Estudo sobre João 14
Estudo sobre João 14
A promessa de glória - 14:1-3
A promessa de glória - 14:1-3 (cont.)
O caminho, a verdade e a vida - 14:4-6
A visão de Deus - 14:7-11
A visão de Deus - 14:7-11 (cont.)
As promessas tremendas - 14:12-14
O Consolador prometido - 14:15-17
O caminho rumo à fraternidade e à revelação - 14:18-24
Os dons do Espírito - 14:25-31
A promessa de glória - 14:1-3
A promessa de glória - 14:1-3 (cont.)
O caminho, a verdade e a vida - 14:4-6
A visão de Deus - 14:7-11
A visão de Deus - 14:7-11 (cont.)
As promessas tremendas - 14:12-14
O Consolador prometido - 14:15-17
O caminho rumo à fraternidade e à revelação - 14:18-24
Os dons do Espírito - 14:25-31
A PROMESSA DE GLÓRIA
Estudo sobre João 14:1-3
Em muito poucos instantes se derrubaria a vida dos
discípulos. O Sol se poria ao meio-dia e seu mundo cairia no caos. Nesse
momento, só se podia fazer uma coisa: confiar em Deus com todas as forças. Como
disse o salmista: “Eu creio que verei a bondade do SENHOR na terra dos viventes.”
(Salmo 27:13). “Pois em ti, SENHOR Deus, estão fitos os meus olhos: em ti
confio; não desampares a minha alma.” (Salmo 141:8).
Há momentos quando temos que crer apesar de que não podemos
comprovar o que cremos e temos que aceitar o que não compreendemos. Se
inclusive nas horas mais terríveis cremos que, de algum modo, há um objetivo na
vida e que esse objetivo é o amor, até o mais insuportável se faz suportável e
na escuridão mais extrema se percebe uma luz. Mas Jesus acrescenta algo. Jesus
não se limita a dizer, “Credes em Deus”, mas diz também: “Crede também em mim.”
Se ao salmista pôde crer na bondade última de Deus, quanto mais fácil é para
nós. Pois Jesus é a prova de que Deus está disposto a nos dar tudo o que tem.
Como o Paulo o expressou: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes,
por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele
todas as coisas?” (Romanos 8:32).
Se crerem que Deus é como Jesus nos disse, se crerem que em
Jesus vemos a imagem de Deus, perante esse amor esmagador se faz, não fácil, mas
ao menos possível, aceitar até o que não podemos entender e manter uma fé
serena nas tormentas da vida.
Jesus continuou dizendo: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas.”
Ao falar da casa de seu Pai se referia ao céu. Mas o que
quis dizer ao falar das muitas moradas no céu? A palavra que se emprega para designar
moradas é monai. São dadas três sugestões.
(a) Os judeus afirmavam que no céu há diferentes graus ou
níveis de beatitude que se darão aos homens segundo sua bondade e sua fidelidade
na Terra. No Livro dos segredos de Enoque diz: "No mundo por vir há muitas
mansões preparadas para os homens: boas para os bons, más para os maus".
Segundo essa imagem podemos comparar o céu com um palácio imenso que tem muitas
habitações. A cada um lhe atribui a habitação que mereceu segundo a vida que
levou.
(b) O escritor grego Pausanias emprega a palavra monai no
sentido de estágios no caminho. Se isso for o que significa nesta passagem,
quer dizer que há muitas etapas no caminho que conduz ao céu e que até no céu
existe o progresso, o desenvolvimento e o adiantamento.
Pelo menos alguns dos grandes pensadores cristãos dos
primeiros tempos criam nesta acepção. Um deles era Orígenes. Dizia que quando alguém
morria, sua alma ia a um lugar chamado Paraíso, que está na Terra. Ali recebia
ensinos e preparações e, quando o merecia e estava preparado para fazê-lo, a
alma subia ao ar. Logo passava por vários estágios, monai, que os gregos
chamavam esferas e às quais os cristãos deram o nome de céus, até que por fim
chegava ao reino celestial. Ao fazer tudo isto, a alma copiava a Jesus que,
como disse o autor de Hebreus: “penetrou os céus” (Hebreus 4:14).
Irineu faz referência a certa interpretação da frase que
diz que a semente que se semeia às vezes produz cem, outras sessenta e outras trinta
por um (Mateus 13:8). A colheita era diferente e portanto também o era a
recompensa. Alguns homens serão considerados dignos de passar toda a eternidade
na presença de Deus; outros ressuscitarão no Paraíso e outros se farão cidadãos
de "a cidade".
Clemente de Alexandria cria que havia graus de glória, recompensas
e estágios segundo o grau de santidade que tinha alcançado cada homem durante
sua vida na Terra. Aqui há algo muito atrativo. Em certo sentido, a alma
rechaça a idéia do que poderíamos denominar um céu estático. Há algo
interessante na idéia de um progresso, de um desenvolvimento que continua
inclusive nos lugares celestiais. Para dizê-lo em termos puramente humanos e
inadequados, às vezes pensamos que nos sentiríamos esmagados com muito
esplendor se ingressássemos imediatamente à presença de Deus. Sentimos que, até
no próprio céu, precisaríamos nos limpar, nos purificar e receber alguma ajuda
antes de nos defrontar com a glória maior. Ninguém saberá se estas idéias são corretas
ou não, mas tampouco há quem pode afirmar que estão proibidas.
(c) Entretanto, pode ser que o significado destas palavras
seja muito simples e valioso: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” Pode significar
que no céu há lugar para todos. Qualquer casa da Terra se pode encher muito,
uma estalagem pode ter que rechaçar a algum viajante esgotado porque carece de
lugar. Isto não acontece com a casa de nosso Pai, porque o céu é tão vasto como
o coração de Deus e há lugar para todos. De maneira que o que Jesus dizia a
seus amigos era o seguinte: "Não temam. Os homens possivelmente lhes
fechem as portas mas jamais os expulsarão do céu."
