Quem é o Autor do Evangelho de João?
Escrito em estilo simples, o último dos quatro evangelhos exibe uma profundeza teológica que ultrapassa à dos evangelhos sinópticos. As tradições da Igreja primitiva indicam que o apóstolo João escreveu o quarto evangelho já no término do primeiro século da era cristã, em Éfeso, cidade da Ásia Menor. Particularmente importante quanto a isso é o testemunho de Irineu, discípulo de Policarpo, o qual, por sua vez, fora discípulo do apóstolo João uma direta linha de tradição, com um elo de ligação entre Irineu e o próprio João. (Contra Heresias II.22.5; III.1.1; 3.4; e os relatos de Eusébio, História Eclesiástica III.23.1 4; IV.15.3 8; V.8.4 e 20.4 8.)
No passado, alguns eruditos insistiram em que esse evangelho não teria sido escrito senão já nos meados do século II D.C., pelo que certamente não era da lavra do apóstolo João. Porém, o descobrimento do Fragmento Rylands, do evangelho de João, forçou o abandono de tal ponto de vista. Esse fragmento de papiro pertence à data de cerca de 135 D.C., e necessariamente subentende que já se tinham passado várias décadas desde que esse evangelho fora escrito, e que já estivera circulando desde há algum tempo pelo interior do Egito, onde foi descoberto o fragmento. Outros antiquíssimos papiros, contendo textos extraídos do evangelho de João, confirmam o que se pode subentender do Fragmento Rylands.
Apesar disso, ainda existem muitos eruditos que não estão convencidos de que o apóstolo João escreveu o evangelho que traz o seu nome. Alguns sugerem que um discípulo do apóstolo João, talvez o ancião João, mencionado por Papias (Citado por Eusébio, História Eclesiástica III.39.4.) (125 D.C.), tenha escrito o mesmo, para mais tarde haver sido confundido com o apóstolo do mesmo nome. Uma inspeção mais precisa sobre a declaração de Papias, entretanto, demonstra que mui provavelmente Papias utilizou se do termo "ancião" em um sentido apostólico, pelo que também seria um antiquíssimo testemunho em favor da autoria pelo apóstolo João.(Se, pois, chegasse alguém que fora seguidor dos anciãos, eu o interrogaria sobre as palavras dos anciãos que dissera André ou Pedro, ou que fora dito por Filipe, por Tomé, por Tiago, por João, por Mateus, ou por qualquer outro dos discípulos do Senhor, e quais coisas dizem Aristiom e o ancião João, discípulo do Senhor" (Papias, conforme foi citado por Eusébio, segundo a tradução em A Select Library of Nicene and Post Nicene Fathers of the Christian Church. 2 série, editado por P. Schaff e H. Wace, traduzido por A.C. McGiffert (Nova Iorque: Scribner's, 1904), vol. 1, pág. 171). De ambas as vezes em que o nome de João aparece na afirmativa de Papias, aparece com ambas as designações de "ancião” e "discípulo". Em contraste, embora Aristiom seja designado discípulo, não recebe o título de "ancião", ao ser mencionado paralelamente a João. Esse fato frisa um único indivíduo chamado João. Papias queria deixar clara a identificação de um único João, ao reiterar a designação "ancião", que acabara de usarem relação aos apóstolos, mas que omite agora em relação a Aristiom. Papias menciona João pela segunda vez porque ele era o único dos apóstolos a continuar vivo e a pregar. Admitimos que Eusébio interpretou Papias como se este houvesse aludido a dois homens diferentes, de nome João, e chegou a falar de uma tradição acerca de dois homens de nome João, com diferentes sepulcros em Éfeso; mas Eusébio queria achar outro autor para o livro de Apocalipse, que ele não apreciava. Parece, pois, que com base nas declarações de Papias, pode se pensarem um certo ancião João, alegadamente distinto do apóstolo João, a fim de atribuir o livro de Apocalipse ao ancião, e não ao apóstolo.)
