Comentário de João 7:11-36
Comentário de João 7:11-36
Podemos observar a presença de três grupos envolvidos nessa discussão pública sobre Jesus. Primeiro, evidentemente, havia os líderes judeus ("os judeus"), que viviam em Jerusalém e estavam ligados ao ministério no templo. Nesse grupo, se incluíam os fariseus e os sacerdotes (a maioria dos quais eram saduceus), bem como os escribas. Apesar de suas divergências teológicas, esses homens concordavam em duas coisas: em sua oposição a Jesus Cristo e na determinação de livrar-se dele. Nicodemos e José de Arimatéia eram exceções (Jo 19:38-42).
O segundo grupo era formado pelo "povo" (Jo 7:12, 20, 31, 32). Tratava-se da multidão que se dirigira a Jerusalém para comemorar a festa e adorar. Muitos deles não se deixaram influenciar pefas atitudes dos líderes religiosos. Vemos em João 7:20 que "o povo" admirou-se de que alguém quisesse matar Jesus! Não estavam por dentro de todos os boatos que corriam pela cidade e tiveram de descobrir, da maneira mais difícil, que os líderes consideravam Jesus um transgressor da Lei.
O terceiro grupo era constituído de judeus que viviam em Jerusalém (Jo 7:25). Estes, em sua maioria, tomaram o partido dos líderes religiosos. A discussão começou antes mesmo de Jesus chegar à cidade e girou em torno de seu caráter (Jo 7:11-13). Os líderes religiosos "o procuravam na festa", enquanto o povo discutia se ele era um homem bom ou um charlatão. Tinha de ser uma coisa ou outra, pois um homem bom não enganaria ninguém. Sem dúvida, se Jesus não é o que afirma ser, então é um mentiroso.
Mas quando Jesus começou a ensinar abertamente no templo, a discussão passou a ser a respeito de sua doutrina (Jo 7:14-19). E evidente que caráter e doutrina andam juntos. Seria absurdo crer nos ensinamentos de um mentiroso. Os judeus admiravam-se com o que Jesus ensinava, pois o Mestre não possuía qualquer credencial das escolas rabínicas autorizadas. Porém, uma vez que lhe faltavam as "devidas credenciais", seus inimigos consideravam que seus ensinamentos não passavam de opiniões próprias sem qualquer valor. Costuma-se dizer que Jesus ensinava com autoridade, enquanto os escribas e fariseus ensinavam por meio das autoridades, citando todos os rabinos famosos.
Jesus explicou que sua doutrina era proveniente do Pai. Já havia deixado claro que ele e o Pai eram um nas obras que realizava (Jo 5:17) e no julgamento que executava (Jo 5:30). Aqui o vemos afirmar que seus ensinamentos também vinham do Pai, declaração espantosa que ainda repetiria em outras ocasiões (Jo 8:26, 38). Quando ensino a Palavra de Deus, posso afirmar que a Bíblia tem autoridade, mas não posso dizer que todas as minhas interpretações da Bíblia têm a mesma autoridade. Jesus tinha o poder de declarar que possuía autoridade absoluta sobre tudo o que ensinava! Mas não é verdade que todo líder religioso diz a mesma coisa? De que maneira, então, saberemos que Jesus ensinou a verdade?
Ao obedecer a suas ordens. A Palavra de Deus mostra-se verdadeira para todos os que a cumprem de coração. Nas palavras do pregador inglês F. W. Robertson, "a obediência é o órgão do conhecimento espiritual". João 7:1 7 diz: "Se alguém quiser fazer a vontade dele [Deus], conhecerá a respeito da doutrina".
Isso explica por que os líderes judeus não entendiam os ensinamentos de Jesus: eram homens obstinados e não estavam dispostos a sujeitar-se a ele (Jo 5:40). Acaso Jesus está sugerindo uma "prova prática" para a verdade divina? Estaria dizendo: "Experimente; se funcionar, deve ser verdade", desse modo dando a entender que, se não funcionar, será falso? De modo algum, pois esse tipo de prova só serviria para causar confusão. Quase todos os membros de inúmeras seitas poderiam dizer: "Experimentei o que essa seita ensina e descobri que funciona!"