A PROMESSA DE GLÓRIA
Estudo sobre João 14:1-3 (continuação)
Esta passagem também inclui outras grandes verdades.
(1) Fala-nos da honestidade de Jesus. Ele disse: “Se assim
não fora, eu vo-lo teria dito.” Ninguém pode afirmar que o enganaram com promessas
falsas para que se convertesse ao cristianismo. Jesus falou com toda franqueza
aos homens sobre o adeus que o cristão deve dar à comodidade (Lucas 9:57-58).
Falou-lhes sobre as perseguições, o ódio, os castigos que deveriam suportar
(Mateus 10:16-22). Advertiu-os a respeito da cruz iniludível que deveriam
carregar (Mateus 16:24). Mas também lhes falou sobre a glória final do caminho
cristão. Jesus falou aos homens com franqueza e honestidade a respeito do que
podiam esperar quanto a glória e dor se eles se propunham segui-lo. Não era um líder
que tentava enrolar os homens, prometendo um caminho fácil; buscava desafiá-los
para que obtivessem a grandeza.
(2) Fala-nos sobre a função de Jesus. “Pois vou
preparar-vos lugar.” Uma das noções principais do Novo Testamento é que Jesus
vai adiante para que nós o sigamos. Abre um caminho que podemos tomar e seguir os
seus passos.
Uma das palavras mais importantes que se empregam para descrever
a Jesus é pródromos (Hebreus 6:20). A versão Almeida Atualizada (1995) a traduz
como precursor. Esta palavra tem dois usos que podem iluminar a imagem. No
exército romano, os pródromos eram as tropas de reconhecimento. Foram na frente
do grosso da tropa para queimar o atalho e assegurar-se de que as tropas podiam
seguir por ele sem perigo. Era muito difícil aproximar-se do porto de
Alexandria.
Quando chegavam os grandes barcos trigueiros, enviava-se um
pequeno bote piloto para guiá-lo. Ia diante dos barcos e estes o seguiam com o passar
do canal até chegar às águas que não apresentavam nenhum risco. Esse bote
piloto se chamava pródromos. Ia adiante para que outros pudessem segui-lo sem
perigo. Isso foi o que fez Jesus. Abriu o caminho que leva a céu e a Deus para
que nós possamos seguir seus passos.
(3) Fala-nos sobre a vitória final de Jesus. Disse:
"Virei outra vez". Esta é uma referência muito clara à Segunda Vinda
de Jesus. Trata-se de uma doutrina que, em grande medida, desapareceu do
pensamento e da pregação cristãos. O que é estranho a respeito dela é que os
cristãos assumem duas posições opostas com referência à Segunda Vinda: ou a ignoram
por completo ou não pensam em outra coisa. É certo que não podemos predizer
quando acontecerá; também é muito certo que não podemos dizer o que acontecerá
ao chegar esse momento. As mesmas extravagâncias nas quais se incorreu ao
calcular o momento e a época e ao descrever os acontecimentos que se
desenvolveriam na Segunda Vinda têm feito com que as pessoas a deixassem de
lado como uma idéia própria de fanáticos. Mas há algo indubitável: a história
tem uma direção. A história é necessariamente incompleta se não tem um fim e um
momento culminante. Deve ter uma consumação e essa consumação deve ser o
triunfo de Jesus Cristo. E o que Jesus promete é que o dia de sua vitória dará
as boas-vindas a seus amigos.
(4) Jesus disse: “... para que, onde eu estou, estejais vós
também”. Esta é uma verdade muito profunda expressa com a maior simplicidade.
Para o cristão, o Céu é o lugar onde está Jesus. Não temos
por que especular a respeito de como será o céu. Basta saber que estaremos com Ele
para sempre. Quando amamos a alguém de todo nosso coração, a vida começa quando
estamos com essa pessoa; só em sua companhia vivemos verdadeiramente. Isso é o
que acontece com Cristo. Nosso contato com Ele neste mundo se faz nas sombras,
porque só o vemos através de um vidro escuro. É espasmódico, porque somos
criaturas débeis e não podemos viver sempre nas cúpulas. A melhor definição de Céu
quer dizer que é esse estado no qual estaremos sempre com Jesus e nada nos
voltará a separar dEle.
O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA
Estudo sobre João 14:4-6
Jesus disse várias vezes a seus discípulos para com onde se
dirigia mas, de algum modo, ainda não o tinham compreendido. Disse: “Ainda por
um pouco de tempo estou convosco e depois irei para junto daquele que me
enviou.” (João 7:33). Disse-lhes que ia para o Pai que o enviou e com quem era
um; entretanto, os discípulos ainda não entendiam o que sucedia. Menos ainda
podiam entender o caminho pelo qual transitava Jesus, porque esse caminho era a
cruz. Neste momento, os discípulos eram homens afligidos e incapazes de compreender.
Havia um entre eles que jamais podia dizer que entendia algo quando não era
certo: esse homem era Tomé. Era um homem muito honesto e que fazia as coisas muito
a sério para ficar satisfeito com expressões vagas e piedosas.
Tinha que estar seguro. De maneira que Tomé expressou suas
dúvidas e sua incapacidade para entender e o maravilhoso é que a pergunta de um
homem que duvidava provocou uma das coisas mais importantes que Jesus disse em
toda sua vida. Ninguém deve envergonhar-se de suas dúvidas porque há uma
verdade surpreendente e bendita: aquele que busca encontrará.
