer o dinheiro ser suficiente, o incômodo do cliente mal-humorado e do que não paga as contas. Sabe tudo o que significa viver em uma casa singela com uma família numerosa e cada um dos problemas que nos acossam em nosso trabalho de cada dia. Segundo o Antigo Testamento, o trabalho é uma maldição. Segundo o velho relato, a maldição que recebeu o homem por seu pecado no Paraíso foi: “No suor do rosto comerás o teu pão” (Gênesis 3:19). Entretanto, no Novo Testamento, o trabalho está tingido de glória porque foi tocado pela mão de Deus.

(3) Deus sabe o que significa uma tentação. O extraordinário a respeito da vida de Jesus é que não nos mostra a serenidade mas a luta de Deus. Qualquer um poderia imaginar um Deus que vivesse em uma serenidade e uma paz que estivessem livres das tensões deste mundo: Jesus, pelo contrário, mostra-nos um Deus que passa pela luta eterna pela qual todos devemos passar. Deus não é como um comandante que dá suas ordens atrás das linhas de fogo: Ele também conhece as linhas de batalha da vida.

(4) Em Jesus vemos a Deus amando. Quando o amor entra na vida o faz acompanhado pela dor. Se pudéssemos nos libertar por completo da tristeza e da dor humanas, se pudéssemos organizar a vida de maneira tal que nada nem ninguém nos afetasse, não existiria nada semelhante à dor, à tristeza e à ansiedade. Mas em Jesus vemos um Deus que se preocupa com intensidade, que se desvela pelos homens, sente profundamente com eles e por eles, ama-os até que em seu coração aparecem as feridas do amor.

(5) Em Jesus vemos a Deus sobre uma cruz. Não há nada no mundo que seja tão incrível como isto. É fácil imaginar um Deus que condena os homens: mais fácil ainda imaginar um Deus que queima os homens e que, se se opõem, elimina-os. Ninguém teria sonhado jamais com um Deus que, em Jesus Cristo, escolheu a cruz por nós e por nossa salvação. “Quem me vê a mim vê o Pai”. Jesus é a revelação de Deus e essa revelação deixa a mente do homem esmagada e surpreendida em um sentimento de maravilha, amor e adoração.

A VISÃO DE DEUS
João 14:7-11 (continuação)

Não obstante, Jesus diz algo mais. Havia algo que nenhum judeu nunca deixaria de ter claro: a absoluta solidão de Deus. Os judeus eram monoteístas inamovíveis. Um perigo da fé cristã é que situamos a Jesus como uma espécie de Deus secundário. Mas Jesus continuou falando. Insiste que as coisas que disse e fez não surgiram de sua própria iniciativa, poder ou conhecimento, mas sim de Deus. Suas palavras eram a voz de Deus que falava com os homens; suas ações eram o poder de Deus que fluía através dele para os homens. Foi o canal pelo qual Deus chegou aos homens. Tomemos uma analogia muito singela e imperfeita.

Há dois exemplos que nos ajudarão: provêm da relação entre o estudante e o professor.

Ao referir-se ao grande pregador cristão, A. B. Bruce, o Dr. Lewis Muirhead disse que o povo "ia ver nesse homem a glória de Deus."

Qualquer professor tem a responsabilidade de transmitir uma parte da glória de seu tema àqueles que o ouvem e aquele que ensina sobre Jesus Cristo pode, se for o suficientemente santo, transmitir a visão e a presença de Cristo àqueles que o ouvem e àqueles que convivem com ele. Isso foi o que fez A. B. Bruce por seus alunos e, em uma medida imensamente maior, foi o que fez Jesus. Transmitiu a glória e o amor de

Deus aos homens. Mas há outra analogia.

Um grande professor deixa uma marca própria em seus alunos. W.

M. Macgregor foi discípulo do A. B. Bruce. Em suas memórias de W.

M. Macgregor, A. J. Gossip nos diz que "quando se correu o rumor que Macgregor pensava abandonar o púlpito para fazer-se acusação dou uma cadeira a gente se perguntou por que, com grande surpresa. Macgregor respondeu com modéstia que tinha aprendido algumas coisas de Bruce e que desejava as transmitir a outros."

