Comentário de João 7:37-52
Comentário de João 7:37-52
O sétimo dia encerrava a festa. Era o dia em que os sacerdotes marchavam sete vezes ao redor do altar entoando o Salmo 118:25 e, pela última vez, derramavam a água tirada do tanque de Siloé. É provável que, quando estava sendo derramada a água que simbolizava aquela que Moisés havia tirado da rocha, Jesus levantou-se e, em alta voz, fez seu convite aos pecadores sedentos.
Diz-se que, nesse mesmo "grande dia", o vigésimo primeiro dia do sétimo mês, o profeta Ageu fez uma profecia especial sobre o templo (Ag 2:1-9). Apesar de seu cumprimento final aguardar a volta de Cristo à Terra, certamente ocorreu um prenúncio de seu cumprimento parcial quando Jesus foi ao templo. Ageu 2:6, 7 é citado em Hebreus 12:26-29 com relação à volta do Senhor.
Jesus referia-se à experiência de Israel relatada em Êxodo 1 7:1-7. Aquela água não passava de uma imagem do Espírito de Deus. Todos os que cressem não apenas beberiam da água viva, mas também se tornariam canais dessa água para o mundo sedento! O "poço artesiano" prometido em João 4:14 tornou-se um rio caudaloso! Apesar de não haver qualquer Escritura profética específica sobre "rios de água" fluindo daquele que crê, não faltam versículos paralelos a essa idéia: [saías 12:3; 15; 32:2; 44:3 e 58:11; Zacarias 14:8. É interessante observar que Zacarias 14:16ss fala da futura Festa dos Tabernáculos, quando Cristo for Rei.
A água para beber é um dos símbolos do Espírito Santo na Bíblia (a água para lavar é um dos símbolos da Palavra de Deus; ver Jo 1 5:3 e Ef 5:26). Assim como a água sacia a sede e produz fecundidade, também o Espírito de Deus sacia o ser interior e permite que dê frutos. Na festa, os judeus reconstituíam uma tradição que jamais poderia saciar o coração. Jesus ofereceu água viva e saciedade eterna!
Qual foi o resultado dessa declaração e desse convite? O povo ficou dividido: alguns defenderam Jesus, outros quiseram prendê-lo. "Ele é bom" ou "engana o povo"? (Jo 7:12). Ele é "o Cristo"? (Jo 7:31). É "o profeta" prometido? (Jo 7:40; Dt 18:1 5). Se ao menos tivessem examinado as evidências com sinceridade, teriam descoberto que ele era, de fato, o Cristo, o Filho de Deus. Associavam Jesus à Galiléia (Jo 1:45, 46; 7:52), quando na realidade havia nascido em Belém (ver Jo 6:42 para um raciocínio semelhante).
Os guardas do templo voltaram à reunião do conselho com as mãos vazias. Por certo, não seria difícil prender Jesus, mas ainda assim não o fizeram. O que os deteve? "Jamais alguém falou como este homem." Em outras palavras: "Esse Jesus é mais do que um homem! Um homem qualquer não fala dessa maneira!" Foram "cativados" pela Palavra de Deus, proferida pelo Filho de Deus.
Mais uma vez, os líderes recusaram-se a encarar os fatos com honestidade, preferindo, em vez disso, julgar com base em seus preconceitos e em sua análise superficial dos fatos. É muito mais fácil rotular (e difamar) as pessoas do que ouvir os fatos que apresentam.
"Quer dizer que alguns do povo crêem em Cristo? Grande coisa! Afinal, essa gente simplória não sabe coisa alguma acerca da lei! Por acaso pessoas importantes - como nós - creram nele? Claro que não!" Essa mesma linha de argumentação voltou a ser usada quando os líderes tentaram desacreditar o testemunho do cego que Jesus havia curado (Jo 9:34).
Não é de se admirar que os "intelectuais" da época se recusassem a crer em Jesus Cristo, ou que os líderes religiosos o rejeitassem. Deus escondeu sua verdade dos "sábios e instruídos" e a revelou aos "pequeninos" na fé, os que se entregam a ele humildemente (Mt 11:25-27). Quando Deus o salvou, Paulo era um rabino extremamente inteligente e, ainda assim, teve de ser "derrubado" antes de reconhecer que Jesus Cristo era o Filho ressurreto de Deus. Em 1 Coríntios 1:26-31, encontramos a explicação de Paulo para a dificuldade de ganhar "pessoas religiosas e inteligentes" para Cristo.
Por certo, os líderes teriam enviado os guardas de novo, caso Nicodemos não se houvesse pronunciado. Esse homem aparece três vezes no Evangelho de João e, em cada uma dessas ocasiões, é identificado como o que "de noite, foi ter com Jesus" (ver Jo 3:1, 2; 19:39). Sem dúvida, Nicodemos havia refletido e estudado muito desde sua primeira conversa com Jesus e não teve medo de defender a verdade.