Jesus disse a Tomé: "Eu sou o caminho, e a verdade, e
a vida". Para nós é uma frase muito profunda, mas o seria em maior medida
para o judeu que a ouvia pela primeira vez. Nessas palavras, Jesus tomou três das
concepções principais da religião judia e fez a tremenda afirmação de que nele
as três alcançavam sua realização e expressão totais.
Os judeus falavam muito sobre o caminho que deviam tomar os
homens e os caminhos de Deus. Deus disse a Moisés: “Cuidareis em fazerdes como
vos mandou o SENHOR, vosso Deus; não vos desviareis, nem para a direita, nem
para a esquerda. Andareis em todo o caminho que vos manda o SENHOR, vosso Deus”
(Deuteronômio 5:32-33). Moisés disse ao povo: “Sei que, depois da minha morte,
por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do caminho que vos tenho ordenado”
(Deuteronômio 31:29). Isaías havia dito: “Os teus ouvidos ouvirão atrás de ti
uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” (Isaías 30:21). No
mundo novo haveria uma estrada chamada o Caminho de Santidade. Nela, os
caminhantes, por simples que fossem suas almas, não se extraviariam (Isaías
35:8). O salmista orou: “Ensiname, SENHOR, o teu caminho” (Salmos 27:11). Os
judeus sabiam muito sobre o caminho de Deus que o homem devia seguir. E Jesus
disse: "Eu sou o caminho".
O que quis dizer com essas palavras? Suponhamos que estamos
em uma cidade estranha e pedimos indicações. Suponhamos que nosso guia nos diz:
"Tome a primeira rua à direita e a segunda à esquerda. Cruze a praça,
passe na frente da Igreja e dobre na terceira quadra à direita; o caminho que
você busca é o quarto à esquerda". Se nos disser isso, o mais provável é
que nos percamos na segunda quadra. Mas suponhamos que a pessoa a quem lhe
fazemos a pergunta nos diz: "Venha. Eu o levarei até ali". Nesse
caso, a pessoa que nos leva é o caminho e não nos podemos perder. Isso é o que
Jesus faz por nós. Não se limita a nos dar conselhos e indicações. Pega-nos
pela mão e nos guia, caminha conosco, fortalece-nos, conduz-nos e nos dirige
todos os dias de nossa vida. Não nos fala sobre o caminho, Ele é o caminho.
Jesus disse: "Eu sou a verdade". O salmista
disse: “Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade” (Salmo
86:11). “Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado na tua
verdade” (Salmo 26:3). “Escolhi o caminho da verdade” (Salmo 119:30, RC). Há
muitos que nos disseram a verdade, mas nenhum foi a encarnação da verdade.
Há algo fundamental a respeito da verdade moral. A
personalidade do homem que ensina a verdade acadêmica ou científica não afeta
muito a sua mensagem. A personalidade não tem maior peso quando se busca ensinar
geometria, astronomia ou os verbos latinos. Pelo contrário, se alguém se propõe
ensinar a verdade moral, sua personalidade é essencial. Um adúltero que prega a
necessidade da pureza, uma pessoa egoísta que prega o valor da generosidade,
uma pessoa dominante que ensina a beleza da humildade, uma criatura irascível
que prega a beleza da serenidade, uma pessoa amargurada que prega a beleza do
amor estão condenadas a não ter êxito. A verdade moral não se pode transmitir unicamente
em palavras, deve-se transmiti-la com o exemplo. E ali é onde falha grandemente
até o mais excelso dos professores humanos.
Nenhum professor foi jamais a encarnação de seus ensinos,
com exceção de Jesus. Muitos homens poderiam dizer: "Ensinei-lhes a verdade."
Jesus era o único que podia afirmar: "Eu sou a verdade." O tremendo a
respeito de Jesus não é que a afirmação da perfeição moral encontra sua cúspide
nele, embora isso seja certo, mas sim o fato da perfeição moral se vê realizada
nele.
Jesus disse: "Eu sou a vida". O autor dos
Provérbios disse: “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões
da disciplina são o caminho da vida” (Provérbios 6:23). “O caminho para a vida
é de quem guarda o ensino” (Provérbios 10:17). “Tu me farás ver os caminhos da
vida”, disse o salmista (Salmos 16:11). Em última instância, o homem sempre
busca a vida. O que querem os homens é encontrar aquilo que faça que a vida
mereça a pena vive. Um novelista faz dizer a um de seus personagens, que se
apaixonou: "Nunca soube o que era a vida até que a vi em seus olhos."
O amor havia trazido a vida. Isso é o que faz Jesus. A vida com Jesus merece
viver-se; é vida autêntica.
E há uma maneira de expressar tudo isto. “Ninguém vem ao
Pai”, disse Jesus, “senão por mim”. Jesus é o único caminho que conduz a Deus.
Só nele vemos como é Deus, temos acesso a Deus. Ele é o único que pode mostrar
Deus aos homens e o único que pode conduzir aos homens à presença de Deus sem
temor nem vergonha.
A VISÃO DE DEUS
Estudo sobre João 14:7-11
Pode ser que esta tenha sido a coisa mais esmagadora que
Jesus disse segundo a interpretação do mundo antigo. Para os gregos Deus era, por
definição, o invisível. Para o judeu era um artigo de fé que ninguém jamais viu
a Deus. Jesus se dirigiu a pessoas que pensavam desse modo dizendo: “Se vós me
tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai.” Então Filipe pediu algo
que deve ter considerado como um impossível. Possivelmente pensava naquele dia
grandioso quando Deus revelou sua glória a Moisés (Êxodo 33:12-23). Mas
inclusive naquele grande dia, Deus havia dito a Moisés: “Tu me verás pelas
costas; mas a minha face não se verá”. Na época de Jesus os homens estavam oprimidos
e fascinados pelo que se denomina a transcendência de Deus.