O reitor John Cairns escreveu a seu professor, Sir Williams Hamilton: "Não sei que vida ou que vidas o destino me proporciona, mas sim sei algo: até o fim de meus dias levarei o sinal que você deixou em mim."

Em algumas oportunidades, quando um estudante de teologia foi formado por um grande pregador por quem sentia uma profunda avaliação, podemos ver algo do professor em seu discípulo e ouvimos algo de sua voz. Às vezes a gente diz: "Se fechar os olhos, parece que se ouve a seu professor." Jesus fez algo disso com respeito a Deus, só que em uma medida imensamente maior. Trouxe para os homens o acento, a mensagem, a mente e o coração de Deus. Convém que recordemos de vez em quando, devemos fazê-lo, que todo isso provém de Deus. Jesus não escolheu fazer uma expedição ao mundo. Não o fez para abrandar o coração endurecido de Deus. Veio à Terra porque Deus o enviou, porque Deus amou tanto o mundo. Atrás de Jesus e nele está Deus.

E, ato seguido, Jesus fez uma afirmação e propôs uma prova; tratava-se de duas coisas que sempre afirmava e oferecia. A afirmação de Jesus se baseava em duas coisas: suas palavras e suas obras.

(1) Pedia que fosse provado pelo que dizia. É como se tivesse dito: "Quando me ouvem vocês não de dão conta imediatamente que o que lhes digo é a verdade de Deus?" As palavras de qualquer gênio sempre são sua própria prova. Quando lemos um grande poema na maioria dos casos não podem dizer por que é excelente e por que nos arrebata o coração. É certo que podemos analisar os sons e coisas por estilo, mas sempre fica algo que resiste a toda análise e que, apesar disso, reconhece-se imediatamente e com suma facilidade. O mesmo acontece com as palavras de Jesus. Quando as ouvimos não podemos evitar pensar: "Se o mundo vivesse segundo esses princípios, que diferente seria. Se eu vivesse segundo essas linhas, que distinto seria".

(2) Pediu que o provasse por suas obras. Disse a Filipe: "Se não pode crer em mim pelo que digo, sem dúvida deve reconhecer o que posso fazer para convencê-lo." Essa foi a mesma resposta que Jesus enviou a João. Este tinha mandado mensageiros para perguntar se Jesus era o Messias ou se deviam buscar a outro. A resposta de Jesus foi muito simples. "Voltem", disse, "e digam a João o que acontece: isso o convencerá" (Mateus 11:1-6). A prova de que Jesus é quem é é sua capacidade para curar o corpo e a mente doentes. Ninguém jamais conseguiu converter o homem mau em uma pessoa boa. Jesus disse a Filipe: "Ouça-me! Olhe para mim! E creia!" Até o dia de hoje, esse é o caminho que conduz à fé cristã. Não se busca discutir a respeito de Jesus mas sim de ouvi-lo e olhar para Ele. Se o fizermos, o mero impacto pessoal que terá sobre nós nos obrigará a crer.

AS PROMESSAS TREMENDAS
João 14:12-14

Seria impossível encontrar duas promessas que superem as que aparecem nesta passagem. Não obstante, sua índole é tal que devemos buscar compreender o que significam e o que prometem. A menos que entendamos seu sentido a experiência da vida sempre nos defraudará.

(1) Em primeiro lugar, Jesus disse que chegaria o dia quando seus discípulos fariam o que Ele tinha feito e que inclusive fariam obras superiores. O que quis dizer Jesus com essas palavras?

(a) É um fato certo que, na primeira época, a Igreja primitiva tinha o poder de curar os doentes. Entre os dons que tinham as pessoas, Paulo inclui o de curar (1 Coríntios 12:9,28,30). Tiago estabelece que quando qualquer cristão estivesse doente, os anciãos deviam rogar por ele e ungi-lo com óleo (Tiago 5:14). Entretanto, é evidente que esse não foi todo o sentido das palavras de Jesus. Embora é certo que a Igreja primitiva fez as mesmas coisas que Jesus fez, não se pode dizer, sem dúvida alguma, que fez coisas majores pois isso seria algo impossível.

