Parábola da Videira Verdadeira
Parábola da Videira Verdadeira
por Herbert Lockyer
Estas últimas palavras de Jesus estão cheias de profundo significado para os nossos corações. A bela alegoria da Videira é apresentada subitamente, sem nada no contexto que a introduza. A explanação natural desse discurso, o qual atinge o próximo capítulo, é que a alegoria foi sugerida por um objeto externo visto por Jesus quando ele deixou a cenáculo em direção ao Getsêmani. Em seu caminho entre as vinhas, com suas vides férteis, e o fogo que estrepitava pelos vales e consumia as vides cortadas, teria passado pela mente do Salvador o simbolismo familiar do AT sobre a Vinha e a Videira (SI 80; Is 5:1-7; Jr 2:21; Ez 19:10) e assim surgiu esse notável e incomparável discurso.
Quando Jesus, ao proferir seus grandes Eu Sou, considerou-se "A videira verdadeira" ou "A videira, a verdadeira", ele não se contrastava com alguma outra falsa. Ele não era "A luz verdadeira" ou "A videira verdadeira" em oposição às não verdadeiras, mas "verdadeira" em resposta ao "perfeito ideal, e como o oposto a todas as outras representações imperfeitas". Ele era idealmente verdadeiro; a verdade ideal, da qual a videira natural é uma figura, cumpriu-se nele. A videira era um símbolo da divina escolha de Israel (Os 10:1; Mt 21:33; Lc 13:6); mas ficou muito aquém do ideal, pois tornou-se uma videira sem fruto, que fruti-ficava apenas para si mesma. Porém Jesus veio como a verdadeira e graciosa Videira, em atendimento ao perfeito ideal.
Quando Jesus disse "Eu sou a videira e vós sois os ramos", não quis dizer que um estava separado do outro. Videira é um termo compreensível, que implica unidade na diversidade, como raízes, caule, ramos, folhas, gavinhas e uvas, os quais, juntos, formam a videira. Cristo é tudo em todos. Ele é todas as coisas, e somos partes dele, vitalmente conectados a ele, como os ramos à videira. Separados dele somos inúteis. A videira existe para frutificar; por isso, a sua seiva vital é muito importante. Porventura, o Espírito Santo (sobre quem Jesus tem muito a dizer nessa seção), não é a seiva divina, que possibilita a frutificação da Videira? As várias partes que formam a videira como um todo falam da união e interdependência. A raiz é inútil sem o caule; o caule, sem os ramos; os ramos, sem os frutos. A produção do fruto depende da seiva viva que flui por toda a videira. Temos uma viva união com Jesus Cristo pela habitação em nós do Espírito Santo, que frutifica em vida e serviço. Diferentemente da videira, não produzimos frutos; apenas sustentamo-los. O fruto é do Espírito (Gl 5:22).
Quatro condições da vida frutífera são destacadas por Jesus nessa narrativa. Temos:
1. União. "Todo ramo em mim", em Cristo. Sua vida através de nós produz fruto em santidade (Rm 6:22). Se temos aparência de ramos (profissão mas não possessão), então não somos parte da Videira verda-deira, e servimos apenas para ser cortados e jogados fora.
2. Poda. Três escalas da frutificação são mencionadas: fruto, mais fruto, melhor fruto (Jo 15:2,5,8,16). Fruto é a evidência notável da vida. E Deus, o Agricultor, "limpa todo ramo que não produz fruto, para que produza fruto melhor" (Jo 15:2, Moffat). A árvore diminui com a poda, o processo de limpeza; mas ela é extremamente necessária, se temos a função de ramos frutíferos da Videira (Jo 15:6).
3. Permanecer (v. 4). Os ramos não podem produzir frutos por si mesmos. Eles devem estar em união com o caule da videira, a fim de receber constantemente a seiva fluente, se quiserem produzir frutos. Permanecer não exige esforço, mas descanso. Ao descansar no Senhor e viver numa comunhão intimamente relacionada, tornamo-nos ramos frutíferos. Conhecedores de seus mandamentos, obedeçamos e assim permaneceremos. Permanecemos pela obediência a ele que nos chama a segui-lo em todo o caminho. Obedecer-lhe é permanecer nele. Permanecer nele é obedecer-lhe.
4. Pedir (v. 5,7). "Se permanecerdes [...] pedireis o que quiserdes". Não há, realmente, conflito entre "permanecer" e "pedir". Como ramos que permanecem na videira, devemos pedir a seiva, o elemento vital de que precisamos, para cumprirmos o nosso propósito. Se pudéssemos ouvir um ramo falar, ele nos diria: "A cada momento eu preciso da seiva ou morrerei". Não nos lembra o hino que diz "momento após momento, temos vida do alto?" Permanecendo, pedimos apropriadamente, e recebemos porque o Espírito Santo nos ajuda a pedir em harmonia com a vontade de Deus.
Para o pregador pode-se desenvolver uma mensagem em todo o capítulo ao longo destas linhas:
1. Nossa união com Cristo — união e fecundidade (Jo 15:1-11; Cl 1:20-23);
2. Nossa união com os cristãos — amor e comunhão (Jo 15:12-17; Ef 4:25-32);
3. Nossa união com o mundo sem Cristo —hostilidade e fidelidade (Jo 15:18-27; 17:6-18).
Chegamo-nos a Jesus como o Salvador;
Aprendemos de Jesus como o Professor;
Seguimos a Jesus como o Mestre;
Permanecemos em Jesus como a Vida.
Fonte: Todas as Parábolas da Bíblia de Herbert Lockyer, São Paulo, Editora Vida, 2006.