Sentiam-se esmagados pela idéia da diferença e a distância
entre Deus e o homem. Jamais teriam ousado pensar que podiam ver a Deus. Nesse contexto,
Jesus diz com toda simplicidade: “Quem me vê a mim vê o Pai” Ver Jesus é ver
como é Deus. Um autor contemporâneo disse que Lucas havia "domesticado a
Deus" em seu Evangelho. Quis dizer que Lucas nos mostra a Deus, em Jesus,
tomando parte e compartilhando as coisas mais íntimas e cotidianas.
Quando vemos Jesus podemos dizer: "Este é Deus tomando
sobre si e vivendo nossa vida". Se for assim, e o é, podemos dizer as
coisas mais valiosas a respeito de Deus.
(1) Deus entrou em um lar e em uma família singela. Como o expressou
de maneira formosa Francis Thompson em Ex Ore Infantum: Menino Jesus: foste
tímido alguma vez e tão pequeno como eu? e como te sentias ao estar fora do Céu
e ser como eu?
Qualquer habitante do mundo antigo teria pensado que se
Deus chegava a vir a este mundo Ele o faria como um rei, num grande palácio, com
todo o poder, a majestade e a força que, aos olhos do mundo, conforma a
grandeza. Como escreveu George Macdonald:
Todos buscavam um
rei
Para matar a seus
inimigos e lhes dar glória:
Vieste tu, um bebê
pequeno,
Que fez chorar a
uma mulher.
Segundo as
palavras da canção infantil:
Houve um cavaleiro
em Belém
Cujo poder foram
lágrimas e tristezas;
Seus homens
armados foram ovelhinhas,
Suas trombetas,
andorinhas.
Em Jesus, Deus santificou uma vez para sempre o nascimento humano,
o lar humilde da gente simples e a infância.
(2) Deus não se envergonhava de fazer a tarefa de um homem.
Deus entrou em mundo como um trabalhador. Jesus era o carpinteiro de Nazaré.
Nunca chegaremos a compreender totalmente a maravilha que significa o fato de
que Deus compreende nosso trabalho cotidiano. Conhece o problema de fazer o
dinheiro ser suficiente, o incômodo do cliente mal-humorado e do que não paga
as contas. Sabe tudo o que significa viver em uma casa singela com uma família
numerosa e cada um dos problemas que nos acossam em nosso trabalho de cada dia.
Segundo o Antigo Testamento, o trabalho é uma maldição. Segundo o velho relato,
a maldição que recebeu o homem por seu pecado no Paraíso foi: “No suor do rosto
comerás o teu pão” (Gênesis 3:19). Entretanto, no Novo Testamento, o trabalho
está tingido de glória porque foi tocado pela mão de Deus.
(3) Deus sabe o que significa uma tentação. O
extraordinário a respeito da vida de Jesus é que não nos mostra a serenidade
mas a luta de Deus. Qualquer um poderia imaginar um Deus que vivesse em uma serenidade
e uma paz que estivessem livres das tensões deste mundo: Jesus, pelo contrário,
mostra-nos um Deus que passa pela luta eterna pela qual todos devemos passar.
Deus não é como um comandante que dá suas ordens atrás das linhas de fogo: Ele
também conhece as linhas de batalha da vida.
(4) Em Jesus vemos a Deus amando. Quando o amor entra na
vida o faz acompanhado pela dor. Se pudéssemos nos libertar por completo da tristeza
e da dor humanas, se pudéssemos organizar a vida de maneira tal que nada nem
ninguém nos afetasse, não existiria nada semelhante à dor, à tristeza e à
ansiedade. Mas em Jesus vemos um Deus que se preocupa com intensidade, que se
desvela pelos homens, sente profundamente com eles e por eles, ama-os até que
em seu coração aparecem as feridas do amor.
(5) Em Jesus vemos a Deus sobre uma cruz. Não há nada no
mundo que seja tão incrível como isto. É fácil imaginar um Deus que condena os
homens: mais fácil ainda imaginar um Deus que queima os homens e que, se se
opõem, elimina-os. Ninguém teria sonhado jamais com um Deus que, em Jesus
Cristo, escolheu a cruz por nós e por nossa salvação. “Quem me vê a mim vê o
Pai”. Jesus é a revelação de Deus e essa revelação deixa a mente do homem
esmagada e surpreendida em um sentimento de maravilha, amor e adoração.
A VISÃO DE DEUS
João 14:7-11 (continuação)
Não obstante, Jesus diz algo mais. Havia algo que nenhum
judeu nunca deixaria de ter claro: a absoluta solidão de Deus. Os judeus eram monoteístas
inamovíveis. Um perigo da fé cristã é que situamos a Jesus como uma espécie de
Deus secundário. Mas Jesus continuou falando. Insiste que as coisas que disse e
fez não surgiram de sua própria iniciativa, poder ou conhecimento, mas sim de
Deus. Suas palavras eram a voz de Deus que falava com os homens; suas ações
eram o poder de Deus que fluía através dele para os homens. Foi o canal pelo
qual Deus chegou aos homens. Tomemos uma analogia muito singela e imperfeita.
Há dois exemplos que nos ajudarão: provêm da relação entre
o estudante e o professor.
Ao referir-se ao grande pregador cristão, A. B. Bruce, o
Dr. Lewis Muirhead disse que o povo "ia ver nesse homem a glória de
Deus."