Na opinião de Nicodemos, o conselho não dava a Jesus a devida oportunidade de ser ouvido. Já o haviam condenado e buscavam prendê-lo antes mesmo de lhe dar a chance de um julgamento justo e legal! Talvez Nicodemos tivesse em mente passagens das Escrituras como Êxodo 23:1 e Deuteronômio 1:16, 17; 19:15-21:
Nicodemos esperava que considerassem as palavras e as obras de Jesus. Foi o caráter de Jesus como Mestre que chamou a atenção de Nicodemos (Jo 3:2). Na verdade, Jesus apontou para suas obras como prova de sua divindade (Jo 5:32); instou o povo repetidamente a atentar para suas palavras. As duas coisas andam juntas, pois os milagres apontam para a mensagem, enquanto a mensagem interpreta o significado espiritual dos milagres.
Podemos ouvir o sarcasmo e o desprezo na resposta dos líderes: "Dar-se-á o caso que também tu és da Galiléia?" Recusaram-se a admitir que Nicodemos estava certo ao pedir um julgamento justo, mas só o que puderam fazer foi ridicularizá-lo. Trata-se de uma antiga manobra polemista: na falta de argumentos, ataca-se o locutor.
Desafiaram Nicodemos a examinar as profecias para ver se alguma delas dizia que um profeta viria da Galiléia. Claro que Jonas era da Galiléia, e Jesus disse que Jonas era um retrato do Messias em sua morte, sepultamento e ressurreição (Mt 12:38-41). Talvez Nicodemos tenha lido Isaías 9:1, 2 (ver Mt 4:12-16) e começado a relacionar as grandes profecias messiânicas do Antigo Testamento.
Se ele o fez, se convenceu de que Jesus de Nazaré era, de fato, o Filho de Deus. Não é possível deixar de sentir pena das pessoas descritas neste capítulo, gente que reagiu da maneira errada ao que Jesus lhes ofereceu. Seus meios-irmãos reagiram com incredulidade; vários do povo discutiram sobre ele e acabaram divididos em suas opiniões. Se tivessem recebido a verdade prontamente e agido em obediência sincera, teriam se colocado aos pés de Jesus e confessado que ele é o Messias, o Filho de Deus.
Hoje, porém, as pessoas continuam a cometer o erro de deixar que seus preconceitos e avaliações superficiais as ceguem para a verdade. Não deixe que isso aconteça com você!
FONTE: Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento de Warren W. Wiersbe, vol. 1, p. 408-410
O sétimo dia encerrava a festa. Era o dia em que os sacerdotes marchavam sete vezes ao redor do altar entoando o Salmo 118:25 e, pela última vez, derramavam a água tirada do tanque de Siloé. É provável que, quando estava sendo derramada a água que simbolizava aquela que Moisés havia tirado da rocha, Jesus levantou-se e, em alta voz, fez seu convite aos pecadores sedentos.
Diz-se que, nesse mesmo "grande dia", o vigésimo primeiro dia do sétimo mês, o profeta Ageu fez uma profecia especial sobre o templo (Ag 2:1-9). Apesar de seu cumprimento final aguardar a volta de Cristo à Terra, certamente ocorreu um prenúncio de seu cumprimento parcial quando Jesus foi ao templo. Ageu 2:6, 7 é citado em Hebreus 12:26-29 com relação à volta do Senhor.
Jesus referia-se à experiência de Israel relatada em Êxodo 1 7:1-7. Aquela água não passava de uma imagem do Espírito de Deus. Todos os que cressem não apenas beberiam da água viva, mas também se tornariam canais dessa água para o mundo sedento! O "poço artesiano" prometido em João 4:14 tornou-se um rio caudaloso! Apesar de não haver qualquer Escritura profética específica sobre "rios de água" fluindo daquele que crê, não faltam versículos paralelos a essa idéia: [saías 12:3; 15; 32:2; 44:3 e 58:11; Zacarias 14:8. É interessante observar que Zacarias 14:16ss fala da futura Festa dos Tabernáculos, quando Cristo for Rei.
A água para beber é um dos símbolos do Espírito Santo na Bíblia (a água para lavar é um dos símbolos da Palavra de Deus; ver Jo 1 5:3 e Ef 5:26). Assim como a água sacia a sede e produz fecundidade, também o Espírito de Deus sacia o ser interior e permite que dê frutos. Na festa, os judeus reconstituíam uma tradição que jamais poderia saciar o coração. Jesus ofereceu água viva e saciedade eterna!
Qual foi o resultado dessa declaração e desse convite? O povo ficou dividido: alguns defenderam Jesus, outros quiseram prendê-lo. "Ele é bom" ou "engana o povo"? (Jo 7:12). Ele é "o Cristo"? (Jo 7:31). É "o profeta" prometido? (Jo 7:40; Dt 18:1 5). Se ao menos tivessem examinado as evidências com sinceridade, teriam descoberto que ele era, de fato, o Cristo, o Filho de Deus. Associavam Jesus à Galiléia (Jo 1:45, 46; 7:52), quando na realidade havia nascido em Belém (ver Jo 6:42 para um raciocínio semelhante).
