A Mulher Samaritana (João 4:1-54)
A Mulher Samaritana (João 4:1-54)

Ele é "um judeu" (vv. 7-10). Naquele
tempo, não era considerado apropriado
qualquer homem, especialmente um rabino,
dirigir-se a uma mulher desconhecida em
público (Jo 4:27). Mas Jesus colocou os costumes
sociais de lado, pois o que estava em
jogo era a salvação de uma alma. Sem dúvida,
a mulher ficou surpresa quando ele lhe
pediu um pouco de água. Supôs que fosse
um rabino judeu; quem sabe, tentou "ler nas
entrelinhas" e descobrir se havia uma segunda
intenção em seu pedido. O que ele realmente
desejava?
Em João 4:9, o apóstolo acrescenta uma
informação entre parênteses para seus leitores
gentios. Uma vez que os discípulos haviam
ido até a cidade comprar comida, é
evidente que, de uma forma ou de outra, os
judeus tratavam com os samaritanos, mas
essa relação não era amigável. A explicação
parentética pode ser traduzida por "não pedem
favores aos samaritanos" ou "não usam os mesmos jarros que os samaritanos". Então,
por que Jesus, um judeu, pediria para
usar o jarro "contaminado" da mulher para beber
água?
É evidente que o pedido de Jesus foi
apenas uma forma de começar a conversa
e de lhe falar sobre a "água viva". Quando
testemunhava às pessoas, Jesus não usava
uma "conversa de vendedor" padronizada.
Com Nicodemos, falou de um novo nascimento;
com essa mulher, falou da água viva.
Jesus mostrou-lhe que ela não tinha conhecimento
de três fatos importantes: quem
ele era, o que ele tinha para lhe oferecer e
como ela receberia essa oferta. Ele era o Deus
eterno dirigindo-se a ela e lhe oferecendo
vida eterna! Os samaritanos eram tão cegos
quanto os judeus (Jo 1:26), mas as palavras
de Jesus despertaram o interessa da mulher,
de modo que ela continuou a conversa.
"Maior do que Jacó" (vv. 11-15). Jesus
falava da água espiritual, mas ela entendeu
as palavras em sentido literal. Vemos, mais
uma vez, como as pessoas confundem com
facilidade as coisas materiais e as espirituais.
Além disso, a mulher estava preocupada em
saber como obter essa água, em vez de
simplesmente pedir que Jesus lhe desse de
beber.
Por certo, Jesus é maior do que Jacó - e
maior do que o próprio poço! Podemos
parafrasear sua resposta como: "quem continuar
a beber dessa água material (ou de
qualquer coisa que o mundo tenha para oferecer)
voltará a ter sede. Mas quem beber
um gole da água que eu ofereço jamais terá
sede outra vez!" (ver Jo 4:13, 14). Trata-se
de uma grande verdade, pois as coisas deste
mundo nunca satisfazem completamente.
Hoje, as pessoas no inferno clamam: "tenho
sede!"
Observamos anteriormente que a vida é
um dos conceitos centrais de João. Ele usa
esse termo pelo menos 38 vezes. Como
Campbell Morgan disse, a humanidade precisa
de ar, água e alimento para viver (podemos
acrescentar, ainda, que precisamos de
luz), e Jesus Cristo provê todas essas coisas.
Ele provê o "ar" (Espírito) de Deus (Jo 3:8;
20:22). Ele é o Pão da Vida (Jo 6:48) e a Luz da
Vida (Jo 1:4, 5), e também nos dá a água da
vida.
A reação imediata da mulher foi pedir
essa dádiva, mas ainda não sabia o que dizia.
A semente da Palavra caiu em solo raso,
e os brotos nasceram sem raízes (Mt 13:20,
21). Havia feito algum progresso, mas precisava
percorrer um longo caminho, de modo
que Jesus tratou-a com paciência.
"Um profeta" (vv. 16-24). A única maneira
de preparar o solo do coração para a
semente é ará-ío com a convicção do pecado.
Por isso, Jesus mandou que fosse chamar
o marido. Ele a forçou a admitir seu
pecado. Não é possível haver conversão enquanto
a pessoa não estiver convencida de
seu pecado. Só depois dessa convicção e
do arrependimento é que a fé salvadora poderá
agir. Jesus havia despertado sua mente
e suas emoções, mas também era preciso
tocar em sua consciência e, para isso, deveria
tratar de seu pecado.
A declaração: "Não tenho marido" é sua
fala mais curta nesse diálogo todo. Isso porque
o convencimento do pecado se dá "para
que se cale toda boca" (Rm 3:19). Mas foi a
melhor coisa que poderia ter acontecido!
