Parábola do Templo
(Jo 2:13-22)
Dentre os dizeres parabólicos que Jesus usou para si mesmo, nenhum é tão significativo e sagrado quanto esse, no qual ele fala de seu corpo como um templo. Cristo usa-o para predizer a sua ressurreição dentre os mortos, tal qual ele fez quando tomou Jonas por sinal (Mt 12:38). O duplo sentido em que ele empregou a palavra "templo" não foi entendido pelos governantes judaicos, os guardiões do templo. Entretanto, quando eles pediram um sinal de sua autoridade para purificar o santuário (material), a "casa de seu pai", ele lhes deu o sinal de sua futura ressurreição, um sinal que os discípulos só entenderam plenamente, quando Jesus ressuscitou dos mortos (Jo 2:22).
As místicas palavras: "Destruí este templo, e em três dias eu o re-construirei" foram a sua resposta concernente à destruição que causariam ao seu triplo ofício de profeta, sacerdote e rei, o único a ter pleno direito da vida cívica e religiosa do país. Em pé no templo, com o coração compungido e queimando de santa indignação, Jesus limpou os recintos sagrados da poluição que ali se encontrava. Os judeus, pensando que Jesus referia-se à destruição do templo quando disse: "Destruí este templo", ridicularizaram-no e responderam que isso era algo totalmente impossível: fazer em três dias o que levara quarenta e seis anos para ser construído. Mas duas palavras são usadas para "templo". A primeira que os judeus usavam era hieron, para significar a totalidade do prédio: Atrio Exterior, Santo Lugar e Santo dos Santos. A palavra que Jesus usou, contudo, era nãos, que significa o Santo dos Santos, o santuário interior, o centro sagrado de tudo relacionado ao templo.
Quando Jesus falou do templo de seu corpo, ele enfatizava a verdade solene de que "o verdadeiro santuário da divindade era o corpo do Verbo encarnado. O templo de madeira e pedra não era senão a representação da presença divina. Essa presença estava então verdadeiramente no meio deles". Assim como o templo, o lugar da habitação de Deus, o meio da divina revelação, e o centro onde
Deus e o homem poderiam se encontrar através de um divino compro-misso, da mesma forma Cristo, em, e através de si mesmo, tornar-se-ia verdadeiro e único ponto de encontro para adoração. O duplo imperativo usado por Jesus fala de sua morte e ressurreição: "Destruí este templo, e em três dias eu o reconstruirei". Observe que ele não disse, como foi erradamente acusado em seu julgamento, "Eu destruirei este templo", mas destruí, ou seja, vocês o destruam! Cristo sabia que a hostilidade da hierarquia do templo terminaria em sua destruição. Então ele desafiou-os a fazer o pior: "Destruam o meu corpo". Essa mensagem de Cristo carregava consigo a autoridade divina: "e em três dias eu o reconstruirei". As duas grandes verdades centrais de sua morte e ressurreição constituem o sinal infalível de sua autoridade. Não somente para purificar um templo profanado, mas também para construir um templo, no mundo, baseado em sua morte e ressurreição. Santuários materiais podem ser facilmente destruídos, mas nenhum poder pode destruir o corpo místico do templo de sua Igreja que ele está construindo. "Vós sois edifício de Deus" (ICo 3:16,17).
Assim como Jesus falou do templo de seu corpo, Paulo também usou a mesma figura, carregada de significado espiritual para o corpo do crente (ICo 3:16,17). Em sua introdução ao impressionante estudo O templo de seu Corpo, F. B. Meyer escreve: "O que é o seu corpo? Uma hospedaria, apinhada de pessoas ocupadas! Uma livraria, cujas prateleiras são gradativamente cheias de conhecimento reunido! Uma chácara, dedicada a ganhar dinheiro, na qual o acúmulo de riquezas ou a manutenção da competência é tudo o que importa! Uma casa de diversões, usada para nenhum outro propósito mais alto do que a busca do prazer! Um antro onde paixões de baixo nível encontram deleite!" Absolutamente, não é uma dessas opções, mas, uma vez que o Senhor fez de nossos corpos o seu lugar de habitação, que eles sejam constantemente apresentados a ele como um sacrifício vivo. Assim como ele é o Salvador pessoal de nossas almas, possamos também, em todo tempo, reconhecê-lo como "o salvador do corpo".
Fonte: Todas as Parábolas da Bíblia de Herbert Lockyer, São Paulo, Editora Vida, 2006.