Comentário sobre João 2:1-12

Comentário sobre João 2:1-12

O casamento ocorreu "três dias depois" do chamado de Natanael (Jo 1:45-51). Uma vez que Natanael foi chamado no quarto dia da semana registrada em João (Jo 1:1 9, 29, 35, 43), temos que o casamento foi celebrado no sétimo dia dessa "nova semana da criação". Ao longo de todo seu Evangelho, João deixa claro que Jesus trabalhava dentro de um cronograma divino, obedecendo à vontade do Pai.

De acordo com a tradição judaica, as virgens deveriam casar-se na quarta-feira, enquanto as viúvas deveriam casar-se na quinta-feira. Uma vez que esse era o "sétimo dia" da semana especial da narrativa de João, era de se esperar que Jesus descansasse, da mesma forma que Deus descansara no sétimo dia da criação (Gn 2:1-3). Mas o pecado havia interrompido o descanso sabático de Deus, e era necessário que o Pai e o Filho trabalhassem (Jo 5:17; 9:4).

Aliás, João relata dois milagres que Jesus realizou deliberadamente em dias de sábado (Jo 5; 9). Nesse casamento, vemos Jesus desempenhando três papéis diferentes: o de Convidado, o de Filho e o de Anfitrião.

Jesus, o Convidado (vv. 7, 2). Jesus não era um eremita como João Batista (Mt 11:1619) e aceitava convites para acontecimentos sociais. Não considerava um impedimento o fato de seus inimigos usarem isso contra ele (Lc 15:1, 2). Jesus teve as experiências de uma vida normal e as santificou com sua presença. O casal sábio convida Jesus para o seu casamento! Nessa ocasião, estava acompanhado da mãe e de seis discípulos. Talvez a presença de mais sete convidados tenha contribuído para a crise, mas, se esse foi o caso, teria sido uma festa muito pequena. Temos motivos para crer que a família de Jesus aqui na Terra não era materialmente próspera, e é bem provável que seus amigos também não fossem pessoas ricas. Talvez a falta de vinho seja relacionada à falta de recursos para dar uma festa mais farta.

Jesus e seus discípulos foram convidados por causa de Maria ou de Natanael (Jo 21:2)? Jesus ainda não era muito conhecido e não havia realizado nenhum milagre. É pouco provável que tenha sido convidado pelo fato de as pessoas saberem quem ele era. O mais cabível é que tenha recebido o convite por ser da família de Maria.

Jesus, o Filho (w. 3-5). Tendo em vista que os casamentos judaicos duravam uma semana, o noivo deveria ter uma quantidade adequada de suprimentos. Em primeiro lugar, a falta de vinho ou de comida causaria embaraço; e uma família culpada de tal grosseria poderia até mesmo ser multada! Assim, ficar sem vinho acabava custando caro, tanto em termos financeiros quanto sociais.

Por que Maria levou o problema até Jesus? Esperava mesmo que ele fizesse alguma coisa para suprir essa necessidade? Apesar de não haver declarado a verdade maravilhosa a outros, Maria sabia quem ele era. Maria devia ser bastante próxima da noiva ou do noivo, pois de outro modo provavelmente não teria demonstrado tanta preocupação pessoal com as comemorações, nem ficaria sabendo que o vinho estava acabando.

Talvez Maria estivesse ajudando a preparar e a servir a refeição. Maria não disse a Jesus o que fazer; simplesmente lhe contou o problema. (Comparar com a mensagem de Maria e Marta a Jesus quando Lázaro estava enfermo – Jo 11:3.) A resposta de Jesus parece um tanto brusca e até mesmo áspera, mas não é o caso. "Mulher" era uma forma de tratamento educada (Jo 19:26; 20:13), e sua pergunta significa apenas: "Por que você está me envolvendo nessa questão?" Estava deixando claro para a mãe que não se encontrava mais sob sua tutela (é bem provável que José estivesse morto), mas que, dali por diante, seguiria as ordens do Pai. Jesus já havia feito alusão a isso vários anos antes (Lc 2:40-52).

Nesse ponto, João introduz um dos elementos-chave de seu registro, o conceito de "hora". Jesus vivia de acordo com um "cronograma celestial", determinado pelo Pai (ver Jo 7:30; 8:20; 12:23; 13:1; 17:1; observar também as palavras de Jesus em João 11:9, 10). Ao estudar o Evangelho de João, veremos como o autor desenvolve o conceito de "hora".

As palavras de Maria para os servos mostram que estava disposta a deixar que seu Filho fizesse o que lhe aprouvesse e que confiava que ele faria a coisa certa. Também devemos obedecer a sua ordem: "Fazei tudo o que ele [Jesus] vos disser". É interessante observar que foi Jesus, não Maria, quem assumiu o controle e resolveu o problema, e que Maria apontou não para si mesma, mas para Jesus.