João 13:21-39 — Interpretação

Jesus, perturbado pela presença de Judas, revela que um dos doze haveria de traí-lo (21). Na consternação geral que se segue, Pedro faz sinal ao discípulo a quem Ele amava, o qual se reclina sobre o peito de Jesus (23), para saber se conhece o traidor. Ao amado discípulo sobre o Seu peito Jesus responde que revelará o traidor, dando-lhe um pedaço de pão (26). Alude Jesus ao costume dos orientais de tomarem um pedaço de pão molhado no prato, como sinal de especial favor, o que constitui, no caso, o último apelo à consciência de Judas. Deu-o a Judas, dizendo, O que pretendes fazer, faze-o depressa (27). No coração de Judas, já foi perpetrado o crime. Os demais discípulos não entendem as palavras que Jesus lhe profere e pensam que o Mestre lhe ordena que desse alguma coisa aos pobres (29). Judas se retira nas trevas da noite. E banido da esfera de luz, lança-se nas trevas exteriores.

Na noite da sua traição, Jesus dá Sua mensagem de despedida. Muitos comentaristas pensam que as palavras "Levantai-vos, vamo-nos daqui" (Jo 14.31) marcam uma definida mudança de cenário. Realmente, a mudança ocorre somente no cap. 18, de modo que uma transposição do texto é sugerida. Entretanto, os manuscritos antigos não parecem justificar a teoria.

As palavras marcam uma pausa no discurso, a não ser que haja uma mudança intermediária de cenário, entre o incidente no cenáculo e o no pátio do templo, mencionado no fim do cap. 14. Neste caso, a figura da videira, no cap. 15, seria sugerida pela videira de ouro que ornava a entrada do templo.

Após a saída de Judas, volta a dirigir-se aos seus discípulos e declara-lhes que a hora da Sua glorificação está próxima. Deus será glorificado na morte do Seu Filho. A glorificação do Filho do homem tem sua realização não somente no presente, mas também no futuro, após o cumprimento da Sua missão divina (32). "Da mesma maneira em que Deus é glorificado no Filho, assim também o Filho será glorificado na beatitude perene do Pai" (Cambridge Bible). Jesus emprega um termo de carinho filhinhos (33), quando-lhes fala da Sua iminente partida. Eles, porém, não estarão permanentemente separados da Sua presença, como será o caso dos judeus. Jesus dá aos seus discípulos um novo mandamento, cujo cumprimento se explica na frase "assim como eu vos amei" (34). A característica mais notável do discipulado, que é, portanto, a prova da sua genuinidade, seria o amor uns aos outros (35). Quando Pedro pergunta, Senhor, para onde vais? (36), Jesus lhe responde que não pode segui-lo agora, somente mais tarde. A segunda pergunta de Pedro, que mostra seu irrefletido entusiasmo, provocam palavras de advertência profética (38).