Qualquer professor tem a responsabilidade de transmitir uma
parte da glória de seu tema àqueles que o ouvem e aquele que ensina sobre Jesus
Cristo pode, se for o suficientemente santo, transmitir a visão e a presença de
Cristo àqueles que o ouvem e àqueles que convivem com ele. Isso foi o que fez
A. B. Bruce por seus alunos e, em uma medida imensamente maior, foi o que fez
Jesus. Transmitiu a glória e o amor de
Deus aos homens. Mas há outra analogia.
Um grande professor deixa uma marca própria em seus alunos.
W.
M. Macgregor foi discípulo do A. B. Bruce. Em suas memórias
de W.
M. Macgregor, A. J. Gossip nos diz que "quando se
correu o rumor que Macgregor pensava abandonar o púlpito para fazer-se acusação
dou uma cadeira a gente se perguntou por que, com grande surpresa. Macgregor respondeu
com modéstia que tinha aprendido algumas coisas de Bruce e que desejava as
transmitir a outros."
O reitor John Cairns escreveu a seu professor, Sir Williams
Hamilton: "Não sei que vida ou que vidas o destino me proporciona, mas sim
sei algo: até o fim de meus dias levarei o sinal que você deixou em mim."
Em algumas oportunidades, quando um estudante de teologia
foi formado por um grande pregador por quem sentia uma profunda avaliação,
podemos ver algo do professor em seu discípulo e ouvimos algo de sua voz. Às
vezes a gente diz: "Se fechar os olhos, parece que se ouve a seu
professor." Jesus fez algo disso com respeito a Deus, só que em uma medida
imensamente maior. Trouxe para os homens o acento, a mensagem, a mente e o
coração de Deus. Convém que recordemos de vez em quando, devemos fazê-lo, que
todo isso provém de Deus. Jesus não escolheu fazer uma expedição ao mundo. Não
o fez para abrandar o coração endurecido de Deus. Veio à Terra porque Deus o
enviou, porque Deus amou tanto o mundo. Atrás de Jesus e nele está Deus.
E, ato seguido, Jesus fez uma afirmação e propôs uma prova;
tratava-se de duas coisas que sempre afirmava e oferecia. A afirmação de Jesus
se baseava em duas coisas: suas palavras e suas obras.
(1) Pedia que fosse provado pelo que dizia. É como se
tivesse dito: "Quando me ouvem vocês não de dão conta imediatamente que o
que lhes digo é a verdade de Deus?" As palavras de qualquer gênio sempre são
sua própria prova. Quando lemos um grande poema na maioria dos casos não podem
dizer por que é excelente e por que nos arrebata o coração. É certo que podemos
analisar os sons e coisas por estilo, mas sempre fica algo que resiste a toda
análise e que, apesar disso, reconhece-se imediatamente e com suma facilidade.
O mesmo acontece com as palavras de Jesus. Quando as ouvimos não podemos evitar
pensar: "Se o mundo vivesse segundo esses princípios, que diferente seria.
Se eu vivesse segundo essas linhas, que distinto seria".
(2) Pediu que o provasse por suas obras. Disse a Filipe:
"Se não pode crer em mim pelo que digo, sem dúvida deve reconhecer o que posso
fazer para convencê-lo." Essa foi a mesma resposta que Jesus enviou a
João. Este tinha mandado mensageiros para perguntar se Jesus era o Messias ou
se deviam buscar a outro. A resposta de Jesus foi muito simples.
"Voltem", disse, "e digam a João o que acontece: isso o convencerá"
(Mateus 11:1-6). A prova de que Jesus é quem é é sua capacidade para curar o
corpo e a mente doentes. Ninguém jamais conseguiu converter o homem mau em uma
pessoa boa. Jesus disse a Filipe: "Ouça-me! Olhe para mim! E creia!"
Até o dia de hoje, esse é o caminho que conduz à fé cristã. Não se busca
discutir a respeito de Jesus mas sim de ouvi-lo e olhar para Ele. Se o
fizermos, o mero impacto pessoal que terá sobre nós nos obrigará a crer.
AS PROMESSAS TREMENDAS
João 14:12-14
Seria impossível encontrar duas promessas que superem as
que aparecem nesta passagem. Não obstante, sua índole é tal que devemos buscar
compreender o que significam e o que prometem. A menos que entendamos seu
sentido a experiência da vida sempre nos defraudará.
(1) Em primeiro lugar, Jesus disse que chegaria o dia
quando seus discípulos fariam o que Ele tinha feito e que inclusive fariam
obras superiores. O que quis dizer Jesus com essas palavras?
(a) É um fato certo que, na primeira época, a Igreja
primitiva tinha o poder de curar os doentes. Entre os dons que tinham as
pessoas, Paulo inclui o de curar (1 Coríntios 12:9,28,30). Tiago estabelece que
quando qualquer cristão estivesse doente, os anciãos deviam rogar por ele e ungi-lo
com óleo (Tiago 5:14). Entretanto, é evidente que esse não foi todo o sentido
das palavras de Jesus. Embora é certo que a Igreja primitiva fez as mesmas
coisas que Jesus fez, não se pode dizer, sem dúvida alguma, que fez coisas
majores pois isso seria algo impossível.
(b) É um fato real que, com o transcurso do tempo, o homem aprendeu
a controlar cada vez mais enfermidades. O clínico e o cirurgião de nossos dias
têm poderes que para o mundo antigo eram milagrosos e até divinos. O cirurgião
com suas novas técnicas e o clínico com seus tratamentos e suas drogas
milagrosas podem efetuar as curas mais surpreendentes. Ainda fica um longo
trecho para transitar mas se derrubou uma após outra fortalezas de dor e enfermidades
e os inimigos físicos do homem se renderam.