Jesus fala de algo muito mais profundo. Não sugere uma "degustação" superficial, mas sim um compromisso espiritual íntimo com a verdade. O s judeus dependiam da erudição e das autoridades, e suas doutrinas eram de segunda mão; mas Jesus insistiu que devemos experimentar a autoridade da verdade pessoalmente. Os líderes judeus tentavam matar Jesus e, no entanto, ao mesmo tempo, afirmavam compreender a verdade de Deus e obedecer a ela. Isso mostra como uma mente esclarecida e instruída não é garantia de um coração puro nem de uma vontade santificada. Alguns dos criminosos mais terríveis do mundo eram pessoas extremamente inteligentes e cultas.
Satanás ofereceu conhecimento a Adão e Eva, mas era um conhecimento com base na desobediência (Gn 3:5). Jesus ofereceu um conhecimento resultante da obediência: primeiro o jugo da responsabilidade, depois a alegria de conhecer a verdade de Deus. G. Campbell Morgan expressou essa idéia perfeitamente ao dizer: "Quando as pessoas são absoluta e completamente consagradas à verdade de Deus e desejam obedecer a ela acima da todas as coisas, descobrem que os ensinamentos de Cristo são sagrados; são ensinamentos provenientes de Deus".
Se estamos, verdadeiramente, buscando a vontade de Deus, não nos preocupamos em saber quem receberá a glória. Toda a verdade vem de Deus, e somente ele merece toda a glória por aquilo que nos ensinou. Nenhum mestre ou professor pode receber o crédito pelo que só vem de Deus. Quem buscar essa glória, mostrará que seus ensinamentos vêm dele próprio, não de Deus. Essa é a origem de tantas seitas e divisões na igreja: alguém "inventa" uma doutrina, assume o crédito por ela e a usa para dividir o povo
de Deus.
A primeira discussão foi com os judeus, mas os visitantes presentes na cidade também entraram no debate (Jo 7:20). Jesus havia anunciado com toda ousadia que os líderes desejavam matá-lo por ele haver transgredido o sábado e afirmar ser o Filho de Deus (ver Jo 5:10-18). Os judeus ortodoxos transgrediam a lei do sábado quando circuncidavam seus filhos nesse dia, então por que Jesus não podia curar no sábado? "Por que procurais matar-me?" Fica claro que os visitantes não sabiam que seus líderes pretendiam matar Jesus, de modo que questionaram essa afirmação. No entanto, esse questionamento deu-se pela acusação extremamente séria de que Jesus estava endemoninhado. Não era uma acusação nova, pois os líderes a haviam feito antes (Mt 9:32ss; 10:25; 11:18, 19; 12:24ss).
Em outras palavras, dizia: "É loucura essa sua idéia de que alguém deseja matá-lo!". Jesus usou a própria Lei de Moisés para refutar os argumentos do inimigo, mas sabia que não mudariam de opinião, pois seus parâmetros de julgamento não eram honestos. Avaliavam as coisas pela observação superficial dos fatos. Julgavam com base no que "parecia", não no que "era". Infelizmente, hoje muita gente comete o mesmo erro. João 7:24 é o oposto do versículo 17, em que Jesus pede devoção sincera à verdade.
Em seguida, os moradores de Jerusalém entraram na conversa (Jo 7:25). Sabiam que os líderes queriam matar Jesus e se admiraram de vê-lo pregando em público impunemente. Talvez os líderes tivessem se convencido de que ele era o Messias enviado por Deus! Então, por que não o adoravam e não orientavam outros a adorá-lo?
Sua pergunta (Jo 7:25) sugeria uma resposta negativa: "Os líderes não acreditam que esse é o Cristo, não é?" Defendiam essa conclusão pela lógica:
1. Ninguém sabe de onde virá o Messias.
2. Sabemos de onde veio Jesus de Nazaré.
3. Conclusão: Jesus não pode ser o Messias.
Mais uma vez, as pessoas não foram capazes de enxergar a verdade, pois haviam ficado cegas pelo que julgavam ser "fatos irrefutáveis". Jesus havia se deparado com esse mesmo tipo de resistência na sinagoga em Cafarnaum (Jo 6:42ss). Até mesmo os mestres eruditos - os "construtores" tão competentes - não seriam capazes de identificar Jesus como a Pedra Angular, mesmo depois de passarem séculos estudando o "projeto arquitetônico" fornecido por Deus (At 4:11).
Nesse ponto, Jesus levantou a voz para que todos ouvissem (ver também Jo 7:37). É provável que estivesse falando em tom de ironia: "Pois bem, vocês pensam que me conhecem e que sabem de onde eu vim! Na verdade, não fazem idéia!" Em seguida, explicou por que não conheciam: porque não conheciam o Pai! Para os judeus ortodoxos essa era uma acusação séria, pois se orgulhavam justamente de conhecer o Deus verdadeiro, o Deus de Israel.
