Comentário de João 17:18-19
Agora os
discípulos estão capacitados para serem enviados ao mundo. Um mensageiro que
possui apenas “palavras”, sem que sua natureza seja também testemunha, não
ajuda em nada. O envio dos discípulos corresponde também ao nosso envio pelo
próprio Jesus. O mundo somente poderia obter ajuda através daquele que era
Filho de Deus por essência e por isso realmente o pão, a água, a porta, o
caminho, a vida e a ressurreição para pessoas famintas, sedentas, inquietas e
moribundas. “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao
mundo.” O “como” no início da palavra de Jesus deve ser levado muito a
sério e tem aqui uma conotação causal. O envio dos discípulos corresponde ao
envio de Jesus e tem seu fundamento no mesmo Na prática, dá prosseguimento a
ele e leva o amor redentor do Pai no Filho para dentro do mundo.
Jesus os capacita para esse envio por meio da santificação
que prepara para eles. Filho e Pai agem novamente com espírito unânime. O Filho
pediu ao Pai a santificação dos discípulos na verdade. Mas o Filho não é
espectador passivo no cumprimento de seu pedido. “E a favor deles eu me
santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.”
O “e” no início da frase revela a relação da santificação com o envio. “E
justamente por eles, os quais enviei, por eles, porque eu os enviei, eu me
santifico a mim mesmo.” Seus discípulos não podem santificar-se pessoalmente.
Jesus é capaz de fazê-lo, e ele o faz justamente agora em seu caminho de
sofrimento. Ao honrar o Pai de forma tão integral, ao amá-lo tão cabalmente e
entregar toda a sua existência e obra da vida inteira a Deus, ele se torna o
Filho santo do Pai santo. Perante o mundo, o mundo devoto de Israel, Jesus
aparece como blasfemo, banido e maldito. Na verdade, porém, justamente agora na
cruz torna-se realidade perfeita o que Pedro reconheceu e declarou na hora
decisiva: “Tu és o Santo de Deus” (Jo 6.69). Jesus conta com a circunstância de
que, como Crucificado, também envolve os seus nessa “santificação”, “para
que eles também sejam santificados na verdade”.
“Santificados na verdade”, pertencer a Deus
“na verdade” e viver para Deus: esse era o objetivo final de Jesus.717
Sua luta, que lhe rendeu a cruz, dirigia-se contra a “hipocrisia” que destruiu
Israel. Um “culto a Deus” que se transformara em “negócio”, uma “casa de Deus”
que se tornara “casa de comércio” (Jo 2.14-16), devotos líderes que, não
obstante, são incapazes de crer porque são ávidos de honra (Jo 5.44), discípulos
de Moisés que são denunciados pelo próprio (Jo 4.45), filhos de Abraão que se
tornaram filhos do diabo (Jo 8.37-44) – incansavelmente, Jesus desvendava essa
terrível deturpação e falsificação por meio de sua palavra e de seu ser. Agora
tudo depende de que seus discípulos e emissários não sejam reféns da mesma
falsidade, mas que “sejam santificadas na verdade”.718[1]
717 Paulo mostra aos romanos que aspecto tem essa vida
santificada para Deus (Rm 6; Rm 12.1,2; 15.16).
718 Essa era também a preocupação de Paulo em sua carta
aos Romanos, porque as denúncias contra o “judeu” em Rm
2.17-27,29 atingem do mesmo modo também
o “cristão”.
[1]Boor, W. d. (2002; 2008). Comentário Esperança,
Evangelho de João; Comentário Esperança, João (388). Editora Evangélica
Esperança; Curitiba.