Mas, em lugar de dar ouvido a Jesus, ela
tentou levá-lo por um "desvio", discutindo
as diferenças entre a religião judaica e a religião
samaritana. É muito mais confortável
discutir religião do que encarar os próprios
pecados! Mas Jesus confrontou-a, mais uma
vez, com sua ignorância espiritual: ela não
sabia a quem adorar, onde adorar nem como
adorar! Deixou claro que nem todas as religiões
são iguais e aceitáveis aos olhos de
Deus e que a adoração de alguns é fruto de
ignorância e de incredulidade.
A única fé que Deus aceita é aquela dada
ao mundo por meio dos judeus. A Bíblia
tem origens judaicas, e o Salvador era judeu,
como também o eram os primeiros cristãos.
Um obreiro religioso em um aeroporto explicou-me
que o salvador do mundo viera
da Coréia, mas Jesus afirmou que "a salvação vem dos judeus". Somente os que têm
o Espírito Santo habitando dentro de si e que
obedecem à verdade podem adorar a Deus
de modo aceitável.
Dizer que a adoração não se limitava
mais ao templo dos judeus era uma declaração arrasadora, a qual pode ser ligada a João
2:19-21 e também às palavras de Estêvão
em Atos 7:48-50. O Evangelho de João revela
claramente que existe um novo sacrifício
(Jo 1:29), um novo templo (Jo 2:1 9-21; 4:20-
24), um novo nascimento (Jo 3:1-7) e uma
nova água (Jo 4:11). Os judeus que lessem
este Evangelho veriam que Deus havia estabelecido
em Jesus Cristo um sistema totalmente
novo. A Lei da antiga afiança havia
sido cumprida e colocada de lado.
"O Cristo" (vv. 25-30). Apesar de sua
ignorância, a mulher sabia de uma coisa: o
Messias viria e revelaria os segredos do coração.
Não sabemos onde aprendera essa
verdade, mas essa semente se encontrava
enterrada em seu coração até aquele momento
e estava prestes a dar frutos. A resposta
de Jesus a sua declaração foi, literalmente:
"Eu que falo contigo sou o 'Eu Sou'!".
Ele havia ousado proferir o nome santo de
Deus!
Nesse momento, a mulher creu em Jesus
Cristo e se converteu. Seu primeiro desejo
foi compartilhar sua fé com outros, de modo
que foi até a vila e contou aos homens que
havia encontrado o Cristo. Quando consideramos
como essa mulher conhecia pouca
coisa das verdades espirituais, sentimo-nos
envergonhados diante de seu zelo e de seu
testemunho. Deus usou seu testemunho simples,
e muitos foram até o poço encontrar
Jesus. Os rabinos costumavam dizer: "É melhor
todas as palavras da Lei serem queimadas
do que serem entregues a uma mulher!"
Ma s Jesus não concordava com esse preconceito
tacanho.
Por que a mulher largara seu pote, quando
saiu correndo para a cidade? Por um só
motivo: possuía, agora, a água viva em seu
interior e estava satisfeita. Também, pretendia
voltar; talvez, nesse meio-tempo, os discípulos
e Jesus usassem o recipiente para
satisfazer sua sede. Foram desfeitas as barreiras
raciais e as desavenças que havia entre
eles! Todos eram um só na fé e no amor!
Essa mulher não veio a crer em Cristo
imediatamente. Jesus foi paciente com ela,
e, com isso, deixou um bom exemplo para
nosso trabalho evangelístico de hoje. Certamente,
a mulher não era exatamente um
protótipo de convertida, mas ainda assim
Deus usou sua vida para ganhar quase toda
sua vila para Cristo!
2. OS DISCÍPULOS (Jo 4:31-38)
Quando os discípulos voltaram com a comida,
ficaram estarrecidos ao ver Jesus conversando
com uma mulher e, especialmente,
com uma samaritana; ainda assim, não o interromperam.
Aprenderam que seu Mestre
sabia o que fazia e não precisava de seu
conselho. Mas, depois que a mulher partiu,
insistiram para que Jesus comesse com eles,
pois sabiam que estava faminto.
Mas sua resposta foi: "Um a comida tenho
para comer, que vós não conheceis", e,
como de costume, os discípulos não entenderam.
Pensaram que Jesus estava falando
literalmente e imaginaram onde havia conseguido
esse alimento. Então, Jesus explicou
que fazer a vontade do Pai - nesse caso,
conduzir a mulher à salvação - era o que
verdadeiramente nutria sua alma. Os discípulos
saciavam-se com pão, mas ele se saciava
com a realização da obra do Pai.