Mas Jesus não parou aí: declarou com grande audácia que não apenas conhecia o Pai, mas também fora enviado por ele! Com isso, dizia mais uma vez que era Deus! Não havia simplesmente nascido neste mundo como qualquer ser humano; fora enviado ao mundo pelo Pai. Isso significava que existia antes de a Terra se formar. Sem dúvida, esse foi um momento crítico de seu ministério, pois alguns dos líderes tentaram prendê-lo, mas "não era chegada a sua hora". Muitos dos peregrinos creram nele. Essa fé se devia, em grande parte, a seus milagres, mas era um começo (ver Jo 2:23; 6:2, 26). A princípio, foram os milagres que despertaram o interesse de Nicodemos por Jesus (Jo 3:1, 2), mas, mais tarde, ele professou publicamente sua fé em Cristo. Os fariseus e sacerdotes que lideravam a religião judaica ressentiram-se ao ver que o povo cria em Jesus. Ao que parece, esses "cristãos" não tinham medo de dizer o que haviam feito (Jo 7:13, 32). Dessa vez, os líderes enviaram guardas do templo para prender Jesus, mas foi Jesus quem os "cativou"!
Advertiu-os de que tinham apenas "um pouco de tempo" para ouvir a verdade, crer e ser salvos (ver Jo 12:35ss). Não era Jesus quem corria perigo, mas sim os que haviam sido enviados para prendê-lo! Como nas mensagens anteriores, o povo interpretou incorretamente suas palavras. Em seis meses, Jesus voltaria para o Pai no céu, e os judeus que não haviam sido salvos não poderiam segui-lo. Que contraste entre "também aonde eu estou, vós não podeis ir" (Jo 7:34) e "para que, onde eu estou, estejais vós também" (Jo 14:3)!
Se esses homens tivessem se mostrado dispostos a fazer a vontade de Deus, teriam conhecido a verdade. Em breve, seria tarde demais.
FONTE: Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento de Warren W. Wiersbe, vol. 1, p. 407-408
Podemos observar a presença de três grupos envolvidos nessa discussão pública sobre Jesus. Primeiro, evidentemente, havia os líderes judeus ("os judeus"), que viviam em Jerusalém e estavam ligados ao ministério no templo. Nesse grupo, se incluíam os fariseus e os sacerdotes (a maioria dos quais eram saduceus), bem como os escribas. Apesar de suas divergências teológicas, esses homens concordavam em duas coisas: em sua oposição a Jesus Cristo e na determinação de livrar-se dele. Nicodemos e José de Arimatéia eram exceções (Jo 19:38-42).
O segundo grupo era formado pelo "povo" (Jo 7:12, 20, 31, 32). Tratava-se da multidão que se dirigira a Jerusalém para comemorar a festa e adorar. Muitos deles não se deixaram influenciar pefas atitudes dos líderes religiosos. Vemos em João 7:20 que "o povo" admirou-se de que alguém quisesse matar Jesus! Não estavam por dentro de todos os boatos que corriam pela cidade e tiveram de descobrir, da maneira mais difícil, que os líderes consideravam Jesus um transgressor da Lei.
O terceiro grupo era constituído de judeus que viviam em Jerusalém (Jo 7:25). Estes, em sua maioria, tomaram o partido dos líderes religiosos. A discussão começou antes mesmo de Jesus chegar à cidade e girou em torno de seu caráter (Jo 7:11-13). Os líderes religiosos "o procuravam na festa", enquanto o povo discutia se ele era um homem bom ou um charlatão. Tinha de ser uma coisa ou outra, pois um homem bom não enganaria ninguém. Sem dúvida, se Jesus não é o que afirma ser, então é um mentiroso.
Mas quando Jesus começou a ensinar abertamente no templo, a discussão passou a ser a respeito de sua doutrina (Jo 7:14-19). E evidente que caráter e doutrina andam juntos. Seria absurdo crer nos ensinamentos de um mentiroso. Os judeus admiravam-se com o que Jesus ensinava, pois o Mestre não possuía qualquer credencial das escolas rabínicas autorizadas. Porém, uma vez que lhe faltavam as "devidas credenciais", seus inimigos consideravam que seus ensinamentos não passavam de opiniões próprias sem qualquer valor. Costuma-se dizer que Jesus ensinava com autoridade, enquanto os escribas e fariseus ensinavam por meio das autoridades, citando todos os rabinos famosos.
