Comentário de João 7:1-10

Comentário de João 7:1-10

Maria e José tiveram filhos (Mt 13:55, 56; Mc 6:1-6) que eram, portanto, meios-irmãos de Jesus. É incrível que esses irmãos tenham vivido tantos anos com Jesus sem perceber o caráter singular de sua Pessoa. Por certo, sabiam de seus milagres (ver Jo 7:3, 4), tendo em vista que eram de conhecimento geral.

Conviveram de perto com ele e, portanto, tiveram as melhores oportunidades de observá-lo e de testá-lo e, ainda assim, continuaram incrédulos.

Esses homens estavam subindo a Jerusalém para comemorar uma festa religiosa, no entanto não aceitavam o próprio Messias! Como é fácil seguir as tradições sem assimilar a verdade eterna! O s publicanos e pecadores regozijavam-se com sua mensagem, enquanto os meios-irmãos zombavam dele.

Sem dúvida, esses homens pensavam como o mundo: se deseja ter seguidores, deve usar as oportunidades para fazer algo espetacular. Jerusalém estaria cheia de peregrinos e seria um "palco" prefeito para Jesus apresentar-se e granjear discípulos. Claro que os irmãos sabiam da multidão de seguidores que desertara Jesus (Jo 6:66). Essa era sua chance de reaver o que havia perdido.

Satanás sugeriu algo parecido, quando tentou Jesus no deserto três anos antes (Mt 4:1 ss). Jesus já recusara a oferta da multidão de proclamá-lo Rei (Jo 6:15) e não estava prestes a ceder de maneira alguma. As celebridades podem alcançar o sucesso pelo aplauso do povo, mas os servos de Deus sabem que isso não passa de ilusão. Ao realizar milagres durante a festa na "cidade oficial" da religião judaica, Jesus poderia reunir uma multidão, revelar-se como Messias e conquistar o inimigo. Claro que essa sugestão procedeu de corações e mentes cegas por uma incredulidade que, aliás, havia sido profetizada no Salmo 69:8 - "Torneime estranho a meus irmãos e desconhecido aos filhos de minha mãe". (Uma vez que Jesus não era filho biológico de José, não poderia dizer "aos filhos de meu pai".) Não havia chegado a hora de Jesus revelar-se ao mundo (Jo 14:22ss). Um dia, ele voltará, e "todo olho o verá" (Ap 1:7). Observamos anteriormente que Jesus viveu de acordo com um "cronograma divino" determinado pelo Pai (Jo 2:4; 7:6, 8, 30; 8:20; 12:23; 13:1; 17:1).

Jesus usava de cautela, pois sabia que os líderes religiosos desejavam matá-lo. Apesar de esses líderes serem "religiosos", faziam parte do "mundo" e odiavam Jesus por revelar a todos suas obras perversas. Por meio de seu caráter e de seu ministério, Cristo evidenciou a superficialidade e inanidade do sistema religioso imprestável e chamou o povo de volta à realidade da vida em Deus. A história revela que o "sistema religioso" muitas vezes persegue profetas enviados por Deus para preservar-se!

Alguns manuscritos e versões da Bíblia não trazem o termo ainda em João 7:8, mas sua ausência não muda a ênfase da declaração. Claro que Jesus não mentiu nem foi evasivo; antes, usava de prudência. O que teria acontecido se Jesus houvesse contado seus planos aos irmãos e eles os tivessem passado adiante? Essa informação teria chegado aos líderes? "Vou observar a festa quando chegar o momento certo", foi o que Jesus disse. E, depois que sua família partiu, dirigiu-se a Jerusalém "em oculto", de modo a não atrair atenção para si.

Vemos nessas atitudes de Jesus uma bela ilustração da soberania divina e da responsabilidade humana. O Pai tinha um plano para o Filho, e nada poderia frustrar esse plano. Jesus não tentou o Pai apressando-se para ir à festa nem se demorando depois de chegada a hora de partir. Compreender o tempo de Deus é algo que requer discernimento espiritual.



FONTE: Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento de Warren W. Wiersbe, vol. 1, p. 405-406.