Comentário de João 17:14-15

Mais uma vez Jesus apresenta a situação dos discípulos ao Pai. “Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo lançou seu ódio sobre eles, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo.” Quando a palavra de Deus é concedida e de fato recebida e acolhida, surgem pessoas que já não “são do mundo”, mas pertencem essencialmente a Deus. Nisso são semelhantes ao Filho, que declara a respeito de si: “como também eu não sou do mundo.” A marca inevitável e inextinguível desse fato é o “ódio” que “o mundo lançou sobre eles”. Essa é a realidade dos discípulos, simplesmente porque até esse ponto são discípulos de Jesus. Contudo, agora se torna decisivo que tipo de conseqüências Jesus reconhece na situação dos seus e que pedido ele dirige ao Pai a partir disso. “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.” O fato de que Jesus precisa dizer exatamente o que não pede revela o quanto essa súplica estava à flor da pele. Será que os discípulos não poderiam ser poupados da aflição, que não é brincadeira, antes traz dentro de si a tentação para renegar a Jesus? Para isso eles teriam de ser tirados do mundo, no qual justamente precisam entrar, para que a mensagem salvadora chegue às pessoas. O Filho, que empenha sua alma pessoalmente em seu envio, de forma alguma pode solicitar ao Pai “que os (tire) do mundo”. Contudo pode e precisa suplicar ao Pai “que os (guarde) do mal”. No texto grego não se pode distinguir se Jesus tem em mente “o mal”, “o maligno”, ou “o mau”, porém Jesus não emprega a palavra que Paulo usa em Rm 12.21 para “o mal”. Em contrapartida, “ponerós” = “mau” é usado por Jesus na sétima prece do Pai Nosso e por Paulo em 2Ts 3.3, com nítida referência ao “mau”, ao diabo. João usa esse termo com plena clareza nessa acepção em 1Jo 2.13. Conseqüentemente, nessa súplica ao Pai Jesus também deve estar vendo “o mau” como “dominador” por trás do “mundo” com seu “ódio”, cujo alvo é que os discípulos neguem a fé sob a pressão da perseguição e do sofrimento. Diante “do mau”, e por isso da queda, o Pai poderá “guardar” os discípulos.[1]




[1]Boor, W. d. (2002; 2008). Comentário Esperança, Evangelho de João; Comentário Esperança, João (386). Editora Evangélica Esperança; Curitiba.