Parábola da Serpente na Estaca

Parábola da Serpente na Estaca
(Jo 3:14-17)

O advérbio "assim" prova que o retrato da história judaica, o qual Jesus apresentava, ainda era parte de sua conversa com Nicodemos, que fez duas perguntas ao Mestre:

"Como pode um homem nascer, sendo velho?" (3:4);
"Como pode ser isso?" (3:9).

A primeira pergunta foi feita em absoluta sinceridade. Nicodemos, ao entender a fraseologia do nascer de novo, erroneamente considerou a mudança de personalidade, pois partiu da perspectiva física. Mas Jesus respondeu a essa pergunta, quando disse que as leis que governam a carne e o Espírito não são as mesmas. "O que é nascido da carne, é carne"; mas a entrada no domínio do Espírito jamais acontece pela carne. Há um toque patético na pergunta: "Como pode um homem nascer, sendo velho?" Implícito no fato de que, quando perguntou isso, Nicodemos era um homem idoso, profundamente mergulhado em caminhos religiosos tradicionais. Podemos então entender o problema que ele enfrentava, quanto ao mudar completamente sua perspectiva e adentrar em uma esfera mais alta de vida e de personalidade. A tragédia é que pouquíssimas pessoas idosas tornam-se recém-nascidas. E graças a Deus porque algumas o fazem.

A segunda pergunta está relacionada com a forma pela qual o Espírito Santo realiza um novo nascimento. Jesus então, respondendo ao famoso mestre de Israel, lembrou-o que, como renomado instrutor das Escrituras do AT, já deveria saber dessa verdade espiritual que lhe era apresentada naquele momento. Jesus então citou um acontecimento histórico que Nicodemos conhecia bem até demais e, ao aplicá-lo, revelou que a redenção é a base da regeneração. "Como pode ser isso?" Como um homem pode nascer de novo? Como ele pode tornar-se uma nova criação, somente por meio da fé? Nicodemos perguntou sobre segredos celestiais, e Jesus, utilizando as ilustrações da água e do vento tiradas da esfera dos fenômenos naturais, chega agora aos domínios da história que Nicodemos sabia de cor. Por que a serpente foi levantada em uma haste? (Nm 21:8,9) Por causa da murmuração dos israelitas contra Deus e seus métodos. A despeito de toda a bondade de Deus para com eles, tornaram-se um povo de dura cerviz.

Por causa da maldade do povo, Deus enviou serpentes venenosas para destruí-los. O Senhor milagrosamente fez crescer o número de serpentes das quais o deserto estava infestado e, possuidoras de natureza maligna, sua mordida resultava em uma inflamação fatal que levava à morte. Moisés, porém, intercedeu pelos murmuradores afligidos, e Deus indicou-lhes um remédio fácil, cuja administração curou-lhes as feridas e pôs fim à calamidade. O Senhor ordenou que uma serpente de bronze, réplica das que os atacavam, mas sem o seu veneno mortal, fosse levantada em uma haste, no meio do acampamento, e tudo o que o povo deveria fazer para escapar da morte era olhar para ela. E todos os que assim faziam, permaneciam vivos.

Para mostrar a Nicodemos como "A atividade celestial cria oportunidades para a atividade terrena, e que, quando ambas se cruzam, surge um caminho de vida", Jesus fez uso de palavras muito comuns nas Escrituras — assim e da mesma forma. "Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, da mesma forma importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Nicodemos foi confrontado com a verdade de que a cruz é o único caminho pelo qual as coisas velhas passam e uma nova vida torna-se realidade. Assim como a misericórdia de Deus providenciou um caminho de cura para os israelitas, de modo que seus corpos não precisassem morrer, da mesma forma a sua graça providenciou a cruz, pela qual todos os que estão mortos no pecado possam ter vida eterna e experimentem a cura de suas almas. Agora tudo o que pecador tem a fazer para tornar-se um filho de Deus é olhar pela fé para aquele que foi crucificado: "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; pois eu sou Deus e não há outro" (Is 45:22).


Fonte: Todas as Parábolas da Bíblia de Herbert Lockyer, São Paulo, Editora Vida, 2006.