"Procure o sustento de sua vida no trabalho
de sua vida", disse Phillips Brooks. A
vontade de Deus deve ser a fonte de força e
de satisfação do filho de Deus, como se estivesse
participando de um banquete suntuoso.
Se o que fazemos nos destrói em vez
de nos edificar, devemos questionar se é,
de fato, a vontade de Deus para nós.
Jesus não considerava a vontade de Deus
um fardo pesado nem uma tarefa desagradável.
Para ele, seu trabalho nutria sua alma.
Fazer a vontade do Pai o alimentava e satisfazia
interiormente. "Agrada-me fazer a tua
vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei" (SI 40:8). Agora a samaritana
fazia a vontade do Pai, descobrindo
nela empolgação e enriquecimento.
Em seguida, Jesus passou da imagem do
alimento para a imagem da colheita, que
é a fonte do alimento. Citou um provérbio
judaico sobre esperar pela colheita e, em
seguida, apontou para as pessoas da vila a caminho do poço para se encontrar com ele
graças ao testemunho da mulher. Os discípulos foram até a vila buscar alimento para
si, mas não evangelizaram ninguém; no final,
foi a mulher quem fez o trabalho deles!
A imagem da colheita é usada com freqüência
na Bíblia e se aplica ao ministério
de ganhar almas. Tanto a Parábola do Semeador
quanto a Parábola do Joio (Mt 13:1-
30) são relacionadas a esse tema, do qual
Paulo também trata em suas epístolas (Rm
1:13; 1 Co 3:6-9; Gl 6:9). Plantamos a semente
da Palavra de Deus no coração dos
que ouvem e procuramos cultivar essa semente
com amor e oração. No devido tempo,
a semente pode dar frutos para a glória
de Deus.
Imagino que, ao chegarem perto de
Sicar, os discípulos disseram: "Não pode haver
colheita aqui! Essa gente despreza os
judeus e não aceitaria nossa mensagem".
Mas era justamente o contrário: aqueles
campos estavam prontos para a ceifa e só
precisavam de trabalhadores dedicados. Por
algum motivo, quando se trata de testemunhar
de Cristo, parece sempre ser o lugar
errado e a hora errada! É preciso fé para lançar a semente, e devemos fazê-lo mesmo
quando as circunstâncias parecem desanimadoras.
Devemos atentar para o que diz
Eclesiastes 11:4.
Na ceifa do Senhor, não há competição.
Cada um recebe uma tarefa, e todos fazem
parte do trabalho uns dos outros (1 Co 3:6-
9). Um semeia, o outro colhe, mas todos os
trabalhadores recebem a recompensa justa
por seu trabalho.
João 4:38 dá a entender que outros haviam
trabalhado em Samaria e feito preparativos
para essa colheita. Não sabemos quem
foram esses obreiros fiéis, nem precisamos
saber, pois Deus os recompensará. Talvez
algumas dessas pessoas tivessem ouvido as
pregações de João Batista ou talvez alguns
dos discípulos de João tivessem alcançado
esse campo tão difícil. Alguns arqueólogos
situam "Enom, perto de Salim" (Jo 3:23), próximo à cidade bíblica de Siquém, não muito
distante de Sicar. Se esse é o caso, João Batista
preparou o solo e plantou a semente, e
Jesus e seus discípulos fizeram a colheita.
Por certo, a própria mulher plantou algumas
sementes por meio de seu testemunho àquela
gente.
Os discípulos estavam aprendendo uma
lição importante que lhes serviria de estímulo
nos anos por vir. Não se encontravam
sozinhos na obra do Senhor e não deveriam
jamais considerar uma oportunidade de testemunhar
como desperdício de tempo e de
energia. É preciso fé para arar o solo e plantar
a semente, mas Deus prometeu a colheita
(SI 126:5, 6; Gl 6:9). Poucos anos depois,
Pedro e João participariam de outra colheita
entre os samaritanos (At 8:5-25). Os que
semeiam talvez não vejam o resultado de seu
trabalho, mas os que colhem vêem e dão
graças pelo esforço dos semeadores.
A palavra grega traduzida por "trabalho",
em João 4:38, é o mesmo termo traduzido
por "cansado", em João 4:6. Semear, cultivar
e colher são tarefas difíceis não apenas
no plano físico, mas também no plano espiritual.
A seara não tem lugar para preguiçosos.
O trabalho é difícil demais, e os trabalhadores
são muito escassos.
