João 11:1-31 — Interpretação
A historicidade deste incidente é recusada por muitos críticos. Afirma-se que escritores dos Evangelhos sinóticos omitiram o incidente pela simples razão de que não o conheceram. Tais hipóteses baseadas em omissões são precárias. Ainda mais, essa hipótese afirma que o incidente foi incluído na narrativa joanina para fins alegóricos, em apoio do principal tema do autor. Esses críticos admitem, sem dúvida, a existência de algum acontecimento histórico, mas alegam, ao mesmo tempo, que o material histórico foi tão adaptado ao estilo dramático do autor, que se torna impossível separar os elementos históricos dos alegóricos. Deste modo, as circunstâncias pormenorizadas que normalmente são consideradas como evidências da exatidão histórica da narrativa tornam-se apenas os últimos retoques de um autor, cuja imaginação procura embelezar e salientar certos aspectos do quadro que apresenta.
Cremos que a narrativa revela claramente o impressão da sua historicidade exata. O texto apresenta um milagre com todos os dados históricos e observações. O milagre da ressurreição da Lázaro não é mais extraordinário do que a ressurreição do filho da viúva de Naim, à parte da duração do tempo em que o corpo de Lázaro jazia no sepulcro. Que os sinóticos omitem o incidente se explica adequadamente pelo fato que o evento ocorreu perto de Jerusalém, nos últimos dias de vida terrestre de Jesus, e como tal não se adaptou tanto ao esquema literário dos autores, que se preocupam mais com o ministério na Galiléia do que aquele em Jerusalém. No quarto Evangelho, o incidente se entrosa perfeitamente com o plano literário do livro, que o apresenta como o último e mais impressionante dos sinais que revelam a glória do Filho de Deus. Não resta dúvida que existem dificuldades quanto à historicidade da narrativa, porém, não há necessidade de aceitar as limitações duma interpretação alegórica, que também deixaria muitos problemas a solucionar.
No Evangelho segundo S. João, este incidente representa o apogeu do ministério público de Jesus. João já revelou a natureza do conflito entre Jesus e as autoridades.
Desencadeia-se o temporal agora contra Jesus. Ainda na Peréia, Jesus ouve falar da doença de Lázaro, irmão de Maria e Marta. Maria é identificada como a mulher incógnita de Mc 14.3-9, que ungiu os pés de Jesus na casa de Simão (2). Lázaro é mencionado como alguém que Jesus amava (3,5).
O nome Lázaro (heb. Eleazar) significa "Deus, meu socorro". Jesus recebe o recado, mas declara que o resultado não será morte, porém um ensejo para exibir a glória do Filho (4). A enfermidade de Lázaro seria mais um elo na correia das circunstâncias que ligam Jesus à cruz. Jesus ainda se demorou dois dias no lugar onde estava (6). É supérfluo perguntar por que Jesus se demorou. A demora foi de acordo com o plano da palavra de Deus, não para fazer prova da fé das mulheres.
Jesus então propõe uma nova viagem para a Judéia (7). Os discípulos procuram desviá-Lo do seu propósito, pois sabem que Ele encontrará renhida oposição por parte dos judeus (8). Jesus, em sua resposta, declara um axioma geral no plano divino: Não são doze as horas do dia? (9). Ele tem uma missão a cumprir, e o tempo necessário para desempenhá-la (cfr. Jo 9.4). Quando aquele tempo estiver esgotado, a noite da sua paixão estará próxima. Há sugestão também da possibilidade de alguém passar o seu tempo sem cumprir sua missão, e assim tropeçar nas trevas da desobediência depois, não sendo guiado pela luz (10; cfr. 1Jo 2.10-11). Jesus então declara o propósito da sua viagem: vou despertá-lo (11, ARA); vou despertá-lo do sono (ARC). Os discípulos interpretam a palavra "sono" literalmente e comentam, se dorme, estará salvo (12), ou, "vai ser curado"; portanto, torna-se desnecessária sua visita. Com isto, Jesus explica-lhes claramente que Lázaro morreu (14). Os discípulos haveriam de testemunhar um prodígio que aumentaria sua fé nEle, e Jesus, visando ao proveito espiritual deles, se alegra que estava fora de cena, quando Lázaro morreu. Mas vamos ter com ele (15).