(b) É um fato real que, com o transcurso do tempo, o homem aprendeu a controlar cada vez mais enfermidades. O clínico e o cirurgião de nossos dias têm poderes que para o mundo antigo eram milagrosos e até divinos. O cirurgião com suas novas técnicas e o clínico com seus tratamentos e suas drogas milagrosas podem efetuar as curas mais surpreendentes. Ainda fica um longo trecho para transitar mas se derrubou uma após outra fortalezas de dor e enfermidades e os inimigos físicos do homem se renderam.

Agora, o essencial de tudo isto é que aconteceu pelo poder e a influência de Jesus Cristo. Por que teriam que tratar os homens de salvar os fracos, os doentes e os moribundos, aqueles cujos corpos estão destroçados e suas mentes em trevas? Sob o regime do Hitler se eliminava essa gente. Pelo contrário, os médicos mais eminentes de diferentes países se opõem com esforço à eutanásia. Como se explica que homens capazes e sábios se sentiram movidos, e até persuadidos, a dedicar seu tempo e suas forças, a arruinara a saúde e às vezes até a entregar suas vidas para descobrir a forma de curar enfermidades e de aliviar a dor? A resposta é que, embora não fossem conscientes disso, Jesus lhes falava por meio de seu Espírito: "Tenho que ajudar e curar estas pessoas. Deve fazê-lo. Não pode permitir que a dor avance e não receba ajuda. Seu dever, sua tarefa e sua responsabilidade é fazer tudo o que possa por eles." O Espírito de Jesus é quem esteve por trás da conquista da enfermidade. É certo que na atualidade os homens podem fazer coisas que ninguém teria sonhado nos tempos de Jesus.

(c) Apesar de tudo, ainda não chegamos ao significado desta passagem. Pensemos no que Jesus tinha feito concretamente durante os dias que viveu na Terra. Nunca tinha pregado fora da Palestina. Sua voz jamais tinha saído a todo mundo dos homens. Durante sua vida. Europa não tinha ouvido o evangelho. Fosse qual fosse a realidade da Palestina, Jesus nunca teve que enfrentar pessoalmente a situação de degeneração moral que apresentava Roma. Até os inimigos de Jesus na Palestina eram homens religiosos. Os fariseus e os escribas tinham entregue suas vidas à religião, tal como eles a viam, e jamais se duvidou de que reverenciavam e praticavam a pureza. Não foi durante a vida de Jesus quando o cristianismo saiu a um mundo no qual não se dava a menor importância ao laço matrimonial, onde o adultério nem sequer era um pecado formal, um mundo dominado pela homossexualidade e no qual o vício proliferava como uma selva tropical.

Os primeiros cristãos foram a esse mundo. Esse foi o mundo que ganharam para Cristo. Quando se falava de números, extensões e mudanças de poder, os triunfos da mensagem da cruz superavam aos de Jesus durante seus dias na Terra. Jesus fala sobre a recriação moral, a vitória espiritual. E diz que tudo isto acontecerá porque Ele vai ao Pai. O que quer dizer com isso? Significa o seguinte: durante os dias que viveu neste mundo estava limitado a Palestina. Uma vez que morreu e ressuscitou ficava liberto das limitações da carne e seu Espírito podia operar de maneira poderosa em qualquer parte. Justamente porque foi ao Pai, seu Espírito ficava livre para operar com poder em todo mundo.

Em sua segunda promessa, Jesus diz que qualquer oração que se ofereça em seu nome receberá resposta. Isto é algo que devemos entender com a maior clareza. Vejamos com atenção o que Jesus disse.

Não disse que todas nossas orações receberiam resposta. Disse que a receberiam aquelas orações feitas em seu nome. A maneira de provar qualquer oração é perguntar-se: Posso fazer esta oração em nome de Jesus? Ninguém poderia orar, por exemplo, para obter uma vingança pessoal, uma ambição, um desejo de superar a outro, a algum ser indigno, anticristão e oposto a Cristo, no nome de Jesus.

Quando oramos, sempre devemos perguntar: Posso orar, com honestidade, em nome de Jesus? ou Estou pedindo isto empurrado por meus próprios desejos, fins e ambições? A oração que resiste esta prova e aquela que no final diz: "Faça-se sua vontade", sempre receberá resposta. Pelo contrário, a oração que se baseia sobre o egoísmo não pode pretender ser escutada porque se faz em nome próprio e não no de Jesus.

