A Missão do Consolador

A Missão do Consolador

A Missão do Consolador
Os discípulos não entendem por que Cristo tem de abandoná-los; assim, ele mostra-lhes que seu retorno para o Pai possibilita grandes bênçãos por causa da vinda do Espírito. Não se pode viver de forma cristã com a energia da carne. Para levar uma vida que glorifique Cristo, precisamos do Espírito de Deus. Nosso Senhor descreve como o Espírito opera por intermédio do crente.

I. O Espírito condena o mundo (16:1-11)
O mundo não é amigo do cristão. Cristo advertiu os seus de que haveria perseguição a fim de evitar que tropeçassem e caíssem quando ela viesse. O versículo 2 fala de um tipo de pessoa do qual Paulo, antes de sua conversão, é um bom exemplo. Cristo não lhes contou isso antes aos seus discípulos, porque estava com eles para protegê-los. Agora, ele dá-lhes essa Palavra com a finalidade de encorajá-los, pois está para deixá-los. Claro que Cristo já conversara com eles a respeito de perseguição (Mt 5:10-12), mas não explicara a origem (pessoas religiosas) e a razão (a ignorância e o ódio do mundo) dela.

Agora, ele explica o trabalho que o Espírito fará no mundo por intermédio da igreja. O próprio fato de o Espírito estar no mundo representa uma acusação contra o mundo. Na verdade, Cristo devia estar no mundo reinando como Rei, mas este crucificou-o. Lembre-se que o Espírito vem para as pessoas de Deus, não para as do mundo perdido (14:1 7). Ele está aqui e lembra a humanidade de seu pecado terrível.

O Espírito condena o mundo de três formas:

A. Pelo pecado (v. 9)

Esse é o pecado da descrença. O Espírito não condena o mundo dos pecados individuais, pois a consciência deve fazer isso (veja At 24:24-25). A presença do Espírito no mundo prova que este não crê em Cristo; de outra forma, Cristo estaria no mundo. O pecado que condena a alma é a descrença, a rejeição de Cristo (veja Jo 3:1 8-21).

B. Pela justiça (v. 10)

Observe que isso não é a mesma coisa que injustiça, isto é, os pecados das almas perdidas. Cristo fala da condenação do mundo pelo Espírito, não do indivíduo descrente, embora haja uma aplicação pessoal. 

A presença do Espírito no mundo comprova a justiça de Cristo, que retornou para o Pai. Cristo, enquanto esteve na terra, foi acusado de quebrar a lei, de ser um pecador e um impostor. No entanto, a presença do Espírito no mundo comprova que o Pai ressuscitou o Filho e recebeu-o de volta no céu.

C. Pelo julgamento (v. 11)

Não confunda isso com o "Juízo vindouro" de Atos 24:25. Aqui, Cristo fala do julgamento na cruz, não de um julgamento futuro. Ele já falou de julgar Satanás e o mundo (12:31-32; veja também Cl 2:15). A presença do Espírito no mundo comprova que Satanás foi julgado e derrotado, ou ele estaria controlando o mundo.

Podemos aplicar esses três julgamentos ao descrente individual.

O Espírito usa o testemunho cristão e a Palavra para convencer o cético a respeito de seu pecado de descrença, de sua necessidade de justiça e de que, já que pertence a Satanás, está do lado perdedor (Ef 2:1-3). Não há salvação sem a condenação guiada pelo Espírito, pois ele usa a Palavra para condenar as almas perdidas.

II. O Espírito instrui o cristão (16:12-15)

Provavelmente, os discípulos perceberam sua ignorância em relação à Palavra, e Cristo explicou-lhes o ministério de ensino do Espírito a fim de assegurá-los disso. Em 14:26 e 15:26, ele fala a respeito disso. A frase "não falará de si mesmo" (v. 13, NVI) não significa que o Espírito nunca fala nem chama a atenção para si mesmo. Ele escreveu a Bíblia, e há centenas de referências a ele em suas páginas! A frase significa que o Espírito não ensinará o que lhe aprouver, mas seguirá a orientação do Pai e do Filho. O Espírito ensina-nos a verdade fundamentada na Palavra e glorifica a Cristo ao fazer isso. Guy King sugere três formas em que o Espírito glorifica a Cristo:

(1) ele escreveu um livro sobre ele;

(2) ele torna o crente igual a ele; 

(3) ele encontra uma noiva para ele.

O Espírito pode ensinar qualquer cristão que se entrega a Cristo.

Para saber como Deus pode ensinar o cristão humilde, leia Salmos 119:97-104. A disposição para aprender e para viver a Palavra é mais importante que a idade, a experiência ou a instrução da pessoa.

III. O Espírito encoraja o cristão (16:16-22)

Os discípulos sentiam-se muito perturbados e desencorajados com o fato de Cristo deixá-los. O versículo 16 parece paradoxal: "Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis". Ele tem um significado duplo. Primeiro, eles o verão após a ressurreição e também quando o Espírito vier para habitar neles. Eles mudarão a visão física pela espiritual. Hoje, os crentes vêem Jesus (Hb 2:9) por meio da Palavra de Deus ensinada pelo Espírito.

Cristo compara seu sofrimento com o nascimento de uma criança: dor lancinante seguida de alegria. Isaías 53:11 afirma: "Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma". Os discípulos chorarão e lamentarão, mas essa tristeza se transformará em alegria. Nossa angústia e nosso sofrimento de hoje se transformarão em alegria quando Cristo retornar. Cristo dá o tipo de alegria que o mundo não pode tirar.

IV. O Espírito ajuda o cristão a orar (16:23-33)

É provável que "naquele dia" refira-se ao dia em que o Espírito vier e iniciar seu ministério entre eles. Os discípulos estavam acostumados a levar suas questões e necessidades pessoalmente a Cristo. Após seu retorno para o céu, ele enviou o Espírito para ajudá-los a orar (Rm 8:26-27) e instruiu-os a orar ao Pai. A oração da Bíblia é ao Pai, por intermédio do Filho, e no Espírito. O Pai quer responder aos nossos pedidos (v. 27), por isso Cristo não precisa rogar a ele em nosso favor (v. 26).

A oração é um tremendo privilégio! Examine essas outras palavras de Cristo a respeito da oração: João 14:13-14; 15:7; 15:16. O crente cresce em sua vida de oração à medida que permite que o Espírito lhe ensine a Palavra, pois a oração e a Palavra andam juntas. Judas 20 ordena que "or[emos] no Espírito Santo". Hoje, muitas orações são da carne, pois pedem coisas que não estão de acordo com a vontade de Deus (Tg 4:1-10). É maravilhoso permitir que o Espírito determine os motivos de nossas orações (Rm 9:1-3). O Espírito conhece a mente do Pai e leva-nos a orar pelas coisas que ele quer nos dar. Diz-se com muito acerto que orar não é vencer a relutância de Deus, mas apegar-se à boa vontade dele. 

O testemunho dos discípulos deve ter alegrado o coração de Cristo, mas ele advertiu-os de que eles o deixariam só (v. 32). No fim, mesmo o Pai abandonou Cristo na cruz! Que bênção ouvir o Senhor dizer: "Tende bom ânimo" (v. 33). Ele transmite paz e alegria a seus seguidores mesmo quando está para ser preso e crucificado! Ele garante-lhes sua vitória: "Eu venci o mundo" (v. 33). O Espírito tem um ministério especial em nossa vida. Será que realmente permitimos que ele faça seu trabalho?