João 1:19-51 — Comentário Bíblico

II. O Ministério de Cristo no Mundo. 1:19 - 12:50.

A. O Testemunho de João Batista. 1:19-36.

Em seu desejo ardente de magnificar Cristo, João transformou um interrogatório sobre si mesmo em um forte testemunho sobre o Maior que ia se manifestar. O batismo de Jesus executado por João, que não foi narrado neste Evangelho, já tinha acontecido (veja 1:26).

19. Os judeus. Como de costume, João está se referindo aos líderes da nação. Esses sacerdotes eram fariseus (v. 24). Duas coisas provocaram a delegação: a forte pregação de João, que cativava multidões (Mt. 3:5), e sua atividade, batizando (Jo. 1:26). Tal pessoa despertou tanta preocupação nesses líderes que eles perguntaram, Quem és tu?

20. João leu seus pensamentos. Eles, tal como as multidões (Lc. 3:15), ficavam imaginando se ele poderia ser o Cristo prometido.

21. Sua negação levou-os à segunda pergunta. Elias era esperado antes da vinda do Messias (Ml. 4:5). Embora João não fosse o Elias pessoalmente, estava em sua função (Mt. 17:11-13). Por profeta devemos provavelmente entender o profeta de Dt. 18:15, 18. Alguns o consideravam distintamente do Messias (Jo. 7:40).

22-24. A delegação não podia ser satisfeita com negativas. Pressionado a revelar seu papel, João replicou na linguagem profética (Is. 40:3). Era uma verdadeira identificação. João vivera no deserto e ali elevara sua voz para anunciar a aproximação do reino (Lc. 1:80; 3:2, 3).

25-28. Um papel assim secundário parecia não ser justificativa suficiente para João administrar o batismo. Mas ele se defendeu – era simplesmente com água. Ele proclamava a presença do pecado e a necessidade de uma purificação que ele mesmo não podia efetuar. A obra final da purificação (ele deu a entender) repousava sobre alguém maior do que ele, Alguém que ainda era desconhecido das autoridades (1:26). João considerava-se indigno de ser Seu servo. Essa conversa foi mantida em Betânia, a leste do Jordão. Não deve ser confundida com Betânia de 11:1,18.

29. No dia seguinte surge uma nova situação. A delegação partiu e Jesus apareceu no cenário. Mas não houve nenhuma troca de palavras entre ele e João. Satisfeito por ter afirmado aos fariseus a grandeza de Cristo, João tornou-se agora específico quanto à Sua pessoa e obra. Seu próprio ministério baseava-se sobre o fato do pecado; o de Cristo relacionava-se com a remoção do pecado. Cristo era o Cordeiro de Deus. A História (Êx. 12:3) e a profecia (Is. 53:7) juntam-se para fornecer os antecedentes desse título. É preciso ter em mente também os sacrifícios diários no templo.

31-34. Quando Jesus procurou o batismo de João, o Batista não o reconheceu (cons. Lc. 1:80), mas ele tinha recebido um sinal de identificação de Deus – o Espírito descer do céu como pomba permanecendo sobre Ele. Além do sinal foi-lhe dada uma palavra referente à obra que Ele realizaria com a capacitação celestial para tanto concedida – Ele batizaria com o Espírito. Tal pessoa, João sabia, não poderia ser ninguém menos que o Filho de Deus. Ninguém de menor estatura poderia usar com tanta autoridade o divino Espírito. João deu três testemunhos excelentes da pessoa e obra de Cristo. Como Cordeiro, sua missão era a da redenção. Ao batizar com o Espírito, Ele fundaria a Igreja. Como Filho de Deus, Ele seria digno de adoração e obediência.

35, 36. Estes versículos são de transição. Eles nos informam que João tinha discípulos e que ele também desejava transferi-los para Jesus. Esta era importante parte de sua tarefa de precursor, como o restante do capítulo declara.

B. A Vocação dos Discípulos. 1:37-51.

O desejo altruísta de João de glorificar Cristo produziu frutos entre seus seguidores. Sem nenhuma ordem ou sugestão de sua parte além do seu testemunho, dois discípulos seguiram Jesus. Um é identificado como sendo André. O silêncio quanto ao nome do outro aponta para o escritor do Evangelho, que não menciona o seu nome por causa da modéstia.