O CONSOLADOR PROMETIDO
João 14:15-17

Para João há uma só forma de provar o amor: a obediência. Jesus demonstrou seu amor a Deus mediante seu obediência. Nós devemos mostrar nosso amor por Jesus mediante essa mesma obediência. C. K. Barrett diz: "João nunca permitiu que o amor se convertesse em um sentimento ou uma emoção. Sua expressão sempre é moral e se revela na obediência." Sabemos muito bem que sempre há pessoas que juram seu amor com palavras e empregam as ações exteriores do amor mas que, ao mesmo tempo, infligem dor e destroçam o coração daquelas pessoas a quem dizem amar. Há meninos e jovens que afirmariam com toda certeza que amam a seus pais mas que, apesar disso, causam-lhes dor e ansiedade. Há maridos que asseguram amar a suas esposas e esposas que dizem amar a seus maridos mas que, mediante seu falta de consideração e sua irritabilidade fazem sofrer a seu casal. Para Jesus, o amor autêntico não é algo fácil. O verdadeiro amor só se mostra na obediência real. E, como resultado disso, o que os homens denominam amor não o é, pois o amor genuíno é o menos comum do mundo.

É óbvio que este amor que se manifesta na obediência não é algo fácil. Mas Jesus não permitiria que lutássemos com a vida cristã a sós.

Ele nos enviaria outro Consolador. Esta é uma palavra que não tem tradução. O termo grego é parakletos. A Versão Almeida Atualizada (1995) traduz como Consolador. Embora o tempo e o uso a elogiaram, não é uma boa tradução. Moffatt o traduz como Ajudante. (A Bíblia de Jerusalém escreve Paráclito.)

Só quando examinamos em detalhe esta palavra parakletos percebemos parte da riqueza da doutrina do Espírito Santo. Este termo significa alguém a quem se chama. Não obstante, o que lhe confere as associações que a distinguem são as razões pelas quais se chama a essa pessoa. Os gregos empregavam esta palavra de maneiras muito variadas.

Um parakletos podia ser uma pessoa a quem se chamava para dar testemunho a favor de alguém em um tribunal; podia tratar-se de um advogado a quem se chamava para defender uma causa quando o acusado tinha possibilidades de receber uma pena muito grave; podia ser um perito a quem se chamava para aconselhar sobre alguma situação difícil. Podia ser uma pessoa a quem se chamava quando um batalhão de soldados se sentia deprimido e descoroçoado e lhe pedia que os alentasse e lhes infundisse coragem. Em todos os casos, um parakletos é alguém a quem se chama para prestar ajuda quando a pessoa que o convoca tem problemas, está sumido na tristeza, na dúvida ou na confusão.

Agora, durante algum tempo a palavra Consolador era uma tradução excelente. De fato, remonta-se até Wicliffe que foi o primeiro a empregá-la. Mas em seus dias tinha um sentido muito mais rico do que lhe damos agora. Este termo provém da palavra latina fortis que significa valente: o consolador era alguém que conseguia fazer com que alguma criatura desconsolada adquirisse coragem. Na atualidade, a palavra se relaciona quase exclusivamente com a tristeza e a dor. O consolador é alguém que nos compreende quando estamos tristes ou desalentados.

Sem dúvida alguma, o Espírito Santo cumpre esse papel mas limitá-lo a essa função implica minimizá-lo. Temos uma frase moderna que empregamos com freqüência. Dizemos que podemos enfrentar as coisas. Essa é justamente a tarefa do Espírito Santo. O Espírito vem a nós, tira o que é inadequado e nos permite enfrentar a vida. O Espírito Santo substitui a vida derrotada por uma vida vitoriosa.

De maneira que o que diz Jesus é o seguinte; "Encomendo-lhes uma tarefa dura e lhes comprometo em um pouco muito difícil. Mas lhes enviarei a alguém, o parakletos, que lhes mostrará o que devem fazer e lhes fará capazes de enfrentar a batalha da verdade." Entretanto, Jesus seguiu dizendo que o mundo não pode reconhecer ao Espírito. Ao falar do mundo, João se refere a esse grupo de homens que vive como se Deus não existisse, essa gente que, ao organizar suas vidas, deixam de lado a Deus por considerá-lo inadequado. Agora, o essencial das palavras de Jesus é o seguinte: só vemos aquilo para o qual estamos capacitados. Um astrônomo verá muitas mais coisas no céu que um homem comum. Um botânico verá muito mais em qualquer planta que alguém que não sabe nada de botânica. Um médico descobrirá muitas mais coisas ao observar uma pessoa das que pode ver uma pessoa que não está capacitada.