Agora, o essencial de tudo isto é que aconteceu pelo poder
e a influência de Jesus Cristo. Por que teriam que tratar os homens de salvar os
fracos, os doentes e os moribundos, aqueles cujos corpos estão destroçados e
suas mentes em trevas? Sob o regime do Hitler se eliminava essa gente. Pelo
contrário, os médicos mais eminentes de diferentes países se opõem com esforço
à eutanásia. Como se explica que homens capazes e sábios se sentiram movidos, e
até persuadidos, a dedicar seu tempo e suas forças, a arruinara a saúde e às
vezes até a entregar suas vidas para descobrir a forma de curar enfermidades e
de aliviar a dor? A resposta é que, embora não fossem conscientes disso, Jesus
lhes falava por meio de seu Espírito: "Tenho que ajudar e curar estas
pessoas. Deve fazê-lo. Não pode permitir que a dor avance e não receba ajuda.
Seu dever, sua tarefa e sua responsabilidade é fazer tudo o que possa por
eles." O Espírito de Jesus é quem esteve por trás da conquista da
enfermidade. É certo que na atualidade os homens podem fazer coisas que ninguém
teria sonhado nos tempos de Jesus.
(c) Apesar de tudo, ainda não chegamos ao significado desta
passagem. Pensemos no que Jesus tinha feito concretamente durante os dias que
viveu na Terra. Nunca tinha pregado fora da Palestina. Sua voz jamais tinha
saído a todo mundo dos homens. Durante sua vida. Europa não tinha ouvido o
evangelho. Fosse qual fosse a realidade da Palestina, Jesus nunca teve que
enfrentar pessoalmente a situação de degeneração moral que apresentava Roma.
Até os inimigos de Jesus na Palestina eram homens religiosos. Os fariseus e os
escribas tinham entregue suas vidas à religião, tal como eles a viam, e jamais
se duvidou de que reverenciavam e praticavam a pureza. Não foi durante a vida
de Jesus quando o cristianismo saiu a um mundo no qual não se dava a menor
importância ao laço matrimonial, onde o adultério nem sequer era um pecado
formal, um mundo dominado pela homossexualidade e no qual o vício proliferava
como uma selva tropical.
Os primeiros cristãos foram a esse mundo. Esse foi o mundo
que ganharam para Cristo. Quando se falava de números, extensões e mudanças de
poder, os triunfos da mensagem da cruz superavam aos de Jesus durante seus dias
na Terra. Jesus fala sobre a recriação moral, a vitória espiritual. E diz que
tudo isto acontecerá porque Ele vai ao Pai. O que quer dizer com isso?
Significa o seguinte: durante os dias que viveu neste mundo estava limitado a
Palestina. Uma vez que morreu e ressuscitou ficava liberto das limitações da
carne e seu Espírito podia operar de maneira poderosa em qualquer parte.
Justamente porque foi ao Pai, seu Espírito ficava livre para operar com poder
em todo mundo.
Em sua segunda promessa, Jesus diz que qualquer oração que
se ofereça em seu nome receberá resposta. Isto é algo que devemos entender com
a maior clareza. Vejamos com atenção o que Jesus disse.
Não disse que todas nossas orações receberiam resposta.
Disse que a receberiam aquelas orações feitas em seu nome. A maneira de provar qualquer
oração é perguntar-se: Posso fazer esta oração em nome de Jesus? Ninguém
poderia orar, por exemplo, para obter uma vingança pessoal, uma ambição, um
desejo de superar a outro, a algum ser indigno, anticristão e oposto a Cristo,
no nome de Jesus.
Quando oramos, sempre devemos perguntar: Posso orar, com honestidade,
em nome de Jesus? ou Estou pedindo isto empurrado por meus próprios desejos,
fins e ambições? A oração que resiste esta prova e aquela que no final diz:
"Faça-se sua vontade", sempre receberá resposta. Pelo contrário, a
oração que se baseia sobre o egoísmo não pode pretender ser escutada porque se
faz em nome próprio e não no de Jesus.
O CONSOLADOR PROMETIDO
João 14:15-17
Para João há uma só forma de provar o amor: a obediência.
Jesus demonstrou seu amor a Deus mediante seu obediência. Nós devemos mostrar
nosso amor por Jesus mediante essa mesma obediência. C. K. Barrett diz:
"João nunca permitiu que o amor se convertesse em um sentimento ou uma
emoção. Sua expressão sempre é moral e se revela na obediência." Sabemos
muito bem que sempre há pessoas que juram seu amor com palavras e empregam as
ações exteriores do amor mas que, ao mesmo tempo, infligem dor e destroçam o
coração daquelas pessoas a quem dizem amar. Há meninos e jovens que afirmariam
com toda certeza que amam a seus pais mas que, apesar disso, causam-lhes dor e
ansiedade. Há maridos que asseguram amar a suas esposas e esposas que dizem
amar a seus maridos mas que, mediante seu falta de consideração e sua irritabilidade
fazem sofrer a seu casal. Para Jesus, o amor autêntico não é algo fácil. O
verdadeiro amor só se mostra na obediência real. E, como resultado disso, o que
os homens denominam amor não o é, pois o amor genuíno é o menos comum do mundo.
É óbvio que este amor que se manifesta na obediência não é
algo fácil. Mas Jesus não permitiria que lutássemos com a vida cristã a sós.
Ele nos enviaria outro Consolador. Esta é uma palavra que
não tem tradução. O termo grego é parakletos. A Versão Almeida Atualizada (1995)
traduz como Consolador. Embora o tempo e o uso a elogiaram, não é uma boa
tradução. Moffatt o traduz como Ajudante. (A Bíblia de Jerusalém escreve
Paráclito.)