O autor do quarto evangelho reivindica o privilégio de ter sido testemunha ocular do ministério de Jesus (1:4, comparar com 19:35 e 21:24,25), além de demonstrar um estilo semítico em sua redação(O que é visto especialmente em declarações paralelas. Isso tem dado azo à teoria, não popular, que originalmente João teria escrito seu evangelho em aramaico.) e de possuir conhecimento acurado sobre os costumes dos judeus (por exemplo, os costumes de oferecer libações de água e de acender os candelabros, durante a festa dos Tabernáculos, pressupostos em 7:37 39 e 8:12). Também era profundo conhecedor da topografia da Palestina, conforme ela era antes do holocausto de 70 D.C. (por exemplo, a fonte com os cinco pórticos, nas proximidades da Porta das Ovelhas [5:21 e a área pavimentada que havia do lado de fora do Pátio [19:131, ambas as coisas em Jerusalém, e ambas confirmadas pelas descobertas arqueológicas em tempos recentes).(Alguns eruditos, pois, datam o quarto evangelho em três décadas, mais ou menos, antes do fim do século I de nossa era, em contraposição à tradição antiga.) Em adição a isso, detalhes vívidos que só poderiam ser esperados da parte de uma testemunha ocular, apesar de incidentais à história, aparecem por toda a parte números (seis talhas para água 2:6, três ou quatro milhas [5:19], cem jardas (duzentos côvados) [21:8], cento e cinqüenta e três peixes [21:11]), nomes (Natanael [1:45 ss.], Nicodemos [3:1 ss], Lázaro [11: 1ss], Malco [18:10], etc.), e muitos outros toques vívidos. Esses fatos consubstanciam tanto a antiga tradição sobre a autoria apostólica deste evangelho como o seu corolário, o de que ali temos uma fidedigna tradição histórica.
Outrossim, o autor escreve como "aquele a quem Jesus amava", não movido pelo egoísmo porquanto nunca se identifica por seu próprio nome! mas a fim de ressaltar que o conteúdo do evangelho merece crença, porquanto proveio de alguém em quem Jesus confiava. Acresça se a isso que os discípulo amado repetidas vezes aparece em chegada associação com Pedro (13:23,24; 20:2 10; 21:2,7,20 ss.). Os evangelistas sinópticos informam nos que Tiago e João eram filhos de Zebedeu, que trabalhavam como pescadores juntamente com Pedro, e que com ele formaram o círculo mais interior dos Doze. Visto que desde há muito Tiago morrera como mártir (vide Atos 12:1 5), e visto que Pedro figura como uma pessoa diferente da do discípulo amado, resta nos somente João para ser o discípulo arnado e autor do quarto evangelho. Pois se alguma outra pessoa, fora do discípulo amado, escreveu o quarto evangelho, então por que ele não vinculou o nome de João ao "discípulo a quem Jesus amava"? O anonimato do discípulo amado dificilmente poderia ser explicado, a menos que ele mesmo tivesse sido autor desse evangelho, e o processo de eliminação o identifica com o apóstolo João.
Fonte: Panorama do Novo Testamento de Robert H. Gundry. São Paulo. Vida Nova. 1998.
No passado, alguns eruditos insistiram em que esse evangelho não teria sido escrito senão já nos meados do século II D.C., pelo que certamente não era da lavra do apóstolo João. Porém, o descobrimento do Fragmento Rylands, do evangelho de João, forçou o abandono de tal ponto de vista. Esse fragmento de papiro pertence à data de cerca de 135 D.C., e necessariamente subentende que já se tinham passado várias décadas desde que esse evangelho fora escrito, e que já estivera circulando desde há algum tempo pelo interior do Egito, onde foi descoberto o fragmento. Outros antiquíssimos papiros, contendo textos extraídos do evangelho de João, confirmam o que se pode subentender do Fragmento Rylands.
