Comentário de João 17:17
No
entanto, não se trata apenas da “proteção do mal”. A vida dos discípulos também
precisa ser desenvolvida em termos positivos. Essa configuração e realização
positiva da vida significam “santificação”.713 O fundamento
dela foi lançado na nova existência que separa os discípulos do “mundo”. “Eles
não são do mundo, como também eu não sou.” Sobre esse fundamento é possível
rogar, e agora Jesus solicita: “Santifica-os na verdade”.714
Ele não espera de seus discípulos que eles mesmos se santifiquem por não serem
do mundo. Rogou ao Pai pela santificação deles, da qual precisam tanto para sua
própria vida quanto para seu serviço no mundo. A santificação é obra de Deus,
porque ele é o “Pai santo”. A palavra “santo” faz parte daqueles termos
básicos, que não conseguimos explicar com outras palavras, mas apenas captar
diretamente a partir de si mesmos por nossa experiência pessoal interior. Não
poderemos de forma alguma explicar o que é “santo” a uma pessoa que nunca se
deparou com o “Santo”. Toda pessoa, porém, que se confrontou com Deus, possui
no mínimo uma noção do motivo por quê os serafins, em incansável adoração,
chamam Deus de “três vezes santo” (Is 6.3). Quando, pois, os discípulos de
Jesus devem ser “santificados na verdade”, visa-se seriamente que eles
não apenas sejam “boas pessoas”, mas que se revistam da santidade e do brilho
de Deus. É por isso que eles não são capazes de realmente “santificar-se”
pessoalmente. Unicamente o Pai santo pode realizar a “santidade” neles. Por
isso Jesus pede isso Dele.
A santificação dos discípulos acontece, pois, “na
verdade”. Como em todas as ocorrências no presente evangelho, 715
verdade é a realidade essencial divina. Os discípulos devem possuir não apenas
um certo brilho e aspecto de “santidade”, mas a santificação deve penetrar
genuína e profundamente em sua vida e em seu ser.716 Quando Jesus
acrescenta: “Tua palavra é a verdade”, ele não diz somente que a palavra
de Deus não nos engana e que é correta e confiável mesmo na forma da palavra
escrita. Jesus diz mais. A palavra, proferida vivamente por Deus, não é apenas
“palavra”, mas carrega em si a natureza divina e a energia divina. Por isso o
ser humano pode “viver” dessa palavra. E por essa razão a santificação dos
discípulos na verdade também acontece por meio da “palavra”. A “palavra” como
“verdade” também torna nosso ser e nossa vida “verdadeiros”, essenciais,
direcionados para a realidade de Deus e, por isso, santos.[1]
713 A esse respeito cf. o artigo “Heiligung” no Lexikon
zur Bibel.
714 Os manuscritos da Koiné e outros, inclusive
Clemente de Alexandria, trazem: “em tua verdade”. Contudo, um acréscimo
posterior do “tua” é mais fácil de explicar do que sua exclusão do original.
716 Por isso Paulo ora da seguinte forma no fim de sua 1ª
carta aos Tessalonicenses: “O Deus da paz vos santifique em tudo” [1Ts 5.23]. O Pastor Girkon anotou na margem de sua
Bíblia: “não provido”
[1]Boor, W. d. (2002; 2008). Comentário Esperança,
Evangelho de João; Comentário Esperança, João (p. 387). Editora Evangélica
Esperança; Curitiba.