37-42. Seguiram a Jesus. O ato físico expressou a intenção de segui-lo no sentido espiritual. Que buscais? Tal pergunta poderia ser uma demonstração de repulsa, mas não quando pronunciada com delicadeza. A contra-pergunta, Onde assistes? Tal como o fato de o seguirem, pode sugerir um sentido mais profundo – Qual é o segredo de sua vida e poder espirituais? Sua habitação poderia não atraí-los, mas a conversa sublime que se seguiu permaneceu como flagrante memória. Anos mais tarde João se lembrou da hora do dia – quatro da tarde.

41. O significado de primeiro não está claro. Nenhuma atividade posterior de André foi declarada. Possivelmente, primeiro tem a intenção de sugerir que o outro discípulo (João) também procurou seu irmão Tiago, que aparece antes, nos Sinóticos, como discípulo de Jesus (Mc. 1:16-20). Achou... achamos. A narrativa está cheia da alegria do descobrimento (cons. Jo. 1:43, 45). Messias, o termo hebreu para "o ungido", tem o seu correlativo na palavra grega Cristo. André atreveu-se a chamar Jesus de Cristo porque o Batista o apresentou assim aos seus seguidores, ou por causa das horas passadas na companhia de Jesus?

42. O trabalho pessoal de André começou cedo e com seus parentes. A troca do nome de Simão para Cefas, o termo aramaico para Pedro, significando pedra, provavelmente indica uma mudança prometida da fraqueza para a estabilidade e força (Lc. 22:31, 32).

43. Novamente a mudança do dia foi observada (cons. 1:29, 35, em contraste à ausência de tais traços no Prólogo). Desta vez Jesus faz a descoberta (cons. Lc. 19:10), e ordena a Filipe que o siga (contraste com Jo. 1:37).

45-51. Filipe vindicou a confiança de Jesus nele como discípulo buscando Natanael e transmitindo-lhe a convicção de que Jesus de Nazaré era o muito esperado que preencheria as predições de Moisés e dos profetas. Pode-se testemunhar do Senhor mesmo quando o conhecimento ainda é incompleto ou defeituoso. Jesus, o Nazareno, revelou-se concisamente como o celestial Filho do homem (v. 51). Mesmo Natanael percebeu rapidamente que o filho de José era o Filho de Deus (v. 49). O primeiro impulso de Natanael foi o de duvidar que Nazaré fosse capaz de produzir alguma coisa boa, muito menos o Messias (v. 46). Isso não implica necessariamente que a cidade tivesse má reputação, mas antes sugere o caráter irrelevante do lugar.

Vem, e vê. Experiência é melhor do que argumentação. Israelita sem dolo sugere um contraste de Jacó, que se tornou Israel só através da experiência da conversão. A mesma penetração que leu o coração de Simão (v. 42) como num livro aberto e que penetrou na vida íntima de Natanael (vs. 47, 48) foi agora cordialmente reconhecida na confissão deste último – Filho de Deus... Rei de Israel. A sombra da figueira, um sossegado refúgio para a alma reverente, foi silenciosamente partilhada pelo Cristo perspicaz. Filipe compreendeu que o mestre tinha de ser mais do que ela entendia. E o fim não era aquele, pois o Salvador prometia coisas maiores. Jacó continuava no fundo da cena (v. 51). A visão que ele teve dos anjos em Betel seria ultrapassada quando os discípulos vissem no Filho do homem aquele a quem o céu seria aberto (cons. Mt. 3:16) e aquele que na qualidade de Mediador, liga o céu à terra. Filho do homem. Um título indicando uma figura sobrenatural e celestial em Dn. 7:13 e no apocalipse judeu, foi o método preferido por Jesus para designar-se a si mesmo, de acordo com os Evangelhos. Esse nome era preferido ao de "Messias" porque não sugeria aspirações políticas ao longo de um reino temporal, tal como a maioria dos judeus aguardava. A glória do Filho (Jo. 1:14), vista em parte por esses primeiros discípulos (vs. 39, 46), foi ainda mais desdobrada daqui em diante (ERC).



Fonte: Comentário Bíblico Moody, vol. II de Charles F. Pfeiffer, Everett F. Harrison. Editora Batista Regular. São Paulo. 2010.