Apesar disso, ainda existem muitos eruditos que não estão convencidos de que o apóstolo João escreveu o evangelho que traz o seu nome. Alguns sugerem que um discípulo do apóstolo João, talvez o ancião João, mencionado por Papias (Citado por Eusébio, História Eclesiástica III.39.4.) (125 D.C.), tenha escrito o mesmo, para mais tarde haver sido confundido com o apóstolo do mesmo nome. Uma inspeção mais precisa sobre a declaração de Papias, entretanto, demonstra que mui provavelmente Papias utilizou se do termo "ancião" em um sentido apostólico, pelo que também seria um antiquíssimo testemunho em favor da autoria pelo apóstolo João.(Se, pois, chegasse alguém que fora seguidor dos anciãos, eu o interrogaria sobre as palavras dos anciãos que dissera André ou Pedro, ou que fora dito por Filipe, por Tomé, por Tiago, por João, por Mateus, ou por qualquer outro dos discípulos do Senhor, e quais coisas dizem Aristiom e o ancião João, discípulo do Senhor" (Papias, conforme foi citado por Eusébio, segundo a tradução em A Select Library of Nicene and Post Nicene Fathers of the Christian Church. 2 série, editado por P. Schaff e H. Wace, traduzido por A.C. McGiffert (Nova Iorque: Scribner's, 1904), vol. 1, pág. 171). De ambas as vezes em que o nome de João aparece na afirmativa de Papias, aparece com ambas as designações de "ancião” e "discípulo". Em contraste, embora Aristiom seja designado discípulo, não recebe o título de "ancião", ao ser mencionado paralelamente a João. Esse fato frisa um único indivíduo chamado João. Papias queria deixar clara a identificação de um único João, ao reiterar a designação "ancião", que acabara de usarem relação aos apóstolos, mas que omite agora em relação a Aristiom. Papias menciona João pela segunda vez porque ele era o único dos apóstolos a continuar vivo e a pregar. Admitimos que Eusébio interpretou Papias como se este houvesse aludido a dois homens diferentes, de nome João, e chegou a falar de uma tradição acerca de dois homens de nome João, com diferentes sepulcros em Éfeso; mas Eusébio queria achar outro autor para o livro de Apocalipse, que ele não apreciava. Parece, pois, que com base nas declarações de Papias, pode se pensarem um certo ancião João, alegadamente distinto do apóstolo João, a fim de atribuir o livro de Apocalipse ao ancião, e não ao apóstolo.)
O autor do quarto evangelho reivindica o privilégio de ter sido testemunha ocular do ministério de Jesus (1:4, comparar com 19:35 e 21:24,25), além de demonstrar um estilo semítico em sua redação(O que é visto especialmente em declarações paralelas. Isso tem dado azo à teoria, não popular, que originalmente João teria escrito seu evangelho em aramaico.) e de possuir conhecimento acurado sobre os costumes dos judeus (por exemplo, os costumes de oferecer libações de água e de acender os candelabros, durante a festa dos Tabernáculos, pressupostos em 7:37 39 e 8:12). Também era profundo conhecedor da topografia da Palestina, conforme ela era antes do holocausto de 70 D.C. (por exemplo, a fonte com os cinco pórticos, nas proximidades da Porta das Ovelhas [5:21 e a área pavimentada que havia do lado de fora do Pátio [19:131, ambas as coisas em Jerusalém, e ambas confirmadas pelas descobertas arqueológicas em tempos recentes).(Alguns eruditos, pois, datam o quarto evangelho em três décadas, mais ou menos, antes do fim do século I de nossa era, em contraposição à tradição antiga.) Em adição a isso, detalhes vívidos que só poderiam ser esperados da parte de uma testemunha ocular, apesar de incidentais à história, aparecem por toda a parte números (seis talhas para água 2:6, três ou quatro milhas [5:19], cem jardas (duzentos côvados) [21:8], cento e cinqüenta e três peixes [21:11]), nomes (Natanael [1:45 ss.], Nicodemos [3:1 ss], Lázaro [11: 1ss], Malco [18:10], etc.), e muitos outros toques vívidos. Esses fatos consubstanciam tanto a antiga tradição sobre a autoria apostólica deste evangelho como o seu corolário, o de que ali temos uma fidedigna tradição histórica.
Outrossim, o autor escreve como "aquele a quem Jesus amava", não movido pelo egoísmo porquanto nunca se identifica por seu próprio nome! mas a fim de ressaltar que o conteúdo do evangelho merece crença, porquanto proveio de alguém em quem Jesus confiava. Acresça se a isso que os discípulo amado repetidas vezes aparece em chegada associação com Pedro (13:23,24; 20:2 10; 21:2,7,20 ss.). Os evangelistas sinópticos informam nos que Tiago e João eram filhos de Zebedeu, que trabalhavam como pescadores juntamente com Pedro, e que com ele formaram o círculo mais interior dos Doze. Visto que desde há muito Tiago morrera como mártir (vide Atos 12:1 5), e visto que Pedro figura como uma pessoa diferente da do discípulo amado, resta nos somente João para ser o discípulo arnado e autor do quarto evangelho. Pois se alguma outra pessoa, fora do discípulo amado, escreveu o quarto evangelho, então por que ele não vinculou o nome de João ao "discípulo a quem Jesus amava"? O anonimato do discípulo amado dificilmente poderia ser explicado, a menos que ele mesmo tivesse sido autor desse evangelho, e o processo de eliminação o identifica com o apóstolo João.
Fonte: Panorama do Novo Testamento de Robert H. Gundry. São Paulo. Vida Nova. 1998.