Discursos de Jesus no Evangelho de João
Com a exceção possível de Mateus, o quarto evangelho contém discursos mais longos, feitos por Jesus, do que os outros evangelhos sinópticos. Os discursos, tendem por eliminar porções históricas. Perguntas e objeções feitas pelos ouvintes de Jesus com freqüência pontuam os discursos, e João, de maneira regular, apresenta nos um Cristo que falava em estilo bastante diferente, em muitos particulares, daquilo que os evangelistas sinópticos nos dão a entender. Essas diferenças se originam em parte da própria maneira pela qual João traduzia para o grego, em ensinamentos dominicais, aquilo que originalmente fora dito em aramaico e hebraico (bem como em grego), e em parte pelo próprio hábito que João tinha de parafrasear, com o resultado que o vocabulário e o estilo do próprio evangelista com freqüência aparecem no seu registro sobre os ensinamentos de Jesus. Nos evangelhos sinópticos, a tradução evidentemente é mais literal e as paráfrases são menos extensas. (O vocabulário e o estilo do próprio João podem ser reconhecidos naquelas porções do quarto evangelho onde Jesus não estava falando, e com base em I III João. O Apocalipse, também joanino, é um tanto diferente, por várias razões possíveis.) Muitas vezes, uma tradução frouxa e a paráfrase podem transmitir melhor o sentido tencionado do orador do que as citações diretas, pelo que o modo de proceder joanino não é ilegítimo sob hipótese alguma. Por outro lado, não devemos superestimar o grau de paráfrases e de traduções lassas feitas por João, porquanto as duas famosas passagens paralelas que existem em Mateus 11:25-27 e Lucas 10:21,22 provam que Jesus podia falar e realmente falou no estilo que encontramos no quarto evangelho. Destacam-se proeminentemente nessas passagens os temas do relacionamento entre o Pai e o Filho, da ênfase acerca da revelação divina, do conhecimento e da eleição tudo o que é perfeitamente típico do evangelho de João. Também é possível que João tivesse preservado os aspectos mais formais do ensinamento de Jesus, a saber, Seus sermões nas sinagogas e Suas disputas com os teólogos judeus.
Fonte: Panorama do Novo Testamento de Robert H. Gundry. São Paulo. Vida Nova. 1998.
Fonte: Panorama do Novo Testamento de Robert H. Gundry. São Paulo. Vida Nova. 1998.