Tomé, crendo que a partida para a Judéia resultará em morte para todos do grupo, lealmente encoraja os demais discípulos que o acompanhem: vamos também nós para morrermos com Ele (16).
Quando Jesus chega a Betânia, encontra Lázaro sepultado há quatro dias (17). Há ali várias pessoas que foram de Jerusalém para consolar as mulheres de luto (19). Marta apressa-se para ir encontrar Jesus, enquanto Maria fica sentada em casa (20). Vê-se nestes pormenores a diferença de temperamento das duas mulheres. Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão (21). As palavras não constituem uma reprovação, mas a mistura de fé e esperança em Marta. Ela possuía fé que Jesus podia ter curado seu irmão e que mesmo agora podia chamá-lo de entre os mortos. Jesus assevera que o irmão há de ressurgir (23). Marta, como judia piedosa, crê na certeza de uma ressurreição final, porém tal crença não lhe alivia o luto do momento (24).
Neste instante, Jesus lhe anuncia a verdade estupenda que Ele é a ressurreição e a vida (25). A ressurreição não é apenas uma esperança futura, é realidade no presente, é poder vivificador, encarnado em Jesus. A vida de que o homem carece é Jesus mesmo. Jesus não disse "Eu prometo", nem "Eu procuro", nem "Eu trago", mas "Eu sou" (Westcott). O crente sobrevive à morte em virtude da vida eterna, obtida pela sua fé (26). A morte não tem mais poder sobre o crente, cuja vida está escondida com Cristo em Deus (cfr. Cl 3.1-3). Segue-se a penetrante interrogação de Jesus: Crês isto? (26). A aceitação desta verdade é indispensável para compreender o sentido espiritual do milagre da ressurreição. Marta lhe declara que, de fato, crê (27). Sua confissão corresponde fielmente à sua compreensão das funções do Messias, mas é aquém da declaração que Jesus faz sobre sua Pessoa.
Em seguida, Marta retira-se para chamar sua irmã e lhe diz: O Mestre chegou e te chama (28). Entrementes, os judeus vêem Maria sair da casa e, concluindo que ela vai ao sepulcro para chorar, acompanham-na (31).
Cremos que a narrativa revela claramente o impressão da sua historicidade exata. O texto apresenta um milagre com todos os dados históricos e observações. O milagre da ressurreição da Lázaro não é mais extraordinário do que a ressurreição do filho da viúva de Naim, à parte da duração do tempo em que o corpo de Lázaro jazia no sepulcro. Que os sinóticos omitem o incidente se explica adequadamente pelo fato que o evento ocorreu perto de Jerusalém, nos últimos dias de vida terrestre de Jesus, e como tal não se adaptou tanto ao esquema literário dos autores, que se preocupam mais com o ministério na Galiléia do que aquele em Jerusalém. No quarto Evangelho, o incidente se entrosa perfeitamente com o plano literário do livro, que o apresenta como o último e mais impressionante dos sinais que revelam a glória do Filho de Deus. Não resta dúvida que existem dificuldades quanto à historicidade da narrativa, porém, não há necessidade de aceitar as limitações duma interpretação alegórica, que também deixaria muitos problemas a solucionar.
No Evangelho segundo S. João, este incidente representa o apogeu do ministério público de Jesus. João já revelou a natureza do conflito entre Jesus e as autoridades.
Desencadeia-se o temporal agora contra Jesus. Ainda na Peréia, Jesus ouve falar da doença de Lázaro, irmão de Maria e Marta. Maria é identificada como a mulher incógnita de Mc 14.3-9, que ungiu os pés de Jesus na casa de Simão (2). Lázaro é mencionado como alguém que Jesus amava (3,5).
