Polêmica Anti-Judaica

É improvável que João tenha escrito o seu evangelho como uma polêmica contra o judaísmo; pois apesar dos judeus incrédulos figurarem ali como maus caracteres, devido à sua incredulidade, o "mundo" como um todo também figura assim (por exemplo, ver 15:18,19). Durante a última porção do primeiro século cristão, os judeus incorporaram na liturgia de suas sinagogas a Bênção contra os Hereges, a fim de desarraigar todos os judeus cristãos que porventura ainda participassem dos cultos das sinagogas.(“Aos excomungados não haja esperança, e que o reino da soberba seja por Ti desarraigado prontamente em nossos dias. E que os cristãos e os hereges pereçam num momento. Que sejam apagados do livro da vida, e não sejam registrados juntamente com os justos. Bendito és Tu, ó Senhor, que subjugas aos orgulhosos.”) Alguns têm imaginado que tal bênção deve ter provido o motivo para o quarto evangelho, como um encorajamento dirigido aos judeus cristãos, a fim de suportarem o seu ostracismo da sinagoga, sem se retratarem de sua profissão cristã. Porém, embora a Bênção contra os Hereges possa ser salientada em face de trechos como 9:22 e 16:2, que mencionam o fato que os discípulos de Jesus seriam expulsos das sinagogas, a verdade é que o quarto evangelho, em contraste com os livros de Mateus, Hebreus e Tiago, não dá a impressão de ter sido escrito para uma audiência tão limitada que incluísse somente cristãos judeus. Não predominam ali as características judaicas típicas, e aquelas que porventura aparecem se originam meramente do meio ambiente judaico da vida de Jesus, e não por causa de uma ênfase deliberada.


Fonte: Panorama do Novo Testamento de Robert H. Gundry. São Paulo. Vida Nova. 1998.