Jesus explicou que sua doutrina era proveniente do Pai. Já havia deixado claro que ele e o Pai eram um nas obras que realizava (Jo 5:17) e no julgamento que executava (Jo 5:30). Aqui o vemos afirmar que seus ensinamentos também vinham do Pai, declaração espantosa que ainda repetiria em outras ocasiões (Jo 8:26, 38). Quando ensino a Palavra de Deus, posso afirmar que a Bíblia tem autoridade, mas não posso dizer que todas as minhas interpretações da Bíblia têm a mesma autoridade. Jesus tinha o poder de declarar que possuía autoridade absoluta sobre tudo o que ensinava! Mas não é verdade que todo líder religioso diz a mesma coisa? De que maneira, então, saberemos que Jesus ensinou a verdade?
Ao obedecer a suas ordens. A Palavra de Deus mostra-se verdadeira para todos os que a cumprem de coração. Nas palavras do pregador inglês F. W. Robertson, "a obediência é o órgão do conhecimento espiritual". João 7:1 7 diz: "Se alguém quiser fazer a vontade dele [Deus], conhecerá a respeito da doutrina".
Isso explica por que os líderes judeus não entendiam os ensinamentos de Jesus: eram homens obstinados e não estavam dispostos a sujeitar-se a ele (Jo 5:40). Acaso Jesus está sugerindo uma "prova prática" para a verdade divina? Estaria dizendo: "Experimente; se funcionar, deve ser verdade", desse modo dando a entender que, se não funcionar, será falso? De modo algum, pois esse tipo de prova só serviria para causar confusão. Quase todos os membros de inúmeras seitas poderiam dizer: "Experimentei o que essa seita ensina e descobri que funciona!"
Jesus fala de algo muito mais profundo. Não sugere uma "degustação" superficial, mas sim um compromisso espiritual íntimo com a verdade. O s judeus dependiam da erudição e das autoridades, e suas doutrinas eram de segunda mão; mas Jesus insistiu que devemos experimentar a autoridade da verdade pessoalmente. Os líderes judeus tentavam matar Jesus e, no entanto, ao mesmo tempo, afirmavam compreender a verdade de Deus e obedecer a ela. Isso mostra como uma mente esclarecida e instruída não é garantia de um coração puro nem de uma vontade santificada. Alguns dos criminosos mais terríveis do mundo eram pessoas extremamente inteligentes e cultas.
Satanás ofereceu conhecimento a Adão e Eva, mas era um conhecimento com base na desobediência (Gn 3:5). Jesus ofereceu um conhecimento resultante da obediência: primeiro o jugo da responsabilidade, depois a alegria de conhecer a verdade de Deus. G. Campbell Morgan expressou essa idéia perfeitamente ao dizer: "Quando as pessoas são absoluta e completamente consagradas à verdade de Deus e desejam obedecer a ela acima da todas as coisas, descobrem que os ensinamentos de Cristo são sagrados; são ensinamentos provenientes de Deus".
Se estamos, verdadeiramente, buscando a vontade de Deus, não nos preocupamos em saber quem receberá a glória. Toda a verdade vem de Deus, e somente ele merece toda a glória por aquilo que nos ensinou. Nenhum mestre ou professor pode receber o crédito pelo que só vem de Deus. Quem buscar essa glória, mostrará que seus ensinamentos vêm dele próprio, não de Deus. Essa é a origem de tantas seitas e divisões na igreja: alguém "inventa" uma doutrina, assume o crédito por ela e a usa para dividir o povo
de Deus.
A primeira discussão foi com os judeus, mas os visitantes presentes na cidade também entraram no debate (Jo 7:20). Jesus havia anunciado com toda ousadia que os líderes desejavam matá-lo por ele haver transgredido o sábado e afirmar ser o Filho de Deus (ver Jo 5:10-18). Os judeus ortodoxos transgrediam a lei do sábado quando circuncidavam seus filhos nesse dia, então por que Jesus não podia curar no sábado? "Por que procurais matar-me?" Fica claro que os visitantes não sabiam que seus líderes pretendiam matar Jesus, de modo que questionaram essa afirmação. No entanto, esse questionamento deu-se pela acusação extremamente séria de que Jesus estava endemoninhado. Não era uma acusação nova, pois os líderes a haviam feito antes (Mt 9:32ss; 10:25; 11:18, 19; 12:24ss).