3. OS SAMARITANOS (Jo 4:39-42)
Vários samaritanos creram por causa do testemunho
da mulher, e outros tantos creram
quando ouviram Jesus pessoalmente. Tamanha
era sua empolgação com Jesus que lhe
pediram que ficasse algum tempo com eles.
Jesus concordou e passou dois dias com os
samaritanos. Durante essa estadia curta, a
palavra do Mestre produziu frutos na vida
dessas pessoas.
É importante que os recém-convertidos
edifiquem sua fé sobre os alicerces da Palavra
- a Bíblia. Esses samaritanos começaram
sua jornada espiritual crendo nas palavras
da mulher, mas logo aprenderam a crer na
Palavra ensinada pelo Salvador. Sua salvação
não foi "por tabela". Sabiam que haviam sido
salvos, pois haviam crido na mensagem de
Jesus. "Agora sabemos!", testemunharam
com alegria.
Poderia se esperar desses samaritanos
uma fé restritiva, tendo Jesus como Salvador
somente de judeus e de samaritanos. Mas declaram que ele era "o Salvador do mundo"
(Jo 4:42). Converteram-se havia poucos
dias, mas já possuíam visão missionária! Na
verdade, sua visão mostrou-se mais ampla
do que a dos apóstolos!
É interessante acompanhar o roteiro que
levou Jesus a Samaria. Estava em Jerusalém
(Jo 2:23) e foi para a Judeia (Jo 3:22). Da
Judeia dirigiu-se à Samaria (Jo 4:4), onde os
samaritanos o declararam "o Salvador do
mundo". Trata-se de um paralelo perfeito
com Atos 1:8 - "e sereis minhas testemunhas
tanto em Jerusalém como em toda a
Judeia e Samaria e até aos confins da terra".
Jesus deu o exemplo. Se o seguirmos, ele
também dará a colheita.
Essa mulher samaritana anônima foi uma
cristã prolífica: deu frutos ("muitos samaritanos
daquela cidade creram"), deu mais frutos
("muitos outros creram") e continua a
dar "muitos frutos" para a glória de Deus
(ver Jo 15:1-5). Ninguém sabe quantos pecadores
tiveram um encontro com o Salvador
por causa do testemunho dessa mulher
registrado em João 4.
4. O ARISTOCRATA (Jo 4:43-54)
Jesus continuou sua viagem para a Galileia
(Jo 4:3) e chegou novamente a Caná. A
Galileia era conhecida como "ha goyim
- Galileia dos gentios". Ao que parece, Jesus
sentira na Judeia (sua terra) a hostilidade
crescente dos líderes religiosos, apesar
de a verdadeira oposição só se manifestar
meses depois. Mesmo tendo nascido em
Belém, Jesus nunca se identificou totalmente
com a Judeia. Era conhecido como um
profeta da Galileia (Mt 21:11; Jo 7:52). Jesus
sabia que a resposta do povo a seu ministério
em Jerusalém havia sido hipócrita
e superficial (Jo 2:23-25), que não lhe dava
honra alguma.
Por que Jesus voltou a Caná? Talvez desejasse
cultivar a semente que havia plantado
ali, quando compareceu à festa de casamento.
Natanael era de Caná, de modo que talvez
houvesse algum motivo pessoal para essa
visita. Em Caná, Jesus foi recebido por um
aristocrata de Cafarnaum, uma cidade a cerca
de 30 quilômetros de lá. O homem ouvira
falar de seus milagres e percorrera essa distância
toda para interceder pelo filho, que estava
morrendo. O primeiro milagre de Caná
foi realizado a pedido da mãe de Jesus (Jo
2:1-5), e nesse segundo milagre, Jesus atendeu
ao pedido de um pai (Jo 4:47).
Não sabemos ao certo se esse homem
era judeu ou gentio, e o texto também não
diz exatamente qual era seu cargo no governo
(era um "oficial do rei"). É possível que
fosse membro da corte de Herodes, mas
qualquer que fosse sua situação nacional ou
social, fica claro que havia chegado ao fim
da linha e precisava desesperadamente da
ajuda do Salvador. O homem "rogou" que
Jesus o acompanhasse até Cafarnaum para
curar seu filho.
João 4:48 não é uma repreensão desse
aristocrata. Antes, é o lamento de Jesus pela
situação espiritual do povo em geral, tanto
na Judeia quanto na Galileia. "Ver para crer"
sempre foi a filosofia "pragmática" do mundo
perdido e, até mesmo, do mundo religioso.