O nome Lázaro (heb. Eleazar) significa "Deus, meu socorro". Jesus recebe o recado, mas declara que o resultado não será morte, porém um ensejo para exibir a glória do Filho (4). A enfermidade de Lázaro seria mais um elo na correia das circunstâncias que ligam Jesus à cruz. Jesus ainda se demorou dois dias no lugar onde estava (6). É supérfluo perguntar por que Jesus se demorou. A demora foi de acordo com o plano da palavra de Deus, não para fazer prova da fé das mulheres.
Jesus então propõe uma nova viagem para a Judéia (7). Os discípulos procuram desviá-Lo do seu propósito, pois sabem que Ele encontrará renhida oposição por parte dos judeus (8). Jesus, em sua resposta, declara um axioma geral no plano divino: Não são doze as horas do dia? (9). Ele tem uma missão a cumprir, e o tempo necessário para desempenhá-la (cfr. Jo 9.4). Quando aquele tempo estiver esgotado, a noite da sua paixão estará próxima. Há sugestão também da possibilidade de alguém passar o seu tempo sem cumprir sua missão, e assim tropeçar nas trevas da desobediência depois, não sendo guiado pela luz (10; cfr. 1Jo 2.10-11). Jesus então declara o propósito da sua viagem: vou despertá-lo (11, ARA); vou despertá-lo do sono (ARC). Os discípulos interpretam a palavra "sono" literalmente e comentam, se dorme, estará salvo (12), ou, "vai ser curado"; portanto, torna-se desnecessária sua visita. Com isto, Jesus explica-lhes claramente que Lázaro morreu (14). Os discípulos haveriam de testemunhar um prodígio que aumentaria sua fé nEle, e Jesus, visando ao proveito espiritual deles, se alegra que estava fora de cena, quando Lázaro morreu. Mas vamos ter com ele (15).
Tomé, crendo que a partida para a Judéia resultará em morte para todos do grupo, lealmente encoraja os demais discípulos que o acompanhem: vamos também nós para morrermos com Ele (16).
Quando Jesus chega a Betânia, encontra Lázaro sepultado há quatro dias (17). Há ali várias pessoas que foram de Jerusalém para consolar as mulheres de luto (19). Marta apressa-se para ir encontrar Jesus, enquanto Maria fica sentada em casa (20). Vê-se nestes pormenores a diferença de temperamento das duas mulheres. Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão (21). As palavras não constituem uma reprovação, mas a mistura de fé e esperança em Marta. Ela possuía fé que Jesus podia ter curado seu irmão e que mesmo agora podia chamá-lo de entre os mortos. Jesus assevera que o irmão há de ressurgir (23). Marta, como judia piedosa, crê na certeza de uma ressurreição final, porém tal crença não lhe alivia o luto do momento (24).
Neste instante, Jesus lhe anuncia a verdade estupenda que Ele é a ressurreição e a vida (25). A ressurreição não é apenas uma esperança futura, é realidade no presente, é poder vivificador, encarnado em Jesus. A vida de que o homem carece é Jesus mesmo. Jesus não disse "Eu prometo", nem "Eu procuro", nem "Eu trago", mas "Eu sou" (Westcott). O crente sobrevive à morte em virtude da vida eterna, obtida pela sua fé (26). A morte não tem mais poder sobre o crente, cuja vida está escondida com Cristo em Deus (cfr. Cl 3.1-3). Segue-se a penetrante interrogação de Jesus: Crês isto? (26). A aceitação desta verdade é indispensável para compreender o sentido espiritual do milagre da ressurreição. Marta lhe declara que, de fato, crê (27). Sua confissão corresponde fielmente à sua compreensão das funções do Messias, mas é aquém da declaração que Jesus faz sobre sua Pessoa.
Em seguida, Marta retira-se para chamar sua irmã e lhe diz: O Mestre chegou e te chama (28). Entrementes, os judeus vêem Maria sair da casa e, concluindo que ela vai ao sepulcro para chorar, acompanham-na (31).