Alguém que entende de arte verá muito mais em um quadro que uma pessoa ignorante nesse campo. Alguém que sabe um pouco de música encontrará muitas mais coisas em uma sinfonia que outra pessoa que não sabe nada sobre esse tema.

Em qualquer ocasião, o que vemos e experimentamos depende do que ponhamos na visão e na experiência. Uma pessoa que eliminou a Deus nunca dispõe de um momento durante o dia para atender a Deus e ouvi-lo. Consideraria que fazer algo semelhante seria uma perda de tempo. Não podemos receber o Espírito Santo a menos que esperemos em silêncio, com o ânimo disposto e em oração que o Espírito venha a nós. O fato muito simples é que o mundo está muito ocupado para dar uma oportunidade ao Espírito Santo para que penetre nele. Pois o Espírito não derruba as portas do coração de ninguém, espera até a pessoa recebê-lo.

De maneira que quando pensamos nas coisas maravilhosas que faz o Espírito Santo, sem dúvida dedicaremos uma parte de nosso tempo ruidoso e apressado para esperar sua vinda e seu poder em silêncio.

O CAMINHO RUMO À FRATERNIDADE E À REVELAÇÃO
João 14:18-24

Neste momento, deve-se ter dado procuração dos discípulos um sentimento premonitório. Até eles devem ter percebido que havia uma tragédia pela frente. Não obstante, Jesus diz: “Não vos deixarei órfãos”.

A palavra que emprega é orfanos que significa sem pai. Mas também se aplicava aos discípulos e estudantes privados da presença e os ensinos de um professor amado. Platão diz que ao morrer Sócrates seus discípulos "criam que teriam que passar o resto de suas vidas órfãos, como filhos sem pai, e não sabiam o que fazer". Jesus, pelo contrário, disse a seus discípulos que não lhes aconteceria algo semelhante. "Voltarei", afirmou.

Esta vez fala de sua ressurreição e sua presencia ressuscitada. Vê-lo-ão porque estará vivo, pois a morte jamais poderia vencê-lo e o verão porque eles estarão vivos. O que quer dizer Jesus é que estarão espiritualmente vivos. Nesse momento se sentem afligidos e emudecidos pelo pressentimento de uma tragédia iminente. Mas chegará o dia quando seus olhos se abrirão, suas mentes compreenderão, seus corações se acenderão: e então o verão. Isso foi, em realidade, o que aconteceu quando Jesus ressuscitou dos mortos. A ressurreição permutou a desesperança em esperança e foi então quando compreenderam sem lugar a dúvidas que ele era o Filho de Deus.

Nesta passagem, João lança com certas idéias que nunca se afastam muito de seu pensamento.

(1) Primeiro e principal é o amor. Para João o amor é a base de tudo. Deus ama a Jesus; Jesus ama a Deus; Deus ama aos homens; Jesus também os ama; os homens amam a Deus através de Jesus e os homens se amam entre si. O céu e a Terra, o homem e Deus, o homem e outros homens estão unidos por este laço de amor.

(2) Mais uma vez João recalca a necessidade da obediência. É a única prova do amor. Quando ressuscitou dos mortos Jesus apareceu diante daqueles que o amavam, não diante dos escribas, dos fariseus e dos judeus que lhe tinham sido hostis.

(3) Este amor obediente e crédulo conduz a duas coisas. Em primeiro lugar, chega à segurança última. O dia do triunfo de Cristo àqueles que o amaram com obediência estarão a salvo em um mundo que se derruba. Em segundo lugar, este amor conduz a uma revelação cada vez mais plena; Jesus se revela de maneira cada vez mais completa ao homem que o ama. O conhecimento, a revelação de Deus é algo que custa. Sempre existe uma base moral para a revelação. Cristo se revela ao homem que guarda seus mandamentos. Um homem mau não pode receber a revelação de Deus. Pode estar acostumado a Deus mas não pode viver em comunhão com Ele. Deus se revela unicamente ao homem que o busca e só chega àquele que, apesar do fracasso, dirige-se para Ele.