Os guardas do templo voltaram à reunião do conselho com as mãos vazias. Por certo, não seria difícil prender Jesus, mas ainda assim não o fizeram. O que os deteve? "Jamais alguém falou como este homem." Em outras palavras: "Esse Jesus é mais do que um homem! Um homem qualquer não fala dessa maneira!" Foram "cativados" pela Palavra de Deus, proferida pelo Filho de Deus.
Mais uma vez, os líderes recusaram-se a encarar os fatos com honestidade, preferindo, em vez disso, julgar com base em seus preconceitos e em sua análise superficial dos fatos. É muito mais fácil rotular (e difamar) as pessoas do que ouvir os fatos que apresentam.
"Quer dizer que alguns do povo crêem em Cristo? Grande coisa! Afinal, essa gente simplória não sabe coisa alguma acerca da lei! Por acaso pessoas importantes - como nós - creram nele? Claro que não!" Essa mesma linha de argumentação voltou a ser usada quando os líderes tentaram desacreditar o testemunho do cego que Jesus havia curado (Jo 9:34).
Não é de se admirar que os "intelectuais" da época se recusassem a crer em Jesus Cristo, ou que os líderes religiosos o rejeitassem. Deus escondeu sua verdade dos "sábios e instruídos" e a revelou aos "pequeninos" na fé, os que se entregam a ele humildemente (Mt 11:25-27). Quando Deus o salvou, Paulo era um rabino extremamente inteligente e, ainda assim, teve de ser "derrubado" antes de reconhecer que Jesus Cristo era o Filho ressurreto de Deus. Em 1 Coríntios 1:26-31, encontramos a explicação de Paulo para a dificuldade de ganhar "pessoas religiosas e inteligentes" para Cristo.
Por certo, os líderes teriam enviado os guardas de novo, caso Nicodemos não se houvesse pronunciado. Esse homem aparece três vezes no Evangelho de João e, em cada uma dessas ocasiões, é identificado como o que "de noite, foi ter com Jesus" (ver Jo 3:1, 2; 19:39). Sem dúvida, Nicodemos havia refletido e estudado muito desde sua primeira conversa com Jesus e não teve medo de defender a verdade.
Na opinião de Nicodemos, o conselho não dava a Jesus a devida oportunidade de ser ouvido. Já o haviam condenado e buscavam prendê-lo antes mesmo de lhe dar a chance de um julgamento justo e legal! Talvez Nicodemos tivesse em mente passagens das Escrituras como Êxodo 23:1 e Deuteronômio 1:16, 17; 19:15-21:
Nicodemos esperava que considerassem as palavras e as obras de Jesus. Foi o caráter de Jesus como Mestre que chamou a atenção de Nicodemos (Jo 3:2). Na verdade, Jesus apontou para suas obras como prova de sua divindade (Jo 5:32); instou o povo repetidamente a atentar para suas palavras. As duas coisas andam juntas, pois os milagres apontam para a mensagem, enquanto a mensagem interpreta o significado espiritual dos milagres.
Podemos ouvir o sarcasmo e o desprezo na resposta dos líderes: "Dar-se-á o caso que também tu és da Galiléia?" Recusaram-se a admitir que Nicodemos estava certo ao pedir um julgamento justo, mas só o que puderam fazer foi ridicularizá-lo. Trata-se de uma antiga manobra polemista: na falta de argumentos, ataca-se o locutor.
Desafiaram Nicodemos a examinar as profecias para ver se alguma delas dizia que um profeta viria da Galiléia. Claro que Jonas era da Galiléia, e Jesus disse que Jonas era um retrato do Messias em sua morte, sepultamento e ressurreição (Mt 12:38-41). Talvez Nicodemos tenha lido Isaías 9:1, 2 (ver Mt 4:12-16) e começado a relacionar as grandes profecias messiânicas do Antigo Testamento.
Se ele o fez, se convenceu de que Jesus de Nazaré era, de fato, o Filho de Deus. Não é possível deixar de sentir pena das pessoas descritas neste capítulo, gente que reagiu da maneira errada ao que Jesus lhes ofereceu. Seus meios-irmãos reagiram com incredulidade; vários do povo discutiram sobre ele e acabaram divididos em suas opiniões. Se tivessem recebido a verdade prontamente e agido em obediência sincera, teriam se colocado aos pés de Jesus e confessado que ele é o Messias, o Filho de Deus.
Hoje, porém, as pessoas continuam a cometer o erro de deixar que seus preconceitos e avaliações superficiais as ceguem para a verdade. Não deixe que isso aconteça com você!
FONTE: Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento de Warren W. Wiersbe, vol. 1, p. 408-410