João 19:1-42 — Interpretação

Ver notas em Mt 27.32-56; Mc 15.21-41; Lc 23.26-49. Jesus carrega sua cruz ao Gólgota, onde é crucificado entre dois ladrões. O lugar tradicional venerado como o Calvário se identifica na Igreja do Santo Sepulcro. Outros o identificam com o "Sepulcro no Jardim", descoberto pelo Gen. Gordon, que é situado perto de uma colina com aspecto de um crânio, fora da cidade de Jerusalém. Pilatos manda colocar uma inscrição trilingüe acima da Sua cabeça (19-20).

Contrário aos desejos dos judeus, recusa modificar o título. As diferenças nos títulos citados nos Evangelhos sinóticos se explicam provavelmente nos termos usados nos respectivos idiomas. João fornece pormenores quanto à divisão das vestes e o lançar sortes para a túnica inconsútil, que não são dados nos sinóticos. A significação da ação dos soldados é que constitui o cumprimento inconsciente de Sl 22.18 (23-24).

A desumanidade dos soldados contrasta com o pesar das mulheres ao pé da cruz. Estão ali Maria, outra irmã, talvez Salomé, Maria a mulher de Cleofas e Maria Madalena (25). Jesus contempla sua mãe e encomenda-a aos cuidados do "discípulo amado". Doravante, este discípulo ampara-a (27). Jesus deixa à margem os próprios filhos, ainda incrédulos, de Maria sua mãe.

Depois de um intervalo, Jesus, sabendo que Sua missão estava cumprida, disse: Tenho sede! (28). Os soldados lhe trazem à boca uma esponja molhada em vinagre. Depois de tomar o vinagre, Jesus brada: Está consumado! (30), inclina a cabeça e rende o espírito.

Por ser a véspera do sábado, os líderes dos judeus desejam que os corpos sejam removidos. Para apressar a morte, era costume quebrar as pernas dos malfeitores. Isto foi feito no caso dos dois ladrões, porém Jesus já estava morto. Um soldado abre o lado de Jesus com uma lança e logo saiu sangue e água (34). Há diversas interpretações da significação da efusão de sangue e água. Não há razão para duvidar da veracidade do testemunho do evangelista. Trata-se claramente de algo miraculoso, que não admite explicações apenas naturais. O sangue e a água representam a missão redentora e purificadora de Jesus, efetuada por meio do derramamento do Espírito (30). Cfr. 1Jo 5.8.

A decisão de não quebrar as pernas de Cristo, tanto como o penetrar da lança no seu lado, cumpriram profecias do Velho Testamento (Sl 34.20; Zc 12.10). O testemunho ocular conservado por João é irrefutável: "Aquele que isto viu, testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho, e ele sabe que diz a verdade" (35). A frase "e ele sabe" traduz o original grego kai ekeinos oiden, e se refere, provavelmente, a Cristo, sendo usado nas epístolas de João neste sentido. É mais do que uma declaração solene e tem a força da frase "Deus sabe".

Ver notas em Mt 27.57-61; Mc 15.42-47; Lc 23.50-56. Dois discípulos secretos procuram Pilatos para pedir-lhe um favor. José de Arimateia e Nicodemos, ambos membros do Sinédrio, levam especiarias para embalsamar o corpo de Jesus. Com o começo do dia da páscoa às 18.00 horas, eles se apressam e Jesus é embalsamado de acordo com as tradições judaicas. Enrolam o corpo em linho e sepultam-no em um túmulo nas imediações (42).