Em outras palavras, dizia: "É loucura essa sua idéia de que alguém deseja matá-lo!". Jesus usou a própria Lei de Moisés para refutar os argumentos do inimigo, mas sabia que não mudariam de opinião, pois seus parâmetros de julgamento não eram honestos. Avaliavam as coisas pela observação superficial dos fatos. Julgavam com base no que "parecia", não no que "era". Infelizmente, hoje muita gente comete o mesmo erro. João 7:24 é o oposto do versículo 17, em que Jesus pede devoção sincera à verdade.
Em seguida, os moradores de Jerusalém entraram na conversa (Jo 7:25). Sabiam que os líderes queriam matar Jesus e se admiraram de vê-lo pregando em público impunemente. Talvez os líderes tivessem se convencido de que ele era o Messias enviado por Deus! Então, por que não o adoravam e não orientavam outros a adorá-lo?
Sua pergunta (Jo 7:25) sugeria uma resposta negativa: "Os líderes não acreditam que esse é o Cristo, não é?" Defendiam essa conclusão pela lógica:
1. Ninguém sabe de onde virá o Messias.
2. Sabemos de onde veio Jesus de Nazaré.
3. Conclusão: Jesus não pode ser o Messias.
Mais uma vez, as pessoas não foram capazes de enxergar a verdade, pois haviam ficado cegas pelo que julgavam ser "fatos irrefutáveis". Jesus havia se deparado com esse mesmo tipo de resistência na sinagoga em Cafarnaum (Jo 6:42ss). Até mesmo os mestres eruditos - os "construtores" tão competentes - não seriam capazes de identificar Jesus como a Pedra Angular, mesmo depois de passarem séculos estudando o "projeto arquitetônico" fornecido por Deus (At 4:11).
Nesse ponto, Jesus levantou a voz para que todos ouvissem (ver também Jo 7:37). É provável que estivesse falando em tom de ironia: "Pois bem, vocês pensam que me conhecem e que sabem de onde eu vim! Na verdade, não fazem idéia!" Em seguida, explicou por que não conheciam: porque não conheciam o Pai! Para os judeus ortodoxos essa era uma acusação séria, pois se orgulhavam justamente de conhecer o Deus verdadeiro, o Deus de Israel.
Mas Jesus não parou aí: declarou com grande audácia que não apenas conhecia o Pai, mas também fora enviado por ele! Com isso, dizia mais uma vez que era Deus! Não havia simplesmente nascido neste mundo como qualquer ser humano; fora enviado ao mundo pelo Pai. Isso significava que existia antes de a Terra se formar. Sem dúvida, esse foi um momento crítico de seu ministério, pois alguns dos líderes tentaram prendê-lo, mas "não era chegada a sua hora". Muitos dos peregrinos creram nele. Essa fé se devia, em grande parte, a seus milagres, mas era um começo (ver Jo 2:23; 6:2, 26). A princípio, foram os milagres que despertaram o interesse de Nicodemos por Jesus (Jo 3:1, 2), mas, mais tarde, ele professou publicamente sua fé em Cristo. Os fariseus e sacerdotes que lideravam a religião judaica ressentiram-se ao ver que o povo cria em Jesus. Ao que parece, esses "cristãos" não tinham medo de dizer o que haviam feito (Jo 7:13, 32). Dessa vez, os líderes enviaram guardas do templo para prender Jesus, mas foi Jesus quem os "cativou"!
Advertiu-os de que tinham apenas "um pouco de tempo" para ouvir a verdade, crer e ser salvos (ver Jo 12:35ss). Não era Jesus quem corria perigo, mas sim os que haviam sido enviados para prendê-lo! Como nas mensagens anteriores, o povo interpretou incorretamente suas palavras. Em seis meses, Jesus voltaria para o Pai no céu, e os judeus que não haviam sido salvos não poderiam segui-lo. Que contraste entre "também aonde eu estou, vós não podeis ir" (Jo 7:34) e "para que, onde eu estou, estejais vós também" (Jo 14:3)!
Se esses homens tivessem se mostrado dispostos a fazer a vontade de Deus, teriam conhecido a verdade. Em breve, seria tarde demais.
FONTE: Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento de Warren W. Wiersbe, vol. 1, p. 407-408