Parábola da Mulher com Dores de Parto
(Jo 16:20-22)
Esta é a última parábola ilustrativa dos evangelhos que examinaremos e, entre as mais de cem que já estudamos, essa última é a mais sagrada e delicada. Campbell Morgan chama-a de "superlativa ilustração final" que "exige a mais reverente consideração". A importância das declarações de nosso Senhor prova-se pelo seu selo especial de veracidade, o duplo "em verdade, em verdade"; ou "amém, amém"; e da autoridade de seu Eu: "Eu sou o que sou" (Jo 16:20).
A impressionante característica desse breve texto diante de nós é a clareza da contemplação das horas difíceis que se aproximavam, e dos dias, como se estivessem em pleno acontecimento. Eram momentos de angústia sobre os quais Jesus conversou e ilustrou com profunda tristeza ou grande gozo. Os discípulos sabiam da dolorosa morte que viria para o Mestre, e Jesus sabia que eles soluçariam com choro incontrolável e gemidos, como os que se lamentam por um morto. Seu Senhor e Amado morreria como um malfeitor; mas, enquanto eram abatidos pela tristeza, o mundo perverso se regozijaria. O mundo, que executaria sua vontade homicida sobre ele, regozijaria em gozo perverso.
Jesus não abrandou as suas declarações; pelo contrário, falou da enorme tristeza em que eles mergulhariam. Também assegurou-lhes que rapidamente a sua angústia se transformaria em júbilo. Depois das nuvens espessas, o Sol brilharia. Depois de "um pouco, ver-me-eis," o que se refere à segunda vinda. Porém, viria o Espírito Santo como consolador de seus tristes corações, e os faria rejubilar. Então, para reforçar o seu ensinamento, recorreu à sua notável e última figura de linguagem, tão comum na literatura do AT como imagem da tristeza que gera alegria (Is 21:3; 26:17; Os 13:13; Mq 4:9,10). Como veremos, quando chegarmos às epístolas, Paulo seguiu a Cristo na aplicação do mesmo material ilustrativo. A simples interpretação é que o gozo da maternidade sobrepuja a agonia do nascimento. A agonia do parto é momentânea, mas o gozo é contínuo. A mãe feliz se esquece da dor, pela plenitude da alegria. Passou da extrema agonia ao gozo completo. O momento entre a angústia mais terrível e o gozo mais abundante é curto.
O nosso Senhor aplica a profunda figura da tristeza de uma mulher, mergulhada em trevas, agonia e iminência de morte, cuja angústia termina quando nasce o seu bebê. Uma vida que surge da morte está segura em seus braços a favor de seus deprimidos discípulos. Seus corações seriam tomados de grande angústia pela morte do Mestre, e profundos sofrimentos e tribulações os apertariam em seu testemunho sobre ele; mas a recompensa é prometida para todos os seus sofrimentos. Livres de suas dores, muitas crianças nasceriam no reino. A comunhão com Cristo em seus sofrimentos resultaria na eterna coroa de glória. A hora das dores de parto dos discípulos (A palavra usada para a tristeza deles é a mesma apresenta-da para a mulher, no parto) havia chegado; mas passaria, e teriam plena alegria pela permanente presença de Jesus, no Espírito Santo, que ele enviaria para confortar-lhes o coração. O momento atual é de doloroso trabalho para muitos santos queridos, especialmente os dos países comunistas, e os missionários nos lugares onde há muitos conflitos e derramamento de sangue; mas a sua angústia é temporária. Jesus em breve virá e, quando ele aparecer, concederá formosura em vez de cinzas; óleo de alegria em vez de pranto e vestes de louvor em vez de abatimento. Então eles terão um gozo que ninguém jamais tirará.
Fonte: Todas as Parábolas da Bíblia de Herbert Lockyer, São Paulo, Editora Vida, 2006.