A comunidade com Deus, sua revelação, dependem do amor e este depende da obediência. Quanto mais obedecemos a Deus, melhor o entendemos e o homem que transita pelo caminho de Deus, inevitavelmente caminha com Deus.

OS DONS DO ESPÍRITO
João 14:25-31

Esta passagem está plena de verdades. Jesus faz referência a cinco coisas.

(1) Fala de seu aliado, o Espírito Santo. Aqui Jesus diz duas coisas fundamentais sobre o Espírito Santo.

(a) O Espírito Santo nos ensinará todas as coisas. O cristão deve aprender até o final de seus dias porque até esse momento, o Espírito Santo o conduzirá cada vez mais longe na verdade de Deus. Jamais chega um momento na vida quando o cristão pode dizer que conhece toda a verdade. A fé cristã não proporciona a menor desculpa que justifique uma verdade fechada. O cristão que considera que não fica nada por aprender é uma pessoa que nem sequer começou a compreender o que significa a doutrina do Espírito Santo.

(b) O Espírito Santo nos recordará as palavras de Jesus. Isto tem dois significados. Nos temas relacionados com a fé, o Espírito Santo nos lembra constantemente o que disse Jesus. Temos obrigação de pensar mas todas nossas conclusões devem verificar-se à luz das palavras de Jesus. O que devemos descobrir não é tanto a verdade; isso o disse Jesus. O que temos que descobrir é o significado da verdade, o significado das coisas que Jesus disse. O Espírito Santo nos protege contra a arrogância e o pensamento equivocado.

(c) O Espírito Santo nos manterá no bom caminho no que se refere à conduta. Quase todos nós temos uma experiência reiterada na vida. Quando nos sentimos tentados a fazer algo mau, quando estamos a ponto de levá-lo a cabo, apresenta-se em nossa mente a frase de Jesus, o versículo do salmo, a imagem de Jesus, as palavras de alguém para com quem sentimos admiração e carinho, os ensinos que recebemos durante a juventude. No momento de perigo estas coisas passam por nossa mente sem que as tenhamos convocado. Esta é a obra do Espírito Santo. No momento de prova, o Espírito Santo apresenta em nossa memória aquilo que jamais deveríamos ter esquecido.

(2) Fala de seu dom e seu dom é a paz. A palavra paz, shalom, na Bíblia jamais significa a ausência de problemas. A paz significa tudo aquilo que contribui a nosso bem supremo. A paz que nos oferece o mundo é uma paz escapista, uma paz que surge de evitar problemas, de negar-se a enfrentar as coisas. A paz que Jesus nos oferece é a paz da conquista. Aquela paz que nenhuma experiência de nossa vida nos pode tirar. Uma paz que nenhuma dor, perigo ou sofrimento pode diminuir. É uma paz independente das circunstâncias exteriores.

(3) Fala-nos de seu destino. Jesus volta a seu Pai. E Jesus diz que se seus discípulos o amassem autenticamente se regozijarão de que seja assim. Era liberto das limitações impostas por este mundo; era devolvido à sua glória. Se realmente compreendêssemos a verdade da fé cristã, sempre nos alegraríamos quando as pessoas que amamos vão para Deus.

Isso não significa que não experimentaríamos o aguilhão da dor e a amargura da perda. O que quer dizer é que, até em nossa dor e solidão, nos alegraríamos de que depois dos problemas e sofrimentos deste mundo os seres queridos foram para Deus. Não nos lamentaríamos de seu descanso e libertação. Recordaríamos que não entraram na morte
mas na bem-aventurança.

(4) Fala-nos de seu luta. A cruz era a batalha final entre Jesus e as forças do mal. Não obstante, Jesus não temia a cruz porque sabia que o mal não prevaleceria contra Ele. Dirigiu-se rumo à cruz com a certeza, não da derrota, mas sim da conquista.

(5) Fala-nos de sua reivindicação. Nesse momento, os homens só viam a humilhação e a vergonha de Cristo na cruz. Mas chegaria o momento quando veriam nela sua obediência a Deus e seu amor pelos homens. As coisas chaves na vida de Jesus encontraram sua expressão suprema na cruz. Ali, de maneira incomparável, demonstrou-se a obediência de Jesus para com Deus e seu amor pelos homens.