Só quando examinamos em detalhe esta palavra parakletos percebemos
parte da riqueza da doutrina do Espírito Santo. Este termo significa alguém a
quem se chama. Não obstante, o que lhe confere as associações que a distinguem
são as razões pelas quais se chama a essa pessoa. Os gregos empregavam esta
palavra de maneiras muito variadas.
Um parakletos podia ser uma pessoa a quem se chamava para
dar testemunho a favor de alguém em um tribunal; podia tratar-se de um advogado
a quem se chamava para defender uma causa quando o acusado tinha possibilidades
de receber uma pena muito grave; podia ser um perito a quem se chamava para
aconselhar sobre alguma situação difícil. Podia ser uma pessoa a quem se
chamava quando um batalhão de soldados se sentia deprimido e descoroçoado e lhe
pedia que os alentasse e lhes infundisse coragem. Em todos os casos, um
parakletos é alguém a quem se chama para prestar ajuda quando a pessoa que o
convoca tem problemas, está sumido na tristeza, na dúvida ou na confusão.
Agora, durante algum tempo a palavra Consolador era uma tradução
excelente. De fato, remonta-se até Wicliffe que foi o primeiro a empregá-la.
Mas em seus dias tinha um sentido muito mais rico do que lhe damos agora. Este
termo provém da palavra latina fortis que significa valente: o consolador era
alguém que conseguia fazer com que alguma criatura desconsolada adquirisse
coragem. Na atualidade, a palavra se relaciona quase exclusivamente com a
tristeza e a dor. O consolador é alguém que nos compreende quando estamos
tristes ou desalentados.
Sem dúvida alguma, o Espírito Santo cumpre esse papel mas
limitá-lo a essa função implica minimizá-lo. Temos uma frase moderna que empregamos
com freqüência. Dizemos que podemos enfrentar as coisas. Essa é justamente a
tarefa do Espírito Santo. O Espírito vem a nós, tira o que é inadequado e nos
permite enfrentar a vida. O Espírito Santo substitui a vida derrotada por uma
vida vitoriosa.
De maneira que o que diz Jesus é o seguinte;
"Encomendo-lhes uma tarefa dura e lhes comprometo em um pouco muito
difícil. Mas lhes enviarei a alguém, o parakletos, que lhes mostrará o que
devem fazer e lhes fará capazes de enfrentar a batalha da verdade."
Entretanto, Jesus seguiu dizendo que o mundo não pode reconhecer ao Espírito.
Ao falar do mundo, João se refere a esse grupo de homens que vive como se Deus não
existisse, essa gente que, ao organizar suas vidas, deixam de lado a Deus por
considerá-lo inadequado. Agora, o essencial das palavras de Jesus é o seguinte:
só vemos aquilo para o qual estamos capacitados. Um astrônomo verá muitas mais
coisas no céu que um homem comum. Um botânico verá muito mais em qualquer
planta que alguém que não sabe nada de botânica. Um médico descobrirá muitas
mais coisas ao observar uma pessoa das que pode ver uma pessoa que não está
capacitada.
Alguém que entende de arte verá muito mais em um quadro que
uma pessoa ignorante nesse campo. Alguém que sabe um pouco de música encontrará
muitas mais coisas em uma sinfonia que outra pessoa que não sabe nada sobre
esse tema.
Em qualquer ocasião, o que vemos e experimentamos depende
do que ponhamos na visão e na experiência. Uma pessoa que eliminou a Deus nunca
dispõe de um momento durante o dia para atender a Deus e ouvi-lo. Consideraria
que fazer algo semelhante seria uma perda de tempo. Não podemos receber o
Espírito Santo a menos que esperemos em silêncio, com o ânimo disposto e em
oração que o Espírito venha a nós. O fato muito simples é que o mundo está
muito ocupado para dar uma oportunidade ao Espírito Santo para que penetre
nele. Pois o Espírito não derruba as portas do coração de ninguém, espera até a
pessoa recebê-lo.
De maneira que quando pensamos nas coisas maravilhosas que
faz o Espírito Santo, sem dúvida dedicaremos uma parte de nosso tempo ruidoso e
apressado para esperar sua vinda e seu poder em silêncio.
O CAMINHO RUMO À FRATERNIDADE E À REVELAÇÃO
João 14:18-24
Neste momento, deve-se ter dado procuração dos discípulos
um sentimento premonitório. Até eles devem ter percebido que havia uma tragédia
pela frente. Não obstante, Jesus diz: “Não vos deixarei órfãos”.
A palavra que emprega é orfanos que significa sem pai. Mas
também se aplicava aos discípulos e estudantes privados da presença e os
ensinos de um professor amado. Platão diz que ao morrer Sócrates seus
discípulos "criam que teriam que passar o resto de suas vidas órfãos, como
filhos sem pai, e não sabiam o que fazer". Jesus, pelo contrário, disse a
seus discípulos que não lhes aconteceria algo semelhante. "Voltarei",
afirmou.
Esta vez fala de sua ressurreição e sua presencia
ressuscitada. Vê-lo-ão porque estará vivo, pois a morte jamais poderia vencê-lo
e o verão porque eles estarão vivos. O que quer dizer Jesus é que estarão espiritualmente
vivos. Nesse momento se sentem afligidos e emudecidos pelo pressentimento de
uma tragédia iminente. Mas chegará o dia quando seus olhos se abrirão, suas
mentes compreenderão, seus corações se acenderão: e então o verão. Isso foi, em
realidade, o que aconteceu quando Jesus ressuscitou dos mortos. A ressurreição
permutou a desesperança em esperança e foi então quando compreenderam sem lugar
a dúvidas que ele era o Filho de Deus.
Nesta passagem, João lança com certas idéias que nunca se
afastam muito de seu pensamento.