O aristocrata acreditava que Jesus era capaz
de curar seu filho, mas havia duas falhas
em seu raciocínio: achou que Jesus precisaria
ir a Cafarnaum para salvar o menino e
que, se a criança morresse enquanto estivessem
a caminho, seria tarde demais.
A fé desse homem é admirável. Jesus simplesmente
disse: "Vai [...] teu filho vive" (Jo
4:50). E o homem creu e se pôs a caminho de
casa! Tanto a mulher samaritana quanto o
aristocrata devem ter alegrado o coração de
Jesus quando creram em sua palavra e agiram
pela fé.
O menino foi curado no mesmo instante
em que Jesus fez essa declaração, de
modo que os servos do homem foram procurá-lo
para lhe dar as boas notícias (mais um
exemplo no qual os servos são os que sabem
o que está acontecendo; ver Jo 2:9;
15:15). O menino havia sido curado na sé-
tima hora, que, pelo sistema romano, correspondia
às 7 horas da noite. Por certo, nem
o pai nem os servos viajaram durante a noite,
uma vez que era arriscado demais. A fé
do pai era tão forte que adiou sua volta,
mesmo ansiando ardentemente ver seu filho
amado.
Quando o pai e os servos se encontraram
no dia seguinte, o relato dos servos confirmou
a fé do pai. É interessante observar
que o pai pensou que a cura havia sido gradual
("se sentira melhor"), mas os servos
relataram um restabelecimento completo
e instantâneo.
Esse homem começou a ter fé em tempo
de crise. Estava prestes a perder seu filho
e não lhe restava outro recurso senão procurar
o Senhor Jesus Cristo. Muita gente
procurou Jesus em momentos de crise, e ele
nunca as mandou embora. A fé que se manifestou
em um momento crítico transformou-se
em fé confiante: ele creu na Palavra
e teve paz no coração. Foi capaz até de adiar
sua viagem para casa, sabendo que o menino
não corria mais perigo.
Sua fé confiante tornou-se uma fé confirmada.
De fato, o menino havia sido completamente
restabelecido! A cura ocorrera no
instante exato em que Jesus ordenou. Foi
esse fato que transformou a vida do aristocrata
e de sua família. Ele creu que Jesus era
o Cristo, o Filho de Deus, e compartilhou
essa fé com seus familiares. Demonstrou,
assim, uma fé contagiante e contou a outros
sua experiência.
Esse é um dos vários milagres realizados
por Jesus "à distância". Foi desse modo que
ele curou o servo do centurião (Mt 8:5-13;
é interessante observar que ele também vivia
em Cafarnaum) e a filha de uma mulher
cananeia (Mt 15:21-28). Essas duas pessoas
eram gentias e, em termos espirituais, também
estavam "separadas" e "longe" (Ef 2:12,
13). Não sabemos ao certo, mas talvez esse
aristocrata também fosse um gentio.
João 4:54 não diz se essa cura foi o segundo
milagre de Jesus, pois cairia em
contradição com João 2:23 e 3:2. Esse foi o
segundo milagre realizado por ele em Caná
da Galileia (ver Jo 2:1, 11). Sem dúvida, o
povo daquela região foi privilegiado.
Mas devemos observar que esses dois
milagres foram "particulares", não públicos.
Maria, os discípulos e os servos sabiam da
proveniência do vinho excelente na festa de
casamento, mas os convidados não faziam
ideia (é claro que os servos podem ter passado
a história adiante). O filho do aristocrata
foi curado em Cafarnaum, não em Caná, mas
as notícias espalhavam-se rapidamente e, por
certo, muitas pessoas ficaram sabendo.
O primeiro milagre de Jesus, realizado
no casamento, revelou seu poder sobre o
tempo. O Pai está sempre transformando
água em vinho, mas esse processo leva uma
ou duas estações para ser concluído. Jesus
produziu o vinho de modo instantâneo.
Nesse sentido, os milagres de Jesus foram
réplicas instantâneas do trabalho que o Pai
está sempre realizando. "Meu Pai trabalha
até agora, e eu trabalho também" (Jo 5:17).
Estação após estação, o Pai sempre multiplica
o pão, mas Jesus fez a mesma coisa num
instante.
No segundo milagre relatado, Jesus demonstrou
seu poder sobre o espaço. Jesus
estava em Caná, e o menino enfermo, em
Cafarnaum, mas isso não foi empecilho para
que a cura se realizasse. O fato de o pai crer
na Palavra e de só ficar sabendo do resultado
no dia seguinte mostra sua fé confiante.
Ele creu na palavra de Jesus, e devemos fazer
o mesmo.