(1) Primeiro e principal é o amor. Para João o amor é a
base de tudo. Deus ama a Jesus; Jesus ama a Deus; Deus ama aos homens; Jesus também
os ama; os homens amam a Deus através de Jesus e os homens se amam entre si. O
céu e a Terra, o homem e Deus, o homem e outros homens estão unidos por este
laço de amor.
(2) Mais uma vez João recalca a necessidade da obediência.
É a única prova do amor. Quando ressuscitou dos mortos Jesus apareceu diante
daqueles que o amavam, não diante dos escribas, dos fariseus e dos judeus que
lhe tinham sido hostis.
(3) Este amor obediente e crédulo conduz a duas coisas. Em primeiro
lugar, chega à segurança última. O dia do triunfo de Cristo àqueles que o
amaram com obediência estarão a salvo em um mundo que se derruba. Em segundo
lugar, este amor conduz a uma revelação cada vez mais plena; Jesus se revela de
maneira cada vez mais completa ao homem que o ama. O conhecimento, a revelação
de Deus é algo que custa. Sempre existe uma base moral para a revelação. Cristo
se revela ao homem que guarda seus mandamentos. Um homem mau não pode receber a
revelação de Deus. Pode estar acostumado a Deus mas não pode viver em comunhão
com Ele. Deus se revela unicamente ao homem que o busca e só chega àquele que,
apesar do fracasso, dirige-se para Ele.
A comunidade com Deus, sua revelação, dependem do amor e
este depende da obediência. Quanto mais obedecemos a Deus, melhor o entendemos
e o homem que transita pelo caminho de Deus, inevitavelmente caminha com Deus.
OS DONS DO ESPÍRITO
João 14:25-31
Esta passagem está plena de verdades. Jesus faz referência
a cinco coisas.
(1) Fala de seu aliado, o Espírito Santo. Aqui Jesus diz duas
coisas fundamentais sobre o Espírito Santo.
(a) O Espírito Santo nos ensinará todas as coisas. O
cristão deve aprender até o final de seus dias porque até esse momento, o
Espírito Santo o conduzirá cada vez mais longe na verdade de Deus. Jamais chega
um momento na vida quando o cristão pode dizer que conhece toda a verdade. A fé
cristã não proporciona a menor desculpa que justifique uma verdade fechada. O
cristão que considera que não fica nada por aprender é uma pessoa que nem
sequer começou a compreender o que significa a doutrina do Espírito Santo.
(b) O Espírito Santo nos recordará as palavras de Jesus.
Isto tem dois significados. Nos temas relacionados com a fé, o Espírito Santo
nos lembra constantemente o que disse Jesus. Temos obrigação de pensar mas
todas nossas conclusões devem verificar-se à luz das palavras de Jesus. O que
devemos descobrir não é tanto a verdade; isso o disse Jesus. O que temos que
descobrir é o significado da verdade, o significado das coisas que Jesus disse.
O Espírito Santo nos protege contra a arrogância e o pensamento equivocado.
(c) O Espírito Santo nos manterá no bom caminho no que se
refere à conduta. Quase todos nós temos uma experiência reiterada na vida. Quando
nos sentimos tentados a fazer algo mau, quando estamos a ponto de levá-lo a
cabo, apresenta-se em nossa mente a frase de Jesus, o versículo do salmo, a
imagem de Jesus, as palavras de alguém para com quem sentimos admiração e
carinho, os ensinos que recebemos durante a juventude. No momento de perigo
estas coisas passam por nossa mente sem que as tenhamos convocado. Esta é a
obra do Espírito Santo. No momento de prova, o Espírito Santo apresenta em
nossa memória aquilo que jamais deveríamos ter esquecido.
(2) Fala de seu dom e seu dom é a paz. A palavra paz,
shalom, na Bíblia jamais significa a ausência de problemas. A paz significa
tudo aquilo que contribui a nosso bem supremo. A paz que nos oferece o mundo é
uma paz escapista, uma paz que surge de evitar problemas, de negar-se a
enfrentar as coisas. A paz que Jesus nos oferece é a paz da conquista. Aquela
paz que nenhuma experiência de nossa vida nos pode tirar. Uma paz que nenhuma
dor, perigo ou sofrimento pode diminuir. É uma paz independente das
circunstâncias exteriores.
(3) Fala-nos de seu destino. Jesus volta a seu Pai. E Jesus
diz que se seus discípulos o amassem autenticamente se regozijarão de que seja assim.
Era liberto das limitações impostas por este mundo; era devolvido à sua glória.
Se realmente compreendêssemos a verdade da fé cristã, sempre nos alegraríamos
quando as pessoas que amamos vão para Deus.
Isso não significa que não experimentaríamos o aguilhão da
dor e a amargura da perda. O que quer dizer é que, até em nossa dor e solidão, nos
alegraríamos de que depois dos problemas e sofrimentos deste mundo os seres
queridos foram para Deus. Não nos lamentaríamos de seu descanso e libertação.
Recordaríamos que não entraram na morte
mas na bem-aventurança.
(4) Fala-nos de seu luta. A cruz era a batalha final entre
Jesus e as forças do mal. Não obstante, Jesus não temia a cruz porque sabia que
o mal não prevaleceria contra Ele. Dirigiu-se rumo à cruz com a certeza, não da
derrota, mas sim da conquista.
(5) Fala-nos de sua reivindicação. Nesse momento, os homens
só viam a humilhação e a vergonha de Cristo na cruz. Mas chegaria o momento
quando veriam nela sua obediência a Deus e seu amor pelos homens. As coisas
chaves na vida de Jesus encontraram sua expressão suprema na cruz. Ali, de
maneira incomparável, demonstrou-se a obediência de Jesus para com Deus e seu
amor pelos homens.